Aquela mulher tão feminina e delicada não merecia sofrer por causa de um egocêntrico egoísta do caralho. Que diabos havia de errado com aquele velhote?Pensou um minuto em como deveria responder. Não queria dar a impressão de que sabia demais da vida pessoal dela. Até porque, Ícaro e ela não falaram muito sobre Vitório e Lucila.- Sim, por alto. – comentou Amélia, analisando o rosto triste dela.Tudo o que sabia sobre o casal, é que aquele safado foi praticamente obrigado a se casar com ela, porque os pais de Lucila queriam uma aliança com os Darius. Para piorar a situação, Vitorio ignorava completamente a esposa, deixando claro que não se importava com ela.“Meu marido pediu o divorcio naquele dia. Ele saiu de casa, e se recusa a voltar.”- Lucila, me desculpa a sinceridade, mas não consigo imaginar você casada com o Vitório. “Acho que todos pensam assim.” Ela fez uma pausa, com um sorriso triste. “Mas eu o amo, e não consigo abrir mão do nosso relacionamento assim.”- Você não vai
LucilaOs olhos castanhos esverdeados de Amélia Bastos paralisaram, toda a cor desapareceu de seu rosto. As mãos dela começaram a tremer sem parar, até as pernas grossas e longas daquela moça pareciam prestes a desmontar.Lucila ponderou se deveria ou não comunicar Ícaro sobre isso. Temia que ela desmaiasse a qualquer segundo. Por que ela reagiu assim?Só havia um motivo para isso. Ela tinha algum segredo relacionado ao nome que Lucila mencionou. Agora devia acalmá-la e fingir que não notou o que isso significava.Segurando as mãos de Amélia, Lucila expressou a sua compreensão e simpatia. Ela entendia bem de segredos, e não queria assustar e afastar Amélia. Rezou para conseguir transmitir calma para ela, sem precisar se comunicar.Amélia afundou na cadeira em que Lucila estava sentada, e levantou os olhos aflitos marejados de lágrimas para ela. Como um prisioneiro esperando sua sentença de morte.Lucila se sentiu culpada. Nunca tinha visto um olhar tão triste e cheio de sentimentos c
AméliaNão se lembrava que comprar coisas era tão divertido. Lucila tinha um gosto elegante e refinado, mas ela gostava de comprar coisas totalmente discrepantes do seu estilo.Isso chamou a atenção de Amélia para a personalidade dessa nova amiga. Ela queria conhecer melhor seus gostos e preferências, ajudar com tudo o que pudesse e compreender Lucila de uma forma que a maioria das pessoas não entenderia.Ela comprou vestidos e saias, gorros e chapéus. E uma infinidade de canetas diferentes. Nunca viu alguém comprar tanto daquele objeto sem ser um estudante.- Há quanto tempo você e Vitório estão casados?“Quatro anos. Eu tinha dezoito, e ele tinha quarenta e um.”- Vocês tinham algo em comum? Amélia se lembrou de como se sentiu com Ícaro quando eles ficaram juntos pela primeira vez depois do reencontro. Era como se seus corpos soubessem exatamente como dar prazer um ao outro. Depois veio a convivência, as coisas que gostavam de fazer juntos. Ficar no deque até de madrugada bebendo
ÍcaroO relatório aberto em seu email causava rugas em sua expressão. Não esperava aquilo, nem pensou que seria possível que acontecesse agora.As palavras vibravam em seu significado. Olhar para elas não diminuía sua fúria. Na verdade tinha vontade de sair e resolver aquilo nesse exato momento. Alguém bateu na porta, Ícaro autorizou a entrada.Amélia entrou com uma xícara de café, caminhando sedutoramente em sua direção. Ele fechou o email, e sorriu para ela. O terninho preto com camisa roxa que ela usava, realçava suas formas e dava elegância ao mesmo tempo.Seus cabelos escuros como a noite estavam soltos, e desciam sedosos até seus antebraços. Imagens daqueles fios brilhantes espalhados por cima da mesa da cozinha povoaram sua mente.Estavam preparando o jantar juntos, porque Lola estava de folga. Amélia cortava os legumes sobre o balcão da pia, com um avental amarrado à cintura. Ainda usava o vestido azul marinho com que tinha trabalhado, e o desenho de sua bunda era adorna
