— Re-regras? — Paulina sentiu-se extremamente nervosa.
— Regra número um: O que acontece aqui morre aqui. — O lábio inferior de Simon tocou de leve a pele da orelha de Paulina. O toque acidental a fez tremer, o que justificou ser uma reação de repúdio. — Dois: Seus problemas não me interessam. — Simon levantou o rosto, os olhos negros luzindo e um sorriso torto nos lábios ao dizer. — Três: Diferente do Muller, empregadas não ocupam a minha cama. Embora duvide que ele tenha te tocado de forma mais íntima.
Se a intenção era constrangê-la, já conseguira, então não havia necessidade de continuar com uma mão tocando-a e muito menos ficar tão próximo, o corpo praticamente empresando o seu contra a parede e a respiração com cheiro de café aquecendo sua face. Paulina desejava gritar para Simon deixá-la em paz, no entanto as palavras pareciam estar presas em sua garganta, uma moleza dominava seu corpo e aos poucos, sem que percebesse, começou a fechar os olhos. Sentiu o nariz de Simon tocar o seu...
O som de seu celular ecoou, tirando-a do estupor, deu um pequeno pulo de susto e retirou apressada o aparelho do bolso. Pelo visor percebeu que se tratava de Nathaniel. Olhou para Simon que a encarava intensamente, levando rubor a sua face.
— É o Nathaniel... Será que...
— Se pretende que eu saia para que fale com seu namoradinho idiota, a resposta é não.
Se não fosse por seu pai, que provavelmente não ficaria do seu lado, Paulina pediria demissão naquele exato momento, mas se limitou a atender a ligação.
— Boa noite, Nath! — cumprimentou sorrindo de leve. Seu namorado sempre tivera um efeito calmante sobre ela.
— Conseguiu o emprego, anjo?
— Er... Consegui, mas não aquele que te disse — sua voz saiu mais baixa que o normal, muito embora soubesse que Simon podia ouvi-la com clareza à distância que se encontrava. — Sou governanta do senhor Simon agora.
— Verdade? Falei com Simon hoje e ele não me disse nada.
— É que fui contratada quase há pouco. — Olhou de esguelha para Simon e notou que ele prestava atenção em tudo o que dizia.
— Que bom! — felicitou o namorado e Paulina se segurou para não dizer que já queria se demitir. — Anjinho, liguei pra lembrá-la do nosso encontro no Rainbow. Tenho algo muito importante para te dizer.
— É que comecei hoje e... Bem, tenho de perguntar ao senhor Simon... — Olhou para Simon que continuava no mesmo lugar, não movera um centímetro sequer e a encarava com hostilidades.
— Ah, o Simon vai deixar. Passa o celular pra ele.
— Nath...
— Confie em mim, anjo.
— Nathaniel quer falar com você — informou estendendo o celular para o Salvatore.
Se Simon estranhou o pedido, não demonstrou, simplesmente pegou o celular, questionando visivelmente irritado.
— O que quer, Muller?
— Lembra-se da nossa conversa mais cedo? — Nathaniel não esperou a resposta e continuou animado. — Preparei tudo pra hoje à noite e preciso que deixe a Lina me encontrar. Mas não diga nada, quero fazer uma surpresa para a minha anjinho.
Simon fitou Paulina intensamente, a expressão tão azeda que a morena temeu que o namorado tivesse ofendido o Salvatore.
— Aposto que a “anjinho” vai adorar — disse com um tom desdenhoso que passou despercebido ao Muller, porém não para Paulina que apertava a mão extremamente tensa.
— É o que espero. Ah, e ainda espero que seja meu padrinho.
— Não acho que ela goste dessa ideia.
“Gostar do quê?”, perguntava-se Paulina cada vez mais preocupada.
— Lógico que a Lina gostará, ela sabe que te considero um irmão.
— Posso considerar a ideia se ela aceitar.
“Que ideia?”, perguntava-se Paulina tentando disfarçar que toda a sua atenção se fixava no que o Salvatore dizia.
— Então, permite que me encontre?
— Lógico. Vou devolver o celular para ela agora.
— Obrigado, amigo!
Simon não disse mais nada, entregou o aparelho para a Perez, que trocou mais algumas palavras com o namorado antes de encerrar a ligação.
— Venha! — ele ordenou lhe dando as costas e seguindo em direção a um corredor.
Surpresa, Paulina se limitou a segui-lo.
Passaram por duas portas, viraram à esquerda, mais três portas, Simon continuou até o fim do corredor, que terminava em duas portas. Abriu a da direita dando passagem para Paulina.
— Esse é o seu quarto.
Paulina admirou o cômodo, pouca coisa maior que o que ocupava na mansão Salvatore, mobiliado com um guarda-roupa embutido na cama de solteiro, uma poltrona e uma estante com uma televisão.
Andou até a cama e pousou a maleta sobre ela. Com o corpo todo tenso, respirou fundo, juntou coragem e se virou para Simon com um sorriso trêmulo.
— Pode me mostrar o restante do apartamento? — No momento em que os lábios do Salvatore se inclinaram em um sorriso de lado, Paulina previu a resposta.
