Os dados sobre a infância e juventude de Mônica haviam sido expostos na internet para qualquer um acessar. Estava tudo lá: o divórcio dos pais, as dificuldades financeiras da família e, por fim, sua ida para o exterior e sua entrada na prestigiada Academia Newscar. A notícia caiu como uma bomba. Desde que assumira o cargo de presidente interina, o que mais temia era que alguém cavasse seu passado. Já havia instruído o departamento de relações públicas a abafar qualquer informação sobre sua vida pessoal, evitando inconvenientes desnecessários. Mas, no final, seu pior medo se concretizara. Sem alternativa, Mônica convocou uma coletiva de imprensa e decidiu contar tudo. No entanto, sua transparência não foi suficiente para convencer o público. Qualquer um com acesso à internet poderia descobrir que a Newscar era uma das academias de tradução mais renomadas do mundo. Para ser aceito, não bastava inteligência—era preciso dinheiro. E, considerando a situação financeira de sua família
Rubem apenas esperou em silêncio, sem dizer mais nada. Mônica, do outro lado da linha, ouvia sua respiração pausada. Aquilo, de alguma forma, a acalmava. Só depois de um longo momento, murmurou, desanimada: — Tio... Acho que realmente não sou feita para isso. Estou estragando tudo. Era só um acidente de trabalho e um caso de corrupção... Problemas simples, com tantos profissionais competentes no Grupo Pimentel. Mas, por algum motivo, eu não consigo resolver. Me sinto um fracasso. Nem mesmo quando seus pais se divorciaram e sua vida virou de cabeça para baixo ela se sentiu tão impotente. Naquele momento, parecia que tudo o que fazia era errado, que nunca seria reconhecida. — Mônica, ninguém é perfeito. As pessoas adoram apontar os erros dos outros. — Rubem falou, sua voz firme e serena. — Você nunca vai saber do que é capaz se não tentar. Não importa o que digam. Você já fez muito. Enquanto eu estava fora, segurou as pontas do Grupo Pimentel. Foi um trabalho difícil. Se achar qu
— Fechado! Mas quero um jantar de luxo, e ele que pague. — Emma riu animada. — Sem problema! Desde que você fique feliz. Mônica estava atolada de trabalho e não teve tempo para conversar muito. Assim que terminaram o café da manhã, seguiram apressadas para a empresa. Apesar de as notícias sobre sua origem terem sido apagadas, o escândalo envolvendo Túlio—corrupção, tráfico e abuso de menores—continuava dominando os noticiários. O assunto não esfriava, e as ações do Grupo Pimentel seguiam despencando. Kelly acompanhou Mônica, atualizando-a sobre a situação. Ela estava preocupada, mas não havia nada que pudesse fazer além de seguir em frente. Ao chegar ao escritório, Mônica abriu a gaveta e pegou os documentos que Rubem havia lhe dado dias atrás. Ela imaginou que fossem contratos de parceria com outras empresas, mas ao abrir a pasta, ficou paralisada. Os papéis não eram sobre novos negócios. Eram sobre as ações do Grupo Pimentel. Os nomes listados ali pertenciam a empresá
Alguns acionistas analisavam a situação do Grupo Pimentel e acreditavam que ainda havia chances de recuperação, por isso se recusavam a vender suas ações originais. Mônica, seguindo o conselho de Rubem, negociou com esses acionistas teimosos e conseguiu recomprar os papéis sem grandes dificuldades.Ao mesmo tempo, Virgínia e Marcos também compravam ações originais nos bastidores.Quando Mônica descobriu, teve ainda mais certeza de suas suspeitas: aquelas notícias negativas tinham sido plantadas por eles. O objetivo era claro—aproveitar o caos para tomar o controle do Grupo Pimentel.Recomprar as ações era fácil, mas vendê-las depois seria um problema. A empresa estava em uma situação crítica, e a falência era apenas questão de tempo. Já havia até companhias preparando propostas de aquisição. Quem, em sã consciência, pagaria caro por ações do Grupo Pimentel? Só um idiota.Nos últimos dias, Mônica corria de um lado para o outro, tão estressada que até uma afta surgiu em sua boca.Emma pa
