Selene— Não esperava que pedisse isso.— É um pedido impossível? — A encarei com expectativa.— Não, mas pode ser arriscado. Eles não podem saber desse nosso mundo e de você.— Eu sei, mas…— O que você pretende dizer a eles? — interrompeu-me e entendi o onde queria chegar. — Vai de repente sair de um portal e bater na porta sem mais nem menos?— Eu… eu não pensei nisso.— Não estou querendo te desanimar, Selene, apenas pense com calma.Maya não estava errada, eu precisava pensar em como fazer. Se eles me vissem iriam fazer inúmeras perguntas, meu irmão nem se fala, ele deve ser o que está mais louco com o meu sumiço, no entanto, não poderia ficar assim para sempre, é cruel e injusto desaparecer completamente da vida deles.— Mesmo assim, eu vou, mas apenas quero vê-los de longe, só para saber se estão bem.— Se é assim, tudo bem. Vá se preparar.— Vamos agora?— Sim. Não esqueça do colar.Acenei sentindo meu coração acelerar. Entrei no caminho que levava para a casa e praticamente c
SeleneLoren cantarolava uma música e seu perfume chegou até mim, era aquela fragrância suave que sempre usava. O vestido floral azul colado em suas curvas a deixava bonita como sempre, na verdade, ela não tinha mudado nada, era o mesmo penteado, o mesmo jeito de fazer as coisas.Apenas eu mudei, mas ela não iria ver. Observei por um tempo e entrei mais na casa. A sala tinha a mesma mobília, os móveis estavam nos mesmos lugares, mas algumas almofadas eram de estampas diferentes. Loren mudava as vezes, ela sempre foi caprichosa com a casa. Suspirei e subi as escadas, entrar nessa casa, apesar de me dar bastante recordações, não foi como imaginei que seria. Eu me senti um pouco distante. Ao entrar no meu antigo quarto, achei sem vida, a cama estava apenas com um lençol branco e as coisas que deixei para trás, ao que parece, estavam dentro de algumas caixas empilhadas em um canto.— Esse era o seu quarto? — Maya perguntou ao olhar a pouca mobília.— Sim.— O que sente estando aqui?—
ErikNunca fui um homem fraco, já passei por muitas coisas, algumas muito precoces, assim como a perda dos meus pais, a partir daí, muita coisa mudou. Assumi responsabilidades cedo demais. Minha família é tudo para mim, hoje ela é pequena, meus parentes moram distantes, então eu não os considero, mas não me preocupo com eles. No futuro eu também terei filhos e minha família aumentará. Eu aprendi a valorizá-los muito cedo e hoje os queria sempre debaixo das minhas asas, no meu alcance, onde eu pudesse ver se realmente estava tudo bem. Porém, desejos nem sempre se tornam realidade, agora mesmo, eu não tinha todos no meu campo de visão. Estacionei o carro na frente de casa, já era hora do almoço. Talvez eu tenha ficado egoísta, medroso, eu tinha medo de perder alguém que amo porque a vida é frágil. Peguei a pasta com os documentos desse tempo que busco por, Selene, as autoridades me dizem que não há pistas, mas que continuam investigando. Eu não acredito que alguém desapareça sem dei
Erik— Não sei — Loren examinava o conteúdo da carta, abismada. — Mas com certeza é dela, a letra e até os desenhos fofos nos cantos da folha, ela dizia que era sua marca registrada. — Sorriu um pouco emocionada. — Não tenho dúvidas que seja ela. — Limpei as lágrimas que insistiam em escorrer.— Céus, ela está viva e bem. — Loren me abraçou e me concentrei naquele perfume. — Sim, está viva… — Sentei-me na poltrona levando Loren junto.Ela se acomodou no meu colo e apoiou a cabeça em meu ombro, a carta continuava na sua mão e ela suspirou a manter o papel aberto na nossa frente.— Meu coração está aliviado, vovó ficará feliz quando souber — comentei um pouco mais calmo— Você viu o endereço que a carta partiu?Alcancei o envelope sobre a mesa e a entreguei.— Não tem.— O que? Mas então, como eles entregaram essa carta?— Eu não faço ideia.Encarei o envelope nas suas mãos apenas com o nome dela escrito. Não tinha explicação, se ela mandou essa carta assim, quem a deixou aqui? Será q