AméliaO olhar insistente de Ícaro permanecia queimando sua pele enquanto ela terminava seu vinho na sala de estar. Com o controle da TV na mão, Amélia fingia que não estava percebendo nada.Desde a conversa tensa que tiveram no escritório a dois dias, ele estava agindo desse jeito pouco convencional. Cancelou os planos para saírem para um barzinho, e se opôs ao encontro que ela tinha marcado com Lucila.Ícaro achou a aproximação entre as duas uma grata surpresa. Mas disse que queria ficar esse tempo a sós com Amélia. Estavam sempre cercados de pessoas e ele queria mais privacidade.Inicialmente Amélia acreditou que ele estava cansado da recente demanda de trabalho. Ele voou duas vezes só nessa semana para Santa Catarina. Sam veio dormir com ela durante a segunda viagem. Sua prima ainda estava sofrendo pelo que descobriu sobre Alberto. E não conseguia esquecer aquele babaca arrogante de merda.Amélia esticou os braços, se espreguiçando. Ícaro saiu da poltrona que estava ocupando e pa
O silêncio na casa se tornou ensurdecedor. Por alguma razão Amélia se sentia alerta e irritada, olhando para o celular esperando alguma notícia de Ícaro. Já passava das onze e ele ainda não tinha voltado.Tentou se distrair com a TV, mas nada que a tela mostrava prendia sua atenção. Ligou para Sam, mas ela não atendeu, possivelmente estava em algum evento do trabalho.Então, ela se lembrou de que Lucila poderia saber de alguma coisa, afinal ela era casada com Vitório. Enviou uma mensagem para ela, se roendo de ansiedade esperando uma resposta. Sua nova amiga não demorou para responder. (Sinto muito Amélia, ele não voltou para casa. Por isso, não sei te dizer se o Ícaro ainda está falando com ele ou não.)(Eles vão ficar bem, não é? Não vão se pegar no soco como trogloditas.) perguntou Amélia via mensagem de voz.(Você tem muito a aprender sobre os Darius, rsrsrsrs. Eles são machoes, e vivem tentando impor o domínio no território um do outro, se pegam no soco muitas vezes, ou resolvem
ÍcaroNo caminho de volta para casa, Ícaro soltou uma risada. Vitório não era páreo para sua rapidez, mas ele sempre foi muito ágil e estratégico em seus movimentos. Tinha que admitir que a força de ambos era igual. O soco que levou na boca do estômago ainda doía pra inferno, parecia que ele tinha rompido a porra do diafragma.Não seria surpresa se levasse a pior, tudo o que sabia em termos de luta e esportes de combate foi aprendido e estimulados por seu irmão mais velho. Ele treinava com o pai desde muito pequeno, e ambos viviam medindo forças. As lutas se tornaram tradição entre eles.Falar com Vitório sobre o que ele fez foi irritante, principalmente quando ele assumiu que fez aquilo porque não achava certo que Amélia participasse do concurso. Entretanto, Ícaro sabia ler nas entrelinhas, e depois da discussão acirrada, entendeu que isso não era ideia dele. Só havia uma pessoa na qual Vitório se sentia na obrigação de agradar naquela empresa, esse alguém era o caçula da família.
AméliaEstava muito claro. Por que estava tão claro? Ah sim. Estava no sol deitada no sol, sentia o calor e a aquela luz gostosa que irradiava por todo seu corpo. Um cheiro de madeira inundou suas narinas. Não havia nada, nem ninguém. Só o vazio daquele lugar extremamente claro e quente. Havia uma voz longínqua, alguém que chamava seu nome. O cheiro de madeira vinha da mesma direção daquela voz. De repente sentiu dor, uma dor intensa na garganta. Queria pedir ajuda, mas sua voz não saía. “Alguém... por favor... me... me ajuda...” pensava. Mas seu corpo não se movia, se sentia pesada. - Amélia...? – a voz profunda ficou clara e evidente. Reconhecia aquela voz. Era ele, Ícaro. O homem por quem seu coração batia descontroladamente. - Í..c...- a voz não saia, o som parecia um grasnar. Por que?- Não tente falar, pequena. – a voz suave e baixa estava próxima ao seu rosto. – Já chamei o médico.Amélia começou a abrir os olhos vagarosamente. As pálpebras estavam pesadas demais, era t