Durante a noite, Azure e suas irmãs, Melina e Diamanda, tentaram buscar alguma alternativa para que o enlace não acontecesse, porém, as princesas sabiam que era dever delas obedecer ao pai e garantir a felicidade do reino. Se fosse necessário sacrificá-las, então seria feito, desde que o reino estivesse bem.
“Irmã, por que você não foge?” – Diamanda, a mais nova e mais rebelde das três, disse – “Nós podemos ajudá-la nisso. Eu arranjarei roupas de homem, você pode sair daqui escondida no carro que nos traz alimentos. Eu tenho algumas joias, Mel também, você pode viver longe daqui.”
“Não posso, Didi. Papai me acharia em qualquer lugar que eu estivesse. E, se eu não estiver aqui, ele obrigará Melina ou você a casar com esse homem.” – ela olhou para o vestido branco que uma serva pendurou na porta do armário do quarto. Era um traje de casamento, feito da seda mais fina que poderia ser encontrada. A saia tinha pequenos brilhantes que haviam sido costurados à mão pelas costureiras do reino.
Melina, que era muito habilidosa, fizera um penteado com tranças, além disso, a irmã colocara vários brilhantes em seus fios loiros, o que só lhe dava mais uma aparência etérea.
-“Eu não quero que você vá. O que faremos aqui sem você?” – Melina falou, a voz embargada. A irmã do meio era a mais emotiva das três – “Eu vou morrer de saudade.”
Ela envolveu os ombros da irmã com o braço e a aconchegou em seu peito. Desde que a mãe morrera, há muitos anos, as três princesas se uniram, ninguém conseguia atingi-las, de nenhuma forma, eram uma unidade. Agora, seriam separadas.
Azure sempre agira como a mãe das outras, apesar da pouca idade. Ela era a primogênita e tinha 21 anos, enquanto Melina tinha apenas 17 e Diamanda, 15. As três se cuidavam, mas Azure era a fortaleza delas.
“Eu devo ir, afinal esse casamento salvará nosso reino.” – Azure falou em voz alta com a vã esperança que isso entrasse em sua mente e lhe desse conforto.
Quando as luzes da manhã começaram a surgir na janela do quarto, a princesa de cabelos loiros levantou-se e começou a se vestir, mesmo sob os protestos e lamentos das irmãs mais novas.
Azure não tinha saída, como princesa mais velha, deveria se mostrar corajosa, embora estivesse com muito medo do que lhe esperava ao lado daquele ser estranho que, logo mais, seria seu marido. Agarrava-se na ideia de que fazia aquilo pelo seu povo, pelo seu reino, para que todos ficassem bem, mesmo que fosse necessário seu sacrifício.
Suspirou ao ver sua imagem refletida no espelho. O vestido branco era justo no corpete, enquanto a saia caía solta como uma nuvem de seda. Seus cabelos loiros estavam lindos, entrançados, adornados pela fina coroa de ouro branco, herança de sua mãe, que era seu legado como filha mais velha.
“Você está linda.” – Mel disse, os olhos cheios de lágrimas. A irmã do meio era a mais sensível e bondosa das três, Azure ia sentir tanta saudade dela que só de pensar sentia vontade de chorar.
“Ainda há tempo, irmã. Nós iremos com você.” – Diamanda falou, séria. Os olhos violeta obstinados demonstravam que a menina estava pronta para tudo. Azure sorriu, a irmã caçula rebelde e combativa era capaz de lutar contra o mundo pela família.
“Tudo bem, meninas.” – suspirou – “Eu aceito meu destino, irei me casar com quem papai escolheu, não irei reclamar.” – ela puxou as irmãs e as três se abraçaram – “Fiquem unidas e firmes, cuidem do papai.” – pediu – “E escrevam para mim. Eu escreverei todos os dias.” – prometeu.
Uma batida na porta interrompeu o momento entre as irmãs.
