Após concluírem o jantar em um silêncio que mais parecia um acordo implícito de evitar palavras desnecessárias, Vivienne recolhe a bandeja com movimentos firmes, cada gesto um esforço consciente para manter o controle sobre o caos que a consome por dentro. Na cozinha, enquanto coloca as louças na lava-louça, o barulho do vidro e da cerâmica soa distante, abafado pelos pensamentos que a cercam. Não importa o quanto tente desviar a mente, ele está lá, dominando cada espaço da sua consciência. Dominic não precisa dizer nada, nem sequer olhar diretamente para ela, sua simples presença é como um ímã que a atrai e a desafia a resistir e falhar.Encostada à pia, Vivienne solta um suspiro que parece rasgar seu peito, como se cada partícula de ar carregasse o peso insuportável de suas emoções. O cansaço emocional começa a transbordar, inundando cada canto de sua mente com uma confusão que ela não sabe como ordenar. É uma mistura insuportável de frustração e desejo, um sentimento agridoce que a
Dominic observa Vivienne, os traços suaves do rosto dela contrastando com o caos que o consome. Por um momento, a visão dela parece oferecer um refúgio, mas é um alívio que escapa tão rápido quanto veio. Quando ele tenta se levantar com cuidado, uma dor aguda percorre seus músculos e suas pernas falham sob o peso do corpo. O movimento abrupto o força a sentar-se de volta na cama, o impacto causando um leve rangido no colchão. Esse som, somado à sua respiração irregular, desperta Vivienne, que, num reflexo protetor, se aproxima dele, os braços delicados envolvendo seus ombros largos.— Não faça isso. — Dominic murmura, sua voz baixa e carregada de algo entre cansaço e frustração. Ele afasta as mãos dela com um gesto brusco, como se o toque fosse insuportável, algo que ele não pudesse suportar naquele momento. Seus olhos permanecem fixos no chão, recusando-se a encará-la. — Por que continua aqui, Vivienne? O que está acontecendo? — Pergunta, sua voz transborda confusão, cada frase carr
Vivienne se aproxima, sentindo a tensão emanando de cada movimento contido de Dominic. Ele continua deliberadamente evitando seu olhar, como se o próprio ato de a encarar fosse insuportável. A atmosfera pesada é interrompida pelo som da campainha, abrupto e deslocado, fazendo-a olhar instintivamente para o relógio digital sobre a cômoda.Mais do que os vinte minutos prometidos por Louis já haviam se passado, quase quarenta minutos haviam transcorrido sem que ela percebesse.— Que momento infeliz para interrupções. — Vivienne murmura, a frustração evidente em sua voz. A interrupção chega justo quando Dominic parecia prestes a dizer algo importante, algo que talvez respondesse às suas perguntas.Enquanto ela exala impaciência, Dominic, por outro lado, parece quase aliviado, o que só aumenta sua irritação. Sem esperar por uma palavra dele, Vivienne se vira e sai do quarto com passos decididos. Atravessa o corredor e abre a porta com um movimento brusco. Sua expressão rígida é suficiente p
Louis intercala seu olhar entre Dominic e Vivienne, sua expressão evidenciando o quanto está contrariado com a desobediência dela. Seus olhos buscam os do sobrinho, silenciosamente pedindo orientação sobre como proceder.— Prossiga, tio. — Dominic instrui, a voz baixa e serena. Há algo quase desconcertante em sua suavidade, uma autoridade implícita que não deixa espaço para hesitações. — Bem, o que aconteceu com você é algo que chamamos de “resposta paradoxal”. — Louis informa, observando Vivienne se aproximar e sentar-se silenciosamente do outro lado da cama, seus olhos atentos revelando sua necessidade de compreender. — É um fenômeno raro, mas acontece. A combinação do trauma físico com o estado alterado de consciência criou uma espécie de, como posso dizer, “curto-circuito” em seu sistema nervoso. O despertar súbito que você experimentou é um fenômeno complexo. — Faz uma pausa, notando a confusão idêntica nos rostos de ambos. — Imagine um carro com o tanque quase vazio, mas que de
