A Mentira Que Virou Amor
A Mentira Que Virou Amor
Por: JCVIEIRAh
1

Lucas estava sentado no terceiro degrau da escada que levava à entrada principal do prédio da faculdade. Os corredores já estavam quase desertos, e a luz amarelada do entardecer entrava pelas grandes janelas, projetando sombras longas no chão. Em suas mãos, o celular, inclinado em um ângulo estratégico, exibia os gráficos vibrantes de eFootball. Ele mantinha o olhar fixo na tela, os dedos deslizando freneticamente sobre os botões virtuais enquanto coordenava ataques rápidos.

— Vai, vai, passa pra ele! — murmurou, inclinando levemente o corpo como se isso pudesse ajudar seu atacante digital a driblar o goleiro adversário.

Ao seu lado, Gabriel, seu melhor amigo, observava a partida com olhos atentos. Gabriel era o oposto de Lucas em vários aspectos. Enquanto Lucas era alto, magro e usava óculos de armação grossa, Gabriel era um pouco mais baixo, com cabelo bagunçado que parecia nunca ter visto um pente. Ele vestia uma camiseta preta com o logo de uma banda de rock dos anos 80 que ninguém lembrava mais.

— Isso! — exclamou Lucas, quando seu atacante finalizou com um chute perfeito no canto direito do gol. O som do apito final indicou a vitória, e a tela exibiu a palavra Vencedor com um brilho dourado.

— Cara, você é um gênio nesse jogo, sabia? — disse Gabriel, dando um leve tapa no ombro de Lucas.

Lucas deu um sorriso tímido, ajustando os óculos. — Ah, isso aí é fácil. Esse evento tinha um nível de dificuldade baixo. Só precisei... — Ele começou a explicar a estratégia que usara para driblar a defesa adversária, gesticulando com as mãos como se ainda estivesse no controle do jogo.

Mas antes que pudesse terminar, uma voz feminina interrompeu sua explicação.

— Ei, seus nerds, saiam da minha frente.

Lucas ergueu o olhar, e lá estava ela: Lara. No topo da escada, com a luz do entardecer envolvendo-a como um tipo de aura dourada, ela parecia saída de um filme. Seu cabelo ruivo, preso em um coque frouxo, deixava escapar alguns fios soltos que emolduravam seu rosto cheio de sardas. Os olhos azuis dela estavam semicerrados, um olhar que misturava tédio e impaciência. Ela usava uma camiseta branca com uma jaqueta de couro por cima, e as botas pretas batiam levemente contra o degrau mais alto, enfatizando sua postura de quem não tinha tempo a perder.

Gabriel imediatamente desviou o olhar, como se a presença de Lara fosse avassaladora demais para encarar de frente. Lucas, por outro lado, tentou responder, mas sua boca abriu e fechou algumas vezes sem emitir som.

— O quê? — disse Lara, cruzando os braços. — A escada virou sala de jogos agora?

— Ah, desculpa — disse Lucas, finalmente conseguindo falar enquanto se levantava apressado, quase derrubando o celular no processo. Ele deu um passo para o lado, puxando Gabriel pelo braço. — A escada é toda sua.

— Obrigada — respondeu Lara, com um meio sorriso que parecia carregado de ironia. Ela desceu os primeiros degraus, passando por eles como se fossem invisíveis, e desapareceu pelo corredor, deixando para trás o eco de suas botas e um leve perfume floral.

Lucas soltou o ar que nem percebera estar segurando e olhou para Lucas, que ainda parecia meio petrificado.

— Isso foi intenso — murmurou Lucas.

Lucas deu um sorriso sem graça. Intenso não era bem a palavra. Para ele, Lara era como um furacão: sempre chegando de repente e deixando tudo fora do lugar.

O silêncio momentâneo que pairava na escada foi quebrado por Gabriel, que inspirou profundamente, tentando capturar os últimos traços do perfume floral deixado por Lara. Ele olhou para Lucas com um sorriso sonhador e um brilho nos olhos.

— Mas ela é muito fofa, cara.

Lucas soltou um suspiro exagerado, arqueando uma sobrancelha enquanto recolocava o celular no bolso.

— Fofa? — repetiu ele, com ironia. — Aquela mina é bruta, isso sim.

Gabriel deu de ombros, ainda com o olhar distante, como se Lara tivesse algum efeito hipnotizante sobre ele.

Lucas continuou, balançando a cabeça em negação.

— E tem mais: ela trata pessoas como a gente como se fôssemos lixo. Não tem um pingo de paciência.

Gabriel riu baixinho, mas não disse nada, deixando Lucas prosseguir com seu desabafo.

— E sem falar das roupas dela, né? — Lucas cruzou os braços e olhou para o corredor vazio, como se estivesse prestes a listar algo importante. — A mina se veste quase pelada.

Gabriel abriu um sorriso divertido e estava prestes a responder quando os passos firmes de botas masculinas ecoaram pelo corredor. Ambos levantaram o olhar ao mesmo tempo.

E lá estava ele. Noah.

Noah parecia brilhar sob a luz do entardecer. Seus cabelos loiros bagunçados balançavam suavemente a cada passo, como se estivessem sob o efeito de um ventilador invisível. Sua pele clara parecia impecável, e os olhos castanhos, com um tom quente de mel, tinham uma intensidade que parecia hipnotizar quem os encarasse por tempo demais. Ele usava uma jaqueta de couro preta sobre uma camiseta branca justa que realçava seu físico atlético.

— Lara! — chamou ele, com uma voz firme e calorosa, que soava como música aos ouvidos.

Lucas acompanhou o olhar de Noah e viu que ele se dirigia a Lara, que já estava no meio do corredor. Assim que ouviu seu nome, ela parou abruptamente, girou nos calcanhares e abriu um sorriso largo.

— E aí! — respondeu ela, empolgada, enquanto caminhava em direção a Noah com um ar confiante.

Lucas observou a troca com olhos semicerrados, tentando disfarçar a mistura de curiosidade e incômodo que sentia ao vê-los conversarem como se fossem velhos amigos. Lara jogou o peso de um lado para o outro, os braços cruzados de forma relaxada, enquanto Noah falava algo que Lucas não conseguiu ouvir. Os dois riram, como se estivessem em seu próprio mundo, completamente alheios ao ambiente ao redor.

— Então esse é o Noah? — perguntou Lucas, mantendo o tom neutro enquanto olhava para Gabriel.

Gabriel suspirou e assentiu com a cabeça, sem desviar os olhos da cena à sua frente.

— Sim. Ele mesmo. O cara mais atraente do Campus.

Lucas arqueou uma sobrancelha e encarou Gabriel, que agora estava visivelmente encantado com a presença de Noah e Lara juntos.

— E agora, junto com a garota mais linda do Campus… — Gabriel dramatizou, jogando a cabeça para trás e apoiando o antebraço na testa como se estivesse prestes a desmaiar. — É muita beleza para meus pobres olhinhos.

Lucas apenas balançou a cabeça, sem conseguir conter um leve sorriso diante da reação exagerada de Gabriel, mas no fundo algo no peito dele parecia pesar. Ele desviou o olhar para os dois, agora mais próximos um do outro, e respirou fundo, como se quisesse afastar um pensamento incômodo antes que ele ganhasse forma.

E assim, o entardecer continuava lançando sua luz dourada no corredor, enquanto as peças daquele estranho jogo do destino começavam a se mover.

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