O sol mal havia se firmado no horizonte, e Alice já estava a caminho da Enterprise para mais um dia de trabalho. A cidade despertava com seu ritmo, e o fluxo de pessoas nas ruas refletia a agitação de seus dias, marcados por desafios inesperados e a sensação de estar sempre alerta aos acontecimentos. Ao chegar à empresa, cumprimentou alguns colegas e se dirigiu ao seu posto, mas mal teve tempo de se acomodar antes que uma mensagem surgisse na tela do seu celular: "Alice, venha até minha sala, por favor." Era Victor. Ela pegou a pasta contendo a lista de funcionários e caminhou pelo corredor até a sala do CEO. Quando entrou, encontrou ele de pé, observando a cidade pela janela de vidro panorâmica. Seu humor parecia mais leve do que nos últimos dias, o que Alice considerou um alívio. Ele sempre lhe dava a impressão de ser um homem de fases – um dia irritado e sério, no outro, enérgico e comunicativo. — Trouxe a lista que pediu — ela disse, estendendo os papeis. Victor pegou o docu
O salão de beleza era um refúgio de sofisticação e bem-estar, com seu aroma envolvente de óleos essenciais e música ambiente suave, que misturava o tilintar de tesouras e o murmúrio de conversas animadas. Alice entrou ao lado de Valentina, sentindo-se um pouco deslocada naquele universo de luxo. — Segundo passo, Alice, esqueça a resistência — Valentina disse, tirando os óculos escuros e entregando-os a uma funcionária. — Você está aqui para se transformar e relaxar. Alice olhou em volta, observando mulheres bem vestidas, cabeleireiros habilidosos e manicures meticulosas. Valentina acenou para um atendente, que imediatamente conduziu as duas para cadeiras reclináveis na área de spa dos pés. — Começamos por aqui — Valentina disse, afundando-se no assento confortável. — Você não imagina o poder de uma boa pedicure. Alice hesitou antes de tirar os sapatos. Não era o tipo de coisa que fazia com frequência, mas, ao sentir a água morna envolvendo seus pés, soltou um suspiro involuntário.
A manhã na fazenda dos pais de Valentina era fresca, com o cheiro de terra molhada e café recém-passado se espalhando pelo ar. O sol dourava as copas das árvores, e o canto dos pássaros preenchia o silêncio sereno do campo.Valentina desceu para tomar café vestindo um robe de seda. Encontrou Silvana na cozinha, elegante como sempre, com um olhar atento enquanto mexia distraidamente o café na xícara.— O que houve? Você não foi dormir em casa? — a mãe comentou, sem rodeios.Valentina suspirou, servindo-se de uma xícara de café e uma fatia de queijo.— Não estava a fim. Resolvi dormir em um lugar tranquilo com o ar puro... isso é, até agora! Silvana arqueou uma sobrancelha.— E o Victor?Valentina deu de ombros, sem encará-la.— Ah, ele deve ter sobrevivido. A mãe respirou fundo, pousando a xícara na mesa com um pequeno estalo.— Val, de novo? Quantas vezes eu tenho que ter essa conversa com você? Vê se amadurece.— O quê?! Eu tenho que suportar tudo? Não dá...— Você se colocou nessa
No caminho de volta, Valentina aumentou o volume da música "It's a heartche" no carro, tentando silenciar os pensamentos que ainda ecoavam em sua mente. A conversa com a mãe sempre tinha esse efeito: a deixava irritada, sufocada, como se precisasse provar constantemente que sua vida era dela e não um roteiro escrito por Silvana.Quando parou no semáforo, pegou o celular e viu várias chamadas perdidas de Victor. Revirou os olhos. Não estava com paciência para lidar com ele naquele momento. Acelerou assim que o sinal abriu e, pouco tempo depois, estacionou na Enterprise. Respirou fundo antes de sair do carro, ajustando o vestido e colocando os óculos escuros. Seu porte impecável escondia qualquer vestígio do furacão interno que sentia. Valentina pediu para Alice descer para discutirem o assunto em pauta. Ela chegou no estacionamento com uma pasta em mãos, pronta para falar sobre a estratégia para conquistar o cliente.— Parece que alguém teve uma noite daquelas, — Alice brincou, olhando
