༺ Maribel Varrozzini ༻ Três meses haviam se passado, e muita coisa não havia mudado em minha vida. Daqui a alguns dias, conviverei finalmente com meu filho. Já o vi várias vezes na incubadora, mas em breve poderei tê-lo em meus braços. Confesso que essa aflição de estar nessa situação me deixa um pouco nervosa. Só espero dar conta de cuidar dele, apesar da minha nova deficiência. O primeiro mês foi horrível. Tive que me adaptar a essa nova situação de não ter os movimentos das minhas pernas. No entanto, conforme os dias foram passando, comecei a me acostumar e aceitei finalmente a nova realidade. Recebi ajuda de um psicólogo que tentava me fazer enxergar que a vida era bonita, apesar dos obstáculos que eu havia enfrentado. Todos os dias, Júnior, meu cuidador, me levava até a praça para pegar um ar e ver as pessoas. Ele dizia que isso era bom para mim, assim eu não caía numa profunda depressão. Infelizmente, hoje foi um dos dias em que acabei encontrando Bryan, e posso dizer que foi
༺ Bryan Fernandes ༻ Semanas se passaram depois do meu último encontro com Maribel. A cada dia, sentia que as esperanças de tê-la de volta seriam mínimas. No entanto, eu me agarrava a esse último fio de confiança. Com tudo que vem acontecendo ultimamente, eu deixei mais de lado as baladas e, principalmente, as mulheres. Estou tentando ser um novo homem e mostrar para ela que mudei. Apenas vou para o trabalho e depois retorno para casa. Minha vida nunca mais foi a mesma desde que Maribel voltou para ela. Realmente, não consigo ficar com outra mulher, pois os meus pensamentos logo me levam para aqueles olhos da cor de violeta. Respirei fundo, observando a cidade pela janela do meu escritório, constatando que as pessoas levam sua vida como de costume. Tudo para mim passa em câmera lenta. Ouço a porta da sala abrir, mas nem me dou ao trabalho de ver quem é, apenas quando a pessoa comenta. — Você precisa voltar a ir ao psicólogo. Estou preocupado com todo esse seu isolamento, Bryan. Você
༺ Maribel Varrozzini ༻Não contive minha fúria ao saber que Bryan estava com meu filho nos braços. Ele havia sido o primeiro a pegá-lo e eu estava furiosa por isso. Já deixei claro que não quero aproximação dele com meu filho, mas parece que nada adianta dizer isso, ao perceber a tensão que se instalou no quarto médico, com todos nos observando.— Olha, sei que vocês têm suas diferenças, mas peço que aqui dentro se comportem, pois não é só o seu filho que está nessa unidade neonatal!— Não se preocupe, eu não vim arrumar confusão, apenas visitar meu filho. Quem não se comporta como uma pessoa com educação é a própria mãe dele. Outra coisa, Maribel, não pense que pode me tirar o direito de conviver com meu filho, pois isso eu não vou permitir. — olhei para ele furiosa, pois não estava acreditando na tamanha cara de pau de me chamar de mal-educada.Ao perceber que o clima ficava ainda mais tenso, o médico comentou novamente.— Como disse, resolvam suas diferenças lá fora. Eu não quero vo
༺ Bryan Fernandes ༻ Saio apressadamente desse maldito hospital e, assim que chego no estacionamento, não consigo me conter e dou um soco com toda a força que possuo na parede. Então tudo não passava de uma farsa? Eu pensava que ela estava realmente casada com meu pai. Os dois me fizeram de idiota, não consigo esquecer isso. Tentei de todas as formas conseguir o perdão de Maribel, mas cheguei à conclusão de que cada dia isso estava se tornando um túnel sem fim. Parei no primeiro bar que estava aberto e fechei os olhos enquanto aguardava o garçom me servir uma dose de uísque. Todos esses meses eu tentei de todas as formas fazer com que o coração dela amolecesse, mas o ódio que ela sente por mim é maior do que tudo. Estou cansado disso. Meu pai também não passava de um traidor. Eu não sei por que não me surpreendo que ele tenha feito isso para me punir, para me fazer pagar. Sempre foi assim, ele resolve as coisas com alguma punição para que eu aprenda. Depois da quinta dose, já não e
