Ethan abriu os olhos lentamente, o costume o fez acordar antes que os raios de sol invadissem o quarto, franziu o cenho com raiva e bufou dando-se conta que todos os dias pareciam sempre o último. O corpo ao seu lado se moveu como que a procura do calor que a pele proporcionava e ele ficou imóvel para não acordá-la, Feyre ressonava e ele apenas a encarou com um pequeno sorriso de lado, alguns homens pareciam ter sede de luta aquele dia e o barulho mal começara e a morena abriu os olhos sonolenta, demorou poucos segundos para que ela se lembrasse da noite anterior e o Collins a encarava ansioso pela reação da menor, ela o encarou ainda anuviada e quando a compreensão tomou conta de seus olhos as bochechas tornaram-se escarlates o que provocou a risada do loiro que a apertou quando ela tentou esconder o rosto em seu peitoral.
— Precisamos ir. – Ele falou após um tempo e ela apenas assentiu e ainda ruborizada ergueu a cabeça para o encarar, algo que fez seu coração disparar, ele estava tão perto de si que a respiração quente bateu em seu rosto e ela instintivamente encarou os lábios dele que sem demora, como se atendesse seu pedido mudo, pressionou contra os lábios rosados da morena em um beijo carinhoso. A morena, inquieta por sua natureza tímida esperou que ele se levantasse e o encarava em silêncio, as cicatrizes que o loiro tinha no corpo não eram desagradáveis como na maioria dos homens que ali viviam, na verdade o deixavam com o jeito mais sério, emolduravam o corpo definido, os olhos pousaram sobre as costas onde marcas vermelhas se destacavam e com certa satisfação, que ainda lhe era desconhecida, a Fortnight sorriu constatando que eram marcas de suas unhas. O loiro ainda de costas pediu para que ela se vestisse, a morena colocou o vestido novamente e levantou-se o amarrando no lugar, quando Ethan se virou franziu o cenho em desagrado e ela abaixou o olhar pensando não o satisfazer com seu corpo.
— Ficará difícil me concentrar – a voz rouca parecia direcionada a si mesmo e ela o olhou novamente enquanto ele levava a mão a nuca coçando ali em sinal de desconforto. – Tente não ficar muito a vista daqueles trogloditas.
A morena assentiu novamente e sorriu para o loiro em sinal de compreensão de seus ciúmes, queria dizer que também o sentia, que ele não deveria ficar se mostrando pra convidada a quem tinha que servir, mas sua natureza tímida a manteve calada por mais que seu interior estivesse inquieto. Saíram da cela para o pátio em silêncio e se despediram apenas com o olhar, Feyre voltou a grande casa enquanto o Collins passou a treinar concentrado em desviar dos golpes que lhe eram desferidos, vez ou outra era impossível não pensar em tudo o que acontecia, como quando se afastava dos demais para beber água e olhava seus irmãos de combate, alguns não passariam daquela semana e ele próprio não sabia qual seria o último dia que enfrentaria alguém na arena, mas agora por mais que tudo aquilo lhe remesse no interior sentia uma vontade, uma raiva crescente de ser livre novamente e de levar Feyre consigo.
Feyre por sua vez seguia Simonis pelos cômodos, a loira parecia apenas estar completamente ociosa e longe dos ouvidos da Senhora Mariana, repudiava ter de passar o tempo ali. A loira bufou com raiva se virando para a Fortnight.
— Preciso que chame aquele loiro pra mim. – Feyre a encarou surpresa. – O tempo aqui está péssimo, preciso me distrair. – A morena a olhava ainda enquanto a mulher revirou os olhos. – Anda logo, você é bem sonsa não é mesmo?
A Fortnight apenas respirou fundo e saiu da sala em direção ao pátio, durante o caminho os homens ali apenas a ignoravam o que ela sabia ser devido a estar com Ethan, o respeito entre os irmãos de arena era muito grande e Nefir sempre falara que era como um pacto mudo, Feyre parou ao lado de Sorion.
— A convidada solicita o Ethan. – Falou baixo e Sorion bufou estreitando os olhos, saiu voltando em seguida com um Ethan de cenho fechado.
— O que ela quer comigo? – Perguntou ríspido e a morena negou com a cabeça.
— Não sei. – Falou baixo e muito desconfortável.
