Isaac QueirozQuando conheci Atena, eu tinha uns quinze anos. Era novo na cidade, tentando me adaptar, meio perdido. Ela surgiu de repente, como um furacão, com aquele jeito decidido e uma energia difícil de ignorar. Logo percebi que Atena e sua irmã gêmea, Artemis, eram opostas em quase tudo. Atena era inquieta, cheia de ideias mirabolantes e carregava uma autoconfiança que me intimidava, mas que também me atraía. Artemis, por outro lado, era mais calma, mas acompanhava a irmã em todas as loucuras.Uma coisa que as duas compartilhavam era uma paixão quase fanática por uma banda chamada Iron Vortex. Atena falava deles como se fossem a coisa mais importante do universo. Lembro-me de uma vez em que ela me arrastou para um show da banda sem nem me perguntar se eu queria ir. No final, acabei rindo e curtindo ao vê-las cantar com tanta paixão, cada palavra, como se estivessem em um transe.É engraçado pensar que, tantos anos depois, Ellah, a sobrinha de Atena, acabou sendo filha de um dos
Atena GodoyAssim que Isaac saiu, olhei para Lukke, que estava relaxado no sofá, como se fosse a coisa mais natural do mundo aparecer sem avisar... e trazendo um cachorro!Ellah pulava de um lado para o outro, segurando o cachorro no colo com um sorriso enorme.— Titia, ele é tão fofinho! Olha, olha! Por favor, podemos ficar com ele? — Ela estava com os olhinhos brilhando, e o cachorro, que era grande demais para um colo tão pequeno, parecia alheio a tudo, só balançando a língua de um lado para o outro.Virei para Lukke, tentando manter a calma.— Lukke, que história é essa de cachorro? Achei que você ia só dar um boa-noite para Ellah, não fazer uma entrega surpresa.Ele sorriu, completamente despreocupado.— Achei que vocês precisavam de uma companhia. Então, trouxe a "Princesa". E olha, é um poodle! — Ele cruzou os braços, como se essa fosse a coisa mais lógica do mundo.Olhei para o cachorro, incrédula. Não era um poodle. Era um vira-lata grande e meio desengonçado, que claramente
Após o jantar, Lucas colocou Ellah para dormir, e depois voltamos para a sala.— Obrigada... por hoje. Pelo jantar, pela Princesa... e...Ele sorriu, aproximando-se.— De nada, ruiva. Eu gosto de estar por perto.Por um segundo, fiquei sem reação.— Boa noite, Atena.E, antes que eu me desse conta, ele me deu um beijo na testa, suave e inesperado. Não soube como reagir, então apenas assenti, em silêncio.— Quer ficar?— Tem certeza? — Assenti. — E onde irei dormir? No quarto de hóspedes?— Pode dormir no meu quarto mesmo.Fomos para o meu quarto, e Lucas se acomodou ao meu lado na cama, ambos relaxados em um silêncio confortável. Com as luzes do abajur suavemente iluminando o quarto, ele quebrou o silêncio.— Sabe, Atena, eu tomei uma decisão hoje. Liguei para o Damian e aceitei fazer o show de tributo ao Blaze — disse ele, olhando para o teto.Surpresa, virei de lado para encará-lo.— Sério? Isso é incrível, Lukke! Quando vão começar os ensaios?— Semana que vem. Vamos nos preparar p
Lukke Rock Estava ansioso pelo primeiro ensaio com a banda desde que aceitei o show em tributo ao Blaze. A decisão de tocar novamente mexera comigo de uma forma que eu não conseguia explicar — era uma chance de honrar nosso amigo e trazer de volta algo do passado que era importante para todos nós. Ao chegar no estúdio, percebi que não era o único que estava nervoso. Damian estava do outro lado, afinando a guitarra com uma expressão séria, e Reed, no baixo, mal olhava para ele. Lennox, na bateria, já tinha começado a montar seu equipamento, mas eu conseguia ver a tensão nos ombros dele. Todo mundo estava ali, mas o clima não era nem de longe o que um dia tinha sido. Ainda assim, tentei animá-los.— E aí, pessoal. — Tentei sorrir, mas foi difícil quando todos apenas acenaram ou resmungaram um “oi”.Todos os membros da banda estavam distantes e tensos. Fazia anos desde a última vez que havíamos tocado juntos, e parecia que cada um carregava algo não resolvido, uma sombra de ressentimen
