Dominic sempre acreditou que podia controlar tudo ao seu redor, que sua vontade era suficiente para moldar o mundo conforme desejasse. Sempre teve poder, sempre teve influência, sempre teve a certeza de que nada escapava de suas mãos. Mas desde que Vivienne entrou em sua vida, ele tem aprendido, das piores formas possíveis, que algumas coisas simplesmente não estão sob seu controle.E isso o destrói. Porque, por mais que tenha tentado protegê-la, por mais que tenha feito tudo ao seu alcance para mantê-la segura, não foi o suficiente. A barreira que ele construiu ao redor dela, ao redor de sua família, foi quebrada, reduzida a nada diante da realidade cruel que se desenha à sua frente. E agora, ela está ali.Mais uma vez privada de sua própria vida. Mais uma vez impedida de viver um momento que deveria ser dela, de sorrir ao ver seus filhos pela primeira vez, de segurar suas pequenas mãos, de ouvir seus primeiros choros. Tudo o que ela deveria estar sentindo, tudo o que deveria estar v
Naquele instante, parece que a respiração de Dominic se esvai com a da filha. O tempo congela, o ar some de seus pulmões, e o pavor que o toma é visceral, brutal, diferente de qualquer coisa que já sentiu antes.Porque ele pode suportar tudo, menos isso. Menos a ideia de perder um de seus filhos, menos a possibilidade de perder Vivienne. O peso dessa realidade é esmagador, cruel, impossível de aceitar. Seu corpo se recusa a reagir, sua mente luta contra a verdade que se desenha diante dele, mas nada consegue afastar o desespero que cresce.A vida não pode ser tão cruel. Não pode levá-la assim, sem dar sequer uma chance, sem permitir que ela lute, que respire, que viva. Seu peito se contrai em um aperto insuportável ao ver o pequeno corpo imóvel, frágil demais, silencioso demais. A equipe médica se move rápido, vozes trocando instruções, mãos ágeis tentando reverter a tragédia que ameaça se concretizar, mas tudo ao redor de Dominic parece distorcido, abafado, distante.Ele quer acredit
O choro fraco e entrecortado da bebê ainda ecoa pela sala, enquanto a equipe médica continua em ação, sem perder um único segundo, mas, para Dominic, aquele som frágil e hesitante é a melodia mais preciosa que já ouviu.O peso esmagador do medo continua em seu peito, mas, por um instante, aquele pequeno choro consegue acalmar a tempestade dentro dele. Ele nem percebe quando um sorriso leve se desenha em seus lábios, um reflexo involuntário, um alívio misturado às lágrimas quentes que continuam escorrendo. Ela lutou. Ela sobreviveu.E, enquanto os médicos seguem trabalhando freneticamente para estabilizá-la, preparando-a para ser levada à UTI neonatal, Dominic continua ali, incapaz de desviar o olhar, gravando cada pequeno movimento, cada som, cada segundo daquele momento. Porque, apesar de tudo, sua filha está viva.— Saturação em elevação. O ritmo cardíaco está estabilizando. — Anuncia a médica, a voz firme, mas ainda carregada de concentração, os olhos cravados no monitor, enquanto
A UTI está silenciosa, exceto pelos sons ritmados dos monitores e do ventilador que ainda auxilia Vivienne. Dominic permanece ao lado dela, recusando-se a sair, seus dedos entrelaçados aos dela, como se isso fosse o suficiente para ancorá-la à realidade. Ela ainda não acordou, e ele não sabe por quanto tempo mais conseguirá suportar essa espera.As horas passam lentamente, cada minuto uma tortura silenciosa. Enfermeiras entram e saem, monitorando os sinais vitais, ajustando medicações, trocando os fluidos intravenosos que a mantêm estabilizada. O barulho da porta se abrindo tira Dominic de seus pensamentos. Ele levanta o olhar rapidamente, o peito apertado de expectativa ao ver o pediatra neonatologista entrar na sala, segurando o prontuário dos bebês.— Alguma atualização sobre o quadro dos meus filhos? — Dominic questiona, a voz firme, mas carregada pelo peso das últimas horas.— Os bebês estão estáveis, mas, como previsto, precisarão permanecer na UTI neonatal para monitoramento e
