— Eu fui um ser criado pela deusa, um simples bruxo que podia manipular magia. No início, eu achava grande coisa, era um ser capaz de ajudar os outros seres com meus dons, era maravilhoso, mas quando o amor encheu o meu peito, conclui que o ódio não é muito diferente dele, ambos são sentimentos intensos.Ele divagou por um momento enquanto os longos dedos seguravam aquela taça quase vazia. Será que no fim dessa conversa eu saberia pelo menos o seu nome? Eu gostaria de saber o nome do ser que está destruindo aquele mundo. De repente senti curiosidade para entender suas razões, mas tinha medo de sentir compaixão. — Quando absorvi a essência de Nyha eu fiquei feliz por finalmente ter ela junto a mim. Mesmo que seus olhos estivessem sem vida, uma parte dela se uniu a mim. No entanto, não era suficiente para que vivêssemos juntos e foi aí que começou a minha busca pela imortalidade. Eu queria ser como essa estátua que esculpi, existir para sempre.Meu coração já estava calmo, mas ainda m
DarykSelene puxou o ar com força antes mesmo de abrir os olhos, ela se desvencilhou dos meus braços e caiu no chão. A tosse veio em meio ao vômito. Abaixei-me junto a ela e a amparei. A magia estava fora de controle, felizmente, foi por pouco tempo. A magia a envolveu suavemente durante seu sonho, mas de repente explodiu pouco antes que acordasse.— O que está acontecendo aqui? — Zephyr invadiu a casa e não me dei o trabalho de olhar. Selene tossiu mais algumas vezes e respirou fundo, estava sem fôlego, mas seu corpo não aparentava estar afetado com gravidade pela magia forte. — Controle sua mente, Selene! — Maya impôs com sua voz autoritária e Selene fechou os olhos, obedecendo.Ela estava trêmula, com o rosto molhado de lágrimas, o suor estava por sua pele. A abracei, eu só poderia acalmá-la assim, o lobo a envolveu, forçando a ligação inacabada, mas ainda assim, existente. Selene foi respirando mais calmamente e a magia diminuiu aos poucos, até sumir completamente. — Alguém po
SeleneQuando o portal fechou atrás de nós, olhei atentamente para aquela terra árida sem vida, era de se perder de vista, embora a lua fosse grande o suficiente para nos dar uma boa vista noturna, não se podia ver muito além.Na nossa frente, o caos, era triste ver aquela luta sangrenta e não poder intervir, mas eu precisava manter o foco. Examinei rapidamente os arredores, mesmo se eu contornasse, seria difícil chegar ao picoO vento frio passou por nós e compartilhei minha visão com o lobo, precisava que ele entendesse minhas palavras silenciosas. Imediatamente, Daryk seguiu meu comando e correu pela lateral, contornando a multidão que lutava de forma furiosa.Inicialmente, achei que conseguiria, mas Daryk desviou de um outro lobo antes de ser atingido por uma besta. Eu rolei pelo chão depois de uma manobra de Daryk para que eu não me machucasse muito. Eu me levantei rapidamente, não podia perder tempo pensando se tinha me machucado, meu sentimento de impotência diante daquela lut
SeleneAo final daquele túnel, um grande salão com várias tochas em seu torno. Estremeci ao sentir a magia dentro de mim reagir. No centro havia um poço, era ali a fonte daquela magia escura.Daryk rosnou à presença daquele ser. Sentado como se estivesse em um trono, o homem de longos cabelos escuros nos olhava com um leve sorriso. A veste negra se assemelhava a uma túnica longa, a calça também da mesma cor, não cobria totalmente os pés descalços. Ele estava completamente diferente do que vi naquele sonho. Seus cabelos longos e negros ainda estavam soltos e não havia adornos, parecia apenas um bruxo comum, no entanto, os olhos perigosos brilhavam.Desci de Daryk, mas hesitei, tinham cobras ao redor da fonte e nos cantos. Elas estavam observando, atentas ao comando do seu mestre. Ainda me lembro claramente do primeiro sonho que tive quando cheguei aqui, uma anciã sendo morta por elas enquanto ele apenas sorria. — Então você realmente veio. — Sua voz sibilou, carregada de escárnio. Se
