A noite já ia avançada quando Bran, Kaelen e Roric finalmente retornaram a Boreal, a região gelada do Norte onde sua alcateia governava. O vento frio cortava a pele, mas não os incomodava. Aquele era seu lar, e ali estavam no controle.
Depois de passarem horas na casa dos amigos Stefan e Scott, os Alphas de Silverwood, os irmãos finalmente cruzaram as portas da grande mansão. Tiraram os casacos pesados e se jogaram no sofá da sala de estar, exaustos da longa noite. Bran e Roric trocaram olhares. Ambos sabiam que suas companheiras, Isadora e Lyra, ainda estavam em Silverwood. Só retornaram a Boreal depois da marcação, como mandava a tradição. A Deusa da Lua as havia destinado a eles, e dentro de cinco dias precisavam selar esse laço. O silêncio se instalou entre os três, até que Kaelen quebrou a tensão: — Lyra... Os irmãos o entenderam de imediato. O problema não era apenas a marcação. O coração de Lyra já pertencia a outro. — Alastor. — A voz de Roric saiu grave, quase um rosnado. — As regras do Conselho são claras. — Bran suspirou, cansado. — Não há união entre espécies. Kaelen encarou os irmãos, os olhos carregados de incerteza. — O que acontece se ela recusar a marcação? O silêncio foi resposta suficiente. A Deusa da Lua havia escolhido. Mas e se Lyra desafiasse esse destino? E o tempo estava se esgotando. Bran passou as mãos pelo rosto, exausto, antes de encarar os irmãos. — Se Lyra fizer isso... — sua voz saiu firme, carregada de autoridade —, Stefan e Scott terão que expulsá-la da matilha. Kaelen cerrou os punhos, o maxilar tenso. Ele sabia que os irmãos de Lyra jamais queriam fazer algo assim, mas o Conselho não lhes daria escolha. — E tenho certeza de que ela não vai querer ficar sem proteção. — Bran continuou, seu olhar sombrio. — Quem é expulso da matilha não tem mais direitos, não tem mais um lar. E o Conselho dos Lobos decide o que fazer com ela. O silêncio na sala se tornou pesado. Eles sabiam o que acontecia com lobos renegados. Alguns eram caçados. Outros, banidos para sempre, condenados a viver como nômades, vulneráveis a qualquer ameaça. — Ela não pode ir contra isso. — Roric disse em tom baixo, mas havia algo de definitivo em suas palavras. Kaelen olhou para o fogo crepitando na lareira, os pensamentos tumultuados. O destino de Lyra já estava traçado. Mas e se ela desafiasse as regras? O tempo estava se esgotando. Bran e Roric sabiam que, no dia seguinte, precisavam anunciar à alcateia que a Deusa da Lua havia lhes concedido suas companheiras. Era uma tradição. A matilha precisava reconhecer e aceitar a decisão da Deusa, pois uma companheira marcada se tornava parte essencial da estrutura da alcateia. Kaelen cruzou os braços e lançou um olhar divertido para Bran. — Você teve sorte. Isadora gosta de você. — Ele então virou-se para Roric, um sorriso irônico no rosto. — Já você... bem, Lyra é rebelde. Roric soltou um pequeno rosnado, os olhos brilhando com um lampejo dourado. — Não importa o quanto ela seja rebelde. Ela é minha companheira, e eu vou ensiná-la a seguir as regras. Kaelen ergueu uma sobrancelha, claramente se divertindo com a situação. — Boa sorte com isso. Bran apenas suspirou, apoiando os cotovelos nos joelhos. — O importante é que a alcateia aceite. Depois disso, você resolve os problemas pessoais com suas companheira Roric permaneceu em silêncio por um momento, olhando para o fogo na lareira. Ele sabia que não seria fácil. Lyra sempre desafiou qualquer regra imposta a ela, e agora ele seria aquele que deveria guiá-la... ou domá-la. E no fundo, parte dele gostava desse desafio. A noite seguia silenciosa na mansão de Silverwood, mas dentro dela, uma tempestade estava prestes a se formar. No segundo andar, Stefan e Scott caminharam pelo corredor, seus passos firmes e decididos. Nenhum dos dois bateu na porta do quarto de Lyra — apenas entraram. Lyra, que estava de pé diante da janela, não se deu ao trabalho de olhar para eles. Seus olhos estavam fixos na lua brilhando no céu escuro, e seus pensamentos estavam longe dali... em Alastor. — Vocês podiam ao menos bater. — Ela disse friamente, os braços cruzados. Stefan ignorou o comentário e foi direto ao ponto. — Daqui a cinco dias, você será marcada. — E depois disso, irá morar em Boreal. — Scott completou, a expressão séria. Lyra fechou os olhos por um instante antes de se virar para encará-los. — Eu não quero isso. — Sua voz saiu firme, mas havia algo a mais nela... revolta, talvez até dor. Stefan cruzou os braços, mantendo a postura rígida. — A Deusa da Lua escolheu, Lyra. Você sabe que não pode ir contra isso. Ela riu, mas sem humor. — E se a Deusa