Caminharam em silêncio e quando passaram por Kael, que tinha um sorriso sarcástico nos lábios, Ethan o encarou com raiva passando a mão pelo quadril de Feyre que revirou os olhos consigo mesma.
Simonis parecia brilhar quando o loiro entrou na sala em que ela o esperava sozinha.
— Ethan, o lutador. – A loira falou com um sorriso estampado em sua face enquanto o Collins tinha a cara séria como uma rocha, indecifrável, Feyre parada em um canto tinha a cabeça baixa. – Essa casa é um tédio, preciso que me distraia.
— Talvez só precise ir embora. – Ethan respondeu seco e o sorriso de Simonis se desmanchou, a loira se levantou caminhando até o Collins passando os dedos pela pele de seu peitoral.
— Você poderia gostar da minha presença aqui. – Falou manhosa e Feyre sentiu o peito apertar. – Posso mostrar-lhe.
Ethan apenas bufou e virou as costas saindo do local e deixando Simonis com o rosto contraído em pura raiva.
— Aprenda Feyre. – Falou sem olhar para a escrava que ficou estática com a cena anterior. – Não aceito um não como resposta. Aquele loiro será meu por bem ou por mal.
Feyre nada falou, permaneceu realizando suas obrigações como lhe era devido, conhecia seu lugar ali, mas isso não impediu que se sentisse amarga, não impediu que sentisse raiva da loira. Algo em si queimava entre a raiva, amargura e o medo e ela não sabia o que isso significava.
— Você precisa se vestir melhor. – Simonis falou chamando sua atenção. – Possui outras roupas? – A morena meneou a cabeça negando a loira a olhou um tempo. – Não posso ser vista com uma serviçal tão feia assim. – Bufou. – Tenho uns vestidos antigos que talvez lhe sirva, moda passada já. – Sorriu como se esfregasse algo na cara da morena que mantinha o rosto voltado para o chão. – Hoje mesmo a quero vestida como gente.
E dito isso foram para o quarto onde a loira se hospedava, ali foram retirados cerca de seis vestidos que não fizeram diferença alguma no baú abarrotado de pertences que a senhorita Simonis fazia seus serviçais carregarem pra cima e pra baixo conforme lhe dava vontade.
Sorion sorriu de lado ao atravessar o pátio e deparar-se com a Fortnight já a caminho da cela do amigo, passou direto apenas acenando com a cabeça indo direto para o próprio quarto onde Soraya provavelmente já o esperava. Ethan estava sentado passando um pano pelos cabelos ainda molhados pelo recém banho tomado, Feyre bateu a porta e ele abriu a olhando, o vestido de agora era diferente, melhor, de um azul escuro que se assemelhava a seu cabelo.
— Simonis queria que eu me apresentasse melhor e deu-me alguns vestidos que devo usar. – Falou explicando o que o olhar do loiro deixava claro, ele assentiu dando passagem para que a morena entrasse e já dentro do cômodo ele a olhou sorrindo.
— Teve ciúmes? – Perguntou diretamente, chegava a ser ridículo que ele tivesse tanto ciúmes da morena e ela não tivesse de si, Feyre engasgou com o próprio ar que circulava por seus pulmões.
— Nã... não seja idiota. – Falou desviando o olhar e ele sorriu levando as mãos ao pequeno rosto e a beijando nos lábios em seguida.
— Sentiu. – Ele decretou quando separou os lábios, seguiu com a morena para a cama e ela sentou-se calada sendo puxada pelo loiro para entre suas pernas. Era estranho ser daquela maneira com a morena, era como se perto dela não existissem nenhuma barreira que ele demorara tanto tempo pra construir, como se tudo o que ele era antes daquilo voltasse, o menino alegre e feliz, mesmo que ele soubesse que não fosse real.
Feyre era um doce ilusão a qual ele se apegara, uma promessa.
— Não vai ceder a ela. Vai? – A voz saiu baixa e ele sorriu beijando o ombro da morena e subindo ao pescoço claro.
— Nunca. – Ele falou rouco e ela sentiu os pelos da nuca arrepiarem, virou-se em um ímpeto de coragem e ele a encarava com os olhos azuis arregalados, a Fortnight ficou de joelhos na cama dura e desceu as mãos pelo peitoral do loiro, era dela, todo ele era dela e não gostou quando Simonis o tocou.
