Ingrid
08 de dezembro de 1999 - 06h20min
Abro a porta da cozinha, entrando como um vendaval, indo até onde Agnes e Ama se apressam em terminar de preparar o café da manhã dos Martinelli. Quando as alcanço, as duas parecem perceber que algo não está bem, então apenas lhes mostro a sacola com os três testes de gravidez.
- O que é isso? Um presente para nós? - Agnes brinca, mas para de rir imediatamente assim que vê minha expressão, percebendo que estou falando sério.
Tiro os testes e mostro para elas. Só há duas pessoas além de mim e de Lucas que sabem sobre nosso caso, que vem se intensificando cada vez mais no decorrer dos meses, então elas entendem, sem que eu precise lhes explicar nada, o que está acontecendo.
- Ah, minha criança, como pôde ser tão tola. - Ama larga o que está fazendo e vem até mim e então as lagrimas começam a escorrer pelo meu rosto. - Vá, faça os testes. Nós a esperaremos aqui. - Ela diz, beijando minha testa e indicando o banheiro dos empregados que fica mais adiante no corredor.
Largo minha bolsa no canto da cozinha, junto com a de Agnes e corro para o banheiro com todos os testes em mão, tentando respirar com calma e não enlouquecer no caminho até lá.
Fecho a porta atrás de mim, chaveando para não correr nem um risco de alguém entrar. Urino no recipiente de plástico transparente que veio com um dos testes e o coloco sobre a pia, encarando-o por alguns segundos.
Meus pais têm seis filhos e eu tenho que sustentar todos, assim como tenho que sustentar eles também, então não posso me dar ao luxo de engravidar. Com esse pensamento em mente, tiro a tampa de todos os testes e mergulho eles no liquido amarelado, individualmente, contando os segundos necessários para cada um e então tapando-os novamente.
Coloco todos no bolso da frente de meu avental e estou lavando as mãos quando ouço uma batida forte e grosseira na porta e a voz da senhora Martinelli soa, alta e clara, mesmo através da madeira.
- Ingrid? - Ela faz uma pausa, provavelmente olhando para os lados do corredor para se certificar de que ninguém está ouvindo ela falar com uma empregada, de pé, em frente a porta do banheiro dos empregados.
- Sim, senhora Martinelli? - Seco minhas mãos e abro a porta, com as mãos no bolso do avental, para ter certeza de que ela não veja nada do que está ali dentro.
- Meu filho, Lucas, está reclamando que o quarto dele está muito empoeirado e isso está fazendo-o espirrar o tempo todo. - Ela me olha, com uma sobrancelha erguida. - O quarto dele faz parte da sua ala de limpeza, não? - Assinto com a cabeça, entendendo imediatamente o que ela quer que eu faça.
- Pode deixar, senhora Martinelli, vou cuidar disso agora mesmo. - Ela revira os olhos, em um gesto grosseiro, e continua andando pelo corredor, querendo ficar o mais longe da criadagem possível, percebo.
Assim que ela some no final do corredor, corro até a cozinha e procuro por Agnes, encontrando-a separando a louça para o café da manhã, uma expressão preocupada em seu rosto, no lugar do sorriso habitual.
- Céus, o que deu? - Ela corre até mim, assim como Ama, que estava na pia lavando uma pilha de travessas e xícaras.
- Já tem resultado, criança? - A senhora pergunta, pegando minhas mãos entre as suas.
- Não, não apareceu nada ainda, mas a senhora Martinelli pediu que eu... Merda, ela pediu que eu tire o pó do quarto de Lucas. - Pesco os testes em meu bolso, colocando-os sobre a mesa, pois li que eles precisam ficar em uma superfície plana. Espero que o agito que já sofreram não atrapalhe em nada os resultados.
- Eca, isso não está, tipo assim, molhado de xixi? - Ama olha para Agnes, repreendendo-a silenciosamente, mas isso me faz dar um leve sorriso. Ai Agnes, espero que você esteja sempre em minha vida, me fazendo dar risada nos momentos mais difíceis e inapropriados, como sempre. - Foi mal gente, eu só queria... - Ela dá de ombros e faz um gesto com a mão em direção aos testes.
