O palco iluminado e a euforia das pessoas, a música era tão envolvente, que do camarote Amélia não conseguia se conter, e cantava a música do momento. Ícaro estava atrás dela abraçando sua cintura, acompanhando o movimento suave do corpo dela.Esse show foi ideia dele. Como sempre, esse homem sabia interpretar coisas que ela nem mesmo pensava. Ele previa suas necessidades, e agia rapidamente como alguém que a conhecia melhor do que si mesma.O que aconteceu no deque naquela noite deixou Amélia desconfiada e reclusa. Voltou a trabalhar mas não saia da Acrópole no horário de almoço, nem mesmo quando Ícaro convidava. Temia constantemente por um novo ataque. O psiquiatra do hospital iniciou um novo plano de terapia, em conjunto com o seu terapeuta regular. Todas as quintas, Ícaro a levava até a clínica de bem estar para participar das sessões com os dois profissionais.A única coisa que mudou, foi a receptividade a novas opções para sair. Como hoje, que ele a convenceu para vir assisti
ÍcaroAmélia ainda não disse nada, completamente chocada com aquela notícia. Era compreensível, ela acreditava que Astrid estava morta, e o resto do mundo também.Por mais que ela estivesse interessada no passado dele, nunca perguntou diretamente o que aconteceu, e sempre se manteve afastada de qualquer sombra do passado dele.- Sei que vai achar essa merda uma loucura, mas já está na hora de você saber. - Ela está viva? – perguntou num fio de voz.- Infelizmente sim. Astrid forjou a própria morte quando soube que estava procurando por ela. Todos acreditaram na representação comovente que ela deixou, mas eu descobri toda a armação. Na verdade ela fugiu para outro estado com o amante, e lá ela teve a criança.- Você desistiu de encontrar seu filho? – Amélia perguntou, com lágrimas nos olhos.- A criança ficou doente a alguns anos, eu tive acesso ao seu material biológico, ele não é meu filho. – os olhos dele fixaram nos dela. “Eu ainda não posso te dizer tudo sobre essa criança.” – Me
AméliaO restaurante de frutos do mar estava cheio. Havia fila para entrar, mas os funcionários da Acrópole tinham um passe VIP, portanto elas não precisaram esperar.Agora que estava finalmente formada, Amélia foi contratada como arquiteta junior da holding, e tinha acesso a um salário maior e a muitos benefícios como esse do restaurante em que resolveu almoçar com sua prima.O diploma ainda não tinha chegado. Como ela perdeu a formatura porque estava hospitalizada, Amélia teve que comparecer à faculdade e resolver a burocracia depois, portanto só pegaria o documento em algumas semanas. Ícaro queria fazer uma festa com os amigos mais chegados, quando o diploma finalmente chegasse, mas Amélia ainda estava brigando contra isso.- Ainda não acredito que você foi nesse show. – Sam comentou, remexendo sua salada de mariscos. – Poxa, eu sempre achei que um dia te levaria para ver sua banda favorita, mas quem acabou te levando foi o gostosão do seu noivo.- Você pode me levar em outros
Ícaro - Poderia ter me adiantado o assunto, meu dia está cheio. – Alberto disse assim que se sentou no banco do bar do restaurante.- Eu não estou menos ocupado que você, então não me venha com essa. – Ícaro pediu mais uma dose. – Você fez o Vitório perseguir a minha mulher no trabalho. – afirmou com um tom cortante.- Pedi que ela fizesse algo, e ela se recusou. Foi só um lembrete. – Alberto respondeu com o mesmo tom frio e uma expressão monótona.- Imagino que o seu pedido não tenha nada a ver com o trabalho dela. - Isso não vem ao caso. – Alberto bebeu a vodka pura, sem um fio de arrependimento. – A Bastos é petulante.Ícaro se segurou para não quebrar os dentes de seu irmão. Ele não tinha o direito de falar nada sobre Amélia.- Não devia te dizer isso, mas que se foda. – Ícaro se virou para ele com uma carranca. – A pessoa que você tentou prejudicar está empenhada em ganhar esse premio somente para salvar a Samanta da ruina. Alberto parou o movimento de levar o copo à boca, olh