— Tenho uma festa para ir e não posso perder tempo com besteiras, então, quando voltar do seu encontro pode se situar sozinha. — Depois de dizer isso, Simon rumou para o próprio quarto. Precisava sair e beber algo, de preferência alcóolico.
~*~
D
urante todo o jantar no restaurante que Nathaniel adorava ir, Paulina não conseguia pensar em outra coisa que não fosse seu novo trabalho.
Normalmente, era o namorado, com sua animação, que monopolizava a conversa. Gostava de ouvir sobre o dia-a-dia dele, admirar o brilho empolgado das íris azuladas, observa-lo coçar a nuca quando se lembrava de algo engraçado ou vergonhoso, apreciando a bagunça que o gesto causava nos cachos loiros. Mas naquele dia, Paulina precisava desabafar.
— Não entendo por que Mirela fez isso comigo — reclamou, incomodada demais com tudo que acontecera, não notando o respiro entediado do namorado. — Todo mundo sabe que o senhor Simon me odeia.
— Simon não te odeia — Nathaniel garantiu cansado das reclamações.
Teve vontade de acrescentar que ela não necessitava trabalhar, se aceitasse, ele lhe sustentaria. Mas recordava o drama que a proposta causara quando a fizera na primeira vez. Era uma das poucas coisas – possivelmente a única – em que discordavam.
— E porque sempre me trata mal? — ela murmurou de cabeça baixa, empurrando a comida que mal tocara com o garfo.
— Ele é assim mesmo. Frio com as pessoas — respondeu com um sorriso benevolente. — Não é nada particular.
Cansada, Paulina deduziu que o ano seria muito difícil. Além de aturar Simon, ainda teria de ouvir de todos que exagerava ao se queixar. Nem mesmo Nathaniel parecia inclinado a ficar ao seu lado.
— De qualquer forma, tenho uma proposta — ele anunciou empolgado, os dedos mergulhando no bolso do paletó. — Se você aceitar, te ajudará a sair mais cedo desse emprego.
— Proposta?
A jovem o fitou com desconfiança, recordando da última vez em que falaram sobre sair do emprego. Dois anos antes, no lugar de comemorar o trabalho que ela conseguira, Nathaniel mostrara desagrado e prometera pagar suas contas se pedisse demissão. A decepção dele foi evidente quando deixara claro que só aceitaria tal oferta vinda do futuro marido.
Preparou-se para repetir seus argumentos, mas logo à desconfiança foi substituída por esperança, seu olhar atraído para a pequena caixinha preta que Nathaniel posicionou entre eles.
— Quer casar comigo, Lina? — ele pediu abrindo a caixinha, deixando Paulina ver seu conteúdo, um anel de diamante.
— Sim! Claro que sim! — respondeu a eufórica Perez estendendo a mão para que o Muller colocasse o anel em seu dedo anular. — É lindo! — admirou encantada com a beleza da joia e seu significado.
— Como você anjo — disse o Muller beijando o anel antes de se inclinar na mesa para beijar suavemente os lábios da noiva, selando o importante passo em suas vidas.
De volta do jantar, antes de se aprontar para dormir, Paulina andou pelo apartamento de Simon decidida a dar o seu melhor até o dia de seu casamento.Em estado de graça, sem se importar em quão desagradável seria conviver com o Salvatore, sua mente ocupava-se montado o cenário perfeito para seu casamento, as flores, o vestido, o salão de festas, a realização de seus sonhos.Com a certeza de que no fim daquela provação teria seus esforços recompensados, minutos depois pousou a cabeça no travesseiro, caindo em sono profundo. Até ser despertada abruptamente pelo som de algo pesado caindo e vidro estilhaçando.Assustada, levantou-se, ajeitou a longa camisola de algodão e abriu a porta de seu quarto. Escutou palavrões proferidos quase aos berros vindos do corredor que levava para a sala, identificou imediatamente a voz de Simon.Caminhou insegura at&
Simon olhou para o relógio de pulso e respirou fundo. Por culpa do “lanche” feito por Paulina estava meia hora atrasado pela primeira vez desde que a SaaTore fora fundada. Por onde passava era seguido por olhares curiosos. Com certeza na hora do almoço seu atraso seria motivo de falatório.Entrou no elevador e apertou o botão para o nono andar. Antes que as portas se fechassem Tamara Saadi, do setor de criação e irmã gêmea de Gabriel, entrou e apertou distraída o botão do décimo andar. Quando ela removeu os olhos esverdeados da pilha de papéis que levava e os cravou sobre ele, Simon observou a fina sobrancelha loira se erguer com desprezo.— Atrasado pela segunda vez em uma semana — disse a jovem de cabelo loiro acobreado preso em um coque lateral. Simon supôs que ela considerava o horário que reservara para contratar uma governanta como atraso. Podia
