AméliaOs olhos dela ardiam pelo choro descontrolado, mesmo assim era impossível impedir que elas rolassem. Represou aquelas memórias horríveis por tanto tempo, abafou suas emoções para seguir em frente e sobreviver. Agora, tudo o que queria era se livrar desse peso que esmagava seu peito. Queria dividir completamente sua história com o homem que amava.- Não me prometa nada sobre ele, eu só quero ficar com você. – ela disse fungando. – Preciso te contar o resto...- Estou te ouvindo, pequena. – ele beijou seus cabelos. – Quero que me conte tudo.- Naquela noite, ele me despiu e me colocou amarrada de pé dentro da banheira. Eu não tinha mais forças para emitir um som sequer quando ele começou a me chicotear. Foi uma longa noite..... – Amélia respirou fundo, suas cicatrizes ardiam como brasa viva. – Acordei no dia seguinte com um balde de água fria que foi jogado no meu rosto. Ainda estava amarrada, e mal conseguia abrir os olhos devido ao inchaço no meu rosto. Ele encheu a banheira d
Várias luzes da cidade já se apagaram e os fogos de artifício tinham terminado a muito tempo. Amélia e Ícaro ainda estavam abraçados no alto da colina, enquanto ela contava sua história, somente com o céu como testemunha.- Tentei pedir ajuda aos meus pais quando eu percebi que ele não ia parar. A essa altura, eu já estava cheia de marcas de chicotadas por todos as partes que ficavam cobertas pelas roupas. – Amélia fixou os olhos num ponto da noite, pensando o quão sozinha e abandonada se sentiu. – Meu celular foi confiscado e ficava em poder de Fernando, ele maquiava minhas atividades para que tudo parecesse normal. Quando eu finalmente consegui fazer contato, minha mãe foi quem atendeu a única ligação que eu consegui fazer com a ajuda da cozinheira. Ela me disse que eu não devia caluniar meu marido com mentiras tão abomináveis só porque ele estava determinado a me transformar em uma verdadeira dama. - Vadia estúpida- Me dei conta que estava totalmente sozinha, e que ninguém se imp
ATENÇÃO!! ESTE CAPÍTULO PODE CONTER GATILHOS Ícaro olhava para ela com intensidade, certamente pensando porque ela não entrou em detalhes sobre o que Fernando fez com ela naquele porão. Amélia não era capaz de dizer. Ele não deveria saber que Fernando a despiu e a amarrou nas correntes grossas presas ao chão. Ali naquele lugar sujo e úmido, cheio de fezes e urina de outras pessoas, insetos, ratos e outros animais, ele pisou em seus membros, masserando sua carne, quebrou seus ossos com uma barra de ferro, sua mandíbula se partiu em duas, e ela ficou com a boca aberta sem poder evitar que os ratos viessem lamber o seu sangue quente. Alí naquele lugar onde clamou por sua morte inúmeras vezes, aquele monstro queimou a sola de seus pés com ácido que ardia de dia e de noite. Ela nem mesmo se lembrava quanto tempo ficou ali, despojada de sua humanidade, quebrada, humilhada e ferida. Não.. Não podia inflamar ainda mais as chamas do ódio de Ícaro. Guardou aquele horror até hoje s
ÍcaroOlhando para o rosto inchado de tanto chorar, ele pensou que daria qualquer coisa para nunca mais ver a mulher que amava, destruída dessa forma.- Esse é o motivo que te levou aquele lugar, vestida daquele jeito? – ele perguntou tenso, acariciando as costas marcadas de sua mulher.- Sim. Ele me disse que eu deveria descer e entreter seus sócios, que ninguém me reconheceria por causa da máscara, portanto ele não seria envergonhado. Fernando afirmou que eu nunca tinha pago por nada que ele me deu, e que aquele era o momento de retribuir.- Sempre me perguntei por que aquele arrombado do caralho mandou a própria esposa vestida como prostituta se oferecer para outro homem.- Bem... eu acho que a intenção dele era me humilhar ainda mais. Assim que eu desci, ele veio até onde eu estava me escondendo, ficou esperando que eu agisse como as acompanhantes. Como eu não consegui, ele analisou o salão e escolheu o homem que parecia mais desinteressado em ter companhia. Você.- Estava ali por
