O corte no rosto ainda doía um pouco e, sem sono, Mônica decidiu ir até o carro pegar o notebook para continuar resolvendo pendências. Se não fosse por estar substituindo o presidente, ela nunca teria ideia de como essa posição era exaustiva. Relatórios intermináveis, números que precisavam ser analisados, reuniões intermináveis e convites para coquetéis, jantares beneficentes e eventos corporativos... O dia parecia não ter horas suficientes, e a agenda já estava lotada até o próximo ano. Agora ela entendia o quão pesado era o trabalho de Rubem. Depois de responder alguns e-mails, Mônica suspirou profundamente, esfregando o pescoço dolorido com as mãos. Quando desviou o olhar para a cama, viu o homem deitado ali, tão imóvel e silencioso. Um aperto tomou seu peito, e seu nariz começou a arder, como se fosse chorar. Desde o acidente de carro, já havia se passado quase quinze dias. Ela havia resolvido praticamente tudo relacionado ao Grupo Pimentel, mas Rubem ainda não havia acord
Francisco acenou para ele, sorrindo e exibindo os dentes brancos. — Rubem, bem-vindo de volta! Ao ver os dois ali, Rubem logo entendeu a situação. — Não era para ainda não ser o momento? — Após quase quinze dias desacordado, sua voz saiu rouca, mas firme como sempre. — Por que usaram o antídoto agora? — Desculpe, Rubem. Houve uma emergência, eu não tive escolha. — Eduardo respondeu com seriedade. As pernas de Rubem ainda estavam sob o efeito do medicamento, o que deixava os nervos temporariamente paralisados. Eduardo ajustou a cama para que ele ficasse sentado e colocou um travesseiro atrás de suas costas. Quando Rubem levantou o braço, seus dedos roçaram algo macio e levemente áspero. Era cabelo. Olhando para baixo, viu alguém debruçado na beirada da cama. Metade do rosto estava à mostra, com um corte profundo e a carne ainda exposta, deixando um aspecto assustador. — É a Mônica. Ela ficou preocupada com você e decidiu permanecer no hospital. — Eduardo explicou ao notar
— Cada um faz suas escolhas. Uns querem uma vida tranquila, outros querem brilhar. Mônica é do primeiro tipo. — Eduardo disse, com um tom firme. — Ela acha que o acidente foi culpa dela e, por isso, carrega uma culpa enorme. Então, com tudo isso acontecendo no Grupo Pimentel, ela está se sacrificando para proteger a empresa por você. Rubem, já pensou no que vai acontecer se um dia ela descobrir que tudo isso foi parte do seu plano? Que você a enganou? Como acha que ela vai reagir? As palavras de Eduardo eram afiadas, atingindo Rubem como uma faca. O rosto de Rubem ficou sombrio, como se uma tempestade estivesse se formando dentro dele. Por algum motivo, só de imaginar Mônica descobrindo que tudo aquilo tinha sido calculado por ele, que ela havia sido manipulada, ele sentiu como se algo dentro de si estivesse desmoronando. O peito apertou, a dor era sufocante, como se alguém tivesse agarrado seu coração com força. Ele, que sempre navegou com frieza no mundo dos negócios, manipulan
Desde o acidente, Mônica finalmente conseguiu ter uma boa noite de sono, tranquila e revigorante. A única coisa estranha era que a cama parecia um pouco apertada, como se estivesse dividindo o espaço com alguém. Ao abrir os olhos, a primeira coisa que viu foi o teto branco e sentiu o cheiro característico de desinfetante. Foi então que percebeu que estava deitada na cama do hospital. Ao lado dela, estava Rubem. As cobertas dos dois estavam tão próximas que não havia nem uma fresta entre elas. Mônica ficou completamente atordoada. Como foi parar na cama dele? Nessa proximidade inesperada, ela notou detalhes que não havia reparado antes: a barba por fazer, com pequenos pontos azulados no queixo, o pescoço alongado, o pomo de adão ligeiramente saliente, que parecia estranhamente atraente. Ali, deitado, ele mais parecia um príncipe adormecido, tranquilo e quase perfeito. Sem perceber, Mônica ficou encarando o pomo de adão dele por um bom tempo. Aquilo parecia um botão, pequeno e
Rubem percebeu pela voz dela que algo estava errado. Provavelmente ela estava pensando sobre a condição de suas pernas. Ele soltou um "hm", mas não disse nada. Durante o café da manhã, foi Mônica quem falou praticamente o tempo todo. Ela comentou sobre os assuntos da empresa, sobre como Conrado estava preocupado com ele. Rubem teve que se segurar para não rir. Ele não havia contado a Conrado sobre o acidente, mas conhecia bem a esperteza do pai. Era provável que Conrado já tivesse percebido que tudo fazia parte de um plano. Caso contrário, ele não teria dado suporte a Mônica na empresa, nem permitido que ela assumisse o cargo de presidente interina. — Sr. Rubem? — Mônica chamou sua atenção. Rubem estava perdido em seus pensamentos, mas ela, imaginando que ele havia percebido a falta de sensibilidade nas pernas e estava se sentindo deprimido, apressou-se em dizer. — O médico disse que a falta de sensibilidade é temporária. Suas pernas vão melhorar. Rubem, por um momento, teve vo
— Pode. Mônica queria dizer algo, mas, nesse instante, o telefone tocou. Era Kelly. O Grupo Pimentel tinha muitas questões a resolver, e Kelly sempre lidava com tudo com eficiência. Para estar ligando agora, certamente era algo urgente. Mônica atendeu. — Kelly, o que foi? — É difícil explicar pelo telefone, Presidente. Melhor a senhora vir para a sede o quanto antes. — Certo. Estou a caminho. Era estranho ser chamada de "Presidente" por toda a empresa, já que era apenas interina. Sempre sentia que aquele cargo era grande demais para ela. Ao desligar, lembrou-se de que Rubem já estava acordado. Se havia um problema, ele deveria resolvê-lo. — Sr. Rubem. — Ela olhou para ele no leito, hesitou e então continuou. — Kelly ligou agora. Aconteceu algo na empresa... O senhor quer... — Do jeito que estou, não tem como eu ir. — Rubem já sabia o que ela queria dizer e a interrompeu. — Cuide de tudo. Eu confio em você. Só de imaginar Rubem indo até a empresa em uma cadeira de
— O que houve? — Mônica perguntou. — Os jornalistas na porta da empresa não estão aqui por causa do acidente dos operários. — Kelly fez uma pausa antes de continuar. — É por causa do Túlio, o diretor internacional do Grupo Pimentel. Ele está envolvido em um escândalo de corrupção. Mônica franziu a testa. — Ele roubou dinheiro da empresa. E daí? Por que todo esse alarde? — O problema é muito pior do que isso. — Kelly respirou fundo antes de prosseguir. — Ele não só desviou dinheiro do Grupo Pimentel para abrir cassinos e casas de entretenimento, mas também está sendo acusado de abusar sexualmente de mais de cem menores de idade. Além disso, as garotas que trabalhavam nesses estabelecimentos foram sequestradas por sua equipe. Muitas delas foram torturadas até a morte por ele ou pelos clientes. Só os casos confirmados passam de cinquenta vítimas. A notícia explodiu na internet às cinco da manhã e, às oito, a polícia já estava aqui querendo explicações. Mônica sentiu as pernas fr
Os dados sobre a infância e juventude de Mônica haviam sido expostos na internet para qualquer um acessar. Estava tudo lá: o divórcio dos pais, as dificuldades financeiras da família e, por fim, sua ida para o exterior e sua entrada na prestigiada Academia Newscar. A notícia caiu como uma bomba. Desde que assumira o cargo de presidente interina, o que mais temia era que alguém cavasse seu passado. Já havia instruído o departamento de relações públicas a abafar qualquer informação sobre sua vida pessoal, evitando inconvenientes desnecessários. Mas, no final, seu pior medo se concretizara. Sem alternativa, Mônica convocou uma coletiva de imprensa e decidiu contar tudo. No entanto, sua transparência não foi suficiente para convencer o público. Qualquer um com acesso à internet poderia descobrir que a Newscar era uma das academias de tradução mais renomadas do mundo. Para ser aceito, não bastava inteligência—era preciso dinheiro. E, considerando a situação financeira de sua família