Atena GodoyEstávamos eu e Ellah terminando de pendurar as últimas luzinhas no quarto dela. O ambiente estava ficando exatamente do jeito que ela queria: aconchegante, com um toque divertido e colorido. Cada detalhe, desde as almofadas novas até os quadros que escolhemos juntas, foi pensado para transformar o quarto em um refúgio só dela. Ela parou para observar o resultado, sorrindo satisfeita, e eu senti uma pontinha de orgulho ao ver o brilho nos olhos dela.— Acho que terminamos, hein? — eu disse, dando uma olhada ao redor.Antes que Ellah pudesse responder, ouvi um assobio vindo da porta. Olhei e vi Lukke parado ali, nos observando com um sorriso de canto.— Olha só! Vocês duas têm talento nato pra decoração — disse ele, com aquele tom divertido de sempre.Ellah riu e virou-se para ele, meio desconfiada.— Você acha mesmo, pai? — perguntou, buscando uma confirmação séria.Lukke colocou uma mão no peito, como se estivesse dando um veredito importante.— Sem dúvida, Ellah. Você e s
Atena GodoyO coração batia mais rápido do que o normal enquanto eu e Ellah caminhávamos até o estúdio onde a banda de Lukke estava ensaiando. Ellah praticamente saltitava ao meu lado, tão animada que era impossível não sentir a energia contagiante dela. Enquanto nos aproximávamos, vi Lukke já nos esperando na entrada, com aquele sorriso confiante que sempre me deixava desconcertada.— Prontas para verem um espetáculo antes do próprio show? — ele perguntou, piscando para nós duas.— Mais do que prontas! — Ellah respondeu, segurando minha mão e puxando-me para dentro.Assim que entramos, o som dos instrumentos sendo afinados e pequenos ajustes no volume criavam uma atmosfera elétrica. A sala era maior do que eu imaginava, com paredes cobertas por pôsteres e grafites coloridos, lembrando o estilo rock’n’roll. Guitarras, baixos e baterias espalhavam-se pelo espaço, como se cada canto tivesse uma história musical para contar.— Atena, Ellah, esses são os caras — Lukke nos apresentou com u
Depois de mais algumas músicas, a banda fez uma pausa, e todos relaxaram, rindo e conversando sobre o que tinham acabado de tocar. Stella aproveitou o momento para se aproximar de mim. Ela respirou fundo e lançou um olhar sincero, algo raro de ver.— Atena, eu queria pedir desculpas. Sei que fui dura com você. Estava tão focada em proteger o Lukke e em manter a ordem aqui que acabei me precipitando. — Ela fez uma pausa, e seus olhos mostravam uma honestidade que eu não esperava.Eu sorri, sentindo o peso da tensão entre nós se dissolver.— Ah, Stella, eu também devo desculpas. Sou impulsiva, falo o que vem à cabeça e nem sempre penso nas consequências. No fundo, entendo o que você estava tentando fazer. — Fiz uma pausa, observando o alívio no rosto dela. — Vamos deixar isso pra trás?— Combinado. — Ela sorriu, e antes que eu pudesse responder, ouvi a voz de Lukke atrás de nós.— Vejam só! As megeras finalmente fizeram as pazes! — ele disse, com uma expressão divertida, cruzando os bra
Lukke RockA praça era um pequeno refúgio escondido no meio da cidade, cercada por árvores antigas e bancos de pedra desgastados pelo tempo. Poucas pessoas conheciam aquele lugar, e eu duvidava que tivesse mudado muito desde a última vez que estive aqui. Enquanto caminhávamos, senti uma mistura estranha de nostalgia e tranquilidade ao ver Atena e Ellah ao meu lado, prontos para uma tarde que prometia ser simples, mas memorável.— Esse é o tal esconderijo? — Atena perguntou, me olhando com uma curiosidade divertida.— Esse mesmo — respondi, apontando para o pequeno playground com um sorriso. — Passei boa parte da minha infância aqui. Eu e os caras da banda sonhávamos que, algum dia, seríamos astros do rock. Esse era o nosso palco.Ela riu, e foi impossível não reparar como o som da risada dela se misturava ao som leve da brisa balançando as folhas.— E vocês conseguiram — Atena comentou, com aquele tom de reconhecimento que me fez sentir… bem, reconhecido.Soltei um suspiro, meio que r