ÍcaroNo caminho de volta para casa, Ícaro soltou uma risada. Vitório não era páreo para sua rapidez, mas ele sempre foi muito ágil e estratégico em seus movimentos. Tinha que admitir que a força de ambos era igual. O soco que levou na boca do estômago ainda doía pra inferno, parecia que ele tinha rompido a porra do diafragma.Não seria surpresa se levasse a pior, tudo o que sabia em termos de luta e esportes de combate foi aprendido e estimulados por seu irmão mais velho. Ele treinava com o pai desde muito pequeno, e ambos viviam medindo forças. As lutas se tornaram tradição entre eles.Falar com Vitório sobre o que ele fez foi irritante, principalmente quando ele assumiu que fez aquilo porque não achava certo que Amélia participasse do concurso. Entretanto, Ícaro sabia ler nas entrelinhas, e depois da discussão acirrada, entendeu que isso não era ideia dele. Só havia uma pessoa na qual Vitório se sentia na obrigação de agradar naquela empresa, esse alguém era o caçula da família.
AméliaEstava muito claro. Por que estava tão claro? Ah sim. Estava no sol deitada no sol, sentia o calor e a aquela luz gostosa que irradiava por todo seu corpo. Um cheiro de madeira inundou suas narinas. Não havia nada, nem ninguém. Só o vazio daquele lugar extremamente claro e quente. Havia uma voz longínqua, alguém que chamava seu nome. O cheiro de madeira vinha da mesma direção daquela voz. De repente sentiu dor, uma dor intensa na garganta. Queria pedir ajuda, mas sua voz não saía. “Alguém... por favor... me... me ajuda...” pensava. Mas seu corpo não se movia, se sentia pesada. - Amélia...? – a voz profunda ficou clara e evidente. Reconhecia aquela voz. Era ele, Ícaro. O homem por quem seu coração batia descontroladamente. - Í..c...- a voz não saia, o som parecia um grasnar. Por que?- Não tente falar, pequena. – a voz suave e baixa estava próxima ao seu rosto. – Já chamei o médico.Amélia começou a abrir os olhos vagarosamente. As pálpebras estavam pesadas demais, era t
ÍcaroA recepção privativa do terceiro andar estava silenciosa, apesar de estar ocupada. Entrou acenando para os presentes.- Eu posso entrar agora? – Samanta se levantou, impaciente. Ela estava esperando a horas para poder ver Amélia, mas por enquanto o médico não queria que ninguém falasse o que aconteceu na noite do ataque. Por isso, Ícaro ficou com ela por um tempo, tentando distraí-la do assunto.- Sim, vai lá. – quando ela passou por ele, segurou seu pulso fino. – Não se esqueça, bico fechado.- É claro. – concordou, se afastando em direção a saída.Alberto estava de pé perto da janela, com uma expressão fria e vazia. Ele foi o primeiro a chegar no hospital quando Amélia deu entrada na emergência. Sabia que ele estava ali por Samanta, e ela realmente precisou do apoio de seu irmão, ela desabou ao saber o que aconteceu.Ícaro esfregou os olhos ressecados e cansados. Estava sem dormir a cinco dias, desde que tentaram matar sua mulher. Andando de um lado para o outro, ele olhou p
AstridOs olhos claros passaram pelo celular pela enésima vez essa noite, ela não entendia por que tanta demora. Deu uma tarefa simples e rápida para aquele idiota, portanto já deveria ter saído alguma confirmação da morte daquela puta.O gosto do martini alegrou seu paladar, Astrid cruzou as longas pernas elegantemente. O homem no balcão do bar de alta classe, acompanhava seus movimentos, obviamente interessado.Um sorriso cínico apareceu em seus lábios pintados, eles eram todos iguais. Se atraiam facilmente pela beleza incontestável que ela irradiava.Nenhum deles foi capaz de resistir aos seus encantos até hoje. Nem mesmo aquele homem, aquela mancha, aquele arrependimento mais profundo ainda cravado em seu orgulho.Astrid levou a taça mais uma vez aos lábios. Esse homem não era Fernando, muito menos Ícaro. Ele era alguém com quem se envolveu de uma forma emocional, ele foi sua fraqueza. Por causa dele, quase perdeu tudo. Ela o odiava com todas as suas forças. Um covarde mald