A mulher loira saia novamente do hotel. De óculos escuros, ela olhava para todos os lados como se procurasse por alguma ameaça. Ela não tinha mudado muito, só estava mais magra porque da última vez que viu a piranha, ela estava grávida.Ícaro observou a imagem atentamente. O homem que trabalhava para ele seguiu atrás dela, quando ela entrou no carro alugado e partiu em direção ao centro da cidade. Deu ordens para que não a perdesse de vista, e fechou a tela.A noite já estava caindo lá fora. Tudo estava incerto, como uma neblina densa, quase palpável. Alberto mais uma vez tinha razão, aquilo não fazia sentido.Astrid não estava se escondendo, ela sabia que eles a encontrariam. - O que você está tramando sua vagabunda m@ldita?! – resmungou para si mesmo.Uma leve batida na porta, e logo Amélia enfiou a cabeça para dentro.- Está muito ocupado? – perguntou, mordendo o lábio daquele jeito sensual.- Para você, nunca. – respondeu com sorriso provocativo.- Ei! Pode parar! Já te falei pa
AméliaUm sorriso brincava em seus lábios quando ela saiu para o corredor. Apostava que os dois ainda estavam parados olhando para a porta, os homens ficavam assim quando as mulheres quebravam um padrão comportamental.Depois de muito pensar sobre o que Ícaro contou para ela, Amélia compreendeu que não era a única que foi ferida e estava se reconstruindo, ele também passou por algo terrível, e mesmo assim demonstrava seu cuidado, carinho e afeto o tempo todo.Ela queria retribuir. Estava determinada a mostrar pra ele que ela também queria dar esse afeto sem amarras, somente demonstrando o que ele significava para ela. Amélia sentia seus sentimentos transbordar, queria gritar para o mundo tudo que ela era dele, e que estavam juntos.- Não sabe como fico feliz em te ver assim. – a voz familiar fez ela se voltar.Ticiano estava parado perto da porta da sala dela, com um sorriso gentil.- Oh meu Deus! – ela se aproximou, abraçando forte seu amigo. – Quando você voltou? - Ontem a noite.
TicianoHá algumas semanas....A viagem para o Rio foi uma das mais longas que ele fez na vida, a presença daquela mulher tornava essa tarefa quase impossível. Esteve naquela cidade diversas vezes, mas nunca demorou tanto para chegar ao seu destino.Ela estava falando ao celular com algum subordinado, enquanto o carro os levava para a casa dela, um apartamento no Leblon. Durante o voo ela teve a audácia de se sentar ao lado dele, fazendo comentários inapropriados e irritantes, e agora teria que dividir o espaço com ela.Foi enviado para se infiltrar nas atividades do procurador, e Camila Camargo seria o “cavalo de troia” dessa operação. Ela tinha negócios a tratar e seria a chave para se conectarem com os funcionários e assessores do gabinete daquele calhorda.Ticiano seria o secretário dela, um embuste que quase o fez recusar aquela ordem de Ícaro. Ela estava retocando o batom vinho pela enésima vez, detestava tudo o que aquela mulher era.A arrogância, vaidade extrema, a pose de soc
Ticiano se levantou, empurrando as mãos de Camila para longe. Essa mulher estava testando todos os seus sentidos, sua índole e o seu caráter. Ela era como uma viúva negra, cercando o inseto fazendo ele se debater para se enroscar ainda mais em sua teia.- Não sei do que está falando, senhorita. – Ticiano arregaçou as mangas da camisa branca, revelando parte de suas tatuagens em ambos os braços. – Mas sugiro que pare com esse comportamento vergonhoso.Camila se levantou, caminhando elegantemente até ele, que se afastou para a sacada. O vento gelado que vinha do mar arejou suas ideias.Ela estava colocando as cartas na mesa, pretendia fazer alguma ameaça.- Acha que vou me ofender e me encolher feito uma patética virgem? – perguntou com uma voz carregada de ironia. – Eu não sou alguém que você possa afugentar com palavras cheias de moralidade puritana.Camila se aproximou novamente, com um sorriso torto, jogou as ondas douradas de seus cabelos para trás. Ela parecia muito confiante