Kesie Ferraz
Desde ontem não consigo dormir bem, passo horas pensando no que fazer para desmascarar Maicon e pôr um fim nisso de uma vez. Desejo justiça, mas conhecendo bem ele como conheço, Maicon é capaz de desmentir nosso relacionamento e colocar tudo contra mim.Comecei ontem a tarde a escrever meu novo livro, talvez o trabalho me ajude a fugir um pouco da minha realidade. Sou tomada por uma explosão criativa e não consigo parar de escrever, porém, logo noto que a personagem da história, vive um relacionamento abusivo, que seu atual namorado não passa de um criminoso e de repente vejo que estou descrevendo momentos dos quais eu própria vivi. Não sei se é uma boa ideia, porém, depois de muita angústia, algumas coisas começaram a passar em minha mente e uma delas é usar o meu trabalho como ferramenta. Começo a relatar com riquezas de detalhes tudo. Violência, roubos e crimes, cometidos por Maicon, porém através de personagens fictícios. Há momentos no qual preciso parar, respirar fundo e conter as lágrimasPasso horas escrevendo, e quando olho no relógio confirmo que já são quase dez horas, horário em que Maicon disse que mandaria Igor para me buscar. Como ele nunca aceita um "não ", certamente Igor já deve estar lá embaixo. Ouço o som da campainha tocar. Guardo dentro de uma pasta as folhas que estão em minhas mãos e jogo na mesa de centro da sala. Bruno está concentrado em um jogo de vídeo game já pronto para sair com sua mãe, eles vão ao aniversário de seus avós, os pais de Brayan.Ele me olha e se comunica comigo em línguas de sinais, meu sobrinho é especial de todas as formas e não apenas por ser surdo, algo que herdou do pai. Bryan também era portador da surdez, o perdemos há cinco anos por causa de um câncer, foi tudo muito difícil pra todos nós, desde então Elizabeth está comigo, ambas nos ajudamos, há um elo forte demais entre a gente, minha irmã é o meu porto seguro, meu fôlego quando não consigo mais respirar, é a pessoa mais importante da minha vida.— " Tia, você está linda."Sorrio e lanço beijos no ar para ele.Abro a porta ainda colocando os brincos na orelha.Vejo Clemente, nosso porteiro bem na porta segurando um buquê de rosas "amarelas".— Boa noite, senhorita, Kesie. Acabaram de entregar.Estas flores sempre me deixam tensa. Sei bem de quem se trata, o maldito não se cansa.— Obrigada, Clemente — Pego o buquê de suas mãos com um falso sorriso como se tivesse amado as flores.— São lindas, senhorita — ele diz e quase não ouço. Estou dizendo vários insultos mentais.Sorrio, ainda falsamente.— Sim, são lindas. Obrigada por trazê-las.Ele se despede e sai. Assim que a porta se fecha vejo Bruno.— "Seu namorado está de volta?"— o garoto pergunta fazendo careta entre os sinais.Bruno nunca foi de grandes amores por Maicon e o maldito tratava meu sobrinho com desprezo por sua deficiência, várias vezes tivemos brigas e discursõe quando eu precisava sair em defesa de Bruno.Fico calada. Dou a volta na bancada da cozinha e lanço as flores na lixeira sobre o olhar do meu sobrinho. Ele sorri com o que vê.Faço sinais em resposta:— "Não, Bruno. Não voltei pra ele e nunca mais vou voltar."Passo pelo meu sobrinho e lhe beijo a testa. Sigo para o meu quarto para calçar os sapatos. E ignoro o sorriso em seu rosto aliviado com minha resposta. Estou de costas quando Elizabeth entra enfurecida.— Me diz que Bruno está mentindo quando disse que você está arrumada toda lindona para sair, não vai se encontrar com Maicon né?Paro bem a sua frente, quando ela me vê vestida com um micro vestido de renda preto sensual e maquiada.— Estou muito bem, Beth, obrigada — falo ainda passando meu batom cabernet.— Kesie! Eu não acredito que você vai se encontrar com aquele monstro.Me sento na cama para calçar meus saltos. Primeiro um e depois o outro.Levanto e me aproximo da janela, dou uma leve olhada e vejo o Audi-A4 preto, estacionado em frente ao meu prédio.— Vou sim — respondo secamente.