estiver errada? Scott franziu o cenho. — A Deusa nunca está errada. Ela sabe o que é melhor para todos nós. Lyra sentiu o peito apertar. Como poderia aceitar algo assim? Como podia simplesmente esquecer o que sentia por Alastor e se entregar ao que o destino impunha? Mas uma coisa era certa: ninguém ali lhe daria escolha. A noite estava silenciosa em Silverwood, mas dentro da mansão, a tensão era quase sufocante. Lyra permaneceu diante da janela, seus olhos fixos na lua. Seu coração batia acelerado, sua mente mergulhada em pensamentos que não queria ter. — Você tem que aceitar, Lyra. — Stefan disse, sua voz firme, porém contida. Ela se virou devagar para encará-los, os olhos carregados de desafio. — E se eu não quiser? E se eu rejeitar essa marcação? Scott suspirou pesadamente, trocando um olhar tenso com Stefan antes de dizer: — Se você rejeitar seu companheiro… seremos obrigados a expulsá-la da matilha. O ar pareceu escapar dos pulmões de Lyra. — O quê? — Sua voz saiu mais baixa do que pretendia. — O Conselho dos Lobos decidirá o que fazer com você. — Stefan completou, sem desviar o olhar. — Mesmo que isso nos destrua por dentro. O silêncio que seguiu foi avassalador. Lyra sentiu um nó na garganta, engolindo em seco. Se rejeitasse a marcação, perderia tudo. Sua família. Seu lar. Sua proteção. E o Conselho… faria com ela o que bem entendesse.Quatro dias haviam se passado. Agora, restava apenas um até que Isadora e Lyra fossem marcadas por seus companheiros, Bran e Roric.No Norte, a noite estava fria como sempre, mas a tensão no ar era quase palpável. No centro do grande salão da mansão da alcateia, Bran e Roric estavam lado a lado, seus olhares firmes e cheios de autoridade. Kaelen, o terceiro irmão e também líder, permanecia à margem, observando em silêncio.A alcateia estava reunida, esperando por respostas. E então, Bran falou:— A Deusa da Lua nos concedeu nossas companheiras.O burburinho começou instantaneamente, mas Roric ergueu uma mão, impondo silêncio antes de continuar:— Elas são Isadora e Lyra, lobas do Sul, da alcatéia de Silverwood. Amanhã, serão marcadas e virão para o Norte.As reações foram imediatas. A maioria dos lobos apenas assentiu, aceitando a vontade da Deusa. Mas duas vozes femininas cortaram o ar com indignação.— Isso é um absurdo! — Jessica, uma loba de olhos afiados, esbravejou.— Nós estáva
Após dez horas de viagem, o carro finalmente atravessou os portões da mansão da alcateia Boreal. O frio cortante do Norte era bem diferente do clima mais ameno de Silverwood, e isso foi a primeira coisa que incomodou Stefan e Scott assim que desceram do veículo.— Mas que droga de frio é essa? — Scott resmungou, puxando o casaco mais para perto do corpo.— Como vocês conseguem viver aqui? — Stefan reclamou, esfregando as mãos.Bran, Roric e Kaelen, que já esperavam do lado de fora, trocaram olhares antes de soltarem uma risada baixa.— Isso aqui é nada. — Kaelen comentou com um sorriso de canto. — Esperem até chegar o inverno de verdade.Roric apenas balançou a cabeça, se divertindo com o desconforto dos Alphas do Sul.Mas enquanto os irmãos conversavam, um detalhe não passou despercebido.Lyra estava séria.Diferente da irmã, que desceu do carro sorrindo, Lyra mantinha a expressão fechada, visivelmente irritada. Seu olhar percorria a mansão e os lobos ao redor, mas não demonstrava c
Horas passaram, e as bebidas continuavam fluindo. O ambiente estava mais relaxado, as conversas mais soltas, mas nem todos estavam no mesmo clima. Lyra continuava bebendo seu coquetel, ignorando os olhares ao redor. Isadora, sentada ao seu lado, já estava incomodada. — Lyra, você não acha que já bebeu o suficiente? — Isadora perguntou, franzindo a testa. Stefan e Scott também olharam para a irmã. — Isa tem razão. — Stefan comentou. — Você nunca bebe tanto assim… Scott cruzou os braços. — Isso é algum tipo de protesto? Lyra bufou, revirando os olhos. — E se for? Isadora suspirou, frustrada. — Você está sendo infantil. Lyra encarou a irmã com irritação. — Infantil é vocês aceitarem essa loucura como se fosse algo normal. Enquanto isso, Roric observava tudo em silêncio, os olhos fixos em sua futura companheira. Ele se inclinou levemente para o lado, se aproximando de Kaelen e sussurrou com um tom carregado de certeza: — Eu vou domá-la. Kaelen arqueou uma so
