A imagem no espelho refletia uma mulher decidida e convicta. Os olhos castanhos esverdeados eram firmes e determinados no reflexo do espelho. O mesmo ímpeto flamejava em seu interior.O vestido verde esmeralda se moldou ao seu corpo como uma luva, as sandálias de tiras de couro eram trançadas nos tornozelos, finalizando o conjunto elegante. Amélia só usava um par de brincos de ouro branco com diamantes, que foi um presente de Ícaro. Ela passou a mão em suas orelhas, se lembrando do gesto sedutor, quando ele mesmo colocou as joias ali.Ele deve estar muito preocupado com ela, e como o bebê. Levou as mãos ao seu ventre, o alisando suavemente.- Não importa o que está nos esperando lá embaixo, eu serei uma boa mãe para você e vou te proteger de qualquer coisa, meu amor.A imagem no espelho refletia uma mulher decidida, convicta. Os olhos castanhos esverdeados eram firmes e determinados no reflexo do espelho. O mesmo ímpeto flamejava em seu interior. Uma onda de revolta percorreu
Ele fitou seus olhos surpresos, mais lágrimas se desprenderam de seus olhos castanhos. Aurélio levou suas mãos aos lábios, as beijando com carinho.- Você estava lá? – ela assentiu com a cabeça. – Por que não veio falar comigo.. eu estava desesperado.. Não, eu sei porque não o fez, filha. Não dei motivos para que confiasse em mim, deliberadamente me afastei de você.- Você me abandonou, pai... – Amélia sentiu suas emoções transbordarem. Lágrimas quentes escorreram livremente por seu rosto, e ela não se importou de mostrar o quanto esse abandono a destruiu. – Eu só tinha você... só você... e você...- Não chore, por favor não chore mais querida. – Aurélio se ajoelhou frente a ela. – Eu não tive escolha, filha. Sua mãe queria te educar da maneira dela, e não aceitava o jeito que eu lidava com você. Sua mãe me deu ultimato, se eu não ficasse do lado dela e abrisse mão do controle da sua educação, ela iria embora para o exterior com você.- Ela... ela te chantageou? – Amélia pergunto
São PauloAmélia BastosMais que aberração é essa?! - um homem gritou.Ela se levantou, virando a cabeça para se desculpar pelo ocorrido. A visão periférica era limitada dentro da cabeça de camaleão. - De que buraco essa GORDA do inferno saiu?!!!! - o homem olhava para ela com raiva. Cuspindo ofensas, o cara continuava indignado apontando ou gesticulando para ela. As pessoas começaram a se aglomerar, querendo saber o que aconteceu.Amélia ficou parada, como se seus pés criassem raízes ali. Seus olhos se marejaram pelas lágrimas. -Ela fez de propósito! Quem fica parado na porta de uma loja com uma roupa bizarra dessa? Tá ocupando toda a saída, sua coisa gorda! - Talvez ela não tenha percebido que era grande demais para ficar aqui… - Não, acho que ela sabia o que estava fazendo… - Nossa tudo isso para vender?... que ridículo….As pessoas opinavam e julgavam com aquele olhar. Amélia sentia o peito apertado, como se o ar faltasse, enquanto as palavras cruéis ainda ecoavam na sua ca
Odiava aquela voz asquerosa.Bastou ouvir seu nome dito naquele tom áspero e autoritário para que Amélia sentisse o estômago revirar. Ela parou no meio do corredor, cerrando os punhos. Ela pretendia apenas trocar de roupa e respirar por um instante, mas claro que seu chefe insuportável tinha que estragar até isso.— Pode esperar um minuto? Acabei de voltar da galeria, preciso me trocar.— Na minha sala. Agora! — ele ralhou, com a grosseria de sempre.Amélia inspirou fundo, se recompondo do caos interior enquanto batia na porta do escritório dele. “Respira. Não perca a paciência.” Mas por dentro, sua frustração ardia como fogo. Soltou um suspiro de desgosto.Jaime Caetano sempre dava trabalho extra a Amélia quase no fim do expediente. Ele não gostou da sua contratação, que foi feita pelo gerente geral das lojas. Segundo ele, Amélia não tinha a imagem que a Color Graphic precisava para seus atendentes.Antes de entrar, puxou o ar com força e tentou adquirir uma serenidade que estava l