Sacudo a cabeça, peço que elas cuidem dos testes de gravidez e saio em direção ao quarto de Lucas, parando no corredor certo para pegar um pano e lustra móveis para, ao menos, fazer parecer que fiz meu trabalho e tirei o pó.
Normalmente, quando quer me ver, Lucas me chama pessoalmente, ou combinamos um horário previamente, então o fato de ele ter feito esse pedido de encontro, de forma disfarçada e através da senhora Martinelli, me deixa ansiosa e apreensiva, pois tenho certeza de algo deve estar muito errado.
Bato na porta, pois sei que o quarto não está desocupado, e espero impacientemente enquanto Lucas abre a porta, olha para os lados do corredor, me puxa para dentro e fecha a porta atrás de mim.
- O que foi? - Pergunto, pois sua expressão revela que algo está muito errado com ele.
Lucas não me responde, apenas senta-se na cama e pega a cabeça entre as mãos, fazendo-me lembrar imediatamente de meu pai anos atrás, sentado em nossa joalheria, completamente desesperado e sem chão, sem saber o que fazer.
- Você está me deixando nervosa. - Sento-me na cama ao seu lado e, em um gesto supreendentemente carinhoso, ele coloca uma das mãos em meu joelho, encarando-me com seus olhos verdes intensos.
- É meu pai. - Lucas suspira, parecendo cansado. - Ele quer se aposentar mais cedo. - Com se aposentar, ele quer dizer deixar de seu o chefe da máfia do norte. O que significa que...
- Espera, como assim? - Levanto-me abruptamente, começando a andar pelo quarto. - Se ele quer se aposentar, então você... Você é o próximo na linha de sucessão, não? Céus, você não quer isso... Lucas você tem dezesseis anos. Lucas...
- Ingrid, por favor, se acalme. - Lucas se levanta, segurando meu rosto entre suas mãos e fazendo-me olhar em seus olhos. - Não, eu não quero isso, pois quero ficar com você. Você, Ingrid Santana, trouxe tanta luz ao meu mundo, tanta cor... Eu te amo, Ingrid, e quero passar o resto da minha vida ao seu lado. - Ele está falando a verdade, percebo, pois ele nem titubeia ao falar essas palavras.
Sorrio, esquecendo da agonia e do desespero que estava sentindo minutos atrás quando achei que estivesse grávida, pois agora sei que, mesmo que isto seja verdade, podemos fazer dar certo, precisamos apenas ficar juntos e manter a calma.
Lucas sorri para mim de volta, inclinando-se em minha direção e pressionando seus lábios contra os meus. Nos momentos em que ele me beija, com tanto desejo, com tanto carinho, é como se nada mais importasse. Apenas o aqui, apenas o agora, e eu sou tão grata por ter ele comigo... Céus, ter Lucas em minha vida é como ter um motivo para sorrir apesar de tudo.
- Então o que faremos? - Pergunto, interrompendo o beijo, pois sei que, se continuarmos assim, vamos acabar na cama, como tantas outras vezes, e nesse momento quero muito saber o que faremos a seguir.
- Vamos fugir. - Ele sorri e, por mais que eu já tenha pensado nisso milhares de vezes, começo a rir.
- Como, Luka? - Rio, colocando a palma da mão sobre seu peito e afastando-o alguns passos para ver mais claramente sua expressão. - Como vamos fugir? Você nem tem dezessete anos ainda e se fugir, seu pai colocará meio mundo atrás de você. Como se isso já não fosse o bastante, tenho cinco irmãos que dependem de mim, Lucas. - Ele fecha os olhos e assente.
- Verdade, verdade. - Ele abre os olhos e se aproxima de mim novamente, passando a mão delicadamente por meu rosto e sorrindo ainda mais. - Vou pensar em alguma coisa, meu amor, mas enquanto isso, que tal se a gente... - Lucas começa a desamarrar meu avental, mas uma batida na porta interrompe a nós dois, nos fazendo pular de susto.
Imediatamente, me arrumo e começo a tirar um pó inexistente da estante de livros. Fico nisso por um tempo, até ouvir a voz de Agnes me chamando. Há no seu tom uma pontada de pânico e histeria, o que faz com que eu abandone o que estou fazendo, ou fingindo fazer, e vá até ela.
