AméliaO olhar insistente de Ícaro permanecia queimando sua pele enquanto ela terminava seu vinho na sala de estar. Com o controle da TV na mão, Amélia fingia que não estava percebendo nada.Desde a conversa tensa que tiveram no escritório a dois dias, ele estava agindo desse jeito pouco convencional. Cancelou os planos para saírem para um barzinho, e se opôs ao encontro que ela tinha marcado com Lucila.Ícaro achou a aproximação entre as duas uma grata surpresa. Mas disse que queria ficar esse tempo a sós com Amélia. Estavam sempre cercados de pessoas e ele queria mais privacidade.Inicialmente Amélia acreditou que ele estava cansado da recente demanda de trabalho. Ele voou duas vezes só nessa semana para Santa Catarina. Sam veio dormir com ela durante a segunda viagem. Sua prima ainda estava sofrendo pelo que descobriu sobre Alberto. E não conseguia esquecer aquele babaca arrogante de merda.Amélia esticou os braços, se espreguiçando. Ícaro saiu da poltrona que estava ocupando e pa
O silêncio na casa se tornou ensurdecedor. Por alguma razão Amélia se sentia alerta e irritada, olhando para o celular esperando alguma notícia de Ícaro. Já passava das onze e ele ainda não tinha voltado.Tentou se distrair com a TV, mas nada que a tela mostrava prendia sua atenção. Ligou para Sam, mas ela não atendeu, possivelmente estava em algum evento do trabalho.Então, ela se lembrou de que Lucila poderia saber de alguma coisa, afinal ela era casada com Vitório. Enviou uma mensagem para ela, se roendo de ansiedade esperando uma resposta. Sua nova amiga não demorou para responder. (Sinto muito Amélia, ele não voltou para casa. Por isso, não sei te dizer se o Ícaro ainda está falando com ele ou não.)(Eles vão ficar bem, não é? Não vão se pegar no soco como trogloditas.) perguntou Amélia via mensagem de voz.(Você tem muito a aprender sobre os Darius, rsrsrsrs. Eles são machoes, e vivem tentando impor o domínio no território um do outro, se pegam no soco muitas vezes, ou resolvem
ÍcaroNo caminho de volta para casa, Ícaro soltou uma risada. Vitório não era páreo para sua rapidez, mas ele sempre foi muito ágil e estratégico em seus movimentos. Tinha que admitir que a força de ambos era igual. O soco que levou na boca do estômago ainda doía pra inferno, parecia que ele tinha rompido a porra do diafragma.Não seria surpresa se levasse a pior, tudo o que sabia em termos de luta e esportes de combate foi aprendido e estimulados por seu irmão mais velho. Ele treinava com o pai desde muito pequeno, e ambos viviam medindo forças. As lutas se tornaram tradição entre eles.Falar com Vitório sobre o que ele fez foi irritante, principalmente quando ele assumiu que fez aquilo porque não achava certo que Amélia participasse do concurso. Entretanto, Ícaro sabia ler nas entrelinhas, e depois da discussão acirrada, entendeu que isso não era ideia dele. Só havia uma pessoa na qual Vitório se sentia na obrigação de agradar naquela empresa, esse alguém era o caçula da família.