— Se o conheço bem, Maicon acredita que não irei, ele odeia falta de pontualidade. — Você só pode estar maluca. — Beth bufa inconformada.Me aproximo de minha irmã e olho em seus olhos.— Pretendo gravar minha conversa com ele. Vou fazer Maicon confessar tudo o que já me fez.Elizabeth me olha incrédula.— Não tenho dúvidas de que você está fora de sua sanidade. Isso é uma loucura.Tento aquietá-la. Faço gesto para que se sente na cama.— Eu sei que é perigoso. Mas não tenho outra alternativa. Preciso provar que Maicon é um maníaco possessivo. Preciso provocá-lo até que manifeste sua monstruosidade.— Pare! Eu não vou deixar você fazer isso. Kesie da última vez ...Eu o interrompo. Não quero que ela me lembre do que houve na última vez, ou não terei forças para fazer o que planejo.— Elizabeth, eu preciso fazer isso. É minha única chance. Mesmo inconformada minha irmã se cala. Sinto ela apertar forte minha mão em sinal de apoio.— E como vou saber que você está bem, promete que vai me ligar?Eu suspiro mais aliviada com seu apoio.— Sim eu prometo que ligo.Elizabeth me abraça e eu correspondo.— Mas agora preciso ir. Ou Igor o motorista dele vai acabar desistindo.Minha irmã suspira.— Que Deus te proteja, irmã.Pego minha bolsa.— Amém. Mande um abraço pra senhora e o senhor Miller.Saio lançando beijos no ar.*A expressão de Igor é de completa surpresa. Certamente não esperava que eu viria.Ele dá a volta e abre a porta do carro.— Senhorita, Kesie... Boa noite.Entro no carro rapidamente.Ele é profissional como sempre. Igor é um homem alto de porte atlético e fica bastante sério em seu terno. É a pessoa de confiança de Maicon, está acostumado a me buscar.— Boa noite, Igor.Vejo ele pegar seu telefone e começar a digitar uma mensagem. Certamente deve ter dito a Maicon que eu não iria e agora está tentando avisar sobre minha ida.Delicadamente seguro sua mão lhe impedindo.— Por favor, não avise. Quero muito fazer uma surpresa. Afinal tem bastante tempo que não o vejo. Meu atraso é proposital, quero que Maicon pense que não irei.Falo lançando um olhar malicioso. Na certa o convenço pois vejo ele guardar o aparelho no suporte e começar a dirigir.Tento disfarçar o quanto estou tensa. Nunca fiz algo parecido. Não sei se irei me sair bem, pois durante todo esse tempo cultivei um ódio mortal por Maicon, uma sede de justiça pelo mal que ele me fez. Nosso relacionamento sempre foi conturbado, foram muitas brigas, porém, fui apaixonada por ele algum dia.Quando nos conhecemos, ainda estava abalada com a morte do meu cunhado, carregava o fardo sozinha de consolar Elizabeth e Bruno que era apenas uma criança e sofria de uma forma dolorosa. Sim, eu estava vulnerável, fui uma presa fácil. Me entreguei a Maicon com todas as minhas forças. Focada em minha carreira profissional como modelo, e depois como escritora, não me dediquei a relacionamentos, minha experiência era quase zero. Por isso me apaixonei feito uma tola. A forma possessiva que ele me tratava sempre eram seguidas de justificativas que eu mesma criava.Ele só teve um dia ruim…Foi sem querer, ele não quis me agredir…Desta vez foi porque ele bebeu um pouco a mais, não tem noção do que está fazendo…Mas em algum momento eu despertei, e percebi que estava fazendo tudo errado. Que homem nenhum tinha direito sobre mim, ou meu corpo, de que eu não era objeto exclusivo de ninguém e que eu precisava me libertar. Maicon não aceitou o nosso fim. Foram ameaças, contra minha família, contra minha integridade. Porém, esta história de terror precisa ter um fim e agora meses depois, tenho a chance de conseguir uma prova de tudo que ele me fez. Pego meu telefone na bolsa e já o coloco no modo de gravador de voz, certa de que nesta noite conseguirei algo que possa me ajudar a fazer justiça e terei um novo rumo em minha vida, um novo capítulo da minha história que vai se iniciar.Alerta de gatilho....Este capítulo contém cenas de uso de drogas.Hugo CastroDesafrocho