- Ingrid, acho que você deveria vir comigo. - Ela me olha, torcendo o avental branco em suas mãos e alternando o peso entre um pé e outro, parecendo desconfortável na presença de Lucas.
- Lucas, eu... - Nem termino de me explica, pois ele apenas faz um gesto, deixando claro que eu posso ir com Agnes.
Olho para os lados do corredor e, antes que eu possa me arrepender, dou um selinho em seus lábios e sussurro que eu o amo em seu ouvido, para que ele saiba que o sentimento é recíproco.
Enquanto ando pelo corredor, olho por cima de meu ombro e vejo Lucas ainda na porta de seu quarto, parecendo confuso e tocando os lábios com a ponta dos dedos.
Sei o que ele deve estar pensando, que aquilo foi muito parecido com um adeus, mas não foi... Bom, pelo menos eu acho e torço para que não seja, mas agora tenho outra coisa em mente. Preciso ver com meus próprios olhos o resultado daqueles testes de gravidez antes que eu enlouqueça.
08 de dezembro de 1999 - 20h50min
Querida Cami,
Lamento muito não ir até você pessoalmente, mas tomei uma decisão e sei que, se ver você ou nossos irmãos, não terei coragem de seguir meu caminho.
O que tenho a lhe falar, minha querida, é que estou indo embora, estou partindo em busca de meus sonhos e desejo, ardentemente, que um dia você faça o mesmo, pois sei que é capaz e totalmente merecedora de mais do que nossos pais têm a lhe oferecer ou proporcionar.
Enviarei por Ama um pouco do dinheiro que tenho para que vocês consigam se manter por um tempo até que eu arrume outro emprego e possa lhe m****r mais algum (lembre-se de manter ele escondido e nunca contar a Jonas e Fernanda onde ele está).
Não estou fazendo isso por causa de vocês, não estou cansada de vocês e eu os amo, a cada um, como se fossem parte de mim, mas, pela primeira vez em minha vida, preciso pensar em mim e fazer o que eu quero, o que eu preciso.
Espero, de todo meu coração, que tudo dê certo, para nós duas e para cada um dos nossos pequenos.
Com amor, Ingrid.
08 de dezembro de 1999 - 20h58min
- Apresse-se menina, ou perderá o trem. - Diz Ama, devolvendo-me minhas bolsas de viagem e me empurrando em direção ao trem, que cospe nuvens de fumaça escura em direção ao céu noturno.
- Por favor Ama, entregue isso à Camille ou a Lina. - Coloco a carta que acabei de escrever e o dinheiro que a senhora Martinelli me entregou duas horas atrás nas mãos de Ama.
- Claro, pode deixar. - Ama me abraça, acariciando meus cabelos, e então se volta para Agnes que, assim como eu, está carregada de malas. - Você é mais velha, Agnes, então cuide da nossa menina. - Agnes a abraça e então, de mãos dadas, entramos no vagão de trem e procuramos nossos respectivos lugares.
Assim que colocamos nossas malas no bagageiro e nos sentamos, uma voz feminina que parece entediada e sonolenta anuncia que o trem partirá em breve, logo após algumas checagens de rotina.
Agnes me coloca sentada na janela, para que consiga observar a paisagem, pega duas sacolas descartáveis e as coloca em minha frente, prevendo que eu vá vomitar em breve, devido ao constante balançar do trem e aos cheiros estranhos quem tem aqui dentro.
- Obrigada Agnes, por tudo. - Inclino-me em sua direção e apoio minha cabeça em seu ombro, permitindo-me chorar novamente.
- Não, querida, não chore. - Agnes pega meu rosto entre as mãos e olha em meus olhos. - Sou sua amiga, faria qualquer coisa por você... - Ela tira a mão de meu rosto e a posa em meu ventre. - E por esta pequenina aqui. - Sorrio, apesar das lágrimas que escorrem livremente por meu rosto agora, pois sei que a partir de hoje preciso pensar no meu bebê acima de mim, acima de tudo.