AméliaEstava muito claro. Por que estava tão claro? Ah sim. Estava no sol deitada no sol, sentia o calor e a aquela luz gostosa que irradiava por todo seu corpo. Um cheiro de madeira inundou suas narinas. Não havia nada, nem ninguém. Só o vazio daquele lugar extremamente claro e quente. Havia uma voz longínqua, alguém que chamava seu nome. O cheiro de madeira vinha da mesma direção daquela voz. De repente sentiu dor, uma dor intensa na garganta. Queria pedir ajuda, mas sua voz não saía. “Alguém... por favor... me... me ajuda...” pensava. Mas seu corpo não se movia, se sentia pesada. - Amélia...? – a voz profunda ficou clara e evidente. Reconhecia aquela voz. Era ele, Ícaro. O homem por quem seu coração batia descontroladamente. - Í..c...- a voz não saia, o som parecia um grasnar. Por que?- Não tente falar, pequena. – a voz suave e baixa estava próxima ao seu rosto. – Já chamei o médico.Amélia começou a abrir os olhos vagarosamente. As pálpebras estavam pesadas demais, era t
ÍcaroA recepção privativa do terceiro andar estava silenciosa, apesar de estar ocupada. Entrou acenando para os presentes.- Eu posso entrar agora? – Samanta se levantou, impaciente. Ela estava esperando a horas para poder ver Amélia, mas por enquanto o médico não queria que ninguém falasse o que aconteceu na noite do ataque. Por isso, Ícaro ficou com ela por um tempo, tentando distraí-la do assunto.- Sim, vai lá. – quando ela passou por ele, segurou seu pulso fino. – Não se esqueça, bico fechado.- É claro. – concordou, se afastando em direção a saída.Alberto estava de pé perto da janela, com uma expressão fria e vazia. Ele foi o primeiro a chegar no hospital quando Amélia deu entrada na emergência. Sabia que ele estava ali por Samanta, e ela realmente precisou do apoio de seu irmão, ela desabou ao saber o que aconteceu.Ícaro esfregou os olhos ressecados e cansados. Estava sem dormir a cinco dias, desde que tentaram matar sua mulher. Andando de um lado para o outro, ele olhou p
AstridOs olhos claros passaram pelo celular pela enésima vez essa noite, ela não entendia por que tanta demora. Deu uma tarefa simples e rápida para aquele idiota, portanto já deveria ter saído alguma confirmação da morte daquela puta.O gosto do martini alegrou seu paladar, Astrid cruzou as longas pernas elegantemente. O homem no balcão do bar de alta classe, acompanhava seus movimentos, obviamente interessado.Um sorriso cínico apareceu em seus lábios pintados, eles eram todos iguais. Se atraiam facilmente pela beleza incontestável que ela irradiava.Nenhum deles foi capaz de resistir aos seus encantos até hoje. Nem mesmo aquele homem, aquela mancha, aquele arrependimento mais profundo ainda cravado em seu orgulho.Astrid levou a taça mais uma vez aos lábios. Esse homem não era Fernando, muito menos Ícaro. Ele era alguém com quem se envolveu de uma forma emocional, ele foi sua fraqueza. Por causa dele, quase perdeu tudo. Ela o odiava com todas as suas forças. Um covarde mald
Fernando- Já descobriu o que a minha mulherzinha está fazendo de volta a São Paulo? – perguntou sem se voltar para o seu secretário.O trabalho estava um caos essa semana, e quanto mais delegava suas funções, mas coisas inúteis apareciam como ofícios aumentando suas pilha de documentos não analisados.- Por enquanto não houve nenhuma ação suspeita, senhor. – o homem verificou os papeis em sua mão. – Ela está ficando em um flat alugado próximo a avenida paulista. Faz compras, e janta no mesmo bar todas as noites.- Se encontrou com alguém? – perguntou, assinando seu último ofício do dia.- Não. Nem mesmo o ex-marido. - E quanto ao meu filho, onde ele está?- Ainda não sabemos, senhor. – o homem respondeu vacilante.Fernando levantou a cabeça, encaixando o queixo entre as duas mãos.- Como não sabe? – ele sorriu perigosamente. – Ela saiu de casa levando o meu filho. - A criança não está com ela, senhor. Nós já verificamos.- Eu não vou precisar te ensinar como fazer o seu trabalho, c
AméliaOs pesadelos voltaram com toda força, não havia uma só noite que ela conseguia dormir sem eles. Amélia sentiu as mãos de Ícaro emoldurando seu rosto, a voz dele era macia e chamava seu nome com o mesmo tom calmo que usou das outras vezes.- Está tudo bem, é só outro pesadelo. Abriu os olhos encontrando o rosto dele sobre o seu, a luz fraca do quarto criava um perfil misterioso em seu noivo. Amélia levou os braços em torno dele, precisava abraçar e sentir que ele era real, e que nada daqueles terrores importavam.- Isso não pode continuar. – ele disse, abrigando seu corpo trêmulo e suado. – Você voltou pra casa a duas semanas e não descansou nada. Amanhã vou pedir uma avaliação completa, esse estresse do trauma está acabando com você.- Eu não quero voltar para o hospital. – disse, desenhando nas costas dele, acompanhando o contorno de seus músculos, a cicatriz profunda, como a ferida de uma bala. – Quero ficar com você.- Uma equipe virá te ver aqui. Ícaro ficou superprotetor