— Sra. Mônica, você sabe que minha agenda é cheia. Só para jantar com você, cancelei várias reuniões. Se não puder chegar no horário combinado, melhor deixarmos para outra ocasião.Clyde foi educado, mas deixou claro: se Mônica se atrasasse, o encontro seria cancelado e a conversa encerrada.— Sr. Clyde, me desculpe mesmo. Vou fazer o possível para chegar a tempo. — Respondeu ela, tentando manter a compostura. Assim que a ligação caiu, porém, a raiva tomou conta dela. Teve vontade de jogar o celular longe. Como diabos o Rubem escolhia esses executivos? Eram todos arrogantes assim?Distraída, não viu um buraco no chão e tropeçou feio. Caiu de cara na lama, sentiu a água suja respingar no rosto. O desastre foi completo.— Moça, você tá bem?Uma mãozinha surgiu na frente dela, segurando um pacote de lenços de papel.— Obrigada. — Murmurou ela, pegando um lenço enquanto tentava se levantar.Quando ela olhou direito para o dono da voz, viu um garotinho vestido com roupas de trilha, capacet
Mônica ainda sentia uma leve dor no tornozelo torcido. O garotinho, percebendo isso, a levou até um banco próximo para que pudesse descansar um pouco. Em seguida, puxou um chocolate da mochila e estendeu para ela.— Chocolate tem bastante energia. Se comer, vai se sentir mais forte.— Obrigada. — Mônica pegou o chocolate, surpresa.Era difícil acreditar que aquele menino tinha apenas quatro anos. Ele era tão calmo e articulado que poderia facilmente passar por um adolescente.— Meu pai é militar, muito forte. Ele protege as fronteiras. — Assim que mencionou o pai, os olhos do garoto brilharam de orgulho. — Ele me ama muito. Todo ano me manda presentes.— Militar? — Mônica murmurou, descartando a ideia de que ele pudesse ter alguma relação com Gustavo.Gustavo não era militar. Se fosse, não teria tanto tempo livre nem poderia viajar para o País Z para ajudar Rubem. Mas então, como explicar a semelhança entre os dois? Será que Gustavo tinha irmãos?Bom, pessoas idênticas sem laços de san
— Quando eu saí, não estava chovendo. — Gabriel retrucou. — Mamãe, foi você quem disse que não podia faltar com as lições.— Mas existem situações especiais. — Maitê respondeu com calma. — Eu sei que você é inteligente e consegue fazer tudo sozinho, mas o mundo lá fora é complicado. Dessa vez, vou relevar, mas não pode se repetir, entendeu?Gabriel resmungou um "tá bom" sem muita convicção.— Hoje não estou ocupada. Vou ficar em casa com você. — Maitê percebeu que ele estava emburrado, então o puxou para o colo e beijou sua bochecha. — Que tal se eu fizer croissants para você?Ele não demonstrou muita empolgação. Apenas olhou para a mãe e, num tom frustrado, perguntou:— Mamãe, eu sou um segredo? Por que não posso sair de casa? Nem ir para a escola?Maitê segurou suas mãozinhas e as beijou com carinho.— Claro que não. Você é o tesouro mais precioso para mim e para o seu pai. Mas seu pai tem uma posição delicada, e se alguém descobrir sobre você, pode ser perigoso. Além disso, você é m
Mônica pedalou a mountain bike como se sua vida dependesse disso. Chegou ao hotel da reunião com cinco minutos de antecedência.Enquanto atravessava o saguão apressada, ajeitava o cabelo e a roupa. Assim que chegou à recepção e perguntou pelo grupo de Clyde, recebeu uma resposta que a fez travar.— Eles já foram faz tempo.— Merda! — Praguejou ela, jogando a bolsa com força sobre o balcão.Ela tinha se esforçado tanto para chegar a tempo, até pegou emprestada a bicicleta de um garotinho... E eles simplesmente tinham ido embora antes da hora? Estavam tirando com a cara dela?Respirou fundo algumas vezes para conter a irritação e pegou o celular para ligar para Clyde.— Alô, Sra. Mônica.A voz do outro lado não era a de Clyde. Mônica franziu a testa, mas controlou o tom.— Sr. Clyde está ocupado? — Forçou um sorriso. — Cheguei pontualmente ao hotel, mas me disseram que ele já tinha saído.— Nosso chefe teve um compromisso de última hora. — O homem respondeu de forma impassível. — Ele ped