Depois que Alex entrou no aeromóvel, seguido por Luís, eles saíram da estação, seguindo na direção indicada por Juarez. Nervoso e preocupado, o ódio de Alex aumentava a cada momento. O que pretendia Juarez humilhando-o daquela maneira e jogando-o de um lugar a outro como se ele fosse uma marionete? Por algum tempo, enquanto eles seguiam em alta velocidade, nenhum dos dois disse nada. Alex estava preocupado demais com Cíntia para pensar em outra coisa e Luís, que não acompanhou o interrogatório, tentava entender o que estava acontecendo.
Quando se afastaram da estação, Alex teve que diminuir a velocidade, pois não encontraram nada, apesar de continuarem seguindo sempre em frente, conforme Juarez os orientou. Luís percebeu que Alex ficou chateado por ele insistir em acompanhá-lo mas, como os últimos acontecimentos deixaram Luís apenas mais confuso, resolveu perguntar, esperando que Alex lhe esclarecesse alguma coisa.
– Como pode afirmar que Juarez derrubou o prédio? –
Cíntia havia tirado outro livro da estante e agora estava sentada na cadeira com o livro largado sobre a mesa e assim o lia, tentando se distrair dos problemas. Ela ainda estava ali quando começou a ouvir um ruído calmo e contínuo de água escorrendo, olhou para fora e viu o corredor todo molhado. A água estava subindo muito rápido. Cíntia logo percebeu que, apesar de molhar um pouco por baixo das portas e na parte inferior da janela, a água não entrava na sala, nem mesmo através das grades. Cíntia levantou da cadeira e ficou olhando para aquilo sem acreditar, era como se uma parede invisível segurasse a água. Quando a água do lado de fora se aproximou da altura de Cíntia, ela contornou a mesa indo sentar-se na cama com os olhos fixos na parede à sua frente, onde não havia abertura alguma. “Isso não está acontecendo”, pensou ela, “é só um pesadelo, vai acabar”. Valdir levou o casal e os filhos de Alex à sua casa, onde as crianças fizeram
Alex acordou em outro lugar, a princípio não conseguiu distinguir onde estava, pois chovia muito forte e ele não conseguia controlar seus movimentos. Sua mente desejava fazer uma coisa, mas seu corpo não lhe obedecia e fazia outra, sentiu uma sensação estranha, como se seu corpo não lhe obedecesse mais. Juarez olhou para o chalé, ele sabia que Ana estava lá. Então Alex começou a entender o que estava acontecendo, sua mente havia voltado mais de dez anos no tempo, aquela era a noite em que Juarez se acidentou. Relâmpagos cortavam o céu a todo o momento, Juarez e outros dois rapazes estavam chegando ao viveiro de Ana, na época apenas alguns blocos retangulares com gaiolas, onde os animais eram mantidos a céu aberto. Alex surpreendeu-se por Juarez saber exatamente quantos e quem eram os que estavam trabalhando no laboratório naquela noite, e mais ainda ao entender o quanto era fácil para ele descobrir, bastava perguntar aos caçadores e eles diriam sem perceber qualquer
Juarez continuou andando sem rumo por um longo tempo. Não havia luz alguma naquele lugar, fosse ela natural ou artificial. O chão, os morros, as montanhas ou qualquer outra coisa que encontrasse sempre apresentavam uma cor marrom em contraste com o escuro das trevas. Depois do combate com a besta, seus olhos já estavam acostumados com aquele lugar e ele podia ver muito bem por onde andava. Já estava andando há algum tempo quando cinco homens vieram ao seu encontro. Vestiam roupas sujas e rasgadas e traziam espadas penduradas à cintura. – Volta para casa, este lugar não é para você – disse um deles. – Pode fazer o favor de me levar até seu líder? – perguntou Juarez, ignorando o que ele dissera. Os cinco soldados começaram a rir debochadamente. – Até que poderíamos levá-lo, o problema é que ninguém faz favores por aqui, além disso, não aceitamos vivos neste lugar – ele então puxou a espada e, num gesto rápido, atravessou-a no peito de Juarez. –
