Ao chegar no estacionamento da Acrópole, ela verificou os todo o lugar, com medo de ser vista saindo daquele carro luxuoso. Não queria alimentar as fofocas sobre ela na empresa.Não fazia ideia do motivo das demissões de Daniela e suas seguidoras, mas poderia haver mais pessoas que estivessem interessadas em intimidá-la no ambiente de trabalho.Amélia conferiu mais uma vez, e saiu do carro. Pegou suas coisas e rumou para o elevador. Hoje Ícaro não estaria presente na holding, ele tinha várias reuniões em Santa Catarina. Antes de sair, eles fizeram amor mais vezes do que ela poderia contar.O relacionamento deles tinha essa dualidade que ela amava. Eles se perdiam no prazer das sessões de sexo, mas também dividiam a cama com momentos íntimos cheios de carinho e romance.Não se considerava uma mulher sensível a esse ponto, mas ele sabia como fazer ela se sentir feminina, apreciada, desejada. Ícaro falava de coisas nela que ninguém tinha notado.Ele conhecia suas manias e defeitos, ela p
VitórioO rastro da energia ruim de Alberto ficou em sua sala. Esse infeliz teve a audácia de usá-lo para prejudicar a nova garota de Ícaro. Ele não gostava da estagiária. Ela era calada demais e fingia que não sabia o que estava fazendo. Mas a ele, ela não enganava. Vitório sabia o quão capaz aquela menina era. Revisou cada passo que ela deu e cada detalhe das alterações feitas nos projetos por indicação dela.Amélia Bastos era sagaz e rebelde. Ela tinha um estilo único de criar e desenvolver as plantas. Um verdadeiro talento.Não gostava dela pelo simples fato de saber disso. Nesse momento, precisava mostrar a Ícaro toda a sua evolução e prova de fidelidade, mas aquela mulher, ela ofuscava tudo.Sem contar que ele temia que ela não passasse de uma interesseira. Ela era tão miserável que dirigia um fusca velho, se arrumava mal quando começou na Acrópole. Seu endereço era um bairro antigo que não tinha segurança alguma.Vitório imaginava que ela queria alcançar a fama e o dinheiro de
A jovem universitária olhou mais uma vez as pessoas entrando e saindo das lojas a sua volta. Hoje estava cheio, talvez fosse a véspera do feriado, todos pareciam estar procurando algo novo para comprar.Um casal de namorados passeava de mãos dadas, com a mochila nas costas e o uniforme da escola.A garota com um olha apaixonado, meio deslocada a lembrou de si mesma.O amor pode ser como uma chama sempre acesa, que aquece a gente nos momentos mais frios e solitários da vida. Mas também pode virar um fogo descontrolado, traiçoeiro, que consome tudo pela frente.Para Amélia, a desilusão por esse sentimento aconteceu cedo. A pouca idade não a impediu de se lançar ao precipício do amor, assim que conheceu o homem que julgou ser o amor de sua vida.A garota ofereceu o espeto de morango coberto de chocolate para que o rapaz desse uma mordida.Ela era tão jovem e inocente; igual a si mesma naquela época de colégio.Sempre imaginou que não se apaixonaria tão cedo, pois seus sonhos e objetivos
Amélia bateu na porta, respirando fundo para que não transparecesse sua frustração e raiva na frente daquele cara mesquinho.Ele era um sujeito de meia idade, com pouco cabelo seboso, usava roupas sociais baratas e cara de que estava sempre com dor.Jaime Caetano sempre lhe dava trabalho extra quase no fim do expediente. Ele não gostou da sua contratação, que foi feita pelo gerente geral das lojas.Segundo ele, Amélia não tinha a imagem que a Color Graphic precisava para suas atendentes; ou seja ela não servia para um conjunto de lojas de gráfica, porque não tinha o mesmo perfil físico de Jéssica.Magra, de cabelos compridos e olhos claros. Ela não era muito eficiente, e costumava faltar bastante, mas esse era o padrão correto para seu chefe. A linda Jéssica, foi contratada por ele pessoalmente.Já imaginando o que estava por vir, seu estômago que roía de fome, passou a doer de nervoso.A enxaqueca que iniciou por causa do calor escaldante lá fora, agora estava no auge. Ela só pensav