o nó da minha gravata aliviado por toda cerimônia ter se encerrado. Odeio esses eventos sociais, cheios de pessoas hipócritas da alta sociedade se fazendo de bons samaritanos apenas porque dão pequenas doações que nem fazem cócegas em seu milionário patrimônio.Bufo me direcionando ao bar, enquanto o mestre de cerimônia encerra o evento, esta é a melhor parte de todas. Pena que não servem nada forte. Estou aqui apenas, porque, Arthur Bacellar insistiu muito, o presidente da empresa. Alguém precisava representar o escritório. Existe um bom relacionamento entre minha família e a família Bacellar há anos, muito mais que profissional.Neste exato momento avisto um Bacellar, o único mal caráter que conheço, isto se o filho não seguir o mesmo caminho de Maicon. Ele veio representar as empresas comerciais da qual ele é o CEO. Nunca me afeiçoei a ele, sempre envolvido em escândalos. Evelyn merecia
Este capítulo contém alguns gatilhos..... Violência e abuso sexual. Kesie FerrazAssim que entro na suíte reservada, percebo que tem algo de errado. O som está bastante alto e vejo roupas femininas espalhadas pelo chão. Caminho mais um pouco em passos lentos e fico surpresa com a cena que vejo: Maicon e algumas garotas dançando, sendo que elas estão usando um microbiquíni e esfregando a bunda no corpo dele. Ainda observo dois amiguinhos de Maicon, um é Mateo, tão cretino quanto ele, o conheço bem. Mas o outro, não sei quem é, ele é alto, branco e tem corpo atlético, seus olhos parecem claros não sei, pois não costumo admirar os amigos de Maicon, primeiro porque ele é muito ciumento e segundo porque normalmente não valem a penaTento concentrar-me no meu foco principal, conseguir gravar Maicon confessando todo mal que me fez. Aliás, ele parece um cachorro que caiu da mudança quando me ver. Essa ceninha à minha frente é bem típica dele, já o peguei assim, em sua festinha particu
Kesie FerrazCaminho em passos largos distraída ao desbloquear meu celular. Sem ao menos notar que as ruas estão desertas, vejo que são quase três da manhã. Um vento frio bate em meu rosto, e quando percebo um homem estranho parado encostado na parede, fico preocupada, a frase de Hugo me invade à mente "A cidade é perigosa neste horário." depois de tudo que passei é quase impossível não sentir medo.Passo pelo homem misterioso e começo a caminhar mais rápido quando noto que seus olhos vem em direção ao meu corpo mal coberto, logo sinto que estou sendo seguida, aquela sensação de insegurança me invade novamente, arrependo por não ter ouvido Hugo.— Droga!— resmungo baixo e trêmula de medo.Olho sobre meus ombros de forma sutil e vejo que o homem está muito perto, meu coração bate mais forte e de repente ele se apressa ficando à minha frente e grita;— Me passa o telefone! Desesperada, fico sem reação. Não posso deixá-lo levar meu celular, pois não salvei o áudio, na verdade nem ao me
Kesie Ferraz Entramos na portaria do meu edifício e peço a Clemente, nosso porteiro, que libere a entrada do veículo de Hugo. Ele estaciona no subsolo do prédio, então, descemos do carro e seguimos para o elevador. Ainda me sinto incomodada por tê-lo convidado para entrar. Talvez eu acreditasse que ele não fosse aceitar, e que meu convite se tratasse de uma pergunta retórica.Entramos no elevador, e aperto o botão, são doze andares, e ainda não sei que assunto desenvolver para quebrar o nosso silêncio. Quando o elevador para, pego minhas chaves na bolsa. Parados bem a minha porta, abro ainda insegura com o que estou fazendo.— Bem vindo, este é meu lar!— falo lhe convidando a entrar e se sentar, na tentativa de disfarçar o quanto estou nervosa. — Fique à vontade.Jogo minha bolsa no sofá e retiro meus saltos.— Vou preparar um café bem forte, você parece exausto.Ele me olha com a expressão mais fechada que já vi.— Eu… não bebo café.Lhe encaro absorta como se ele tivesse me ofend