Semanas mais tarde, a enfermeira que cuidava de Juarez percebeu que havia algo anormal naquele dia. Já estava assim desde cedo, tendo ela relatado ao médico, que começou a dar mais atenção ao paciente, mas de repente os aparelhos indicaram uma parada cardíaca. Médicos e enfermeiros correram para o quarto e iniciaram os procedimentos necessários, porém nada dava resultados e, depois de muito esforço tentando salvá-lo, Juarez foi dado como morto. O médico, ainda com o desfibrilador na mão, olhava para os aparelhos e para o paciente, incapaz de acreditar. Juarez sobreviveu a um choque elétrico ao qual ninguém teria sobrevivido. Chegara ali terrivelmente desfigurado e, agora que estava recuperado, iria morrer por algo que deveria tê-lo matado no momento do choque. Um enfermeiro logo saiu desapontado. Depois de um minuto com o desfibrilador na mão, incrédulo, o médico largou-o sobre o leito, relutando em desligar os aparelhos. A enfermeira muito triste acompanhava tudo de
Quando Alex acordou, duas horas depois, estava deitado sobre um sofá. Aquela foi a segunda vez que ele esteve aprisionado pela eletricidade em poucas horas, e sentia-se muito mal. Seu raciocínio estava lento, sua visão, ofuscada, e seus músculos estavam doendo mais do que haviam doido naquela manhã. A primeira coisa que viu, ainda fora de foco, foi uma mesa redonda à sua frente. Fez um esforço para sentar-se e viu que havia outro sofá à sua esquerda e, atrás da mesinha redonda, havia duas poltronas, uma de frente para a outra. Quando se restabeleceu um pouco mais, percebeu que estava dentro de uma biblioteca, com muitas mesas de madeira retangulares e dois bancos ao lado de cada uma delas. A biblioteca também tinha um formato retangular; nas laterais havia dois andares com inúmeras estantes repletas de livros e, no centro, um grande saguão que ligava um andar ao outro. De cada lado do saguão havia uma série de colunas ligando o andar de baixo ao de cima e um parapeit
Alex lembrou o sonho que tivera antes de acordar. Não falou dele a Juarez, não queria saber se batia com os fatos ou que ele soubesse. Manuel demorou a voltar, não havia ido logo ao quarto de Cíntia. Juarez pediu a ele que esperasse um pouco para trazê-la, ainda havia coisas que precisavam falar antes que ela estivesse presente. “A única experiência que seu marido vai ter com a morte ele já teve”. Manuel dissera a Cíntia na noite anterior, mas Alex ainda se sentia tão vivo quanto antes, ou será que as mudanças foram tão pequenas e longas que nem chegou a perceber? Segundo Juarez, este era um dos “efeitos colaterais” provocados pelo manto elétrico, o acidente havia atingido seus átomos, unindo o mundo espiritual ao material. E Alex o havia levado a todas as estações, dividindo com elas o mesmo destino. Como não acreditava no mundo espiritual, não era tão simples para ele quanto era para Juarez. – Por que leu tanto sobre medicina, por que os laboratórios se não
Alex não queria, disse que estava bem, mas Cíntia insistiu para que ele fosse ao hospital. Como não havia energia para usar os equipamentos necessários aos exames, permitiram que Alex passasse a noite em observação. Quando souberam que o pai tinha voltado, Eduardo e Amanda logo foram ao hospital, acompanhados por Valdir. Ao chegarem, Heitor interrompeu a conversa que estava tendo com Alex e saiu do quarto para que as crianças ficassem um pouco ao lado do pai. No entanto, o caso ainda não fora resolvido, pois Alex, além de não falar muito sobre o que aconteceu, recusava-se a prestar queixa contra Juarez. E Heitor logo voltou. – Pegue Eduardo e Amanda e leve-os para a casa, não há a necessidade de eles continuarem aqui – Alex pediu a Cíntia, antes que retomassem a conversa. – Eu posso até ir, mas antes vocês vão me explicar o que está acontecendo – teimou Eduardo. – Eu gostaria que eles passassem a noite na casa de Valdir – começou Cíntia, e depois cont
Depois de alguns dias na estação os ecologistas de deram conta de que a situação tomara um rumo completamente inesperada. Segundo seus planos a esta altura eles já deveriam estar infiltrados entre os caçadores investigando de que forma tratavam o meio ambiente, no entanto tiveram o primeiro contratempo já na conversa com Ana descobrindo que para ir com eles teriam que passar por um treinamento. Além disso, quem poderia imaginar que o prédio mais importante da estação iria desabar? Esse evento além de inesperado colocava em risco toda a operação, pois além de terem que fazer o curso agora ainda precisavam aguardar a abertura de uma nova turma.– Como vamos nos manter se esta situação se prolongar? – perguntou Débora, numa tarde em que estavam na sala da pousada.– A estação vive do turismo com certeza não me