Alice e Carlito apresentaram cada detalhe da proposta com confiança, destacando os diferenciais da VIVA e sua capacidade de impactar o mercado de cosméticos. A conversa fluía com naturalidade. O Sr. Scooter os ouvia atentamente, mas sua expressão permanecia indecifrável.Ele inclinou-se levemente para frente, apoiando os cotovelos na mesa e entrelaçando os dedos.— Confesso que a proposta de vocês é interessante. No entanto... — ele continuou, pegando suavemente a taça de vinho —, há algo intrigante. Uma decisão desse porte exige mais do que palavras bem escolhidas, como um bom vinho, é preciso mais do que uma única degustação para entender seu verdadeiro potencial. A afirmação foi lançada como um golpe calculado, e Alice controlou sua expressão, ainda que sentisse uma tensão crescer dentro de si. Carlito pigarreou, tentando quebrar o silêncio que se instalou, mas Charles o ignorou. Alice trocou um olhar rápido com Carlito. Então, Charles continuou:— Sabe, a verdade é que não estou
Valentina recebeu a proposta sem surpresa. Já esperava uma investida de Charles Scooter e, ao ouvir os detalhes de Alice, decidiu que essa questão ficaria entre elas e Carlito. Pediu expressamente que nada fosse dito a Victor, por enquanto. Sabia que Carlito, por lealdade ao CEO, poderia contar algo, mas deixou claro que resolveriam isso entre os três antes de qualquer outra pessoa ser envolvida. O sigilo absoluto era necessário.Sem perder tempo, Valentina assumiu as rédeas da situação. Pegou o telefone e ligou diretamente para Charles, acertando os detalhes de um encontro. Não aceitaria prazos impostos por ele. Disse, com a firmeza de quem está no controle, que não precisavam se encontrar dentro de vinte quatro horas. Iria marcar um jantar naquele mesmo dia, em um iate particular. O tom confiante de Valentina e sua objetividade pareceram impressioná-lo. Ele demonstrou entusiasmo e disse que verificaria sua agenda.Mas Valentina não pretendia deixá-lo confortável. Cortou qualquer hes
A noite se aprofundava quando Valentina e Alice deixaram o jantar para trás. O encontro com Charles Scooter havia sido um jogo tenso de estratégias e palavras medidas, mas ela se sentia vencedora. Com um leve sorriso de satisfação, ela deslizou o dedo sobre a tela do celular e desligou após a ligação de Victor. Não queria que nada interrompesse aquele momento.Alice a observou com curiosidade, percebendo o entusiasmo de Valentina.— Para onde você vai agora? — perguntou, cruzando os braços enquanto aguardava a resposta.Valentina guardou o celular na bolsa e lançou um olhar decidido.— Nós vamos em um lugar especial. Não vou te deixar em casa agora. Precisamos comemorar. — O tom de sua voz não deixava espaço para contestação.Alice arqueou uma sobrancelha.— Você quer comemorar? Não sabia que você era do tipo que comemora negócios com saídas noturnas. — Havia um toque de provocação em sua voz, mas também um traço de curiosidade.Valentina sorriu pensativa.— Nem sempre. Mas hoje foi d
Valentina entrou em casa sem fazer barulho. O silêncio do ambiente contrastava com o turbilhão de pensamentos que ainda fervilhavam em sua mente. Seu corpo ainda trazia os resquícios da noite passada, areia nos pés, o cheiro de sal impregnado na pele e a leve ressaca que pulsava em sua cabeça. Ao subir os primeiros degraus da escada, olhou de relance para a suíte. A porta estava entreaberta e a luz do abajur projetava sombras suaves no corredor. Victor estava lá, dormindo. Ela hesitou, mas não entrou. O final de semana não lhe dava muitas opções de fuga, mas por ora, precisava de um tempo para si.Lembranças ainda vibravam em sua mente. O calor do álcool, a brisa noturna, Alice dormindo ao seu lado na areia e o desespero ao acordar de repente. O tempo parecia ter fugido de suas mãos. Tinha deixado Alice apressada naquela manhã, a cabeça pesada pelo excesso de bebida e pelas palavras ditas sem filtro. — Esse lugar é único, Ali. Assim como você é pra mim. — O que eu sou pra você? —