Passado um mês desde o churrasco, a vida continua agitada. Ellah está se adaptando muito bem à nova escola e já fez até alguns amiguinhos. Ela chega em casa sempre com histórias novas e empolgantes, contando sobre suas aventuras com um brilho nos olhos. Mas, com o aumento de novos contratos, Isaac e eu estamos mais sobrecarregados do que nunca. A rotina intensa me mantém focada por horas, e Ellah, frequentemente, fica ao meu lado, pedindo por atenção.Enquanto reviso algumas cláusulas de um contrato, meu celular toca. E vejo que é o meu pai. A voz calma e segura dele sempre me traz um pouco de paz em meio ao caos.— Olá, filha! Como estão as coisas aí? — pergunta ele, direto ao ponto.— Cansativas, mas estamos indo bem — respondo, soltando um suspiro. — O trabalho está me engolindo, mas estamos dando conta.— E a Ellah, como está se adaptando à nova escola?— Está indo bem, papai. Ela já fez alguns amiguinhos e parece estar gostando bastante — comento, enquanto dou uma espiada para ve
Lukke Rock O show em Florianópolis estava eletrizante. A plateia vibrava, cada refrão ecoando como se as vozes de todos fossem uma só. A adrenalina corria pelo meu corpo enquanto eu soltava a última nota. O público gritava meu nome, e era como se o mundo inteiro estivesse ali, embaixo das luzes ofuscantes. Mas, por mais que esse seja o ápice de qualquer artista, eu sempre me sentia esvaziado assim que o palco ficava para trás.Saí do palco, ainda respirando fundo. Entrei no camarim, sentindo o suor frio escorrer pelas costas e a energia lentamente se acalmando. Mas, assim que cruzei a porta, uma figura familiar me fez congelar. Damian Stone estava lá, parado em meio ao meu camarim. Ele parecia um pouco mais envelhecido, um toque de cansaço nos olhos, mas era inconfundível — a mesma presença forte e o mesmo olhar calculista que sempre o acompanhavam. — Lukke — ele disse, esboçando um sorriso que soava meio contido. — Parece que as coisas estão dando certo pra você.A presença dele m
Lukke Rock (Anos Atrás)O som abafado de risadas e notas de guitarra ecoava pela garagem dos Stone. Aquele era o nosso lugar de encontro, o único lugar em que éramos verdadeiramente livres para sonhar, sem limites nem julgamentos. Naquela noite, nós quatro estávamos lá, cercados de partituras rabiscadas e instrumentos emprestados, como sempre. Damião, Lucas, Luan e Rafael estavam cada um com uma instrumento em mãos, enquanto eu dedilhava minha guitarra de segunda mão que minha mãe havia me dado com muito esforço e muitas faxinas, estava imaginando ter uma guitarra potente em mãos. — Beleza, galera — disse Luan, os olhos brilhando com o entusiasmo de sempre. — Eu estive pensando… e se a gente fizer algo completamente diferente? Tipo… rock misturado com… com música celta!Rafael começou a rir, enquanto eu e Damião trocávamos um olhar, tentando entender de onde Luan tirava essas ideias.— Luan, a gente mal sabe tocar um rock direito e você já quer enfiar harpa e gaita de foles no mei
Atena Godoy A noite estava tranquila, e eu finalmente conseguia aproveitar um tempo para mim. Sentada no sofá, com o laptop apoiado nos joelhos, eu finalizava alguns documentos pendentes enquanto saboreava um bom vinho. O silêncio era raro em casa, mas Ellah tinha ido para a cama cedo, exausta depois de um longo dia de escola e atividades. Eu tinha acabado de salvar o último arquivo quando ouvi a campainha. Franzi o cenho, surpresa. Quem poderia aparecer a essa hora? Coloquei o laptop de lado e fui até a porta. Assim que a abri, lá estava ele — Lukke, com aquele sorriso divertido e um brilho nos olhos que só ele tinha. — Entra, fica à vontade — eu disse, erguendo uma sobrancelha. Ele deu uma risada, passando por mim e se acomodando no sofá como se fosse a própria casa. — Depois de um mês e meio longe de tudo, só fazendo shows e ouvindo gritos, confesso que só queria paz. Descansar um pouco, sabe? Fechei a porta, deixando o ambiente ainda mais aconchegante e sem interrupções. No i