༺ Vincenzo Fernandes ༻ Bryan chegou aqui de repente, e acabamos discutindo. No entanto, eu podia perceber que ele estava completamente bêbado, então não insisti em ir mais fundo nessa discussão. Após me dizer as coisas mais horríveis que ele poderia ter falado, simplesmente saiu, e mandei os meus seguranças fecharem o portão. Porém, não adiantou de nada; ele passou com seu carro por cima do portão, catando pneu. Rapidamente, andei até o meu carro, e João Carlos assumiu o banco do motorista. Dirijo apressadamente, não posso deixar que nada aconteça com o meu filho. Assim que avisto seu carro, digo para João Carlos buzinar para que ele pare, mas simplesmente não me ouve, me ignora e acelera mais. Tenho medo do que possa acontecer, principalmente porque a rua está movimentada de carros. O carro dele tem momentos que vai para um lado da rua e, no outro, para o outro lado. Ao perceber que continuo sério, olhando para o carro à minha frente, João Carlos comenta. — Esse idiota, que irre
༺ Maribel Varrozzini ༻ — Vincenzo? Alô? Não tive tempo de perguntar mais nada porque a ligação foi encerrada; Vincenzo simplesmente desligou na minha cara. Mas o que ele havia me falado me deixou muito nervosa e preocupada. Comecei a me sentir culpada ao lembrar das palavras que disse a Brayan. Não poderia imaginar que aconteceria tudo isso. Para ele chegar ao extremo, com certeza, estava esgotado. Será que realmente, esse tempo todo, eu estava sendo muito cruel com Brayan e muito ressentida pelos meus sentimentos? Me sentei no sofá, tentando formular tudo que aconteceu. As palavras que Vincenzo disse não saíram da minha cabeça: ele estava entre a vida e a morte. Júnior rapidamente surgiu no batente da porta perguntando com um sorriso, tirando-me dos meus pensamentos. — Maribel, então nosso convidado de honra vai comparecer? Nossa, que cara é essa? Aconteceu alguma coisa? — Sim, aconteceu, mas é difícil acreditar. Ele não vai poder vir porque está com o filho entre a vida e a mor
༺ Esther Fernandes ༻Até agora, havia me mantido neutra em tudo o que Maribel vem fazendo com a minha família, mas cheguei ao meu limite. Percebi que meu irmão estava destruindo a própria vida por causa dela.Meu pai era cego, não sei se ele estava apaixonado por ela ou simplesmente não queria enxergar a maldade que ela vinha fazendo com o Bryan. Porém, eu não permitirei mais que isso aconteça; ela não machucará mais ninguém da minha família e desuni-los.— Você não deveria ter falado dessa forma com a Maribel, ela não tem culpa do que aconteceu. Você sabe que o seu irmão é um irresponsável — ele disse, completamente enfurecido com o meu comportamento. E respondi:— Eu não precisava? Pai, põe a mão na sua consciência. Essa mulher está destruindo a nossa família. Sei que o Bryan não é a melhor das pessoas, porém, você tem que admitir que desde que ela surgiu nas nossas vidas, ele vem se matando a cada dia por culpa dela.— Você sabe que tudo que está acontecendo é culpa dele mesmo. Foi
༺ Maribel Varrozzinni ༻Depois da minha discussão com o Esther, achei melhor sair daquele hospital. Não estava suportando os olhares acusadores dela e do João Paulo, mesmo não tendo culpa na história. Enquanto Júnior me conduzia ao carro, ele comentou.— Foi melhor assim, pelo menos você não precisa estar sendo julgada por uma coisa que não fez. Quem agiu com a irresponsabilidade foi o Bryan, não se sinta culpada por isso.Concordei com as palavras dele e respondi.— Eu não me sinto, mas conheço muito bem aquela garota, insuportável. Olha, não sei quanto tempo aguentei perto dela. Menina cheia de si que se acha melhor do que os outros.Júnior concorda com as minhas palavras e responde.— Isso é verdade. Ela é bem petulante e ousada. E arrogante. Também até entendo é uma patricinha mimada que tem tudo né? Mas olha se ela não mudar a vida vai ensiná-la.— Concordo plenamente, Júnior. Se Esther não mudar, a vida vai ensiná-la da pior forma possível. — assenti enquanto olhava pela janela,