Lyra respirava com dificuldade, os lábios ainda formigando pelo beijo intenso. Mas ela não podia ceder.Não queria ceder.Com o olhar firme, ela ergueu o queixo e declarou:— Nunca vou te amar, Roric.Os olhos dele se estreitaram.— É Alastor quem eu amo.O nome do vampiro saiu de seus lábios como um desafio, mas também como uma dor profunda.Roric ficou em silêncio por um instante. O frio da noite parecia ainda mais intenso quando seus olhos escureceram, sombrios e perigosos.A neve caía ao redor deles, mas o que fez Lyra estremecer não foi o clima… foi a presença dele.— Você acha que tem escolha, Lyra? — A voz dele veio baixa, carregada de um poder bruto que a fez prender a respiração.Antes que ela pudesse reagir, ele a puxou novamente contra si.Dessa vez, o beijo não era apenas intenso.Era domínio.Era um Alfa reivindicando sua companheira.Roric não pediu permissão. Tomou o que já era dele.Ele pressionou seu corpo contra o dela, fazendo-a sentir sua força, sua posse. Ele não
O sol mal havia surgido no horizonte, e no Norte, a rotina dos Alphas já começava. Bran, Roric e Kaelen acordaram cedo, como de costume. Após tomarem banho e se vestirem, desceram para a grande sala de jantar da mansão, onde um café reforçado os aguardava. Enquanto os três se sentavam à mesa, o cheiro de café forte e pão quente preenchia o ambiente. Os únicos ainda dormindo eram Stefan, Scott e as meninas. Roric pegou sua xícara de café, levou aos lábios e lançou um olhar despreocupado para os irmãos antes de soltar a bomba: — Lyra tentou fugir ontem à noite. Bran e Kaelen pararam de comer instantaneamente. Bran arqueou uma sobrancelha, largando o garfo no prato. — O quê? Kaelen, que já sorria de canto, parecia se divertir com a notícia. — Eu sabia que ela ia tentar alguma coisa. — Ele riu, pegando um pedaço de pão. — E o que você fez? Roric deu um gole no café antes de responder, a expressão calma e segura. — Eu a impedi. Bran cruzou os braços, observando o i
Enquanto os Alphas do Norte e do Sul tomavam café e trocavam provocações, uma voz animada ecoou pela mansão.Isadora descia as escadas cantarolando, esquecendo completamente que não estava mais em casa.Quando chegou ao final da escada e viu todos os olhos voltados para ela na mesa, ficou paralisada.Seus olhos encontraram Bran primeiro, e ela ficou tímida na hora, baixando um pouco o olhar antes de sorrir para ele.— Bom dia… — disse, sua voz mais suave agora.Bran sorriu de volta, sentindo o coração acelerar ao vê-la assim tão natural.Mas antes que pudesse responder, Stefan arqueou a sobrancelha e perguntou brincando:— Eita, pelo jeito alguém acordou feliz hoje.Scott riu, mas logo resmungou:— E mais importante… você não está sentindo frio?!Isadora olhou para os irmãos e balançou a cabeça.— Não, o frio tá bem fraquinho.Scott arregalou os olhos.— Fraquinho?! — Ele apontou para a lareira. — A gente tá quase DENTRO do fogo e ainda tá congelando!Kaelen riu alto.— Talvez seja p
Lyra ficou parada por um instante, sentindo o olhar intenso de Roric sobre ela.Mas em vez de responder à provocação, manteve a expressão neutra e repetiu, firme:— Com licença.Roric sorriu de canto, mas não disse nada.Depois de alguns segundos de tensão, ele deu um pequeno passo para o lado, abrindo caminho.Lyra passou rapidamente, sem olhar para trás, sentindo seu coração bater mais forte do que queria admitir.Lá fora, o clima era completamente diferente.Isadora olhava ao redor, os olhos brilhando de encantamento.O território do Norte era vasto, coberto por neve reluzente e árvores imponentes.— Uau! Isso é tão lindo! — Ela exclamou, animada.Ela girou no próprio eixo, admirando a paisagem gelada, os flocos de neve caindo suavemente.Sem perceber, seus olhos encontraram os de Bran.E de repente, toda aquela animação virou timidez.Ela desviou o olhar rapidamente, as bochechas corando levemente.Bran, que observava tudo com um pequeno sorriso, achou aquilo adorável.Stefan e S
A lua cheia brilhava forte no céu, iluminando a mansão com um brilho prateado.Era a noite da marcação.No quarto, Lyra observava Isadora se arrumando com um misto de inquietação e descrença.— Você parece feliz… — Lyra murmurou, cruzando os braços.Isadora sorriu suavemente, ajeitando os cabelos.— A Deusa da Lua nos uniu por um motivo. Eu aceito meu destino, Lyra.Mas Lyra apertou os punhos, sentindo o coração apertado.Ela não queria isso.Não queria pertencer a Roric.Seu pensamento voava até Alastor, mas sua loba, Isis, rugia dentro dela, ansiosa, impaciente.Do outro lado da mansão, Bran e Roric estavam se preparando.Os irmãos ajeitavam suas roupas, os olhos brilhando com a certeza do que aconteceria naquela noite.Seus lobos rugiam dentro deles, sedentos para reivindicar suas companheiras.Kaelen riu, encostado na parede.— Vocês estão parecendo dois predadores famintos.Bran ajustou a gola da roupa, rindo baixo.— É exatamente isso que somos.Roric não sorriu.Ele pensava em