A presença de Lukke preenchia o quarto, e eu sentia cada célula do meu corpo desperta, em alerta. Havia algo inexplicável em sua proximidade, uma mistura de expectativa e conforto, que me fazia esquecer qualquer pensamento ou preocupação. Ele me olhava de forma profunda, como se tentasse ler além do que estava visível, e eu o olhava de volta, sem nenhuma defesa, vulnerável e aberta para ele.Ele se aproximou devagar, suas mãos deslizando ao longo dos meus braços, e eu sentia meu coração acelerar, batendo descompassado. Quando ele finalmente me puxou para si, eu já estava rendida, entregue. Seus lábios capturaram os meus, e o beijo começou calmo, cheio de uma intensidade que parecia aumentar a cada segundo, até que eu não sabia mais onde ele terminava e eu começava. Era como se estivéssemos conectados em um nível além do físico, algo que ia fundo, que me tocava na alma.Lukke era gentil e, ao mesmo tempo, cheio de uma habilidade que me fazia sentir como se ele soubesse exatamente o que
— Eu já mencionei antes que era fã da banda, certo? — retruquei, tentando soar casual, mas ele parecia estar se divertindo demais com a descoberta.— Sim, mas não sabia que era a ponto de marcar meu nome na pele — ele respondeu, claramente aproveitando o momento.Suspirei e resolvi ser honesta, afinal, não havia muito o que esconder naquele momento. — Minha irmã e eu éramos grandes fãs do Iron Vortex, e você era o nosso favorito. Decidimos fazer essas tatuagens quando a banda estava no auge. Era uma forma de lembrança dos shows, dos momentos que compartilhamos juntas como fãs, sabe?Lukke parecia absorver minhas palavras com atenção, o sorriso em seu rosto diminuindo enquanto ele notava a sinceridade em minha voz.— E... por que não apagou? — Ele perguntou, num tom mais suave.Olhei para o meu pulso e senti uma pontada de saudade. — Depois que minha irmã faleceu, essa tatuagem se tornou algo mais. Era o que me ligava a ela, um pedaço das nossas lembranças. Agora, mais do que uma lem
Na manhã seguinte, fomos acordados pelo som da porta sendo aberta de repente.— Titia! — Ellah entrou no quarto, arregalando os olhos ao ver Lucas ao meu lado. Ele sorriu para ela, visivelmente surpreso e um pouco constrangido.— Bom dia, pequena — ele disse, tentando suavizar o impacto.Ellah olhou de mim para ele, com os olhos brilhando de curiosidade.— Você dormiu aqui? — ela perguntou, alternando o olhar entre nós dois.Lucas riu e deu de ombros.— Parece que sim. Mas só porque eu queria tomar café com você e sua tia — ele disse, lançando um sorriso provocador para mim.Ellah riu, e eu aproveitei para dar uma leve cotovelada em Lucas.— Isso dói! — ele reclamou, rindo.— Era pra doer mesmo, seu idiota — respondi, revirando os olhos com um sorriso.Pedi a Ellah que nos esperasse lá fora. Lucas e eu nos vestimos rapidamente, e, quando estávamos prontos, saímos juntos para tomar café. Martina nos esperava na cozinha, e, ao ver Lucas, seus olhos brilharam como os de uma adolescente.
Lukke Rock Estava tomando café com Atena e Ellah e, por incrível que pareça, estava gostando daquilo. Parecíamos uma família de verdade, e um sorriso involuntário se formou em meus lábios. Conversávamos descontraidamente quando meu celular tocou, e vi o nome de Stella piscando na tela.— Lucas, onde diabos você está? — Stella perguntou, e seu tom cauteloso me deixou alarmado.— Stella, o que houve? — perguntei, ansioso.Ela demorou um pouco para responder.— Não queria te contar assim, mas... Rafaela está de volta. Ela me ligou ontem dizendo que foi até sua casa e não o encontrou. Fico feliz que esteja longe dela agora, mas, Lucas, mesmo ela sendo sua prima, mantenha distância. Nada de bom vem dela. Sei que ela foi sua primeira paixonite, mas você lembra de tudo que passou por causa dela.Fiquei sem reação. Depois de tantos anos afastada, e depois de tudo o que aprontou comigo, agora ela voltou e está me procurando? O que diabos Rafaela quer de mim? E como o diabo nunca vem sozinho,