De todas as maneiras que possam existir um escravo seria apenas um idiota ao se apaixonar, quando apaixonado por um mestre era um idiota iludido em ser correspondido e chegava a ser estúpido como o amor desse tipo podia ser cruel com aqueles que acreditavam poder mudar o que acontecia ali. Os tolos amantes usados por aqueles que não sentiam nada, mas cruel mesmo era o amor correspondido. Em nenhum caso poderiam ficar juntos, mesmo que um senhor amasse um escravo ou um escravo amasse outro, a vida ali não era justa e as pessoas morriam o tempo todo. Ethan e Feyre sabiam daquilo e por mais que a verdade realmente fosse feita de tolos, idiotas, estúpidos apaixonados, as pessoas só entendiam quando se apaixonavam e amavam verdadeiramente e ali olhando um nos olhos do outro, enquanto os olhos azuis do Collins encaravam aqueles enigmáticos olhos claros que lembravam o violeta da Fortnight eles abriam mão da sanidade, abriam mão das certezas, porque entendiam que prometeram qualquer coisa, não sabiam o que era o amor de fato e sabiam não se amar, não ainda, mas em contrapartida tinham em si sentimentos únicos e confusos, paixão e algo a mais que queimava na íris um do outro enquanto sempre se olhavam, algo que não saberiam dizer o que era, mas que os faria tolos, idiotas e estúpidos de bom grado.
— Promete? – Ela falou ingênua esquecendo o que eram naquele mundo, esquecendo que a própria vontade não importava, sabendo que as promessas de escravos não valiam nada, mas ali naquela cela, encarando aqueles olhos e sentindo o próprio coração acelerado ela não queria mesmo uma promessa a ser cumprida, ela queria uma esperança pela qual valesse a pena os dias.
— Prometo. – Ele falou a encarando sabia o que era, mas naquele momento não se importou com isso, se importou apenas em deitá-la novamente na cama fazendo com que a morena gemesse seu nome quantas vezes fosse preciso antes de adormecerem novamente, antes de a olhar ressonar como na noite anterior sentindo dentro de si uma imensa vontade de lutar, não na arena matando algum desconhecido, mas de lutar na vida e pela primeira vez em meio a tantas desgraças naquela realidade insana a qual pertencia, ele sentiu que podia vencer.
Ethan acordou antes que o sol nascesse e olhando para o lado pôde constatar que Feyre ainda dormia colada a seu corpo, a respiração da morena calma e ritmada mostrava um sono denso e o Collins sorriu a abraçando mais e puxando-a como se quisesse se fundir, os dedos deslizavam pelos cabelos negros em um carinho mudo e mesmo depois que ela abriu os olhos e ainda sonolenta, o carinho permaneceu.— Dormiu bem? – Ele perguntou preocupado e ela sorriu o abraçando.— Muito e você, Ethan ? – A voz doce o fez sorrir, a maneira como o nome parecia dançar na voz dela o deliciava, estar com Feyre era como se aproximar de uma fogueira em um dia de neve, era acolhedor e quente, de uma maneira que o fazia se sentir pronto pra guerra, pronto pra derrotar o próprio Alejandro em pessoa
– Feyre. – A voz do Collins o traiu e Simonis odiou o fato de ele falar apenas quando visse aquela escrava maltrapilha, mas compensou. Tudo compensou quando a morena levantou o olhar vendo que ambos estavam nus, quando os olhos que pareciam a porra de um céu nublado se desmancharam em lágrimas.- Prepare-me um banho com ervas relaxantes ou o que quer que Mariana tenha nessa casa. – Simonis falou com desdém e mordeu o lábio virando de costas para Feyre e encarando Ethan – Vai banhar comigo também?Chamá-la de um pequeno ser miserável seria bondade, nas costas de Simonis haviam vestígios do ato que acabaram de praticar, Feyre sabia pois havia tido aqueles mesmos vestígios antes. Ethan praticava com um rapaz novo no ludos, teria uma luta dali a uma semana e seria um grande evento pelo que soubera, Severus havia pago caro pela luta principal e seria ele a lutar, nas lutas que ocorriam antes ele seria apenas expectador assim a multidão ficaria eufórica esperando pela luta em que ele seria o protagonista, na última semana de fato havia se dedicado ao treino, Feyre o evitava e passou a ser vista constantemente com Kael e nada se comparava ao ódio que o loiro tinha quando a via sorrir para o cachorro do Fenhir. Parou o treino e foi a um grande tanque de água corrente que ficava no pátio para uso dos gladiadores, lavou o rosto dando alguns tapas em sua própria face para se concentrar, estava perdendo o foco nos últimos dias e chegou a cair no pátio treinando com Storm.— Você vai morrer se continuar assim. – Lupin falou parando ao lado do loiro, respirou fundo. &n8