Daryk— Por nada, foi apenas uma observação verdadeira.— Você está estranho desde que voltou e isso já faz tempo. Eu sei que está escondendo algo. — Estou, mas não vou falar nada até que chegue a hora. — Avancei para dentro do cômodo e subi as escadas que estavam no canto.Na parte de cima, os quartos se dividiram pelo amplo espaço, eram dois, um dos meus pais e outro que dividia com Arin. Olhei para suas respectivas entradas e apenas entrei no meu.Assim como o restante da casa, estava vazio, não era tão grande, mas me oferecia muito conforto, eu tinha o necessário para viver bem. Talvez não fosse suficiente para dar conforto a Selene, eu teria que pensar melhor no que colocar dentro. Sentei-me na grande porta que dava para fora e olhei para baixo. Estavam todos ocupados e pareciam felizes naquela tarefa. Respirei fundo e fechei os olhos por um momento, faz tempo que não a vejo. Depois que saí de lá, não pude voltar, mas achei por bem aguardar pois sei que quando chegar a hora, e
SeleneA terra preta e seca manchava meus pés junto com o vestido. Maya e as outras vieram atrás de mim, mas mantinham alguma distância. Me deixei guiar até parar em um lugar onde havia restos de um tronco, ali existiu uma grande árvore, era o ponto certo.Sentei no chão de pernas cruzadas, entrelacei meus dedos sobre o colo, exatamente como havia treinado tantas vezes. Maya ficou próxima a mim e as outras, mais distantes, formaram um círculo, elas balbuciaram algo de olhos fechados e a barreira subiu, depois se ampliou alcançando uma grande área.— Você sabe o que fazer, Selene. — Maya reforçou e respirei profundamente.O vento começou a se formar assim que consegui me conectar com a magia daquele lugar. Eu sentia a energia borbulhar abaixo do solo, estava lá esse tempo todo, reclusa, sendo impedida de sair.Aos poucos o vento foi aumentando, eu sentia o poder fluir dentro de mim, eu precisava manter a consciência o máximo possível. Eu tinha limites e meu corpo deixava bem claro quan
SelenePodia sentir o caos ao redor, cada vez que olhava através de Appul, o via lutando com uma besta, ele lutava junto com a companheira e o filhote. Eles eram letais.A pressão em meu corpo já estava alta e mais um pouco, começaria a me prejudicar, no entanto, eu não podia parar.A magia estava subindo, forçando o véu negro que revestia aquele solo. Era como se eu fosse um grande imã, eu precisava abrir passagem para que a magia saísse para a superfície, para que tomasse conta daquele solo morto. Parecia simples na teoria, mas para isso, a magia presa em mim tinha que sair e isso era o mais difícil.A terra vibrou sob mim, estava perto. Olhei mais uma vez através de Appul. O lobo negro lutava ferozemente contra duas criaturas, seus tamanhos era parecidos e suas forças equilibradas, mas dois contra um pareceu injusto. Transmiti meu desejo para Appul com tranquilidade, ele avançou sobre eles e diminuiu aquela diferença. Agradeci.A terra negra camuflava o sangue escuro daquelas criat
Selene— Você foi bem. — O elogio de Maya me fez olhá-la do chão, que era onde estava.Quando retornamos, apenas me joguei ali e relaxei o corpo. Acho que eu realmente fui bem, cumpri com o objetivo, embora talvez não fosse o lugar mais difícil, era a minha primeira vez e eu precisava considerar algumas coisas.Na verdade, eu não estava me importando com isso. Apesar de saber que era um grande feito, não esperava encontrar com Daryk. O que ele estava fazendo lá com todos eles? Eles não estavam morando no clã vizinho?Nessas horas me lembro do tempo que estou presa aqui. Não sei como não enlouqueci. Claro, eu o sentia vivo, não sei como explicar, são apenas coisas que sinto. — Seu companheiro foi de grande ajuda, irei agradecê-lo da próxima vez. Respirei fundo, ele realmente ajudou e foi uma pena não ter ficado com ele ou tê-lo trazido para cá. Sinto tantas saudades. — Foi realmente o suficiente? — perguntei ao me sentar. — Não ficamos muito tempo.— Sim. As passagens foram abertas