A luz fraca do banheiro refletia em meu rosto, e eu me encostei na pia, tentando encontrar um pouco de estabilidade em meio ao turbilhão de emoções que me consumia. Minhas mãos tremiam, e eu as segurei com força, como se isso pudesse me ancorar à realidade. Meus olhos estavam vermelhos e inchados, e a respiração, irregular. O que eu havia vivido era um pesadelo que parecia não ter fim.A porta se abriu, e eu sabia que era Sofia. Ela sempre tinha esse jeito de entrar, como se trouxesse consigo um pouco de luz, mesmo nas situações mais sombrias. Mas, ao vê-la, meu coração disparou. O olhar dela estava carregado de preocupação, e eu sabia que ela havia visto algo que não deveria.— Angeline! O que aconteceu? — ela exclamou, fechando a porta atrás de si. A expressão em seu rosto fez meu estômago revirar.— Sofia, eu... — tentei começar, mas as palavras se perderam na minha garganta. O que eu poderia dizer? Como explicar o que havia acontecido entre mim e meu irmão?— O que aconteceu no ba
Um mês depois...Eu estava ali, diante do espelho, tentando encontrar alguma resposta nas linhas cansadas do meu rosto. A mão na pia me dava uma sensação de estabilidade que eu não tinha mais. Como se o simples ato de me apoiar em algo pudesse me ajudar a suportar o que estava dentro de mim. Mas nada parecia funcionar. Meu cabelo preso, de qualquer jeito, revelava o que eu não queria admitir: estava perdida. O vestido, simples, não disfarçava a angústia. Talvez eu estivesse tentando me convencer de que ainda havia algo de mim que valesse a pena ser visto, algo que fosse mais do que esse vazio que me consumia.Matteo ainda não voltou de viagem. Isso ainda parecia tão inacreditável, mas, ao mesmo tempo, não era.O silêncio dele cortava mais do que qualquer grito, e eu me sentia vazia, mas não de uma forma que pudesse ser facilmente preenchida. Era o fim de algo maior. Algo que, na verdade, eu já sabia que estava indo embora há muito tempo. Talvez eu estivesse esperando pelo momento em q
Eu a observava do outro lado do quarto, enquanto o peso da minha posição como chefe da máfia se acumulava em meus ombros. Angeline estava sentada à mesa, os dedos nervosamente brincando com a borda da toalha. Havia algo de diferente nela, uma distância que não conseguia ignorar. O brilho nos olhos dela, que costumava ser tão vibrante, agora parecia opaco, como se uma sombra a envolvesse.— Angeline, precisamos conversar. — disse, tentando quebrar o silêncio que se estendia entre nós como uma corda tensa prestes a se romper.Ela levantou o olhar, mas não encontrou o meu. Em vez disso, desviou a atenção para a janela, onde a luz do sol filtrava-se através das cortinas, criando padrões de sombras no chão.O que estava acontecendo com ela? O que a estava consumindo?— Não agora, Matteo. — respondeu, a voz baixa e distante, como se estivesse falando muito longe de mim.Eu sabia que ela estava evitando uma conversa, mas não podia deixar isso passar. O que quer que estivesse a atormentando,
O salão estava repleto de pessoas influentes, vestidos de luxo e sorrisos ensaiados. O brilho dos lustres dourados refletia nas taças de champanhe e nas joias extravagantes das mulheres. Matteo e eu entramos de braços dados, a imagem perfeita de um casal poderoso e inabalável. Eu mantinha a pose de mulher submissa, meu olhar baixo e minha expressão serena, mesmo que meu peito estivesse em chamas.Os cumprimentos eram trocados com naturalidade, sorrisos falsos e promessas vazias flutuavam pelo ar. Matteo conduzia a conversa com maestria, e eu assentia nos momentos certos, rindo quando esperado. Por dentro, cada palavra parecia um peso que eu precisava carregar. Ele tocava minha cintura com possessividade.Foi quando vi Bianca, observando-me à distância. Seu olhar era inquisitivo, quase preocupado. Engoli em seco, desviando o olhar antes que Matteo notasse. Não podia me dar ao luxo de demonstrar qualquer fraqueza.— Você está maravilhosa está noite. — Matteo sussurrou contra minha orelh