AméliaEla olhava para Ícaro completamente desconcertada. A mulher que foi tão cruel quanto o seu algoz era a esposa do homem que ela amava, a mesma que mandou assassiná-la.Astrid a envenenou duas vezes, mandou seu guarda-costas afogar Amélia repetidas vezes somente para vê-la lutando por sua vida. Pensando nesse episódio, agora fazia todo o sentido a maneira como ela mandou executar seu homicídio na banheira.Aquela mulher perversa sabia de seu pavor por sufocamento, e o quanto ficava desesperada.- Você viu a Astrid na mansão enquanto ainda estava lá? – Ícaro perguntou, desconfiado.- Não só vi como senti sua presença profundamente. – Amélia estremeceu contra o peito de Ícaro.- O que você quer dizer com isso? – ele puxou o ar com força. – Não me diga que aquela vadia fez alguma coisa com você?!- Infelizmente ela me odiava bastante. - O que ela fez com você, Amélia? – ele perguntou, com a mandíbula cerrada, que seu rosto era uma máscara de frieza.- Deixa isso pra lá, eu não que
ÍcaroO horizonte se tingiu de laranja, as nuvens manchadas de um tom de roxo e azul eram uma inegável obra de arte. Ele levou uma caneca de café fumegante aos lábios.Entendia porque Amélia pensou em refazer sua vida nesse lugar, era perfeito para criar raízes, ter filhos e vê-los crescendo e brincando na rua. Não era uma má ideia abandonar a cidade grande, mas infelizmente para ele esse não era um sonho possível.Um império dependia de sua direção, de seu comando firme e decidido. Ele era a mão de ferro que conduzia a Acrópole ao topo. O celular vibrava insistentemente, Alberto estava ligando desde muito cedo. As coisas em São Paulo estavam estranhas. Havia a possibilidade de Astrid ter feito um movimento impensado.Sabia disso através das mensagens de Vitório, porque não havia ninguém que fazia ele atender ao telefone.Acontece que ele não estava com vontade de falar com ninguém nesses últimos três dias que passou com Amélia nessa casa pequena no fim da rua ladeada de ipês roxos.
FernandoEla não demonstrava nenhuma sombra de medo ou arrependimento. Sua postura perfeitamente ereta e as pernas longas cruzadas, demontravam que ela esperava por esse momento.Seu sorriso de canto, o olhar astuto feito uma víbora peçonhenta. - Não vai dizer nada, querido? – ela indagou num tom sedutor.- Onde está o Olavo? – perguntou Fernando, analisando suas expressões. Astrid sorriu friamente. Ela não entregaria o jogo, ela era um demônio quando queria.- Ele está em um lugar onde você não pode encontrar. – ela se levantou, a fenda do vestido preto mostrava sua coxa nua a cada passo, suas costas eram adornadas pelos cabelos tingidos de castanho. O decote profundo evidenciava os seios nus por baixo do tecido fluido, ela se vestiu especificamente para enlouquecer um homem. Era uma pena que essa produção não fosse para ele.Com um simples aceno, Caio passou o cordão de metal no pescoço dela. Astrid não se surpreendeu, um sorriso sádico escapou de seus lábios ávidos por carnifici
As palavras dela pairavam sobre a sala, pesadas como colunas de concreto. Aquilo era verdade? Fazia sentido se pensasse na atração obscena que sentia por Amélia Bastos. As informações sobre a vida dela eram muito comuns, mas um pouco vagas, talvez fosse uma forma de camuflar seu paradeiro.Se realmente fosse ela, estava muito diferente. Começando pelo peso, aproximadamente vinte a vinte e cinco quilos a mais, do peso de sua porquinha quando ela desapareceu. Mas os cabelos, a altura e a cor dos olhos eram a mesma. Sim, poderia ser ela. - Agora entende porque temos que trabalhar juntos? – Astrid se levantou, com a maior tranquilidade caminhou até o bar e se serviu de uma dose de martini. Ler seus inimigos e seus aliados era uma estratégia refinada, na qual essa mulher sem escrúpulo algum tinha total domínio. Astrid sabia que estava de volta ao jogo, porque ela estava a frente das informações que dispunha. Essa vadia traiçoeira nunca vai revelar tudo o que sabe, Fernando pensou