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27 - De Sumido à: Não Sai Mais da Minha Vida

Manuela

01 de janeiro de 2021 - 14h

Eu não confio nas pessoas e isso é um fato concreto e comprovado. Então é por isso que, nesse momento, só consigo ficar tentando juntar as peças e entender o que está motivando esse convite de Andres Ivanovich, um maldito milionário que não para de aparecer do nada em minha vida.

      No final das contas, o que eu tenho demais? O que ele quer comigo especificamente? Inclino a cabeça para o lado e sorrio para Andres, confusa com o convite, que na verdade parece mais uma ordem camuflada, e tentando entender o que ele quer. Afinal, ele acabou de descobrir que, além de acompanhante de luxo, eu também tenho uma filha.

      - Como assim? - Sacudo a cabeça, tentando esconder meu sorriso enquanto aperto com firmeza a mão de Annabelle. - Esquece. Nós realmente precisamos ir, mas obrigada pelo convite, Andres. - Tento soltar meu braço do aperto de Andres, mas ele se recusa a soltar.

      - Não, por favor. - Ele está realmente implorando? Acredito que sim, pois há em seus olhos uma pontada de desespero e ele claramente quer muito que eu o acompanhe.

      - Eu gostaria muito de sair com você, Andres, mas eu tenho que levar Anna para almoçar e...

      - Ótimo. Eu também não almocei ainda. - Ele me interrompe, soltando meu braço e colocando as mãos nos bolsos da calça de sarja preta enquanto sorri.

      Pela primeira vez, olho-o de cima a baixo, notando que ele está vestido com perfeição. Calça de sarja preta, sapatos sociais pretos, camiseta social branca e paletó preto. Ele é lindo, tão bonito que parece injusto poder se vestir tão bem.

      - Certo, mas nós...

      - Podemos almoçar juntos. Nós três. - Respiro fundo, percebendo que ele não vai desistir da ideia. - O que você acha, Anna? Posso almoçar com vocês? - Agora ele está jogando sujo, usando minha filha dessa forma.

      Abro a boca para pedir que ele não meta Annabelle no assunto, mas, para minha surpresa, ela está olhando para mim, com os olhinhos brilhantes e pidões. Ao que parece, Andres não tem apenas o dom de encantar mães.

      - Podemos? - Anna sussurra para mim, piscando os olhinhos como o gato do Shrek.

      - Eu não sei, filha, nós temos que... - Olho para Andres, franzindo o cenho e tentando mais uma vez entender o que o está motivando, mas sem sucesso.

      - Por favor, Manuela, é só um almoço. - Ele faz beicinho, inclinando a cabeça para o lado, o que faz com que vários fios de cabelo escuro caiam sobre seus olhos.

      - Por favor, mãe. - Annabelle entra na brincadeira, inclinando a cabeça para o lado e fazendo beicinho, da mesma forma que Andres está fazendo. - Hoje é o meu dia. Você que disse isso. - Touché... Eu e minha boca grande.

      - Hoje é seu aniversário? - Annabelle assente para Andres, dando uma risadinha muito fofa de criança. - Manuela, nós precisamos comemorar isso. - Sem esperar por uma resposta, Andres bate no teto da SUV estacionada.

      - O que seria senhor? - Pergunta um homem de terno, que desce do carro e vem em nossa direção rapidamente. É o mesmo homem que levou em casa depois da festa, reconheço-o.

      Para minha surpresa, Andres começa a passar ordens para o segurança, indicando eu e Annabelle, mas eu não entendo uma palavras, pois parece literalmente russo.

      Troco o peso de uma perna para a outra, tentando entender como sacolas de roupas podem ser tão pesadas, e isso acaba chamando a atenção de Andres para mim.

      - Me dê isso. - Ele diz, assim que o segurança, que acho que ele chamou de Taigor, se dirige para as SUVs estacionadas atrás da que ele desceu.

      - Não precisa, eu... - Antes que eu consiga impedi-lo, Andres tira as sacolas de compras da minha mão.

      Nossa, isso é realmente muito cavalheiresco da parte dele... Espera, minhas compras estão nessas sacolas. Sim, em duas delas tem roupas de criança, mas na terceira tem cerca de seis conjuntos de lingerie e, por um motivo bem óbvio, não quero que Andres as veja.