Hugo CastroQuando abro meus olhos, me sinto confuso. Por um instante não sei onde estou. Porém rapidamente as lembranças da noite anterior invadem minha mente, quando ouvi os gritos femininos pedindo ajuda, não pensei, apenas invadi o quarto e vi o que aquele maníaco desejava fazer com a moça. Eu sempre soube que Maicon não valesse muito, entretanto chegar àquele ponto me deixou enojado. Ele bem que mereceu cada soco que levou.Quanto a Kesie, eu não desejava me envolver mais naquilo, não sabia o que na verdade havia entre eles, ela parecia decidida a não denunciá-lo, aquilo me deixou irritado. E já que depois ela me virou as costas eu não precisava me importar mais. Porém não foi assim, peguei o carro e percorri por todas as ruas atrás dela, eu sabia que deixá-la ali sozinha era perigoso.Não entendo o motivo que me fez importar tanto assim com ela, jurei a mim mesmo que não me envolveria. Porém, acho que tudo isso faz parte de uma maldita missão, ou qualquer coisa parecida, eu não
Kesie FerrazQuando o elevador fecha, finalmente consigo respirar e nem havia notado que estava prendendo o fôlego. Hugo se foi, não sei se sinto alívio, sei lá, há um vazio dentro de mim. Sinto como se o conhecesse há anos. Hugo me salvou de ser abusada pelo maldito, me salvou do roubo, me salvou com o concerto do celular e me salvou com a advogada! Nossa, eu precisava dar aquele abraço. Foi um impulso. Percebi como ficou desconcertado com meu toque, ele não parece ser o tipo de homem que se envolve fácil. Entretanto, não há como negar que havia algo diferente entre nós, porém seja lá o que for, acabou. Hugo se foi. E é melhor assim, pois Maicon é um homem perigoso, e principalmente com aqueles que se aproximam de mim, ele é possessivo e doentio, temo por Hugo, não merece ser prejudicado por minha causa.Elizabeth veio ao meu quarto assim que chegou hoje pela manhã, estava eufórica pra saber quem era o deus grego dormindo em nosso sofá, contei tudo o que aconteceu e ela ficou louca,
Hugo CastroQuase um mês se passou, me dediquei ao máximo ao caso dos Job's. Foi excelente para ocupar minha mente. Às vezes me pego sonhando com uma certa morena de olhos grandes e castanhos, tomo um bom banho frio e acabo me aquietando. Uma coisa é certa, preciso urgente me divertir um pouco, sair pra beber, conhecer alguma mulher que esteja a fim de apenas uma transa, sem compromisso é claro. Ainda não acredito que peguei o caso que Evelyn tanto insistiu para defender seu filho, Eduardo, a cópia viva do mal caráter do pai. Ele sempre deu trabalho para os Bacellar, na época de sua adolescência foi pego em vários atos ilegais, vandalismo, desacato, e até mesmo uso de drogas, tudo isso sendo ainda menor de idade. Desta vez ele foi pego em direção perigosa, bêbado, o irresponsável atropelou um homem e não prestou socorro. Felizmente a vítima sobreviveu, mas quer a todo custo vê-lo atrás das grades. Já falei mil vezes com Evelyn que não queria defender seu filho, também nunca nos damos
Hugo Castro A semana passou rápido, felizmente. Ocorreu tudo bem na audiência do imbecil do filho de Evelyn, Eduardo. Consegui provar ao juiz de que meu cliente foi ameaçado de linchamento, pra sorte do infeliz, um familiar da vítima postou em suas redes sociais que mataria o responsável pelo acidente. Assim consegui convencer os promotores. Infelizmente.Não me sinto satisfeito por isso, apesar de não ter mentido para conseguir, pois realmente o idiota fugiu porque é um grande covarde. Eu desejava no fundo que ele fosse condenado. Fiz meu trabalho, que muitas vezes não é tão prazeroso, apesar de que agora no escritório estão todos comemorando a vitória com champanhe, e estou sendo aclamado como profissional.— Eu só trabalho com os melhores! — Ouço Artur dizer durante a comemoração erguendo sua taça para um brinde. Está satisfeito com o resultado do processo.Não faço caso, e ele finge não perceber, Artur sabe muito bem a minha opinião sobre os atos irresponsáveis de seu neto e ge