As luzes da cidade passavam como borrões pelo vidro do carro enquanto Angeline e eu seguíamos em silêncio. O clima entre nós era denso, sufocante. Desde que saímos da festa, ela não disse uma palavra. Eu também não sabia por onde começar. Mas precisava falar. Precisava contar.Suspirei, passando a mão pelo rosto, sentindo o peso do que estava prestes a dizer. A verdade queimava na minha garganta desde que voltei de Nova York, mas não sabia como soltá-la sem causar ainda mais dor.Quando o carro parou em frente à nossa casa, Angeline saiu sem esperar. Segui atrás dela, observando seus passos apressados e a tensão visível em seus ombros.Engoli em seco. Meu coração batia forte. Não era assim que eu queria que essa conversa começasse, mas não havia mais tempo para hesitação.— Preciso te contar uma coisa. — Minha voz saiu mais baixa do que eu queria, mas firme.Ela cruzou os braços e me encarou, esperando.— Minha viagem para Nova York… não foi apenas sobre negócios. — Olhei nos olhos de
O álcool queimava minha garganta, mas não tanto quanto as palavras de Angeline ainda queimavam dentro de mim. Eu encostei o copo na mesa, meus olhos perdidos nas luzes difusas da boate. A música alta e o cheiro de cigarro misturado com perfume caro formavam o ambiente perfeito para alguém que queria se afogar nos próprios pensamentos. E eu queria. Eu precisava.Foi quando Giovanni se sentou ao meu lado, pedindo um uísque para si. Ele me olhou de soslaio e suspirou.— Matteo, você está parecendo um cachorro abandonado. O que foi dessa vez?"Soltei uma risada sem humor.— Acredite, Giovanni, dessa vez é pior.Ele ergueu uma sobrancelha e tomou um gole da bebida antes de se recostar na cadeira.— Vai, fala logo. Desembucha.Eu passei a mão no rosto, tentando organizar os pensamentos turvos pelo álcool.— Lembra da Olivia?— Claro. O que tem ela?Suspirei pesadamente.— Descobri que tenho uma filha com ela, Giovanni... A menina tem cinco anos. E a Angeline... Ela tá furiosa. Se sentiu tra
A manhã chegou e, apesar da resistência, desci para o café da manhã. Encontrei Verônica e Alessandra. A ausência de Sofia, que partiu para a Rússia, tornou o ambiente ainda mais solitário.Verônica ergueu os olhos da xícara de café e, com sua expressão severa de sempre se pronunciou.— Pensei que ficaria no quarto o dia inteiro, como tem feito ultimamente.Alessandra interveio com um sorriso gentil para mim.— Deixe-a em paz, Verônica. Todos lidamos com o sofrimento de formas diferentes. Como está se sentindo, minha querida?Respirei fundo antes de responder.— Estou tentando me ajustar, Alessandra. Algumas coisas ainda parecem irreais.Verônica suspirou e mexeu o chá com lentidão.— Bom, espero que essa sua... melancolia não atrapalhe Matteo. Ele tem muito com o que se preocupar.Engoli em seco, mas antes que pudesse responder, Alessandra tocou minha mão suavemente.— Matteo ama Angeline, Verônica. E ela faz parte da nossa família, quer você goste ou não. Então tudo vai ser resolvido
Entrei na igreja sentindo meu coração pesado, como se cada passo que eu desse aumentasse o peso da culpa sobre meus ombros. O cheiro de incenso me envolveu assim que atravessei as portas de madeira, e por um instante fechei os olhos, buscando um alívio que não veio.Dirigi-me ao confessionário. Assim que me ajoelhei, senti minhas mãos trêmulas e minha respiração curta. Sabia o que precisava dizer, mas as palavras pareciam presas na garganta.— Padre, eu preciso confessar.Minha voz soou fraca, hesitante. Do outro lado da grade, ele permaneceu em silêncio, esperando. Respirei fundo e continuei:— Eu sinto raiva. Sei que é errado, mas não consigo evitar. Raiva por uma criança inocente… e mágoa por meu marido.Só dizer o nome dele já me feria. Apertei os dedos contra o tecido da saia, tentando conter a dor que latejava no peito.— Conte-me, minha filha — ele disse, sua voz calma, quase acolhedora.Fechei os olhos. O medo da menina ser parecida com Matteo veio a minha mente, medo de ela t