Rubem percebeu pela voz dela que algo estava errado. Provavelmente ela estava pensando sobre a condição de suas pernas. Ele soltou um "hm", mas não disse nada. Durante o café da manhã, foi Mônica quem falou praticamente o tempo todo. Ela comentou sobre os assuntos da empresa, sobre como Conrado estava preocupado com ele. Rubem teve que se segurar para não rir. Ele não havia contado a Conrado sobre o acidente, mas conhecia bem a esperteza do pai. Era provável que Conrado já tivesse percebido que tudo fazia parte de um plano. Caso contrário, ele não teria dado suporte a Mônica na empresa, nem permitido que ela assumisse o cargo de presidente interina. — Sr. Rubem? — Mônica chamou sua atenção. Rubem estava perdido em seus pensamentos, mas ela, imaginando que ele havia percebido a falta de sensibilidade nas pernas e estava se sentindo deprimido, apressou-se em dizer. — O médico disse que a falta de sensibilidade é temporária. Suas pernas vão melhorar. Rubem, por um momento, teve vo
— Pode. Mônica queria dizer algo, mas, nesse instante, o telefone tocou. Era Kelly. O Grupo Pimentel tinha muitas questões a resolver, e Kelly sempre lidava com tudo com eficiência. Para estar ligando agora, certamente era algo urgente. Mônica atendeu. — Kelly, o que foi? — É difícil explicar pelo telefone, Presidente. Melhor a senhora vir para a sede o quanto antes. — Certo. Estou a caminho. Era estranho ser chamada de "Presidente" por toda a empresa, já que era apenas interina. Sempre sentia que aquele cargo era grande demais para ela. Ao desligar, lembrou-se de que Rubem já estava acordado. Se havia um problema, ele deveria resolvê-lo. — Sr. Rubem. — Ela olhou para ele no leito, hesitou e então continuou. — Kelly ligou agora. Aconteceu algo na empresa... O senhor quer... — Do jeito que estou, não tem como eu ir. — Rubem já sabia o que ela queria dizer e a interrompeu. — Cuide de tudo. Eu confio em você. Só de imaginar Rubem indo até a empresa em uma cadeira de
— O que houve? — Mônica perguntou. — Os jornalistas na porta da empresa não estão aqui por causa do acidente dos operários. — Kelly fez uma pausa antes de continuar. — É por causa do Túlio, o diretor internacional do Grupo Pimentel. Ele está envolvido em um escândalo de corrupção. Mônica franziu a testa. — Ele roubou dinheiro da empresa. E daí? Por que todo esse alarde? — O problema é muito pior do que isso. — Kelly respirou fundo antes de prosseguir. — Ele não só desviou dinheiro do Grupo Pimentel para abrir cassinos e casas de entretenimento, mas também está sendo acusado de abusar sexualmente de mais de cem menores de idade. Além disso, as garotas que trabalhavam nesses estabelecimentos foram sequestradas por sua equipe. Muitas delas foram torturadas até a morte por ele ou pelos clientes. Só os casos confirmados passam de cinquenta vítimas. A notícia explodiu na internet às cinco da manhã e, às oito, a polícia já estava aqui querendo explicações. Mônica sentiu as pernas fr
Os dados sobre a infância e juventude de Mônica haviam sido expostos na internet para qualquer um acessar. Estava tudo lá: o divórcio dos pais, as dificuldades financeiras da família e, por fim, sua ida para o exterior e sua entrada na prestigiada Academia Newscar. A notícia caiu como uma bomba. Desde que assumira o cargo de presidente interina, o que mais temia era que alguém cavasse seu passado. Já havia instruído o departamento de relações públicas a abafar qualquer informação sobre sua vida pessoal, evitando inconvenientes desnecessários. Mas, no final, seu pior medo se concretizara. Sem alternativa, Mônica convocou uma coletiva de imprensa e decidiu contar tudo. No entanto, sua transparência não foi suficiente para convencer o público. Qualquer um com acesso à internet poderia descobrir que a Newscar era uma das academias de tradução mais renomadas do mundo. Para ser aceito, não bastava inteligência—era preciso dinheiro. E, considerando a situação financeira de sua família