Amélia sentia seus nervos a flor da pele. Com dor, cansada e suada, ela caminhava apressada para encontrar seu carro. A fantasia estava grudada em sua pele. Só conseguiria tirar aquilo com calma em casa.Não queria danificar a roupa, para não ter que pagar por ela depois. Caetano adoraria um motivo para descontar do seu acerto de contas.O estacionamento do outro lado da rua estava calmo. Haviam poucos carros no pátio, encontrou o seu fusquinha vermelho tomate perto da área dos guichês de pagamento, no mesmo lugar que sempre deixava.Ela entrou no seu carrinho se sentindo aliviada. Ao mesmo tempo, a preocupação com o seu futuro, começou a bater forte. E agora? Como pagaria a faculdade sem emprego?Precisava ir embora antes que fechassem o lugar. Deixaria para pensar e gritar consigo mesma, quando estivesse em casa.Deu partida no carro que fez uma manha para pegar, como de costume. Já estava saindo de sua vaga quando viu a luz da tela do celular se iluminar no banco do passageiro. Pe
Aos poucos Amélia foi acordando, estava em um quarto branco e amarelo pálido com uma tv enorme embutida na parede, um vaso de flores do campo de perfume suave; era um hospital particular.Não fazia ideia de como foi parar ali, ela não tinha convênio médico e nem um centavo no bolso para pagar. Se sentou na cama reclinada confortável, o lençol macio escorregou revelando a camisola fina com o logotipo do lugar de alto padrão.Esse é o tipo de hospital que os artistas e gente montado na grana procura quando precisa. Pelo menos a dor praticamente sumiu. Não via sinais de que passou por algum procedimento cirúrgico, felizmente.Amélia suspirou de alívio. Sentindo-se observada, ela se virou nos travesseiros macios; seus olhos se depararam com um homem parado perto da porta fechada.O homem a observava em silêncio. Incrivelmente alto e forte, imponente, o terno preto de alfaiataria cara talhava um porte muito sofisticado e másculo. O físico desenvolvido era invejável; os olhos de tom profun
Ainda com vestido nas mãos ela não conseguia chegar a uma conclusão sobre aquilo. O vestido era perfeito, serviu como uma luva quando ela decidiu usar. Não sabia nada sobre aquele homem, e ele deduziu o seu tamanho com uma só olhada?!Tudo estava confuso demais. O que aconteceu com fantasia de camaleão, e por que ele se deu ao trabanho de comprar uma roupa daquelas para uma desconhecida que ele considerava uma maluca?!No espelho do banheiro ela deu uma ultima olhada em seu reflexo. Seus cabelos estavam embaraçados e molhados, seu rosto estava horrível, com um inchaço enorme no formato de bola na testa; um corte no lábio e um na sobrancelha esquerda; parecia cuspida pelo próprio desespero.Mas a roupa trazia a dignidade que precisava para sair desse quarto. Ela pagaria pelo vestido, obviamente.Saiu do quarto sem olhar para o homem. Quando sentiu uma tensão estranha e só ouviu o silêncio, resolveu apelar para seu orgulho próprio.- O que aconteceu com minha roupa? – ela levanto
O cheiro do homem ao seu lado era uma droga. Uma mistura alucinógena entre o amadeirado sofísticado e o doce excêntrico. Amélia se pegou inspirando fundo, só para reter aquele cheiro delicioso por mais tempo. Suas mãos enormes, com veias saltadas segurando a direção, expunha um anel de obsidiana, e um relógio caríssimo de edição limitada.Lembrava-se que esse modelo era único, alguém da sua antiga vida, tentou adquirir aquele relógio. E quando não conseguiu, foi ela quem arcou com as consequências.Amélia se encolheu. Queria esquecer tudo aquilo, até agora se saiu bem, ela nunca conviveu ou encontrou pessoas como esse homem. Fez um bom trabalho em se esconder e recomeçar como uma outra pessoa.Até aquele acidente, não tinha cruzado com ninguém que pudesse comprometer sua identidade. Sua terapia estava indo muito bem, sua vida era sacrificante, mas a liberdade não tinha preço.Estava tudo bem. Logo chegaria em casa, e ela fecharia essa porta e jogaria a chave fora.O que aconteceu a po