Manuela
01 de janeiro de 2021 - 14h
Eu não confio nas pessoas e isso é um fato concreto e comprovado. Então é por isso que, nesse momento, só consigo ficar tentando juntar as peças e entender o que está motivando esse convite de Andres Ivanovich, um maldito milionário que não para de aparecer do nada em minha vida.
No final das contas, o que eu tenho demais? O que ele quer comigo especificamente? Inclino a cabeça para o lado e sorrio para Andres, confusa com o convite, que na verdade parece mais uma ordem camuflada, e tentando entender o que ele quer. Afinal, ele acabou de descobrir que, além de acompanhante de luxo, eu também tenho uma filha.
- Como assim? - Sacudo a cabeça, tentando esconder meu sorriso enquanto aperto com firmeza a mão de Annabelle. - Esquece. Nós realmente precisamos ir, mas obrigada pelo convite, Andres. - Tento soltar meu braço do aperto de Andres, mas ele se recusa a soltar.
- Não, por favor. - Ele está realmente implorando? Acredito que sim, pois há em seus olhos uma pontada de desespero e ele claramente quer muito que eu o acompanhe.
- Eu gostaria muito de sair com você, Andres, mas eu tenho que levar Anna para almoçar e...
- Ótimo. Eu também não almocei ainda. - Ele me interrompe, soltando meu braço e colocando as mãos nos bolsos da calça de sarja preta enquanto sorri.
Pela primeira vez, olho-o de cima a baixo, notando que ele está vestido com perfeição. Calça de sarja preta, sapatos sociais pretos, camiseta social branca e paletó preto. Ele é lindo, tão bonito que parece injusto poder se vestir tão bem.
- Certo, mas nós...
- Podemos almoçar juntos. Nós três. - Respiro fundo, percebendo que ele não vai desistir da ideia. - O que você acha, Anna? Posso almoçar com vocês? - Agora ele está jogando sujo, usando minha filha dessa forma.
Abro a boca para pedir que ele não meta Annabelle no assunto, mas, para minha surpresa, ela está olhando para mim, com os olhinhos brilhantes e pidões. Ao que parece, Andres não tem apenas o dom de encantar mães.
- Podemos? - Anna sussurra para mim, piscando os olhinhos como o gato do Shrek.
- Eu não sei, filha, nós temos que... - Olho para Andres, franzindo o cenho e tentando mais uma vez entender o que o está motivando, mas sem sucesso.
- Por favor, Manuela, é só um almoço. - Ele faz beicinho, inclinando a cabeça para o lado, o que faz com que vários fios de cabelo escuro caiam sobre seus olhos.
- Por favor, mãe. - Annabelle entra na brincadeira, inclinando a cabeça para o lado e fazendo beicinho, da mesma forma que Andres está fazendo. - Hoje é o meu dia. Você que disse isso. - Touché... Eu e minha boca grande.
- Hoje é seu aniversário? - Annabelle assente para Andres, dando uma risadinha muito fofa de criança. - Manuela, nós precisamos comemorar isso. - Sem esperar por uma resposta, Andres bate no teto da SUV estacionada.
- O que seria senhor? - Pergunta um homem de terno, que desce do carro e vem em nossa direção rapidamente. É o mesmo homem que levou em casa depois da festa, reconheço-o.
Para minha surpresa, Andres começa a passar ordens para o segurança, indicando eu e Annabelle, mas eu não entendo uma palavras, pois parece literalmente russo.
Troco o peso de uma perna para a outra, tentando entender como sacolas de roupas podem ser tão pesadas, e isso acaba chamando a atenção de Andres para mim.
- Me dê isso. - Ele diz, assim que o segurança, que acho que ele chamou de Taigor, se dirige para as SUVs estacionadas atrás da que ele desceu.
- Não precisa, eu... - Antes que eu consiga impedi-lo, Andres tira as sacolas de compras da minha mão.
Nossa, isso é realmente muito cavalheiresco da parte dele... Espera, minhas compras estão nessas sacolas. Sim, em duas delas tem roupas de criança, mas na terceira tem cerca de seis conjuntos de lingerie e, por um motivo bem óbvio, não quero que Andres as veja.
- O que foi? - Andres pergunta, erguendo uma sobrancelha quando percebe que eu continuo encarando as sacolas em suas mãos.
- Na-nada e-eu só... - Gaguejo, sem saber o que dizer para tentar esconder que estou muito envergonhada.
Passo as mãos pelos cabelos, tirando alguns fios de meu rosto e tentando parecer mais calma e, ao mesmo tempo, ficar mais calma para que ele não leia minha expressão.
- O que tem nessas sacolas? - Andres sorri, um sorriso sarcástico e sensual.