      - O que foi? - Andres pergunta, erguendo uma sobrancelha quando percebe que eu continuo encarando as sacolas em suas mãos.

      - Na-nada e-eu só... - Gaguejo, sem saber o que dizer para tentar esconder que estou muito envergonhada.

      Passo as mãos pelos cabelos, tirando alguns fios de meu rosto e tentando parecer mais calma e, ao mesmo tempo,  ficar mais calma para que ele não leia minha expressão.

      - O que tem nessas sacolas? - Andres sorri, um sorriso sarcástico e sensual.

      - Não tem nada demais. - Digo, mas minha voz esganiçada e totalmente desesperada me entrega.

      Antes que eu possa detê-lo, Andres abre uma das sacolas e espia o que tem dentro. Ando em sua direção, tentando impedi-lo, mas ele se afasta e ergue a mão, segurando uma calcinha preta e de renda entre os dedos, fora do meu alcance.

      - Céus, Manuela, o que é isso? - Ele ri ainda mais enquanto tento pegar a calcinha de suas mãos, o que é praticamente impossível, visto que ele a está segurando para cima e eu sou, pelo menos, uns trinta centímetros mais baixa do que ele.

      - Andres, pare com isso. - Chego mais perto dele e fico na ponta dos pés, aliviada ao conseguir tirar a peça de suas mãos. - Você é uma criança mesmo. - Digo, mas então paro, completamente congelada.

      Eu não tinha me dado conta do quão perto havia chegado de Andres enquanto tentava pegar a calcinha de suas mãos, mas agora eu percebo que estamos muito, muito, perto um do outro nesse momento.

      Olho para cima, me perdendo em seus olhos verdes enquanto respiro com dificuldade, meu peito encostando no seu e sua mão segurando minha cintura, mantendo-me perto dele.

      - Seu sorriso é lindo. - Ele sussurra, seu hálito fazendo cócegas em meu rosto. - Seu rosto é lindo... Na verdade você é linda. - Solto um suspiro, tentando manter a calma e meus pensamentos organizados, mas isso é praticamente impossível, pois seu cheiro, seu perfume, me cerca imediatamente e me deixa tonta.

      - Você também não é nada mal... - Andres ri, pressionando sua mão com mais força na base da minha espinha, me puxando para mais perto dele.

      - Por que você não deixa eu me aproximar? - É como se um balde de água fria caísse sobre mim ao ouvir essas palavras.

      Não quero que ele se aproxime porque não sou o tipo dele. Não ando por ai com bolsas de Dolce Gabbana e roupas da Gucci, não sou alta ou ruiva como Zoe e... Zoe. Céus, como pude esquecer disso?

      Afasto-me de Andres imediatamente, olhando para os dois lados da rua vazia, como se estivesse nervosa com a possibilidade de Zoe estar nos observando de algum lugar aqui perto, se preparando para me atacar como fez na festa de Luana anos atrás.

      - O que foi? - Andres pergunta, abrindo a porta do carro e ajudando uma Annabelle muito ansiosa a entrar.

      Vê-lo lidando com Annabelle, tão delicado ao segurar a mão da pequena para que ela consiga entrar no carro alto, me faz sorrir. Andres parece uma pessoa autoritária e vejo em seu olhar que ele tem muita raiva reprimida dentro de si, mas, ao mesmo tempo, ele é tão delicado com Anna que me pergunto se realmente sei algo sobre ele.

      - Por que se afastou? - Ele pergunta, entregando minhas sacolas para Taigor e ficando de frente para mim, com os braços cruzados sobre o peito e uma sobrancelha erguida.

      - Zoe. - Andres revira os olhos, passando as mãos pelos cabelos escuros e olhando para um ponto logo acima de meu ombro.

      Imediatamente me amaldiçoo por ter falado alguma coisa. Andres não está me pedindo em namoro ou casamente, longe disso, ele está apenas me convidando para almoçar, eu e minha filha, mas é estranho sair para almoçar com um cara comprometido.

