SeleneQuando cheguei à clareira, Daryk já estava lá, era fim de tarde, o sol estava se pondo. Ele estava sentado com os braços apoiados nos joelhos, olhando o horizonte. Olhando-o agora, meu peito se apertou.— Oi. — Sentei ao seu lado.— Oi — disse, após beijar minha boca rapidamente. — Que bom que veio.Daryk desceu os olhos para o meu colar. Hoje resolvi deixar a mostra, ele me passava segurança e já não sentia receio de mostrar a ele.— Daryk, o que está acontecendo? É algo muito grave? — perguntei, não aguentando esperar.— Não é nada grave, Selene, mas preciso que tenha a mente aberta. — Ele virou novamente para contemplar aquela vista. — Você acredita em destino?— Sim, acredito.— Eu sempre fui um pouco cético quanto a isso, sempre achei que o destino era algo sob o nosso controle, mas aí, você me encontrou exatamente no momento que saí daquela mata.O calafrio espalhou-se pelo meu corpo ao lembrar desse dia, o medo de perdê-lo agora corria em minhas veias como um veneno e o
SeleneAlgo pinicava minha pele, estava úmido. Mexi as mãos sentindo a vegetação e a terra. Aos poucos fui recordando, Daryk…Estávamos conversando, ele começou a falar coisas sem sentido e depois… Não, devia ser apenas minha imaginação, não era possível alguém se transformar em um animal, ainda mais daquele tamanho.Uma lufada de ar me forçou a finalmente abrir os olhos, a primeira coisa que vi foram os olhos do lobo. Ele encostou seu focinho na minha bochecha empurrando levemente.Certo, não era um sonho. Sente-me e o lobo ficou próximo, um grande lobo sentado e aparentemente, dócil.— Isso é loucura… — disse a mim mesma.Coloquei-me de pé e fui seguida pelo olhar atento dele. Agora eu não estava sonhando e mesmo que o sol já tivesse sumido, ainda permanecia uma pequena claridade. Ainda sob o olhar dele, alcancei a mochila e peguei a lanterna. Eu não estava nervosa, deveria, mas não estava. E por mais loucura que fosse, eu vi com meus próprios olhos. Cocei a testa antes de ligar a
Selene— Mas… — Senti aquele aperto no peito, eu sabia que esse dia chegaria, ainda assim, não consegui me preparar para me despedir. Eu não devia ter me deixado envolver dessa maneira.— Venha comigo, Selene. — Abandonar tudo assim, minha família, minha vida… Eu não sei. — Estava nervosa, sentia aquela emoção dolorosa, queria chorar.— Você não pertence a esse mundo, seu lugar agora é ao meu lado. Há muitas coisas que você precisa saber, Selene, talvez não seja tão simples agora no início, mas logo você compreenderá. Você é minha companheira, é aquela que foi destinada para ser meu par. — Eu acho que essa é uma decisão que não pode ser tomada de forma precipitada, Daryk. — Eu a entendo, Selene, você cresceu aqui, criou laços, mas independente de ser minha destinada, seu lugar realmente não é aqui. E eu não vou mentir e dizer que é apenas por isso, a verdade é que eu a quero ao meu lado e garanto que a amarei, a protegerei com a minha vida se for preciso.— Quando pretende ir?— O
Alguns dias depois…DarykEra quase fim de tarde e o carro ia em alta velocidade. Selene dormia apoiada em meu ombro, nós chegaríamos à noite no local que ficava perto do portal. Zarek estava sentado na outra extremidade e Selene no meio. Na frente, um bruxo chamado Asher dirigia e Lykon ia no banco do passageiro.Havia apenas um problema: os olhares que Asher tinha em cima da minha fêmea, eu não estava gostando. Ele era um bruxo que já vivia aqui há muito tempo, pelo que soube, foi sua escolha, ele tinha traços de uma idade avançada, cabelos com fios brancos, marcas no rosto, mas seus olhos não eram bons. Zarek disse que ele era do tipo que fazia qualquer coisa por uma boa recompensa, seres assim não tinham bondade.— Algum problema, Asher? — perguntei não escondendo minha hostilidade.— Problema algum, alfa — respondeu risonho. — Só estava me perguntando o porquê de estar levando uma humana. Ela poderia morrer facilmente naquele lugar, uma picada de algum inseto venenoso seria fatal