Durante a troca de plantão e relatórios médicos, é exigido que Dominic deixe a UTI. Mesmo relutante, mesmo sentindo que cada minuto longe de Vivienne é um tormento, ele não tem escolha a não ser obedecer.Assim que passa pela porta da recepção, os olhares recaem sobre ele. Nicolas havia avisado Finn sobre o que estava acontecendo, e esse, por sua vez, entrou em contato com a família de Dominic. Agora, todos estão ali, aguardando por notícias, rostos marcados pela preocupação e incerteza. Todos, exceto um. Seu avô materno não foi avisado.Noah se levanta abruptamente e caminha na direção do irmão, a preocupação evidente em cada passo apressado. Mas o olhar de Dominic parece arder em fúria contida, um aviso silencioso, feroz, que o faz hesitar por um instante.E então, ele prossegue, ignorando a tensão no ar, mas é bruscamente afastado por Dominic, que o empurra sem sequer desviar o olhar de seu verdadeiro alvo. Ele não quer conversar, não quer consolo. O que ele quer é vingança. E vai
Sem esperar nenhuma resposta, Dominic desvia o olhar, sua atenção agora voltada para Louis. Sem dizer mais nada, sem sequer lançar um último olhar para Marc, ele simplesmente se vira e começa a caminhar pelo corredor, seguindo o tio.A cada passo, a fúria ainda pulsa dentro dele, mas agora, misturada a algo ainda pior, exaustão. Porque, por mais que tenha feito o que precisava ser feito, a única coisa que realmente importa continua fora do seu alcance. Vivienne continua inconsciente. Seus filhos continuam lutando. E ele ainda não pode fazer nada além de esperar.Na recepção, Nicolas e Leon trocam um olhar preocupado, ambos reconhecendo o peso da decisão de Dominic. Demitir Marc naquele momento, movido pela raiva e pela dor, poderia ter consequências que iam além daquela sala. Mas antes que qualquer um deles possa intervir, Noah toma a frente.Ele avança sem hesitação, os olhos fixos em Marc, que permanece impassível, sem sequer levantar as mãos para se defender ou argumentar. Ele sabe
O punho de Florence se fecha e, em um impulso cego, ela o desfere contra o vidro rachado. O impacto reverbera pelo cômodo abafado, estilhaços deslizando pela cômoda, espalhando-se pelo chão, cravando-se na pele cortada de sua mão. O sangue escorre quente entre seus dedos, mas ela não se importa. A dor é irrelevante diante da fúria que a consome. Eles falharam, e isso não deveria ter acontecido.A porta se escancara com um estrondo, fazendo-a se virar em um rompante. O olhar de Hugo a encontra no mesmo instante, percorrendo o caos ao redor com uma fúria contida, os olhos faiscando. Ele bate à porta atrás de si com violência, o impacto reverberando pelo cômodo e avança pelos destroços com passos firmes, a raiva pulsando em cada músculo tensionado, incendiando seu olhar.— Está satisfeita com a confusão que criou? — Hugo dispara, a voz carregada de raiva, enquanto seus punhos se cerram com força. — Tínhamos tudo sob controle, Florence. Podíamos sair ilesos, sem rastros, sem consequências
Florence só consegue parar quando o rosto de Hugo se torna irreconhecível, uma massa disforme de sangue e ossos quebrados. O castiçal escorrega de seus dedos manchados de vermelho, caindo no chão com um som oco. Seu corpo, exausto, despenca de cima dele, os pulmões arfando em um ritmo descompassado.Por alguns segundos, tudo ao redor parece se dissolver. O cheiro metálico do sangue preenche o ar pesado, misturado ao suor frio que escorre por sua pele. Ela ergue as mãos diante do próprio rosto, os dedos sujos, tingidos de sangue. E então, como um choque elétrico percorrendo seu corpo, a realidade a atinge.Ela engatinha pelo chão coberto de destroços, os joelhos arranhando-se no piso áspero, até alcançar a porta. Encosta-se nela, o coração martelando contra o peito, a respiração ainda irregular. Seus olhos se fixam no corpo sem vida estirado no chão, em meio à poça de sangue que lentamente se espalha.E então, algo dentro dela grita. Mas o som que escapa de seus lábios não é um lamento