      - Não estou dizendo que você... Eu só não quero... Ai a sua namorada é louca, ok? E eu não quero que ela me ataque novamente. - Digo, tentando me explicar.

      - Te atacar novamente? - Andres grita algo em russo para Taigor, mas depois volta sua atenção para mim mais uma vez. - Como assim te atacar novamente? - Ele inclina a cabeça para o lado, olhando em meus olhos.

      - Nós tivemos um pequeno desentendimento alguns anos atrás... - Andres começa a rir, fazendo com que eu pare de falar imediatamente. - Por que está rindo? - Cruzo os braços sobre o meu peito, olhando para ele de forma desafiadora.

      - Nada, nada. - Ele suspira, olhando para mim de cima a baixo com tanta intensidade que sinto meu rosto esquentar. - Eu e Zoe terminamos. Já faz algum tempo, quase dois anos, na verdade. - Assinto, sentindo-me muito boba.

      - Ah, eu sinto muito por vocês...

      - Não, você não sente muito. - Andres dá de ombros, dando um passo para o lado e fazendo um gesto para que eu entre no carro.

      - Só dessa vez. - Digo, pegando na sua mão e entrando na SUV estacionada, sentando-me confortavelmente ao lado de Annabelle.

      - Nem você acredita nisso. Claro que sairemos novamente, Manuela, e será em breve - Ele entra e senta ao meu lado, sua perna encostando levemente na minha no processo. - Então, onde vocês estavam indo almoçar? - Andres questiona, recolocando os óculos escuros e olhando pela janela do carro.

      É estranho, mas um minuto atrás ele parecia tão aberto, nos ajudando a entrar no carro, rindo comigo e conversando de forma tão animada, e agora ele está se fechando novamente, como que se escondendo de mim dentro de muros altos e impenetráveis que construiu durante sua vida.

      - Estávamos indo para o Le Petit Café. - Arrumo o sinto de segurança de Annabelle e então, enquanto coloco o meu, momento em que minha mão esbarra na de Andres e eu sinto um choque elétrico percorrendo meu corpo a partir desse ponto.

      - Então vocês vão gostar de para onde estamos indo. - Ele suspira, olhando para minha mão, que eu acabei de repousar sobre minha coxa.

      - Para onde está nos levando? - Questiono, em uma tentativa de manter ele falando e fazê-lo se abrir comigo novamente.

      - Para o restaurante de um amigo. - Andres se ajeita no banco do carro enquanto Taigor assume a direção.

      - O que você faz da vida? Com o que exatamente você trabalha? - Ele não me responde, apenas ri, ainda olhando para minha mão e evitando meu olhar.

      - Faço muitas coisas, Manuela. - Suspiro, entendendo que isso é o máximo que ele me dará como resposta.

      - E como você conseguiu meu número? - Pergunto, ao me lembrar da mensagem que recebi alguns minutos atrás, pouco antes de ele aparecer.

      - Digamos apenas que eu tenho minhas fontes. - Andres mexe a mão, parecendo que quer fazer algo, mas desiste.

      - Então você sabe tudo sobre minha vida? - Sorrio, inclinando minha cabeça para o lado.

      - Sei mais do que você imagina. - Ele inclina a cabeça para o lado, imitando meu gesto.

      - Eu acho que não. - Sussurro e, por alguns segundos, ficamos apenas nos encarando, em um silêncio confortável.

      Se Andres procurou por Manuela Martins ele não descobriu muita coisa, pois não tenho nem conta em banco, mas se ele pesquisou por Angel Camille Dalavia... Bem, duvido muito que ele saiba meu segredo, mas, de qualquer forma, se souber, não descobriu muita coisa também. A única que fiz em meu nome verdadeiro desde que me mudei foi minha carteira de motorista.

      De forma hesitante, Andres coloca a mão sobre a minha e entrelaça os dedos nos meus. Ao sentir o calor de seus dedos, meu coração acelera e fico ofegante.

      Desde que o conheci, Andres não sai dos meus sonhos e pensamentos, por mais que eu tenha prometido não o ver nunca mais. Por um tempo ele sumiu, mas agora ele passou de sumido para não sai mais da minha vida e, puta merda, eu simplesmente quero estar com ele, eu preciso estar com ele.

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