- Não tem nada demais. - Digo, mas minha voz esganiçada e totalmente desesperada me entrega.
Antes que eu possa detê-lo, Andres abre uma das sacolas e espia o que tem dentro. Ando em sua direção, tentando impedi-lo, mas ele se afasta e ergue a mão, segurando uma calcinha preta e de renda entre os dedos, fora do meu alcance.
- Céus, Manuela, o que é isso? - Ele ri ainda mais enquanto tento pegar a calcinha de suas mãos, o que é praticamente impossível, visto que ele a está segurando para cima e eu sou, pelo menos, uns trinta centímetros mais baixa do que ele.
- Andres, pare com isso. - Chego mais perto dele e fico na ponta dos pés, aliviada ao conseguir tirar a peça de suas mãos. - Você é uma criança mesmo. - Digo, mas então paro, completamente congelada.
Eu não tinha me dado conta do quão perto havia chegado de Andres enquanto tentava pegar a calcinha de suas mãos, mas agora eu percebo que estamos muito, muito, perto um do outro nesse momento.
Olho para cima, me perdendo em seus olhos verdes enquanto respiro com dificuldade, meu peito encostando no seu e sua mão segurando minha cintura, mantendo-me perto dele.
- Seu sorriso é lindo. - Ele sussurra, seu hálito fazendo cócegas em meu rosto. - Seu rosto é lindo... Na verdade você é linda. - Solto um suspiro, tentando manter a calma e meus pensamentos organizados, mas isso é praticamente impossível, pois seu cheiro, seu perfume, me cerca imediatamente e me deixa tonta.
- Você também não é nada mal... - Andres ri, pressionando sua mão com mais força na base da minha espinha, me puxando para mais perto dele.
- Por que você não deixa eu me aproximar? - É como se um balde de água fria caísse sobre mim ao ouvir essas palavras.
Não quero que ele se aproxime porque não sou o tipo dele. Não ando por ai com bolsas de Dolce Gabbana e roupas da Gucci, não sou alta ou ruiva como Zoe e... Zoe. Céus, como pude esquecer disso?
Afasto-me de Andres imediatamente, olhando para os dois lados da rua vazia, como se estivesse nervosa com a possibilidade de Zoe estar nos observando de algum lugar aqui perto, se preparando para me atacar como fez na festa de Luana anos atrás.
- O que foi? - Andres pergunta, abrindo a porta do carro e ajudando uma Annabelle muito ansiosa a entrar.
Vê-lo lidando com Annabelle, tão delicado ao segurar a mão da pequena para que ela consiga entrar no carro alto, me faz sorrir. Andres parece uma pessoa autoritária e vejo em seu olhar que ele tem muita raiva reprimida dentro de si, mas, ao mesmo tempo, ele é tão delicado com Anna que me pergunto se realmente sei algo sobre ele.
- Por que se afastou? - Ele pergunta, entregando minhas sacolas para Taigor e ficando de frente para mim, com os braços cruzados sobre o peito e uma sobrancelha erguida.
- Zoe. - Andres revira os olhos, passando as mãos pelos cabelos escuros e olhando para um ponto logo acima de meu ombro.
Imediatamente me amaldiçoo por ter falado alguma coisa. Andres não está me pedindo em namoro ou casamente, longe disso, ele está apenas me convidando para almoçar, eu e minha filha, mas é estranho sair para almoçar com um cara comprometido.
- Não estou dizendo que você... Eu só não quero... Ai a sua namorada é louca, ok? E eu não quero que ela me ataque novamente. - Digo, tentando me explicar.
- Te atacar novamente? - Andres grita algo em russo para Taigor, mas depois volta sua atenção para mim mais uma vez. - Como assim te atacar novamente? - Ele inclina a cabeça para o lado, olhando em meus olhos.
- Nós tivemos um pequeno desentendimento alguns anos atrás... - Andres começa a rir, fazendo com que eu pare de falar imediatamente. - Por que está rindo? - Cruzo os braços sobre o meu peito, olhando para ele de forma desafiadora.
- Nada, nada. - Ele suspira, olhando para mim de cima a baixo com tanta intensidade que sinto meu rosto esquentar. - Eu e Zoe terminamos. Já faz algum tempo, quase dois anos, na verdade. - Assinto, sentindo-me muito boba.
- Ah, eu sinto muito por vocês...
- Não, você não sente muito. - Andres dá de ombros, dando um passo para o lado e fazendo um gesto para que eu entre no carro.
- Só dessa vez. - Digo, pegando na sua mão e entrando na SUV estacionada, sentando-me confortavelmente ao lado de Annabelle.