Depois que vi os testes de gravidez, todos os três positivos, eu soube imediatamente o que deveria fazer, pois não estou mais sozinha e a minha vida, minha antiga vida, não serviria para meu filho, ou filha. Não quero para a ele a mesma vida que eu tive e... Bem, meus pais com certeza não mudariam e eu não quero que essa criança cresça cercada de mafiosos, mesmo que eles sejam incrivelmente ricos.
Sentei-me na cozinha da mansão com Ama e Agnes e juntas decidimos que, para que a criança não tivesse nada a ver com a máfia, seria necessário que eu fugisse, saísse da vida de Lucas sem dar mais satisfações. É a melhor coisa a se fazer... Assim eu espero, pelo menos.
Imediatamente, pedi demissão à senhora Martinelli e, para meu espanto, Agnes fez a mesma coisa, determinada a me acompanhar nessa loucura toda. Pegamos as roupas dela, para que eu não precisasse ver meus pais, nos despedimos dos dela e partimos imediatamente para a estação de trem, pegando o último para bem longe dessa vida, dos meus pais e de Lucas Martinelli.
Conforme o trem vai avançando rumo ao nosso destino, encosto meu rosto contra a vidraça, grata pelo vidro frio aliviar, mesmo que momentaneamente, meu enjoo, que tem andado pior desde que descobri que estou grávida... Deve ser psicológico, mas isso não me impede de vomitar sempre que penso muito no que estou tendo que fazer.
Fecho meus olhos com força e respiro fundo. Espero que Lucas me perdoe, pois estou fazendo isso por nosso Angel... Ele sempre quis um menino e havíamos conversado, certa noite, que o nome de meu irmão é muito bonito, então farei essa homenagem a ele, mesmo que Lucas Martinelli jamais conhecerá a criança, a nossa criança.
Acaricio meu ventre, notando, pela primeira vez, o pequeno volume que está se formando ali, e começo a fazer planos, imaginando em quais lugares poderei procurar emprego com as poucas qualificações que tenho.
Apesar disso, no entanto, não estou mais surtando, não estou temendo o que virá amanhã, pois agora tenho um motivo muito forte para me manter calma e esperançosa, agora eu tenho um ser crescendo dentro de mim, agora eu tenho meu Angel.
15 de março de 2000, 10h45min
Paro em frente ao espelho e, o que tem acontecido com muita frequência nos últimos dois meses, fico observando meu reflexo e tentando numerar as mudanças em meu físico desde que sai de casa, desde que parei de trabalhar na casa dos Martinelli e desde que conheci Leopoldo.
Estou grávida de nove meses e meio agora, então minha barriga está redonda e muito evidente, minha pele e meus olhos recuperaram o brilho e a cor que havia perdido devido as horas de trabalho duro esfregando o chão da mansão e meus cabelos finalmente podem ficar soltos sobre meus ombros, mas acho que a maior mudança é no meu status de relacionamento.
Estou casada atualmente, com um homem que é dono de uma boate famosa aqui em Deoiridh, e possuo tanto dinheiro que consigo m****r uma quantia generosa para meus irmãos e não preciso mais trabalhar.
Leopoldo é um homem bom e honesto. Não é um mafioso ou um traficante, é apenas um trabalhador e, o que é mais impressionante, aceitou de bom grado quando soube que eu estava grávida, acolhendo Angel como se fosse um filho e nos proporcionando uma ótima vida.
- E o nosso menino, como está? - Leopoldo aproxima-se por trás de mim, abraçando-me pela cintura e colocando as mãos sobre minha barriga, de forma afetuosa.
- Ele está bem, só... Ai. - Pressiono minha barriga, mas a dor que senti segundos atrás já se foi, sendo substituída pelo medo e a ansiedade. - Acho que são contrações, Leo. - Ele me olha, assustado, e então sai do quarto correndo, já chamando por Agnes.
Assim que ele se vai e seus gritos desesperados somem também, vou até meu armário e pego a bolsa que deixamos pronta para esse momento, para a chegada de nosso Angel.
- Fique tranquilo, meu amorzinho, mamãe já vai te colocar para fora. - Digo e, horrorizada, percebo que o liquido que escorre pelas minhas pernas, neste exato momento, é minha bolsa estourando. Vendo essa cena, faço a única coisa que me vem a cabeça: eu grito.
