No quarto, Dominic ouve o grito rasgado de dor de Vivienne, e algo dentro dele se parte. A necessidade de ir até ela, de envolvê-la nos braços, de protegê-la de tudo que a fere, se agita como uma fera dentro de seu peito. Mas ele se contém.Cerra os olhos com força, os punhos tremem ao lado do corpo, até que a frustração explode. Em um único movimento, soca a parede ao lado da porta, sentindo o impacto reverberar por cada fibra do seu ser. Como se, de alguma forma, pudesse tomar para si a dor dela. Como se pudesse carregá-la em seu lugar. Ele odeia estar ali, trancado e impotente.Entende que ela precisa enfrentar esse momento, precisa confrontar seu passado, mas isso não torna as coisas mais fáceis. Não diminui a dor sufocante de não estar ao lado dela. De não ser o escudo entre Vivienne e os demônios que a assombram. É insuportável. Difícil. E, acima de tudo, doloroso.— Droga, droga, droga. — Resmunga, passando as mãos pelos cabelos, caminhando de um lado para o outro no quarto, te
Vivienne se afasta bruscamente, rompendo o toque como se tivesse sido atingida por uma corrente elétrica. O choque percorre sua espinha em um arrepio gélido, cada fio de seu corpo reagindo ao veneno oculto nas palavras de Florence, à severidade impiedosa daquele olhar que sempre a fez se sentir pequena. Por um instante, o passado tenta arrastá-la de volta, o medo sufocante, a sensação de impotência, o peso de nunca ser suficiente.— Não toque nos meus bebês! — Vivienne vocifera, a voz saindo áspera, quase um grito, enquanto suas mãos se fecham sobre a barriga em um instinto primitivo de proteção.Florence arregala os olhos, os lábios entreabertos em choque, a incredulidade se transformando rapidamente em algo muito pior. Algo que fermenta, que consome, que devora cada traço de sua expressão com pura fúria.O sangue dela ferve. Uma fúria cega, irracional, se espalha por seu corpo como um veneno corrosivo, envenenando qualquer traço de racionalidade. Seu rosto se contorce, os olhos se t
Instantaneamente, Dominic congela, todo o ódio fervente, toda a raiva cega que pulsa em suas veias parece evaporar no instante em que ouve sua voz. É como se o mundo ao seu redor perdesse o som, como se o furacão dentro dele fosse brutalmente silenciado.— Não faça isso, Dom. — Vivienne implora, a voz fraca, mas carregada de urgência. — Não destrua a sua vida por alguém que nunca valeu nada. — Continua, seus dedos trêmulos deslizam pelas costas dele, buscando trazê-lo de volta para ela. — Ela não merece um segundo da nossa paz, não merece a nossa felicidade.Dominic enrijece sob o toque, a respiração pesada, o corpo inteiro vibrando com a fúria que, gradualmente, se dissipa. O calor dela, a presença dela, o simples fato de que ela está ali, real, viva, sua, é suficiente para fazê-lo ceder. Ela suspira, aliviada, no instante em que a mão dele finalmente se afasta do pescoço de Florence. Então, em um único movimento, Dominic se vira e a envolve em um abraço apertado. Seu corpo treme, os
Após Vivienne se acalmar, Dominic a conduz até a delegacia de Luxemburgo. O ambiente frio e impessoal contrasta com o turbilhão dentro dela, mas não há mais espaço para hesitação. Com a postura firme, mas o coração inquieto, ela formaliza a denúncia contra os pais, relatando em detalhes tudo o que suportou ao longo dos anos.As horas se arrastam, enquanto ela repete os acontecimentos inúmeras vezes, sentindo-se analisada a cada resposta. Era como se testassem sua resistência, como se esperassem que sua história vacilasse em algum ponto. Mas Vivienne não vacila. Cada palavra sai com a mesma precisão, porque a verdade, por mais dolorosa que fosse, estava cravada nela.Quando finalmente é liberada, sente o peso da exaustão sobre os ombros, mas também um alívio discreto. