— Mas esse negócio é muito complicado! — Disse Emma, ajustando os óculos enquanto analisava. — Esse departamento parece poderoso, podendo fazer o que quiser dentro do Grupo Pimentel, mas a empresa é cheia de disputas internas. Eu estou aqui há menos de dois meses e já sei que existem dois grandes grupos: o do João e o do Breno. Se você realmente for investigar alguma coisa, pode acabar pisando no calo deles. E se algo acontecer com você, o que vai fazer? Emma parecia bastante insatisfeita. — O Sr. Rubem parece um cara decente, mas, no fundo, ele é um manipulador, né? — Por mais difícil que seja, eu preciso fazer. — Respondeu Mônica, sem demonstrar muita preocupação. — De qualquer forma, o Sr. Rubem não vai voltar para a filial de Nova York. Se algo der errado, ele que vai segurar as pontas. — E as entrevistas, como foram? Mônica apertou os lábios antes de responder: — Os currículos são excelentes, e eles têm muita habilidade. Mas, como são todos do Grupo Pimentel, escolhi s
Não por acaso, Mônica deu de cara com Leopoldo na entrada do prédio da empresa.— Mônica. Leopoldo a olhou com um misto de surpresa e hesitação. O terno cinza-claro, feito sob medida, destacava perfeitamente o corpo esguio dela. O cabelo, preso de forma impecável, e as mãos parcialmente nos bolsos davam-lhe um ar sofisticado, quase intimidador. Alta, elegante e imponente, ela parecia outra pessoa. Por um instante, um brilho de admiração passou pelos olhos dele. Fazia pouco mais de um mês que haviam se divorciado, mas, de alguma forma, ela parecia ter se transformado. Mais forte, mais atraente, mais... Inalcançável. — Sr. Leopoldo. — Mônica inclinou levemente a cabeça em um cumprimento contido, mas educado. Casados por apenas um ano, era inegável que havia restado algo entre eles. Embora ela tentasse esconder, o reencontro fazia seu coração apertar de leve, como agulhas finas espetando por dentro. Quando Mônica tentou passar por ele, Leopoldo, quase por reflexo, colocou-se em s
— Sr. Leopoldo, obrigada pela preocupação, mas eu sei cuidar dos meus assuntos. — Mônica se levantou com elegância, deixou uma nota sob o pires do café e completou. — Esse latte fica por minha conta. Sem esperar resposta, ela virou-se e saiu da cafeteria com a mesma firmeza com que havia chegado. Leopoldo ficou sentado, observando o rastro deixado pelo perfume discreto dela. Por um momento, pensou em correr atrás, mas seus pés permaneceram imóveis. Ele não era uma pessoa insensível. Quando estavam juntos, tudo parecia estático, como se o tempo tivesse parado, e a monotonia o consumiu. Foi por isso que cedeu à tentação de um caso, mas logo depois percebeu o erro e, desde então, carregava o peso do arrependimento. Lembrou-se, com clareza, da visita daquele homem ao hospital, quando ele, pressionado, finalmente assinou os papéis do divórcio. O homem, direto e sem rodeios, disse: — Uma mulher tão inteligente e capaz como ela, e você conseguiu estragar tudo. Só pode ser muito burro
Conrado já tinha comido churrasco várias vezes em casa, mas sempre era algo refinado: cortes nobres de carne acompanhados por vinhos de alta qualidade. Aquela era sua primeira vez em uma churrascaria simples. Ao entrar, foi imediatamente envolvido pelo aroma irresistível do carvão em brasa. Quando provou um pedaço de carne suculenta, recém-tirada do espeto, com farinha de mandioca e molho típico, não conseguiu parar de comer, mesmo ficando com o rosto suado de tanto calor.Conrado ergueu o polegar e exclamou:— Essa carne é boa demais, tem muito sabor!— Não falei? — Respondeu Mônica, sorrindo ao ver a alegria dele.Era bom vê-lo tão contente. Na família dela, os mais velhos haviam partido cedo. Nunca teve a oportunidade de cuidar deles, então sentia um carinho especial por idosos de bom temperamento como Conrado. Para ela, pessoas daquela idade, já enfrentando as questões inevitáveis da vida, mereciam aproveitar esses pequenos prazeres.Conrado, percebendo algo diferente no semblante
