Andres 27 de março de 2021 - 00h30min Desço do carro em frente ao prédio decrépito que imaginei que estava completamente abandonado há anos e respiro fundo, começando a me arrepender, acho que pela centésima ou milésima vez, de ter vindo aqui. Taigor para do meu lado esquerdo e Rafael, que recentemente assumiu o posto de segundo chefe de segurança em comando, para ao meu lado direito e, assim como eu, eles colocam as mãos nos bolsos das calças sociais e passam a observar o prédio a nossa frente. Quando Lucas Martinelli me passou o endereço e o nome da boate Destinity, de propriedade de Leopoldo Dalavia, que fica localizada na cidade de Deoiridh, eu imaginei que encontraria algo semelhante às boates, dele, pois eles dois já fizeram negócios antigamente... Enfim, eu não estava nem um pouco preparado para isso. O prédio à minha frente é escuro e, embora ainda hajam pequenos espaços onde a tinta roxa eu outrora o cobriam, está quase totalmente manchado de bolor e umi
Angel Camille 27 de março de 2021 - 08h45min - Como estamos um pouco atrasados, sugiro que vocês três peguem as pipocas enquanto eu compro os ingressos. - Falo enquanto andamos pelo shopping, indo em direção ao cinema lotado de crianças. Andres me olha, desconfiado, enquanto para ao meu lado na fila para comprar os ingressos, hesitando entre ir com Annabelle e Celine em direção a fila da lanchonete e ficar parado, me encarando. - Isso é algum jogo, alguma estratégia sua, para pagar pelos ingressos? - Sorrio, pois é exatamente isso. No carro, vindo do nosso apartamento até aqui, discutimos, sem realmente discutir, quem pagaria pela saída de hoje. Andres tem os melhores argumentos, óbvio, pois ele é muito rico e possui um emprego maravilhoso, ao passo que eu não tenho nem o dinheiro nem o emprego que me pague bem, mas ainda assim sou teimosa. - Talvez. - Sorrio para ele, de forma provocativa. - Mas, falando sério, se quisermos aproveitar o dia na praia depoi
Angel Camille 04 de abril de 2021 - 20h45min Já se passaram meia hora, talvez mais talvez menos, não consigo ter certeza absoluta, quando o carro finalmente para, mas, apesar de todo esse tempo ter se passado, eu ainda não consegui me acalmar, eu continuo tremendo sem parar. - O que está acontecendo? - Pergunto para Rafael, confusa, ao perceber que o carro parou em frente a um hotel. E não é qualquer hotel, na verdade. Estamos parados em frente ao Hôtel de Voyage du Monde (Hotel Viagem ao Mundo), que é, nada mais nada menos, que o melhor hotel da cidade de Celosia. Ele também é, com toda a certeza, o mais caro. - Rafael, o que estamos fazendo aqui? - Pergunto novamente, encarando a nuca do menino, que provavelmente não é muito mais velho do que eu, sentado ali no banco do motorista. - Não posso lhe dizer mais nada, senhorita Martins. - Suas mãos seguram o volante com tanta força que os nós de seus dedos ficam brancos. - Porra, você está me assustand
Andres 03 de abril de 2021 - 21h15min - Cami? Cami, meu amor, por que você está chorando? O que aconteceu com você, Camille? - Pergunto, em pânico e completamente transtornado por vê-la chorando dessa forma. Segurando com firmeza a toalha de banho ao redor da minha cintura, a fim de evitar que um acidente ocorra, ando até onde Camille está, puxo-a para dentro do quarto, fecho a porta completamente atrás dela e a abraço com força, aconchegando seu corpo junto ao meu e permitindo que ela continue chorando em meu ombro. Não sei por qual motivo ela está chorando dessa forma, não sei o que aconteceu com Cami antes de ela chegar aqui, e não também não sei se eu fiz alguma coisa errada que pode ter causado isso, não sei se fiz, inconscientemente algo tão terrível que possa tê-la magoado de forma tão profunda que agora Camille está tão desolada que tudo o que consegue fazer é chorar e soluçar enquanto a abraço. - Cami, meu amor, o que foi que aconteceu com você? Me fala