Cantarolando, Paulina estava satisfeita por manter a ordem, o que não era difícil uma vez que Simon não era do tipo bagunceiro e o apartamento era menor que a casa de sua antiga patroa. Na noite anterior, antes do retorno de Simon, explorara cada cômodo. A decoração em todos os cômodos era em tons neutros, sem muitos adornos e um tanto impessoal em sua opinião, o que combinava com a personalidade do Salvatore. A sala de estar tinha um sofá cinza em forma de U, em que nove pessoas podiam sentar e ainda sobraria espaço; uma mesa de centro de madeira com tampo de vidro; um rack com dois gavetões, espaço para acomodar livros e os aparelhos de som, DVD e games, com painel para o televisor de tela plana. No canto havia um pequeno bar com duas banquetas. A sala de jantar era menor, com uma mesa de madeira e tampo de vidro para dez pessoas. Decidiu que a cozinha era seu cômodo favorito no momento que passou pela porta de correr. Encantara-se com os armários e
Ao ser informado por Cherry que Mirela e Paulina estavam no prédio, Simon as deixou entrar em seu escritório.— Bom dia, bebê! — cumprimentou Mirela abraçando-o.Odiava quando sua mãe o chamava assim, mas reclamar não adiantaria de nada.— É bom vê-la também, mãe. — Afastou o corpo, colocando fim ao abraço. — Precisava mesmo conversar com você.— Sobre o que?Simon olhou em direção a governanta. Ela permanecia muda ao lado da porta, as mãos unidas em frente ao corpo e os olhos abaixados. A submissão em pessoa.— Perez, faça um café para mim. — Paulina ergueu o olhar surpresa. — Peça para Cherry mostrar a copa.Ela assentiu e saiu apressada.Quando a porta se fechou, com uma delicadeza que contrastava com a rapidez que a jovem saíra, Mirela
Com desgosto, Simon observou a pressa da governanta em sair e lamentou ter assinado o contrato. No entanto, logo relembrou seus motivos. Seria cansativo e demorado procurar outra pessoa, estava sem paciência para novas entrevistas e relegar essa função também não o agradava. Pegou o celular, acessou a agenda e percorreu as fileiras de nomes sem grande interesse até selecionar um. — Aqui é Simon Salvatore. Quer jantar em minha casa hoje? — soltou logo que a voz feminina foi ouvida. ~*~ Colocando a última travessa na mesa de jantar, Paulina admirou seu trabalho. Tudo estava perfeito e em uma quantidade suficiente para duas pessoas. Esperava que Simon aprovasse. Mordeu o lábio inferior duvidando de tamanha sorte. De qualquer forma, mesmo que gostasse, Simon nada falaria. Como se seu pensamento criasse vida, ouviu a voz de Simon lhe chamando. Apressou-se a chega na sala e se surpreendeu com a visão que teve. A visita de Simon parecia uma m
Graças à carona de Simon chegou à residência dos Muller no horário que combinara com a mãe dele, Carlota, por telefone dias antes. Meia hora depois seu pai e sua irmã chegaram e, juntamente com sua sogra, seguiram para a sala de estar.Carlota era uma anfitriã excelente, extrovertida e bem humorada. Paulina prestava atenção em cada gesto dela, memorizando para usar no futuro, embora duvidasse que conseguisse agir com tanta espontaneidade. Entreter pessoas, falar com elas sobre assuntos variados não fazia parte de sua personalidade. Tinha receio de desapontar Nathaniel quando recebessem convidados após o casamento.Sua preocupação com eventos futuros só não era maior porque seu noivo estava atrasado, muito atrasado. Sentada entre a irmã e o pai, que olhava a todo o momento o relógio, ficava difícil ignorar esse fato.Meio dia passou
Existia um motivo para Simon visitar poucas vezes os pais, praticamente o mesmo que o fizera se mudar anos antes: Mirela e sua mania de lhe arranjar uma namorada.Fora pisar os pés na mansão para que sua mãe desafiasse sua paciência elaborando planos para o seu futuro. Depois do interrogatório sobre sua vida amorosa, sua mãe passara a enaltecer as filhas de suas amigas.— Ela é uma mulher muito linda...— Não duvido — resmungou entediado, mas sem surtir efeito na empolgação da matriarca.— É formada em pedagogia. Uma pessoa agradável, de boa família...— Sim. Acredito.— Perfeita para um relacionamento sério...— Sei.— E ela te acha atraente...— Hum!— Está me ouvindo?— Estou.— Mas não liga para o que digo, nã
Simon alcançou Paulina perto da porta principal e teve de segurar seu braço para que parasse. Ela o afastou bruscamente e ele só não zombou da atitude tempestuosa por notar as lágrimas nos cantos dos olhos claros.— Vamos para casa.Melancólica, Paulina concordou e não ofereceu resistência quando Simon a segurou novamente pelo braço, deixando-se guiar até o carro dele.Por meia hora o caminho foi feito em um silêncio constrangedor. Mais tranquila e ligeiramente envergonhada da forma que saíra da mansão Salvatore, Paulina apertou as mãos, incerta do que deveria falar para quebrar a tensão dentro do carro, decidiu começar pelo pedido que seu noivo fizera para ele.— Nathaniel me contou que pediu para você ser padrinho dele...— E eu disse que aceitaria se você quisesse — comentou Simon sem tirar os olhos da