“Vossa Majestade, a cerimônia irá começar.” – a serva disse do outro lado – “Soberano Àki está à espera.”
“Tudo bem, obrigada.”- respondeu para a serviçal, afastou-se das irmãs, pegou o pequeno buquê que Melina preparara e foi em direção ao desconhecido.
Nos corredores do castelo, os servos faziam reverências quando viam a princesa que parecia uma fada em seu vestido branco. Ela sorria e assentia para todos, como sempre fazia, até que encontrou o pai, na porta da sala do trono, onde a cerimônia seria realizada.
“Você está linda, filha.” – o rei disse e beijou a fronte da princesa, com carinho. Ele colocou a mão da jovem em seu braço e juntos eles entraram. Um tapete vermelho estava estendido pelo chão, o caminho levava ao noivo que naquele dia trajava um terno negro com gravata vermelha. O homem parecia incomodado demais naquelas roupas, se remexia como se o traje fosse pequeno demais para seu corpo. Ele penteara os cabelos negros, que estavam contidos por uma fita de couro, agora Azure conseguia ver mais do rosto de seu noivo. Ele tinha os olhos escuros e grandes, além de algumas cicatrizes que lhe davam uma aparência de perigo.
Quando pai e filha chegaram ao final do tapete, Àki beijou novamente Azure e entregou sua mão ao homem com que ela se casaria. A jovem viu sua pequena mão ser engolida pela manopla do estranho, mas seu aperto não era bruto, era suave.
O padre iniciou a cerimônia com algumas palavras sobre casamento e felicidade. Azure sabia que nunca seria feliz com aquele enlace, mas ouviu tudo que o padre falava, com resignação. Repetiu as palavras que aceitaria aquele estranho no amor, na tristeza, na pobreza e na riqueza e então... chegou o momento do beijo.
Os dois ficaram frente a frente, Azure não desviou o olhar, embora estivesse apavorada. Viu o rosto de Enouf se aproximando lentamente, então, fechou os olhos e aceitou o destino. Mas tudo que sentiu foi os lábios de seu marido em sua testa, um leve e rápido encostar de lábios em sua fronte.
Nada mais.
Quando abriu os olhos novamente, o homem já estava mais longe, apenas fitando-a. Ele segurou sua mão e iniciaram o cortejo para fora do salão, em direção ao pátio onde a festa seria realizada. O reino comemoraria o casamento com uma grande festa, todos os cidadãos foram convidados.
Enquanto andavam de mãos dadas, Azure pensava que agora estava casada e não havia mais volta. Não sabia o que lhe esperava ao lado daquele homem estranho, mas não esperava nada de bom.
Enouf não conseguia se sentir confortável naquela roupa estranha que foi obrigado a vestir, tentava remexer os ombros, mas nada adiantava. O terno negro parecia pequeno demais para seus ombros largos e aquela gravata lhe enforcava todo tempo.O homem observava sua noiva dançando com os convidados. Ela era simpática com todos, menos com ele. Enouf percebia o olhar assustado toda vez que a jovem princesa olhava para ele. Provavelmente Azure imaginava que ele a violentaria assim que estivessem sozinhos.Aquele homem com aparência bestial não ficava surpreso com esses preconceitos, já estava habituado a isso, mas o olhar de sua (agora) esposa deixara Enouf chateado. Ele não entendia a razão, não estava apaixonado por ela, aquele casamento era parte apenas de um plano, de um bem maior, as opiniões de sua noiva sobre ele não deveriam lhe atingir.Mas atingia.Algo em Enouf queria que Azure lhe fitasse com amor, do mesmo jeito que ela olhava para o pai e as irmãs. Ele gostaria de ser o motiv