Fernando- Já descobriu o que a minha mulherzinha está fazendo de volta a São Paulo? – perguntou sem se voltar para o seu secretário.O trabalho estava um caos essa semana, e quanto mais delegava suas funções, mas coisas inúteis apareciam como ofícios aumentando suas pilha de documentos não analisados.- Por enquanto não houve nenhuma ação suspeita, senhor. – o homem verificou os papeis em sua mão. – Ela está ficando em um flat alugado próximo a avenida paulista. Faz compras, e janta no mesmo bar todas as noites.- Se encontrou com alguém? – perguntou, assinando seu último ofício do dia.- Não. Nem mesmo o ex-marido. - E quanto ao meu filho, onde ele está?- Ainda não sabemos, senhor. – o homem respondeu vacilante.Fernando levantou a cabeça, encaixando o queixo entre as duas mãos.- Como não sabe? – ele sorriu perigosamente. – Ela saiu de casa levando o meu filho. - A criança não está com ela, senhor. Nós já verificamos.- Eu não vou precisar te ensinar como fazer o seu trabalho, c
AméliaOs pesadelos voltaram com toda força, não havia uma só noite que ela conseguia dormir sem eles. Amélia sentiu as mãos de Ícaro emoldurando seu rosto, a voz dele era macia e chamava seu nome com o mesmo tom calmo que usou das outras vezes.- Está tudo bem, é só outro pesadelo. Abriu os olhos encontrando o rosto dele sobre o seu, a luz fraca do quarto criava um perfil misterioso em seu noivo. Amélia levou os braços em torno dele, precisava abraçar e sentir que ele era real, e que nada daqueles terrores importavam.- Isso não pode continuar. – ele disse, abrigando seu corpo trêmulo e suado. – Você voltou pra casa a duas semanas e não descansou nada. Amanhã vou pedir uma avaliação completa, esse estresse do trauma está acabando com você.- Eu não quero voltar para o hospital. – disse, desenhando nas costas dele, acompanhando o contorno de seus músculos, a cicatriz profunda, como a ferida de uma bala. – Quero ficar com você.- Uma equipe virá te ver aqui. Ícaro ficou superprotetor
O palco iluminado e a euforia das pessoas, a música era tão envolvente, que do camarote Amélia não conseguia se conter, e cantava a música do momento. Ícaro estava atrás dela abraçando sua cintura, acompanhando o movimento suave do corpo dela.Esse show foi ideia dele. Como sempre, esse homem sabia interpretar coisas que ela nem mesmo pensava. Ele previa suas necessidades, e agia rapidamente como alguém que a conhecia melhor do que si mesma.O que aconteceu no deque naquela noite deixou Amélia desconfiada e reclusa. Voltou a trabalhar mas não saia da Acrópole no horário de almoço, nem mesmo quando Ícaro convidava. Temia constantemente por um novo ataque. O psiquiatra do hospital iniciou um novo plano de terapia, em conjunto com o seu terapeuta regular. Todas as quintas, Ícaro a levava até a clínica de bem estar para participar das sessões com os dois profissionais.A única coisa que mudou, foi a receptividade a novas opções para sair. Como hoje, que ele a convenceu para vir assisti
ÍcaroAmélia ainda não disse nada, completamente chocada com aquela notícia. Era compreensível, ela acreditava que Astrid estava morta, e o resto do mundo também.Por mais que ela estivesse interessada no passado dele, nunca perguntou diretamente o que aconteceu, e sempre se manteve afastada de qualquer sombra do passado dele.- Sei que vai achar essa merda uma loucura, mas já está na hora de você saber. - Ela está viva? – perguntou num fio de voz.- Infelizmente sim. Astrid forjou a própria morte quando soube que estava procurando por ela. Todos acreditaram na representação comovente que ela deixou, mas eu descobri toda a armação. Na verdade ela fugiu para outro estado com o amante, e lá ela teve a criança.- Você desistiu de encontrar seu filho? – Amélia perguntou, com lágrimas nos olhos.- A criança ficou doente a alguns anos, eu tive acesso ao seu material biológico, ele não é meu filho. – os olhos dele fixaram nos dela. “Eu ainda não posso te dizer tudo sobre essa criança.” – Me