— Pai, o senhor ainda está no shopping Outlet? Estou passando por aí, posso te levar de volta pra casa. Assim que atendeu o telefone e ouviu a proposta, Conrado deu um sorriso satisfeito. Que coincidência boa! Não era essa uma ótima oportunidade para os dois se encontrarem? — Está bem, vem até a churrascaria no quinto andar. Estou aqui comendo churrasco. — Depois de combinar isso, Conrado desligou o telefone. Mônica, que estava sentada à sua frente, perguntou: — É seu filho? — Sim, ele disse que está passando por perto. — Conrado respondeu com um sorriso largo. — Vocês poderiam se conhecer, pelo menos como amigos. Depois ele pode te levar para casa. Mônica sentiu o desconforto subir. Ora, ela tinha dado o número de telefone para Conrado exatamente para evitar um encontro. No entanto, o destino parecia não querer colaborar, e agora o filho dele estava vindo. Que situação mais constrangedora! — Seu Conrado, pode continuar comendo. Vou ao banheiro rapidinho. — Disse isso lev
Ele achava a Mônica uma pessoa incrível, inteligente e atenciosa. Mas se o filho disse que já tinha alguém, não havia mais o que ele pudesse fazer. Conrado suspirou, desanimado. Que pena. Ele realmente acreditava que tinha encontrado a parceira perfeita para o filho, mas parecia que o destino tinha outros planos. …Naquela noite, depois de ouvir as palavras de Conrado na churrascaria, algo despertou dentro de Mônica. Era como se tivesse finalmente entendido o que precisava fazer. No dia seguinte, ao chegar na empresa, ela estava determinada. Os cinco novos funcionários, recrutados das filiais de Cidade C e Cidade A, rapidamente se apresentaram no Grupo Pimentel e foram integrados ao Departamento de Reguladores. Mônica não perdeu tempo: distribuiu tarefas, estabeleceu prazos e deixou claro que o trabalho seria intenso. Nos dias que se seguiram, o ritmo dentro do Grupo Pimentel mudou completamente. Era impossível não notar os novos integrantes do departamento indo e vindo entre o
— Entendido! Desde que o Departamento de Reguladores começou a trabalhar, a rotina dos funcionários se tornou uma verdadeira maratona. Cada dia era uma corrida contra o tempo, revisando documentos e cruzando informações, temendo que qualquer atraso pudesse resultar na perda de dados importantes. Alguns, inclusive, chegaram a dormir na empresa para não deixar nada escapar. Por outro lado, o dia a dia do departamento tinha um pequeno luxo: uma equipe de suporte culinário. As refeições eram entregues diretamente, bastava um telefonema, e em dez ou quinze minutos, o pedido chegava. — Estamos exaustos, mas isso aqui é um paraíso! — Comentavam, entre risadas, enquanto saboreavam seus pratos. Apesar da atmosfera de camaradagem, Mônica sentia o peso de cada documento que analisava. Quanto mais investigava, mais alarmante era o que descobria. Ela achava que o Grupo Pimentel tinha apenas uma estrutura complexa, cheia de interesses conflitantes. Mas, ao ver os números e as transações ab
— Você está me ameaçando? — A voz de João subiu de tom, seu rosto ficou lívido. — Como eu ousaria? Nesse instante, a secretária ao lado de João sugeriu com diplomacia: — Sr. João, vamos subir. Estão todos esperando por nós. João lançou um último olhar fulminante para Mônica. Ele apertou os punhos, virou-se abruptamente e saiu com passos largos. — Esse é o famoso João? Parece mesmo difícil de lidar! — Comentou Emma depois que ele se afastou. — Você viu os olhos dele? Aqueles olhos fundos e estreitos... Esse tipo de gente é traiçoeira. Ele ficou realmente irritado. Mô, acho melhor você tomar cuidado nos próximos dias, viu? Mônica deu um sorriso leve, sem demonstrar preocupação. Medo? Por quê? Seu chefe era Rubem. Se algo acontecesse, Rubem daria um jeito. …Depois de uma semana puxada, finalmente era fim de semana. Mônica planejava descansar, mas recebeu uma ligação da matriz da BC. Precisava buscar o carro que havia ganhado em uma promoção. Caso contrário, o prêmio seria