Vivienne retorna ao quarto, a ansiedade pulsando em seu peito. Está determinada a retomar a conversa interrompida, mas sua expectativa rapidamente se desfaz ao encontrar Dominic profundamente adormecido, a respiração lenta e estável.Completamente irritada, ela se acomoda na poltrona próxima à cama, assumindo a postura de uma sentinela vigilante. Os olhos percorrem o rosto sereno de Dominic, mas sua mente está em outro lugar, ciente da responsabilidade que agora carrega. Ele certamente não será um paciente fácil, mesmo as situações mais simples, como ajudá-lo a ir ao banheiro, prometem ser complicadas.O tempo passa lentamente, cada minuto se arrastando como uma eternidade. Após mais de uma hora de vigília tediosa, sons suaves vindos da sala interrompem seus pensamentos. Curiosa, Vivienne se levanta e caminha em direção ao ruído, surpresa ao encontrar a governanta, já ocupada com suas tarefas matinais.— Senhora Valens, bom dia. — Vivienne cumprimenta, um sorriso sincero iluminando seu
O beijo permanece intenso e profundo, uma troca que deixa evidente a necessidade inegável de que ambos sentem um pelo outro. Vivienne não ergue barreiras, não tenta resistir, ela simplesmente se entrega, perdida na intensidade do momento. Suas respirações se tornam irregulares até que a falta de ar os força a se afastarem, ainda que apenas o suficiente para que suas testas permaneçam coladas, enquanto os olhos se encontram carregados de algo que vai além do desejo, uma conexão intensa, instintiva, impossível de ignorar.— Você não entende o significado de repouso absoluto? — Pergunta Vivienne, a voz ainda rouca pelo beijo, tentando manter uma postura firme. Ela se inclina ligeiramente para trás, com a intenção de se levantar, mas antes que consiga, as mãos firmes de Dominic pressionam seu quadril, mantendo-a no lugar, sobre o seu colo.— Bem, me desculpe. — Dominic começa, a voz baixa, cheia de malícia, enquanto o olhar intenso percorre cada detalhe dela, provavelmente despindo-a em p
Dominic respira fundo, os músculos da mandíbula tensos sob o toque delicado dos dedos dela. Seus olhos se fecham por um breve instante, como se precisasse de um momento para conter as emoções que borbulhavam dentro dele, antes de voltarem a encontrar os dela com uma intensidade que parecia penetrar sua alma.— De que conversa estamos falando? — Dominic questiona, sua voz assumindo um tom defensivo, embora ambos saibam exatamente do que se trata.— A conversa que a chegada do seu tio interrompeu. — Vivienne responde, as mãos deslizando suavemente pelo rosto dele, seguindo o contorno do pescoço até pousarem em seu ombro, que ela começa a massagear em um gesto automático. — Me conte o que preciso saber sobre você. — Pede, inclinando-se, seus lábios a poucos centímetros dos dele, as respirações se misturando num momento de intimidade.— Não lembro exatamente sobre o que estávamos falando. — Responde, a voz carregada de evasão, enquanto observa Vivienne se afastar abruptamente. — Ah, por
A expressão de Dominic endurece ainda mais ao ver a governanta adentrar o quarto com a bandeja em mãos. Cada movimento dela é cuidadoso, quase hesitante, como se pudesse sentir a raiva que emanava dele a cada segundo.— Você não sabe bater na porta? — Dominic pergunta, sua irritação transbordando como um ataque direto.— Me desculpe, senhor Muller — Silvia começa, paralisada em seu lugar, claramente arrependida por seguir as instruções de Vivienne. — A senhorita Bettendorf orie…— A senhorita Bettendorf não dá ordens na minha casa. — Interrompe, a voz cortante, fazendo um gesto impaciente com a mão, indicando para ela deixar a bandeja na cômoda. — Diga para ela vir até o meu quarto imediatamente. — Exige, o tom ríspido, deixando claro que não aceita ser desobedecido.Silvia assente rapidamente, quase tropeçando em seus próprios pés, enquanto se apressa para sair do quarto. Dominic ajusta o celular no viva-voz, puxando a bandeja para si, enquanto massageia as têmporas, claramente frustr