Valentina saiu do prédio onde havia deixado Alice, sentindo o vento noturno contra o rosto. Caminhou até o carro e, ao abrir a porta, o celular vibrou no bolso. Quando olhou o nome Victor brilhava na tela. Suspirou e recusou a chamada, jogando o aparelho no banco do passageiro. Não estava pronta para aquela conversa. Enquanto dirigia pelas ruas sossegadas, sua mente fervilhava. O loft, Alice, o laboratório, Victor. Tudo parecia se sobrepor, tornando difícil discernir no que deveria focar no momento. Ao chegar na mansão, notou que as luzes estavam apagadas. Um silêncio absoluto reinava no interior da casa, mas, assim que acendeu a luz da sala, viu Victor sentado na poltrona, à sua espera. Os olhos dele estavam sobrecarregados. — O que você estava fazendo até essa hora na empresa Val? — A voz dele era fria, carregada de desconfiança. — Trabalhando... — respondeu simplesmente, tirando os sapatos e esfregando os dedos contra o tapete macio. — Nos seus projetos? — Ele arqueou uma so
Na manhã seguinte, quando Alice chegou à sede da Lancaster o ambiente parecia mais carregado que o normal, e ela logo percebeu o motivo quando Victor apareceu no corredor. Ele não estava de bom humor. Seu olhar era cortante, e sua voz, fria.— Bom dia, Alice. Assim que terminar de organizar a agenda, vá imediatamente ao meu escritório.Ela sentiu um arrepio percorrendo sua espinha. Victor estava sério e calculista, uma combinação perigosa. Respirou fundo e tentou ignorar a inquietação que crescia dentro dela. Pelo menos agora seu expediente era reduzido, pensou, tentando se consolar. Ao longo da manhã, cumpriu suas tarefas com mais atenção que o normal, evitando ao máximo o escritório de Victor. No entanto, não poderia adiar o inevitável. Quando finalmente entrou na sala dele, encontrou-o sentado à mesa, concentrado no computador. Ele não levantou o olhar, apenas ordenou:— Feche a porta e sente-se. Esta conversa é particular.Alice obedeceu em silêncio, sua mente trabalhando rapidam
Alice chegou na casa dos pais com o coração apertado. Não era exatamente uma despedida definitiva, mas sair da casa onde cresceu para viver sozinha era uma mudança significativa. Ao chegar, encontrou sua mãe, Regina, na cozinha, terminando de preparar um bolo, enquanto o cheiro de temperos tomava conta do ambiente. — Olha só quem chegou! — Regina sorriu ao vê-la entrar. — Veio roubar comida ou realmente vai embora dessa vez? Alice riu, deixando a bolsa sobre o sofá, como de costume. — Dessa vez é sério, mãe. Vim pegar minhas coisas. Regina ergueu as sobrancelhas, mas havia um brilho de satisfação em seu olhar. — Seu pai está na garagem. Vai avisar pra ele que já pode começar a carregar o carro. Alice foi até o quintal, onde encontrou Saulo organizando algumas caixas. — Pronta pra deixar o ninho? — ele brincou, sem tirar os olhos do que fazia. — Meio que sim... meio que não, — ela admitiu. Ele deu um tapinha de leve no ombro da filha. — Você já tem idade pra isso, e sabe que
O sol mal havia se firmado no horizonte, e Alice já estava a caminho da Enterprise para mais um dia de trabalho. A cidade despertava com seu ritmo, e o fluxo de pessoas nas ruas refletia a agitação de seus dias, marcados por desafios inesperados e a sensação de estar sempre alerta aos acontecimentos. Ao chegar à empresa, cumprimentou alguns colegas e se dirigiu ao seu posto, mas mal teve tempo de se acomodar antes que uma mensagem surgisse na tela do seu celular: "Alice, venha até minha sala, por favor." Era Victor. Ela pegou a pasta contendo a lista de funcionários e caminhou pelo corredor até a sala do CEO. Quando entrou, encontrou ele de pé, observando a cidade pela janela de vidro panorâmica. Seu humor parecia mais leve do que nos últimos dias, o que Alice considerou um alívio. Ele sempre lhe dava a impressão de ser um homem de fases – um dia irritado e sério, no outro, enérgico e comunicativo. — Trouxe a lista que pediu — ela disse, estendendo os papeis. Victor pegou o docu
O salão de beleza era um refúgio de sofisticação e bem-estar, com seu aroma envolvente de óleos essenciais e música ambiente suave, que misturava o tilintar de tesouras e o murmúrio de conversas animadas. Alice entrou ao lado de Valentina, sentindo-se um pouco deslocada naquele universo de luxo. — Segundo passo, Alice, esqueça a resistência — Valentina disse, tirando os óculos escuros e entregando-os a uma funcionária. — Você está aqui para se transformar e relaxar. Alice olhou em volta, observando mulheres bem vestidas, cabeleireiros habilidosos e manicures meticulosas. Valentina acenou para um atendente, que imediatamente conduziu as duas para cadeiras reclináveis na área de spa dos pés. — Começamos por aqui — Valentina disse, afundando-se no assento confortável. — Você não imagina o poder de uma boa pedicure. Alice hesitou antes de tirar os sapatos. Não era o tipo de coisa que fazia com frequência, mas, ao sentir a água morna envolvendo seus pés, soltou um suspiro involuntário.