Rubem apenas esperou em silêncio, sem dizer mais nada. Mônica, do outro lado da linha, ouvia sua respiração pausada. Aquilo, de alguma forma, a acalmava. Só depois de um longo momento, murmurou, desanimada: — Tio... Acho que realmente não sou feita para isso. Estou estragando tudo. Era só um acidente de trabalho e um caso de corrupção... Problemas simples, com tantos profissionais competentes no Grupo Pimentel. Mas, por algum motivo, eu não consigo resolver. Me sinto um fracasso. Nem mesmo quando seus pais se divorciaram e sua vida virou de cabeça para baixo ela se sentiu tão impotente. Naquele momento, parecia que tudo o que fazia era errado, que nunca seria reconhecida. — Mônica, ninguém é perfeito. As pessoas adoram apontar os erros dos outros. — Rubem falou, sua voz firme e serena. — Você nunca vai saber do que é capaz se não tentar. Não importa o que digam. Você já fez muito. Enquanto eu estava fora, segurou as pontas do Grupo Pimentel. Foi um trabalho difícil. Se achar qu
— Fechado! Mas quero um jantar de luxo, e ele que pague. — Emma riu animada. — Sem problema! Desde que você fique feliz. Mônica estava atolada de trabalho e não teve tempo para conversar muito. Assim que terminaram o café da manhã, seguiram apressadas para a empresa. Apesar de as notícias sobre sua origem terem sido apagadas, o escândalo envolvendo Túlio—corrupção, tráfico e abuso de menores—continuava dominando os noticiários. O assunto não esfriava, e as ações do Grupo Pimentel seguiam despencando. Kelly acompanhou Mônica, atualizando-a sobre a situação. Ela estava preocupada, mas não havia nada que pudesse fazer além de seguir em frente. Ao chegar ao escritório, Mônica abriu a gaveta e pegou os documentos que Rubem havia lhe dado dias atrás. Ela imaginou que fossem contratos de parceria com outras empresas, mas ao abrir a pasta, ficou paralisada. Os papéis não eram sobre novos negócios. Eram sobre as ações do Grupo Pimentel. Os nomes listados ali pertenciam a empresá
Alguns acionistas analisavam a situação do Grupo Pimentel e acreditavam que ainda havia chances de recuperação, por isso se recusavam a vender suas ações originais. Mônica, seguindo o conselho de Rubem, negociou com esses acionistas teimosos e conseguiu recomprar os papéis sem grandes dificuldades.Ao mesmo tempo, Virgínia e Marcos também compravam ações originais nos bastidores.Quando Mônica descobriu, teve ainda mais certeza de suas suspeitas: aquelas notícias negativas tinham sido plantadas por eles. O objetivo era claro—aproveitar o caos para tomar o controle do Grupo Pimentel.Recomprar as ações era fácil, mas vendê-las depois seria um problema. A empresa estava em uma situação crítica, e a falência era apenas questão de tempo. Já havia até companhias preparando propostas de aquisição. Quem, em sã consciência, pagaria caro por ações do Grupo Pimentel? Só um idiota.Nos últimos dias, Mônica corria de um lado para o outro, tão estressada que até uma afta surgiu em sua boca.Emma pa
— Sra. Mônica, você sabe que minha agenda é cheia. Só para jantar com você, cancelei várias reuniões. Se não puder chegar no horário combinado, melhor deixarmos para outra ocasião.Clyde foi educado, mas deixou claro: se Mônica se atrasasse, o encontro seria cancelado e a conversa encerrada.— Sr. Clyde, me desculpe mesmo. Vou fazer o possível para chegar a tempo. — Respondeu ela, tentando manter a compostura. Assim que a ligação caiu, porém, a raiva tomou conta dela. Teve vontade de jogar o celular longe. Como diabos o Rubem escolhia esses executivos? Eram todos arrogantes assim?Distraída, não viu um buraco no chão e tropeçou feio. Caiu de cara na lama, sentiu a água suja respingar no rosto. O desastre foi completo.— Moça, você tá bem?Uma mãozinha surgiu na frente dela, segurando um pacote de lenços de papel.— Obrigada. — Murmurou ela, pegando um lenço enquanto tentava se levantar.Quando ela olhou direito para o dono da voz, viu um garotinho vestido com roupas de trilha, capacet