Acordou disposto, na quarta-feira, dia sete de dezembro. A chuva persistia, chata, fina e contínua. Seguiu para o banco, levando a carta e os boletos. Trabalhou normalmente, sem maiores contratempos.
Às 11h30min saiu para almoçar com Fábio. Comeram bife com fritas, arroz e salada, enquanto a chuva fina caía, lá fora. Dessa vez ele não tocou no assunto dos crimes. Apreensivo, revelou que Ana, sua esposa, estava doente e que tudo indicava que havia alguma coisa errada com seu apêndice. Ela iria fazer um exame ainda esta semana. Desejou-lhe boa sorte. Ele agradeceu.
Após o almoço, foi aos Correios, onde comprou os selos e depositou a carta na caixa coletora. Acreditava que Sheila a receberia dentro de três, quatro dias. Agora restava-lhe esperar, torcendo para que tudo desse certo. Foi, em seguida, at&eacut
No sábado, dia 10, acordou às nove horas, aproveitando a folga. O dia foi chuvoso, melancólico, repleto de raios e trovões. Comprou o jornal e vibrou de alegria, ao ver que havia apenas uma nota pequena, tratando sobre os crimes do terreno. A polícia continuava perdida, sem pistas do assassino. O bom é que o velho afeminado não apareceu, para depor. Provavelmente por ser gay enrustido. Talvez fosse casado com uma mulher e mantinha uma vida dupla. Isso o impediria de se expor na mídia. Ótimo, pensou. Continue assim, velhinho. Estava tendo sorte. Animado, feliz, almoçou fígado acebolado no “Gument Bar”, também localizado na rua Kleber Grosk, o que o tornava concorrente dos restaurantes “Pirilo Conte” e “Fiteboy”. Apesar de mais caro que os outros dois, servia uma comida com excelente sabor.
Linda e exuberante, numa blusa amarela e short jeans, sensual. Os cabelos, presos no estilo de penteado chamado de “rabo-de-cavalo”, davam-lhe um etéreo charme. Encontrava-se sentada com as costas voltadas para o murinho. Duas amigas estavam do seu lado esquerdo; a outra, do lado direito, perfazendo um semicírculo. Ao passar na frente delas, com o coração repleto de paixão, fixou os olhos em sua amada. Ela retribuiu o olhar. No entanto, estava séria e seus olhos emitiam um brilho esquisito. O que seria? Apesar desse detalhe desagradável, sorriu e balançou a cabeça afirmativamente, cumprimentando-a. Ela não retribuiu. Olhou-o por dois segundos e logo baixou a cabeça. Não conseguiu desvendar o mistério daquele brilho. Daria tudo para saber o que estaria pensando. Teria deduzido ser ele o grandioso “Lo
No sábado, dia 17, despertou às oito horas, com olheiras e sentindo uma ligeira dor de cabeça. Sentou-se na cama e passou as mãos nos cabelos. Mais uma dorzinha chata, para sua coleção. Arre! Lembrou-se do pesadelo que tivera, com a loira Sheila querendo matá-lo. A faca! As espetadas! Putz! Doideira total! Era a primeira vez que tinha um sonho assim. Isso significaria dizer que Sheila era uma espécie de maluca, de gata esquizofrênica e que precisava se afastar dela? — Jamais — murmurou, enfático. Sheila não demonstrava ter esse perfil. Parecia ser bem-humorada, esclarecida, meiga e inteligente. Maluca? Nem um pouco. Além do mais, decidiu que não iria desistir desse amor. Não mesmo. Com certeza receberia a carta dela nos pr&o
Pediu bife acebolado com fritas, arroz e salada, no “Gument Bar”, mais uma garrafa de cerveja. O local estava quase lotado, com a música ambiente (MPB da cantora Ana Calcanhoto) dando-lhe um charme contagiante. Avistou várias mulheres bonitas, duas loiras, inclusive. Chegou a encará-las, na tentativa de um flerte, mas sem deixar de pensar na sua gatinha Sheila. Nenhuma delas sequer notou sua presença. Tudo bem. Tanto faz, refletiu. Jantou e retornou para a casa 14. Passou na frente na casa da Sheila, mas a referida estava fechada e às escuras. Teclou e viu TV. Estava quase dormindo quando, perto da meia-noite, ouviu o toque do celular, anunciando a chegada de um torpedo. Era o tradicional “boa-noite” de Patrícia, num horário inusitado. Provavelmente estaria numa pizzaria, com a tia e os familiares
Era uma carta dramática e objetiva, que forçaria a gatinha Sheila a tomar uma decisão. Se ela pedisse a foto, enviaria? Claro que sim. Na pior das hipóteses, ser rejeitado por carta seria menos doloroso que pessoalmente. Pelo menos estaria livre para continuar procurando sua “loira da faísca”. Pelo menos não viveria dias de angústia, em que o silêncio da bela Sheila era mais terrível que sua rejeição. Sem dúvida. Sem pensar mais no assunto, subscritou a carta nos moldes de sempre, com o nome “Sandra” como remetente, lacrou o envelope e o deixou sobre a mesinha-de-centro. Às 21h20min, saiu, no Uno, rumo ao shopping. Patrícia estava linda e sexy, num vestido verde-claro, com os tradicionais b
A quarta-feira, dia 21, foi chuvosa. No banco, surpreendeu-se com a beleza de sua nova colega de trabalho, a Keyla. Era uma loira linda, de 35 anos de idade. Alta, cabelos dourados e olhos verdes, possuía o corpo cheio, parecido com o da Patrícia. Os seios eram do mesmo tamanho, assim como o bumbum. Foi apresentada a todos, às nove horas, onde revelou sua idade, estado civil (casada, com dois filhos adolescentes), bairro onde residia etc. Era do tipo sorridente e logo conquistou a simpatia da turma. Aproximou-se dele, antes das dez, para conversar. — Olá. Como é teu nome? — ela perguntou. — Macto — respondeu, tentando não olhar para o decote dela, que o vestido não ocultava totalmente. Que seios suculentos! Arre! Meio que constrangido, concentrou-se em separar as cédulas, colocando cada uma
Saiu da casa às 21h30min. Havia uma mulher gorda (uns 90, 100 quilos), que abria o portão pequeno da casa número 12. Usava short jeans e blusa rosa. De tez clara e cerca de 1,70m, era bonita de rosto. Teria entre 20 e 30 anos. Apesar de gorda, possuía curvas e pernas grossas, convidativas, além de um bumbum grande e firme. — Boa noite — ela disse, sorrindo. — Boa noite — respondeu, retribuindo o sorriso. Abria justamente a porta do Uno, quando ela, após se aproximar, perguntou: — Como você se chama? Surpreso, sentou-se no banco do veículo e respondeu, na expectativa de analisar o que essa garota pretendia: — Macto. E você?
Por que a pergunta? O que se passaria naquela cabeça vertiginosa? Naquela mente curiosa? Ela teria desconfiado de algo? O que deveria responder? Sentiu, naquele instante, muita vontade de dizer que era ateu e que nem Deus nem Alá nem outros deuses existiam, que a estória de Jesus Cristo não passava de uma lenda maluca criada por diversas civilizações, que a Bíblia era um livro preconceituoso e mentiroso (por ter sido escrito por psicopatas machistas, insanos, preconceituosos e mentirosos, segundo sua ótica) e que o Natal não passava de mais um feriado, onde as pessoas aproveitavam para comer, beber e confraternizar. Além disso, sabia que não fazia diferença vestir branco ou preto ou vermelho; não fazia diferença rezar ou blasfemar; e, acima de tudo, não fazia a menor diferença adorar deuses inexistentes.