Quando Enouf saiu, a princesa permaneceu ali, vendo o homem enorme se afastando, sem olhar para trás. Pouco tempo depois, uma das jovens servas voltou e levou Azure para dentro da casa. Ao contrário de sua casa anterior, aquela era bem menor e tinha muito menos luxo. Os móveis de madeira eram simples, mas pareciam bem cuidados, o chão estava limpo e lustrado, o ambiente era muito agradável, apesar de toda a simplicidade.A casa era muito ampla e bem arejada, não tinha nem um canto escuro, ao contrário do castelo em que morava, onde os cantos tinham que ser iluminados por tochas ou archotes.“Vossa Majestade, vamos. O seu quarto fica lá em cima.” – a moça disse, fazendo uma reverência desengonçada, sem encarar Azure nos olhos.Azure sorriu, aquela menina deveria ser da mesma idade dela, talvez um pouco mais velha, e antes que ela saísse, a princesa segurou seu braço, impedindo que a moça avançasse. Ela segurou, com delicadeza, o rosto da jovem serva e o ergueu, encarou brevemente as í
Enouf ficou na ferraria até a madrugada. Sentia os músculos das costas doloridos, a exaustão era necessária naquele momento. A casa já estava imersa na escuridão quando ele entrou, o rapaz subiu as escadas em silêncio e foi para seu quarto.O jovem ferreiro tirou o casaco e se olhou no espelho. O rosto estava sujo da fuligem, os cabelos desgrenhados, a barba chamuscada, a camisa com algumas marcas de ferro.Enouf não conseguia esquecer Azure, seu rosto assustado, seu olhar de medo quando ele se aproximou demais. O homem também não esquecia seu cheiro doce e delicado de rosas. Levou as mãos à cabeça e deu um rugido de raiva.Não poderia se envolver com a princesa.Não poderia deixar se envolver com ela.Olhou para a porta que ligava seu quarto ao dela e, automaticamente, foi até lá. Quando colocou a mão na maçaneta pensou se deveria ou não entrar ali.Era o quarto de sua esposa, mas aquela era sua casa.É claro que ele tinha direito!Entrou e encontrou Azure dormindo. A jovem princesa
Azure observou Enouf se afastando, ainda com o coração muito acelerado.Não havia percebido o perigo que corria com a aproximação do cavalo selvagem, estava muito concentrada nos cuidados do jardim. Ela adorava cuidar das plantas, ficava tão envolvida pela natureza à sua volta que esquecia do resto do mundo. Se não fosse pelo marido, não sabia o que poderia ter acontecido com ela.Lembrou da forma como o homem a acolheu em seus braços, protegendo-a do perigo iminente. A pressão do corpo dele, mesmo sentindo todo seu peso não era desagradável, pelo contrário. O calor agradável do corpo másculo, o cheiro masculino... era reconfortante.Azure piscou várias vezes, tentando voltar à consciência. Deus, tinha enlouquecido?Só poderia estar louca ao pensar que o abraço daquele homem bruto era agradável. Provavelmente tinha batido a cabeça no solo e nem percebera, aquilo explica a ausência de bom-senso. “Senhora?” – a voz de Kira trouxe Azure de volta ao presente – “Você está bem?”“E
Azure estava sentada sob a enorme copa de uma árvore milenar. As folhas azuis se mexiam conforme a direção da brisa fresca que tomava conta do ambiente, o cheiro das flores enchia a atmosfera, deixando tudo mais agradável.Albero Blu era um reino quase mágico, um lugar arborizado e aprazível, iluminado, cheio de árvores, flores e animais diferentes, como unicórnios. Cada ser vivo daquele lugar era especial e valioso, espécies raras.Azure, a filha mais velha do soberano Àki, gostava de andar pelo reino, sempre com um livro na mão, enquanto saudava os moradores. Muitas pessoas a tratavam com educação e simpatia, mas a jovem princesa percebia que outros cidadãos olhavam para ela com desgosto e viraram o rosto quando passava. Não entendia a razão, uma vez que fazia o possível para ser agradável com todos.Naquele dia ela tinha um livro de suspense nas mãos, Azure adorava a adrenalina e a tensão de saber a resolução do mistério da trama, faltavam poucas linhas para tudo ser revelado, por