A manhã na fazenda dos pais de Valentina era fresca, com o cheiro de terra molhada e café recém-passado se espalhando pelo ar. O sol dourava as copas das árvores, e o canto dos pássaros preenchia o silêncio sereno do campo.Valentina desceu para tomar café vestindo um robe de seda. Encontrou Silvana na cozinha, elegante como sempre, com um olhar atento enquanto mexia distraidamente o café na xícara.— O que houve? Você não foi dormir em casa? — a mãe comentou, sem rodeios.Valentina suspirou, servindo-se de uma xícara de café e uma fatia de queijo.— Não estava a fim. Resolvi dormir em um lugar tranquilo com o ar puro... isso é, até agora! Silvana arqueou uma sobrancelha.— E o Victor?Valentina deu de ombros, sem encará-la.— Ah, ele deve ter sobrevivido. A mãe respirou fundo, pousando a xícara na mesa com um pequeno estalo.— Val, de novo? Quantas vezes eu tenho que ter essa conversa com você? Vê se amadurece.— O quê?! Eu tenho que suportar tudo? Não dá...— Você se colocou nessa
No caminho de volta, Valentina aumentou o volume da música "It's a heartche" no carro, tentando silenciar os pensamentos que ainda ecoavam em sua mente. A conversa com a mãe sempre tinha esse efeito: a deixava irritada, sufocada, como se precisasse provar constantemente que sua vida era dela e não um roteiro escrito por Silvana.Quando parou no semáforo, pegou o celular e viu várias chamadas perdidas de Victor. Revirou os olhos. Não estava com paciência para lidar com ele naquele momento. Acelerou assim que o sinal abriu e, pouco tempo depois, estacionou na Enterprise. Respirou fundo antes de sair do carro, ajustando o vestido e colocando os óculos escuros. Seu porte impecável escondia qualquer vestígio do furacão interno que sentia. Valentina pediu para Alice descer para discutirem o assunto em pauta. Ela chegou no estacionamento com uma pasta em mãos, pronta para falar sobre a estratégia para conquistar o cliente.— Parece que alguém teve uma noite daquelas, — Alice brincou, olhando
Alice e Carlito apresentaram cada detalhe da proposta com confiança, destacando os diferenciais da VIVA e sua capacidade de impactar o mercado de cosméticos. A conversa fluía com naturalidade. O Sr. Scooter os ouvia atentamente, mas sua expressão permanecia indecifrável.Ele inclinou-se levemente para frente, apoiando os cotovelos na mesa e entrelaçando os dedos.— Confesso que a proposta de vocês é interessante. No entanto... — ele continuou, pegando suavemente a taça de vinho —, há algo intrigante. Uma decisão desse porte exige mais do que palavras bem escolhidas, como um bom vinho, é preciso mais do que uma única degustação para entender seu verdadeiro potencial. A afirmação foi lançada como um golpe calculado, e Alice controlou sua expressão, ainda que sentisse uma tensão crescer dentro de si. Carlito pigarreou, tentando quebrar o silêncio que se instalou, mas Charles o ignorou. Alice trocou um olhar rápido com Carlito. Então, Charles continuou:— Sabe, a verdade é que não estou