Lukke RockEstava achando engraçado o quanto provocá-la parecia dar certo. Por mais que Atena tentasse ser rígida, séria e centrada, era só cutucar um pouco que a máscara dela começava a cair. De onde eu vinha, gente como ela era rara – e, sem dúvida, ela me desafiava, o que só me deixava com mais vontade de brincar. Estar aqui no parque, ao ar livre, parecia o cenário perfeito para desarmá-la.Enquanto eu a observava, ela estava com o rosto imerso no celular. Espiei, me perguntando se ela estava tão ocupada a ponto de não perceber o quanto era irritante me ignorar. Fiz uma careta, e logo resolvi questionar:— O que é tão importante aí? — perguntei, tentando esconder a provocação.Ela me lançou um olhar rápido, provavelmente se perguntando se responderia ou se me ignoraria. Mas, no fim, suspirou, resignada:— É um e-mail urgente de uma empresa parceira. Preciso resolver antes que a semana comece.Fiz uma expressão de desaprovação e, sem pensar duas vezes, tomei o celular da mão dela.
Eu cheguei em casa sentindo a euforia ainda pulsando nas veias. O dia no parque tinha sido… diferente. Eu não me lembrava da última vez em que me senti tão à vontade. Sem a pressão de manter a postura de “rockstar rebelde” ou de lidar com os holofotes em cima de cada movimento. Com Atena e Ellah, foi como se eu fosse apenas o Lucas, e não o Lukke Rock. Nem acreditava que estava deixando me levar por uma mulher de personalidade tão forte, que insistia em ignorar qualquer charme que eu tentasse jogar.Enquanto eu pensava sobre isso, ouvi o som da porta se abrindo. Stella apareceu na sala com seu andar confiante e me lançou um olhar sério.— Lucas, preciso falar com você sobre a entrevista na próxima semana — ela disse, fechando a porta atrás de si e sentando no sofá com o tablet em mãos. — É uma entrevista importante, você sabe. Se tudo correr bem, vai render uma ótima exposição. Precisamos que você esteja no seu melhor.Eu me joguei no sofá em frente a ela, cruzando os braços com um so
Atena GodoySentada em minha mesa, deixo o olhar vagar pela janela, tentando encontrar algum ponto de paz em meio a tantas incertezas. Meus olhos se perdem no céu nublado, que, de alguma forma, reflete o emaranhado de pensamentos que invadem minha mente sem pedir permissão. Minhas mãos deslizam para o colar que carrego, quase como uma âncora, enquanto tento organizar tudo o que sinto. É nesse momento que a porta se abre e Murilo entra. Ele me encontra parada, perdida, e para, observando-me por um instante. — Atena? O que aconteceu? — ele pergunta, com a preocupação habitual, embora sem se intrometer demais. — Ah, Murilo... não é nada demais — respondo, tentando forçar um sorriso, mas a expressão dele mostra que meu disfarce não convence. Ele se aproxima e coloca a pasta com o balancete em minha mesa. — Aqui está o relatório que pediu. — Ele deixa a pasta e faz um aceno discreto antes de sair. Espero que ele tenha acreditado que estou bem, que não perceba o nó em minha g
Assim que o carro de Lukke para em frente ao edifício da empresa, respiro fundo, sentindo uma leve satisfação pelo dia que tivemos. Antes que eu possa abrir a porta, ele se adianta e lança aquele sorriso atrevido que sempre faz meu coração acelerar, embora eu faça o possível para não demonstrar.— Obrigada pela carona — agradeço, já abrindo a porta.Ele balança a cabeça com um ar descontraído e pisca.— Eu que agradeço. Até mais, gatinha — ele murmura, sorrindo com um brilho de malícia no olhar.Reviro os olhos e saio, rindo sozinha enquanto caminho até a entrada da empresa. Assim que entro, a agitação do dia volta a tomar conta de mim, e todo o trabalho que ainda me espera passa pela minha mente. Subo para minha sala, onde Murilo me espera com uma expressão séria.— Atena, o Isaac pediu para você ir até a sala dele. Temos uma reunião importante daqui a pouco — ele avisa, entregando-me uma pasta.Dou um rápido aceno e sigo para a sala de Isaac. Encontro-o concentrado, passando rapidam