SeleneO abracei e coloquei o ouvido na lateral do seu corpo, seu coração estava fraco e se eu pudesse dizer algo a ele, diria apenas um obrigado. Obrigado por me amar, por aceitar minhas escolhas e querer estar ao meu lado. As lágrimas saíram, o nó aumentou em minha garganta, então, fechei os olhos naquele choro silencioso.— Me desculpe por não fazer mais, meu amor, mas quero que saiba que sempre o amarei e espero nosso encontro na nossa próxima vida. Eu te disse, lembra? As almas destinadas sempre se encontram.Ele respirou fraco, seu corpo estava mais frio, então me arrastei para ver sua face. Seus olhos vermelhos já não tinham tanto brilho e limpei um pouco das lágrimas que escorriam pelos pêlos mais curtos. — Eu prometo que não serei tão teimosa quando nós nos reencontrarmos. — Solucei, era doloroso demais. — Me prometa que vai me achar, que vai me amar assim como me amou agora. Ele fechou os olhos por um momento e senti sua fraca magia me envolver, senti seu calor e aos pouc
SeleneOlhei novamente para a casa modesta de campo. Era bonita, dois andares, em madeiras horizontais e com alguns canteiros de flores ao redor. Tinha um lago um pouco distante e um baixo cercado limitando o lugar, dois cavalos marrons pastavam com tranquilidade. Voltei-me novamente para a casa e percebi que tinha gente, eu estava nos fundos e segui a pequena trilha que levava até lá.Quanto mais me aproximava, mais ouvia os sons, não só dos pássaros de fim de tarde, tinha uma música baixa, animada. O cheiro de bolo chegou até mim, lembrei de quando Loren fazia bolos no fim de tarde para tomarmos com chá.Passei pelo portão baixo de ripas, era bonito, enfeitado com pinturas de flores, dali para frente não era diferente, tinham algumas galinhas ciscando, jarros de flores espalhados, um jogo de cadeiras de jardim junto a uma mesa, algumas fruteiras baixas…Eu viveria bem em lugar desses, a vida parecia tão tranquila.A porta estava aberta, quando entrei me deparei com uma cozinha peque
SeleneSeus olhos verdes foram a última coisa que vi antes de tudo escurecer. De repente me senti confusa, dolorida, estava frio.— Selene…Daryk?— Abra os olhos, fêmea.Daryk…O ar entrou nos meus pulmões e senti alívio. Estávamos vivos. Abri os olhos devagar e o vi, ele sorriu e me beijou. Levei minha mão até seu rosto com dificuldade, era realmente ele. Daryk a pegou e beijou minha palma, seus olhos vermelhos voltaram a cor escura no momento seguinte.— Acabou, fêmea. Tudo acabou. — Ele beijou minha mão novamente e abri a boca, mas minha garganta doeu. — Não fale, você está machucada, não faça nenhum esforço.Concordei me sentindo exausta, olhei para o lado e vi as serpentes mortas, elas estavam secas, mais na frente, aquele ser também estava morto e assim como as cobras, estava seco. Será que morreu de fato? Assim, tão facilmente? Eu não sei, tenho a impressão que não.— Você conseguiu, fêmea. — Daryk me levantou e me ajeitou no seu colo. Senti falta do seu calor. Não era um sonh
SeleneEntramos na casa como se eu fosse uma noiva, Daryk não me colocou no chão e ainda não mostrava intenções de me colocar no chão. A casa estava pouco iluminada, havia apenas aquele fogo no canto sendo sustentado por aquelas pedras, tinha alguns poucos móveis, mas não consegui observar direito, Daryk subiu as escadas e me levou para um quarto. Assim que entramos, um fogo se acendeu no canto.— Ainda não tem muita coisa, apenas o necessário. — Colocou-me sentada em uma cadeira ao lado de uma banheira. — Está com fome? — perguntou enquanto abria uma trava, quando finalizou a volta, a água escorreu por um bambu, ou algo similar, eu não sabia dizer.— Não, sinto apenas sono — respondi ao olhar para o quarto. Tinha uma cama no chão. Não estava forrada, era possível ver as fibras tecidas de cordas. Quis me jogar lá, parecia macio. Escutei a água caindo e enchendo a banheira de madeira, mas apenas observei aquele lugar. A grande porta ocupava quase uma parede, tinha uma fina cortina cl