SeleneO lençol limpo em cima daquela cama me deixava mais confortável, agradeci por Daryk pedir que o colocasse na mochila, segundo ele, dormiríamos na floresta e que eu precisaria, apenas eu já que ele dormia em qualquer lugar. Imaginava que sim, ele é um lobo, afinal.Depois do banho seguido de um orgasmo, consegui relaxar um pouco, meu corpo estava cansado, mas minha mente estava mais. Foi bem dolorosa a minha saída de casa, eu senti como se nunca fosse voltar. Talvez nunca voltasse realmente, não fazia ideia do que me aguardava nesse outro mundo. Uma batida na porta me trouxe para a realidade, Daryk a abriu e Zarek sorriu e disse algo apontando umas sacolas. Infelizmente, eu não entendia quase nada do que eles falavam, algumas palavras sim, parece que eles aprenderam o essencial.O outro homem entrou em seguida com mais algumas sacolas, pelo que soube, não era um lobo e sim um bruxo. Ele parecia ser da mesma geração que Daryk e Zarek, jovem, bem, pelo menos na contagem deles, a
DarykO cheiro fresco de sangue inundava minhas narinas e para onde eu olhasse, via apenas a morte. Os seres se enfrentavam em meio a escuridão da floresta. A lua banhava seus filhos através das pequenas frestas entre as árvores. Eu lutava pelos meus já em menor número. Estávamos morrendo.Meu lar era consumido pelas chamas e, embora meu sangue fosse o alvo, quem estivesse pelo caminho perderia a vida. Em breve eu seria o alfa, meu pai estava próximo de me passar esse título, no entanto, o destino quis de outra forma. Nosso mundo estava morrendo, sendo sugado pouco a pouco. Nós dependíamos da magia, mas ela também servia como combustível para seres malígnos que almejam poder. Havia um bruxo, ele começou tudo isso, sua ambição por controle e vida eterna plantou a escuridão nos corações de muitos, a magia limpa foi se tornando negra e o solo infértil.Mas não era só ele que se tornava estéril. Nossas fêmeas não geram mais filhotes, a última geração foi a minha e já tinha muito tempo.
SeleneEnfim, estava de volta.Uma música tocava no som do carro e a estrada só não estava mais escura devido a lua cheia alta no céu. Eu gostava de noites assim, iluminadas, sempre achei fascinante, às vezes passo horas a olhando, é como se me prendesse, me hipnotizava.Hoje, com vinte e sete anos nas costas, voltava pra casa com certo orgulho pelas minhas conquistas, mesmo assim, ainda sentia que algo me faltava. Sempre acreditei que o futuro guardava algo grandioso para mim, mas com o tempo, fui apegando-me cada vez mais a realidade maçante que a sociedade impõe: Estudar igual uma louca para fazer uma faculdade, depois, aceitar a rotina árdua do dia a dia por um salário, e claro, não menos importante, casar e ter filhos.O que mais poderia querer? O que mais... Era uma pergunta recorrente que eu ainda não tinha respostas.A faculdade foi algo que lutei muito para ter, apesar da minha família sempre apoiar-me, queria conquistar as coisas por mérito próprio. Um orgulho besta talvez
SeleneO que foi aquilo?Levei a mão na cabeça, atordoada, demorei alguns segundos para recuperar os sentidos e felizmente, eu estava de cinto.— Por Deus… é um homem! — Senti o desespero. — Eu... eu o matei?O farol iluminava o homem mais na frente que ainda estava de pé, felizmente, eu não o atropelei, mas suas pernas cederam no momento seguinte e ele caiu.Apertei o volante, ele estava ferido e… O que um homem nú faz no meio da estrada em lugar desses? Há chácaras e fazendas nas proximidades, mas são distantes da rodovia. Apesar disso, eu sentia que deveria ajudá-lo, estava aflita e minha intuição era forte o suficiente para que eu saísse do carro, mesmo que racionalmente, entendesse que talvez fosse perigoso. Nervosa, desci do carro. Firmei meus pés no chão buscando o equilíbrio, minhas pernas estavam moles.Forcei-me a andar mesmo com os joelhos trêmulos, ele não estava muito longe do carro e ao redor não tinha nada além da floresta. E quando cheguei perto, fiquei horrorizada co