Uma semana depois, tudo parece ter entrado em um ritmo mais organizado. As negociações com o novo parceiro empresarial avançaram de maneira sólida, e o compromisso da equipe está mais forte do que nunca. O impulso que conquistamos na última reunião refletiu em vários setores, e Isaac e eu finalmente conseguimos respirar aliviados, pelo menos um pouco.Enquanto faço alguns últimos ajustes em uma apresentação, Murilo bate na porta e espreita para dentro com um sorriso divertido.— Pronta para o fim de semana? — ele pergunta, arqueando as sobrancelhas em tom provocativo. — Gael e Luane devem estar animados para o churrasco.— Mais ou menos — brinco, soltando um suspiro exagerado. — Só espero que a churrasqueira não vire uma missão impossível. E você? Vai aparecer por lá, né?— Não perco por nada — ele responde. — E com a super Atena cuidando da churrasqueira, sei que estaremos em boas mãos.No dia seguinte, o clima de descontração é visível assim que chegamos à casa de Gael e Luane. Somo
Passado um mês desde o churrasco, a vida continua agitada. Ellah está se adaptando muito bem à nova escola e já fez até alguns amiguinhos. Ela chega em casa sempre com histórias novas e empolgantes, contando sobre suas aventuras com um brilho nos olhos. Mas, com o aumento de novos contratos, Isaac e eu estamos mais sobrecarregados do que nunca. A rotina intensa me mantém focada por horas, e Ellah, frequentemente, fica ao meu lado, pedindo por atenção.Enquanto reviso algumas cláusulas de um contrato, meu celular toca. E vejo que é o meu pai. A voz calma e segura dele sempre me traz um pouco de paz em meio ao caos.— Olá, filha! Como estão as coisas aí? — pergunta ele, direto ao ponto.— Cansativas, mas estamos indo bem — respondo, soltando um suspiro. — O trabalho está me engolindo, mas estamos dando conta.— E a Ellah, como está se adaptando à nova escola?— Está indo bem, papai. Ela já fez alguns amiguinhos e parece estar gostando bastante — comento, enquanto dou uma espiada para ve
Lukke Rock O show em Florianópolis estava eletrizante. A plateia vibrava, cada refrão ecoando como se as vozes de todos fossem uma só. A adrenalina corria pelo meu corpo enquanto eu soltava a última nota. O público gritava meu nome, e era como se o mundo inteiro estivesse ali, embaixo das luzes ofuscantes. Mas, por mais que esse seja o ápice de qualquer artista, eu sempre me sentia esvaziado assim que o palco ficava para trás.Saí do palco, ainda respirando fundo. Entrei no camarim, sentindo o suor frio escorrer pelas costas e a energia lentamente se acalmando. Mas, assim que cruzei a porta, uma figura familiar me fez congelar. Damian Stone estava lá, parado em meio ao meu camarim. Ele parecia um pouco mais envelhecido, um toque de cansaço nos olhos, mas era inconfundível — a mesma presença forte e o mesmo olhar calculista que sempre o acompanhavam. — Lukke — ele disse, esboçando um sorriso que soava meio contido. — Parece que as coisas estão dando certo pra você.A presença dele m
Lukke Rock (Anos Atrás)O som abafado de risadas e notas de guitarra ecoava pela garagem dos Stone. Aquele era o nosso lugar de encontro, o único lugar em que éramos verdadeiramente livres para sonhar, sem limites nem julgamentos. Naquela noite, nós quatro estávamos lá, cercados de partituras rabiscadas e instrumentos emprestados, como sempre. Damião, Lucas, Luan e Rafael estavam cada um com uma instrumento em mãos, enquanto eu dedilhava minha guitarra de segunda mão que minha mãe havia me dado com muito esforço e muitas faxinas, estava imaginando ter uma guitarra potente em mãos. — Beleza, galera — disse Luan, os olhos brilhando com o entusiasmo de sempre. — Eu estive pensando… e se a gente fizer algo completamente diferente? Tipo… rock misturado com… com música celta!Rafael começou a rir, enquanto eu e Damião trocávamos um olhar, tentando entender de onde Luan tirava essas ideias.— Luan, a gente mal sabe tocar um rock direito e você já quer enfiar harpa e gaita de foles no mei