Palavrões e impropérios escapavam de sua boca.Parada sob a chuva, Amélia tentava apertar a tampa traseira do fusca, quando sentiu um impacto muito forte e ouviu um barulho alto de freada brusca.O som ao seu redor foi sumindo repentinamente, enquanto ela perdia os sentidos.O barulho de um assovio ensurdecedor na sua cabeça foi a primeira coisa que tomou consciência, sentia uma dor aguda em partes do corpo. Alguém estava tocando seu rosto, um pavor aterrorizante a tomou por não conseguir se mexer.Seus sentidos voltavam letárgicamente, a visão estava embaçada demais, a chuva foi a segunda coisa que conseguiu distinguir. No instante seguinte ouviu uma voz profunda a chamando.A pessoa dizia alguma coisa, mas ela não conseguia entender o que era.Compreendeu então, que sofreu um acidente. O que estavam dizendo? Será que a poça que sentia sob seu corpo era água da chuva ou sangue?- Você... me atropelou... – Amélia conseguiu dizer, ainda não enxergava quase nada e nem sabia se a pessoa t
Aos poucos Amélia foi acordando, estava em um quarto branco e amarelo pálido com uma tv enorme embutida na parede, um vaso de flores do campo de perfume suave; era um hospital particular.Não fazia ideia de como foi parar ali, ela não tinha convênio médico e nem um centavo no bolso para pagar. Se sentou na cama reclinada confortável, o lençol macio escorregou revelando a camisola fina com o logotipo do lugar de alto padrão.Esse é o tipo de hospital que os artistas e gente montado na grana procura quando precisa. Pelo menos a dor praticamente sumiu. Não via sinais de que passou por algum procedimento cirúrgico, felizmente.Amélia suspirou de alívio. Sentindo-se observada, ela se virou nos travesseiros macios; seus olhos se depararam com um homem parado perto da porta fechada.O homem a observava em silêncio. Incrivelmente alto e forte, imponente, o terno preto de alfaiataria cara talhava um porte muito sofisticado e másculo. O físico desenvolvido era invejável; os olhos de tom profun
Ainda com vestido nas mãos ela não conseguia chegar a uma conclusão sobre aquilo. O vestido era perfeito, serviu como uma luva quando ela decidiu usar. Não sabia nada sobre aquele homem, e ele deduziu o seu tamanho com uma só olhada?!Tudo estava confuso demais. O que aconteceu com fantasia de camaleão, e por que ele se deu ao trabanho de comprar uma roupa daquelas para uma desconhecida que ele considerava uma maluca?!No espelho do banheiro ela deu uma ultima olhada em seu reflexo. Seus cabelos estavam embaraçados e molhados, seu rosto estava horrível, com um inchaço enorme no formato de bola na testa; um corte no lábio e um na sobrancelha esquerda; parecia cuspida pelo próprio desespero.Mas a roupa trazia a dignidade que precisava para sair desse quarto. Ela pagaria pelo vestido, obviamente.Saiu do quarto sem olhar para o homem. Quando sentiu uma tensão estranha e só ouviu o silêncio, resolveu apelar para seu orgulho próprio.- O que aconteceu com minha roupa? – ela levanto
O cheiro do homem ao seu lado era uma droga. Uma mistura alucinógena entre o amadeirado sofísticado e o doce excêntrico. Amélia se pegou inspirando fundo, só para reter aquele cheiro delicioso por mais tempo. Suas mãos enormes, com veias saltadas segurando a direção, expunha um anel de obsidiana, e um relógio caríssimo de edição limitada.Lembrava-se que esse modelo era único, alguém da sua antiga vida, tentou adquirir aquele relógio. E quando não conseguiu, foi ela quem arcou com as consequências.Amélia se encolheu. Queria esquecer tudo aquilo, até agora se saiu bem, ela nunca conviveu ou encontrou pessoas como esse homem. Fez um bom trabalho em se esconder e recomeçar como uma outra pessoa.Até aquele acidente, não tinha cruzado com ninguém que pudesse comprometer sua identidade. Sua terapia estava indo muito bem, sua vida era sacrificante, mas a liberdade não tinha preço.Estava tudo bem. Logo chegaria em casa, e ela fecharia essa porta e jogaria a chave fora.O que aconteceu a po