15 de março de 2000, 14h45min
Depois de horas de pura agonia, meu filho finalmente nasceu e está sendo limpo pelas enfermeiras para que, finalmente, eu possa pegá-lo em meus braços e me sentir completa.
Respiro fundo e tiro meus cabelos da testa, que está suada e pegajosa, ansiosa para o momento. Olho para Leopoldo e vejo em seu rosto o mesmo sorriso que há no meu, radiante.
- Parabéns aos papais. - Diz a moça sorridente, colocando Angel, que está enrolado em uma manta cor de rosa, em meus braços.
- Por que ele está em uma manta rosa? Acabaram as azuis? - Pergunta Leo, tentando fazer piada da situação, embora uma expressão de duvida esteja estampada em seu rosto.
- Não entendi, senhor. - A moça ri, nervosa, enquanto coloca o bebê em meus braços. - É uma menina, por isso a manta cor de rosa. - Olho para Leopoldo, que me encara de volta.
Todos os exames que fizemos, do quarto ao nono mês, indicaram que seria um menino, então nunca nem sequer cogitamos a hipótese de que poderia ser uma menina. Nos preparamos para um menino, mas agora...
- Bom, então acho que... - Leo parece perdido, sem saber o que fazer a seguir. Eu, no entanto, sei exatamente o que fazer.
- Seja bem-vinda ao mundo, Angel Camille Dalavia. - Acaricio a bochecha macia do bebê que, para meu espanto, sorri para mim, ainda de olhos fechados.
Nesse momento, com minha filha em meus braços e meu marido sorrindo para nós, sei que sou capaz de tudo, de tudo mesmo, para manter essa criança ao meu lado.
Angel Camille01 de junho de 2015, 06h45minAcordo ouvindo os gritos de minha mãe vindos da sala e, imediatamente, ponho-me de pé e saio do quarto, desesperada, indo em direção ao som de seus gritos para saber o que está acontecendo e tentar ajuda-la, mas, quando entro no cômodo, a cena que se desenrola a minha frente me faz parar, boquiaberta, tentando assimilar o que estou vendo. Minha mãe está deitada no chão, protegendo sua barriga com as mãos, enquanto meu pai grita com ela. Estou tão assustada que fico momentaneamente congelada, sem entender uma palavra do que eles falam, apesar do volume elevado da discussão. - Mãe. - Saindo de meu transe, tento chegar até ela, mas um dos empregados de meu pai me agarra pelo braço, impedindo qu
Angel Camille15 de março de 2016 - 22h40minFaz cerca de três horas que tia Agnes foi embora, levando Anne Louise com ela e me fazendo prometer quer, assim que eu chegar em casa, vou ligar para ela para lhe contar como foi meu primeiro dia de trabalho. Nesse momento, já de banho tomado e cabelo escovado, estou de pé em meu quarto, analisando o uniforme de bartender que Leopoldo me entregou a tarde e disse para eu vestir para a noite. A roupa é ridícula, não há outra forma de descreve-la. Para “trabalhar”, terei que vestir uma saia de couro preta de, no máximo, 35 centímetros de cumprimento, um top de lantejoulas prateadas e com alças finais, uma meia calça arrastão e uma bota preta de cano alto com um salto agulha de dez centímetros. &nbs
Angel Camille16 de março de 2016 - 07h30min- Camille? Cami, acorde. - Tia Agnes balança meu ombro suavemente para me acordar. Abro os olhos, confusa, tentando desviar da claridade ofuscante do sol que ameaça me cegar a qualquer momento. Olhando ao redor, percebo que estamos estacionadas em uma rua residencial, mas não é qualquer rua. Nunca andei muito pela cidade onde eu morava antes, era apenas de casa para a escola e da escola para casa, visto que a boate de meu pai ficava logo abaixo, mas, ainda assim, tenho certeza que lá não haviam prédios como estes. É como se, ao construí-los, os arquitetos e engenheiros quisessem desafiar as leis da física e da lógica. Os prédios que ficam do lado esquerdo da rua, todos com mais de cinquenta metros de altur