- Nem você acredita nisso. Claro que sairemos novamente, Manuela, e será em breve - Ele entra e senta ao meu lado, sua perna encostando levemente na minha no processo. - Então, onde vocês estavam indo almoçar? - Andres questiona, recolocando os óculos escuros e olhando pela janela do carro.
É estranho, mas um minuto atrás ele parecia tão aberto, nos ajudando a entrar no carro, rindo comigo e conversando de forma tão animada, e agora ele está se fechando novamente, como que se escondendo de mim dentro de muros altos e impenetráveis que construiu durante sua vida.
- Estávamos indo para o Le Petit Café. - Arrumo o sinto de segurança de Annabelle e então, enquanto coloco o meu, momento em que minha mão esbarra na de Andres e eu sinto um choque elétrico percorrendo meu corpo a partir desse ponto.
- Então vocês vão gostar de para onde estamos indo. - Ele suspira, olhando para minha mão, que eu acabei de repousar sobre minha coxa.
- Para onde está nos levando? - Questiono, em uma tentativa de manter ele falando e fazê-lo se abrir comigo novamente.
- Para o restaurante de um amigo. - Andres se ajeita no banco do carro enquanto Taigor assume a direção.
- O que você faz da vida? Com o que exatamente você trabalha? - Ele não me responde, apenas ri, ainda olhando para minha mão e evitando meu olhar.
- Faço muitas coisas, Manuela. - Suspiro, entendendo que isso é o máximo que ele me dará como resposta.
- E como você conseguiu meu número? - Pergunto, ao me lembrar da mensagem que recebi alguns minutos atrás, pouco antes de ele aparecer.
- Digamos apenas que eu tenho minhas fontes. - Andres mexe a mão, parecendo que quer fazer algo, mas desiste.
- Então você sabe tudo sobre minha vida? - Sorrio, inclinando minha cabeça para o lado.
- Sei mais do que você imagina. - Ele inclina a cabeça para o lado, imitando meu gesto.
- Eu acho que não. - Sussurro e, por alguns segundos, ficamos apenas nos encarando, em um silêncio confortável.
Se Andres procurou por Manuela Martins ele não descobriu muita coisa, pois não tenho nem conta em banco, mas se ele pesquisou por Angel Camille Dalavia... Bem, duvido muito que ele saiba meu segredo, mas, de qualquer forma, se souber, não descobriu muita coisa também. A única que fiz em meu nome verdadeiro desde que me mudei foi minha carteira de motorista.
De forma hesitante, Andres coloca a mão sobre a minha e entrelaça os dedos nos meus. Ao sentir o calor de seus dedos, meu coração acelera e fico ofegante.
Desde que o conheci, Andres não sai dos meus sonhos e pensamentos, por mais que eu tenha prometido não o ver nunca mais. Por um tempo ele sumiu, mas agora ele passou de sumido para não sai mais da minha vida e, puta merda, eu simplesmente quero estar com ele, eu preciso estar com ele.
Andres01 de janeiro de 2021 - 14h05minOlho para Manuela, com a mão estendida em sua direção para ajudá-la a entrar no carro, já ansioso, por um motivo totalmente desconhecido, pelo dia que teremos pela frente. Quero que ela goste de mim. Não sei por qual motivo, mas sinto como se, aos olhos dessa menina estranha e misteriosa, um pouco do velho Andres despertasse em mim... Isso me deixa apreensivo, mas quero muito ver onde podemos ir juntos. - Só dessa vez. - Manuela fala, pegando minha mão e entrando na SUV estacionada, sentando-se confortavelmente ao lado de Annabelle, que olha alegremente pela janela. - Nem você acredita nisso. Claro que sairemos novamente, Manuela, e será em breve. - Entro no carro depois dela e me sento ao seu lado, nossas pernas encostando levemente. - Então, onde vocês estavam indo? - Questiono, recolocando meus óculos esc
Manuela01 de janeiro de 2021 - 16h30minDurante toda a minha vida, só fui ao zoológico duas vezes, talvez três, pois não gosto muito a ideia da atração em si. Animais presos em jaulas, sem convívio com o meio ambiente real e natural onde realmente querem, e deveriam, estar. Não vivo presa em casa, pois estou em constante movimento, indo de um trabalho para o outro e, nas raras horas vagas, passo o tempo com Annabelle na pracinha próxima a onde moramos, mas ainda assim, olhando para os animais presos e obviamente tristes, consigo me colocar no lugar deles e sofrer junto. - O que você tem contra zoológicos? - Andres questiona, andando ao meu lado, com as mãos nos bolsos da calça preta. - Não tenho nada. - Minto, observando atentamente Annabelle c
Manuela01 de janeiro de 2021 - 17h- Então, o que você tem para me falar sobre a sua vida? - Olho para Andres, que está me encarando com um interesse óbvio em seus olhos verdes. - O que você quer saber? - Suspiro, desviando o olhar dele para minha filha, que parece estar começando a ficar entediada, apenas passando pelos habitats das aves, sem parar para observar nem uma. - Fale o que sentir vontade de falar. - Ele pede. Abro a boca, mas Andres me interrompe, erguendo um dedo no ar. - Mas, por favor, me conte sobre ela. - Fala, apontando o dedo para Annabelle. - Annabelle Martins, nascida em 01 de janeiro de 2016, completando cinco anos hoje... Ela é uma criança incrível. - Brinco, fazendo com que Andres revire os olhos e bufe, mas sorria ainda assim.