— Devo parabenizar pelo jantar, realmente tudo foi muito agradável. – Taramir falou sorrindo e Simonis revirou os olhos claramente incomodada com a fala do noivo.— É sempre um prazer receber visitas ilustres em nossa residência. – Mariana praticamente cantarolou enquanto mantinha Feyre ao seu lado, Taramir a olhou e sorriu.— Tens alguns exemplares maravilhosos por aqui.— Pelos Deuses. – Simonis bufou. – Não pode estar falando sério, os mendigos da capital se vestem melhor do que os escravos que aqui se encontram.Mariana e Severus se entreolharam e a raiva era nítida em seus olhos, haviam feito tudo por aquela mimada e agora que via a chance de voltar para o centr
Logo cedo o movimento no pátio chamou a atenção do loiro que se levantou apressado, ainda sonolento pôde ver Maria no meio do pátio enquanto Severus parado a sua frente gritava.— ONDE ELE ESTÁ? – O grito ecoava pelo espaço aberto.— Eu não sei. – Ela chorava, um de seus costumeiros coques havia se desmanchado enquanto o rosto estava sujo, pela maneira como ela estava no chão o Collins percebeu que no mínimo havia sido jogada ali, os arranhões indicavam que havia apanhado e um filete de sangue parecia descer por sua boca.— Você era a putinha dele. – Severus fez um sinal e a morena levou um tapa de um guarda ao seu lado, o corpo de Ethan se moveu sozinho enquanto caminh
Ethan apertava Feyre contra si, o pequeno corpo tremia contra o dele enquanto a morena chorava, quando a espada desceu sobre Maria o loiro a virou segurando o pequeno rosto entre as mãos.— Olhe pra mim meu amor. – Ele repetia baixo para a morena que tentava virar-se para a arena. – Estou aqui Feyre, pra você.Quando a pequena se conformou em não se virar deixou que o corpo tremesse ante seu choro, as lágrimas desciam firmes enquanto as mãos apertavam o tecido que Ethan usava, lembrou-se de seu pai dizer-lhe que para um cego de nascença o mundo era como ele sempre o conhecera, mas para alguém que perdia a visão depois de ter visto o mundo, era algo sombrio e dolorido. Feyre passara a comparar a liberdade com a visão, alguém que nascia escravo nu
A arena se transformou em um aglomerado de espadas que quando não estavam contra escudos alheios ou espadas, estavam cravadas na carne de pessoas que Ethan nunca havia visto antes, rostos de guardas, pessoas arquibancada que caíam em meio a luta devido ao desespero que a multidão provocou querendo sair do lugar.— Golias. – Uma voz grave soou entre os homens vestidos de guerreiros e um grupo se virou em direção a ela. – Você vem conosco. – Apontou para Ethan que assentiu retirando a espada do corpo de um guarda que ele sabia ser do braço direito de Alejandro.O grupo abriu caminho entre as pessoas que lutavam através da espada, dos dois lados haviam pessoas morrendo, mas pelo olhar de Ethan haviam bem mais rebeldes do que guardas dispostos a lutar, Elio
Sandara de longe parecia mais uma prisão do que qualquer outra coisa. Ethan se lembrava de Kaesilyum e como os montes verdes rodeavam a vila enquanto que Sandara parecia estar no fundo de uma cratera de areia. Parecia algo morto, um túmulo de areia, mas ainda assim quando Elion olhava pra aquela cidade antes de partirem para o meio do deserto, seus olhos verdes brilhavam de maneira estranha e quando Ethan viu aquele olhar, entendia porquê o Santoro ainda lutava pelo trono, não se tratava de poder e apenas por isso, o Collins decidiu que o seguiria.Quando se está no deserto deve-se aprender uma coisa importante, não importa o quão quente seja o dia, a noite é extremamente fria, não apenas um frio suportável, o vento gélido sopra devagar fazendo com que os pelos da nuca se arrepiarem enquanto nã