Angel Camille16 de março de 2016 - 08h30minQuando tia Agnes para o carro, engasgo e começo a tossir, tentando disfarçar minha surpresa, ou melhor, meu susto, enquanto olho para a pequena, velha e encardida casa a nossa frente. Quando morei em Deoiridh, a nossa casa não era das melhores, mas ao menos era nova e bem cuidada. Essa é o contrário, mas, olhando mais atenciosamente, ao menos parece aconchegante. O telhado é feito de telhas de barro marrom escuro desbotado e as paredes, outrora pintadas de branco, estão com manchas de umidade e bolor por toda a sua extensão. As janelas e a porta da frente... Não há o que falar, estão em péssimo estado. - Não está tão ruim assim, para ser bem honesta. - Digo, enquanto minha tia me olha,
Andres27 de abril de 2017 - 11h30min- Comprou tudo, mãe? - Pergunto, entrando na cozinha de mármore preto, decorada com madeira de diferentes tons de marrom escuro e creme, e indo até a pia lavar as mãos. Nosso apartamento é uma cobertura e é ridiculamente grande... Já notei isso, é óbvio, visto que moro aqui desde que nasci, mas não consigo deixar de pensar nisso toda vez que entro aqui. O apartamento tem quatro suítes, todas ocupadas, e dois quartos de hóspedes, dois lavabos, dois escritórios, um para cada um de meus pais, uma biblioteca, sala, cozinha, sala de jantar e uma área com uma vista linda do topo das árvores da minifloresta que fica na frente do prédio e das casas mais simples do outro lado das árvores... Ou seja, ridiculamente grande.<
Andres28 de abril de 2017 - 00h30minLuana, no final das contas, acaba sendo uma companhia mais útil do que eu havia imaginado quando aceitei seu convite, pois ela fala sobre a vida dela, sem perguntar sobre a minha, e me faz quase esquecer de meu pai... Mas apenas quase. - Então, o que você quer fazer agora? - Luana pergunta, assim que saímos da roda gigante, que é pequena, apertada e muito lenta, agarrando-se ao meu braço como a um colete salva vidas em meio a uma tempestade no mar. - Vai continuar me fazendo companhia ou já chegou sua hora de partir? - Ela joga os cabelos curtos para trás dos ombros, dando um sorriso doce e encantador. - Não, minha hora ainda não chegou. - Olho para ela e sorrio de volta. - Que tal se a gente... - Estou prestes a convidá-la para dar uma volta, beber ou co
Manuela28 de abril de 2017 - 06h30minAcordo assustada ao ouvir o meu despertador, alto e estridente no silêncio do quarto. Normalmente, não durmo a noite toda, pois quase todo santo dia tenho pesadelos horríveis que me fazem acordar antes que o despertador tenha a chance de fazer o seu trabalho. Paro o despertador, temendo que o barulho acorde Anna. Sento em minha cama, olhando ao redor por um tempo e tentando despertar completamente, pois preciso me levantar, me arrumar e arrumar Anna, para eu ir para a escola logo e ela para a casa da nossa vizinha. Com isso em mente, solto um suspiro e me levanto, indo em direção ao banheiro para tomar um banho antes de acordar a pequena. Andando pela casa, é praticamente impossível evitar o sorriso de orgulho e satisfação que se espalha por meu rosto. Nos mudamos par
Manuela28 de abril de 2017 - 14h20minTrabalhar no Le Petit Café é meio que a melhor parte do meu dia, pois eu preciso apenas sorrir, anotar pedidos, conversar algumas amenidades com os clientes regulares e tentar não pensar em como minha vida é, basicamente, uma merda. Eu tento muito me manter firme e não reclamar, mas não é fácil estudar quatro horas, trabalhar por oito e ainda ser uma mãe para Annabelle vinte e quatro horas por dia, tudo isso em um dia e ainda ter que repetir isso todos os dias da semana, do mês, do ano. Claro, poderia ser ainda pior, mas, porra, eu tenho dezessete anos, ou seja, eu meio que só queria curtir um pouco a vida, como a Gabi, mas eu com certeza não posso, por muitos motivos. Claro, a Gabi. Será que é por isso que eu aceitei o convite dela