Manuela01 de janeiro de 2021 - 20h40min- Como foi a noite de ontem? - Perguntam Luana e Gabriela, em uníssono, assim que entro vestiário da boate. Hoje, ao contrário dos outros dias, não vim para a boate com nem uma delas, peguei emprestado o carro de minha mãe, então, para o total descontentamento das meninas, elas não puderam me interrogar durante todo o caminho como foi minha primeira noite como acompanhante de luxo. - Não foi muito legal. Na verdade foi uma bela merda. - Respondo, passando por elas e indo direto para o meu armário, com a intenção de trocar de roupas e ir para o salão. - Como assim? O que aconteceu? - Luana segura meu braço, me virando de frente para ela e me olhando de cima a baixo com atenç&at
Manuela01 de janeiro de 2021 - 18h30min- Pode deixar que eu a levo, And. Você já fez muito. - Digo, descendo do carro e estendo os braços para que Andres, que ainda não desceu do veículo, me entregue Annabelle. - Por que, Manuela? Você, por um acaso, está tentando se livrar de mim? - Ele sorri, saindo do carro sem nem uma dificuldade, como se Anna não pesasse nada. - Não, eu só... - Eu só o que? Porra, eu não sei o que eu estou querendo. De uma hora para a outra, assim que as SUVs pretas pararam em frente à minha casa, simples e com a pintura descascando, comecei a perceber a diferença entre o meu mundo e o dele. Acho que, por esse motivo, não me sinto mais confortável em sua presenç
Andres02 de janeiro de 2021 - 02h10minDou um passo para trás ao mesmo tempo em que Gabriela... Ou melhor, ao mesmo tempo em que Manuela cobre o rosto com as mãos, parecendo pequena e envergonhada por ter sido descoberta em um estabelecimento como este no qual no encontramos. Gabriela, a menina que conheci na boate anos atrás, e Manuela, a menina estranhamente maravilhosa que aparece em minha vida de vez em quando, são, no final das contas, a mesma pessoa... Sim, as duas me trazem a mesma sensação de paz e tranquilidade, fazem com que eu me sinta mais o antigo Andres e menos esse monstro que acabei me tornando, mas eu nunca pensei que poderiam ser a mesma pessoa. Isso não passou em minha cabeça nunca, até porque Manuela e Gabriela não coexistiam em meus pensamentos ao mesmo tempo
Andres02 de janeiro de 2021 - 02h40 - Então... - A voz de Manuela, propositalmente elevada para ser ouvida em meio à multidão alvoroçada que se aglomera na entrada da boate, esperando sua vez de entrar, me traz de volta para a realidade. - O que vamos fazer? - Ela inclina a cabeça para o lado, dando um leve sorriso para mim. - Como assim? - Ergo uma sobrancelha, ainda tentando colocar meus pensamentos em ordem. - Nós vamos fazer alguma coisa, ou você me tirou lá de dentro apenas para mostrar o quão poderoso é? - Manu joga os longos cabelos escuros por cima dos ombros, dando um sorriso zombeteiro. - Ah, claro. - Coloco as mãos nos bolsos da minha calça, olhando ao redor e para todo lugar, menos para Manuela. Q
Andres02 de janeiro de 2021 - 03h10minAbro a porta de meu apartamento, tão nervoso que acabo esbarando em um vaso de flores horrível de porcelana que fica sobre uma mesinha de mogno ao lado da porta, onde coloco minhas chaves sempre que chego em casa. - Puta merda. - Manuela solta, passando por mim e pegando o vaso antes que ele caia no chão e se estilhasse. - Ótimos reflexo, mulher aranha. - Ela ri e, ao ouvir o som de sua risada, sinto-me um pouco mais leve. - Garçonete. Lembra? - Manuela coloca uma mecha do cabelo molhado atrás da orelha e se abaixa, provavelmente com o intuito de juntar a meia dúzia de flores que caíram no chão quando o vaso virou. - Esqueça isso. - Digo, pegando-a pela mão e a puxando para cima novamente.