Angel Camille 03 de abril de 2021 - 22h - O parque de diversões? É sério? - Pergunto, rindo, assim que Rafael para o carro e Andres me ajuda a descer. - A verdadeira pergunta, minha cara, é: e por que não, minha cara? - And pergunta, pegando minha mão e caminhando ao meu lado pela calçada, em direção à pequena cabine colorida que vende as fichas para os brinquedos. - Olha, eu tenho mil e um motivos para não virmos aqui. - Digo, ao ser grosseiramente empurrada por uma criança que, por sinal, tem o meu tamanho. - Ah, mas eu gosto desse lugar. - Ele diz, assim que chegamos na fila. Após eu ser empurrada pela segunda vez, Andres se posiciona atrás de mim, de forma protetora, abraça minha cintura com força e continua segurando minhas mãos, que estão sobre meu ventre, exatamente onde estaria... Não, não pense em bebês, Camille. - Não sei se eu já te falei isso, mas eu amo essa tatuagem. - Ele diz, passando a Mao delicadamente por meu pulso tatuado enquant
Angel Camille 04 de abril de 2021 - 00h15min Ainda sorrindo, sento-me em um pequeno sofá acolchoado que fica na sacada do quarto e ponho-me a observar as estrelas, que mais parecem pontinhos prateados em um céu de veludo negro. Abaixo delas, o mar agitado as espelha, transmitindo sua graça e beleza de uma forma distorcida, mas igualmente bela e encantadora. Esse hotel é bem mais simples do que o que Andres havia planejado me levar, o que com certeza parece estar incomodando ele um pouco, mas estou me sentindo tão bem aqui, tão mais a vontade do que no Hopkins, que espero que ele perceba isso logo e se junte a mim. - Eu trouxe isso para você. – Andres sai pela porta da sacada, colocando uma manta felpuda por cima de mim e dois copos de whisky sobre uma pequena mesa no centro. - Obrigada. – Agradeço enquanto ele senta ao meu lado e eu puxo a coberta para que cubra suas pernas também. - Está se sentindo melhor? – Andres pergunta, passando um braço por sobre m
Angel Camille 01 de junho de 2015, 06h45min Acordo ouvindo os gritos de minha mãe vindos da sala e, imediatamente, ponho-me de pé e saio do quarto, desesperada, indo em direção ao som de seus gritos para saber o que está acontecendo e tentar ajuda-la, mas, quando entro no cômodo, a cena que se desenrola a minha frente me faz parar, boquiaberta, tentando assimilar o que estou vendo. Minha mãe está deitada no chão, protegendo sua barriga com as mãos, enquanto meu pai grita com ela. Estou tão assustada que fico momentaneamente congelada, sem entender uma palavra do que eles falam, apesar do volume elevado da discussão. - Mãe. - Saindo de meu transe, tento chegar até ela, mas um dos empregados de meu pai me agarra pelo braço, impedindo que eu me aproxime e me mantendo onde estou. - Tem noção do que fez, Ingrid? - Pergunta Leopoldo, desferindo um chute contra as costas da mulher, que se encolhe no chão, gemendo, indefesa e visivelmente com dor devido aos golpes.
Angel Camille 06 de junho de 2021 - 00h30min Lembro-me vagamente que muitos anos atrás, quando eu ainda era uma criança curiosa, sedenta pelo saber, e Ingrid Santana era apenas minha mãe, e não a viciada que abandonou as duas filhas, eu perguntei para Ingrid o que era algo infinito. Não me recordo ao certo quantos anos eu tinha naquele dia, lembro apenas que eu ouvi a palavra em um filme, pois eu não curtia muito desenhos por achá-los bobos e infantis, e gostei do som da palavra, gostei do que ela parecia significar, eu queria algo infinito. Minha mãe não soube me dizer o que era exatamente, ela ficava me repetindo que infinita é um coisa que não tem fim, que não acaba... Para mim, era uma explicação vaga e sem sentido, que nada mais fazia além de tornar a frase “ao infinito e além”, de Buzz Lightyear, do desenho Toy Story, ainda mais boba. Afinal, se o infinito é algo sem fim, como podemos ir além? Hoje, aos vinte e um anos, vejo as coisas de uma forma diferente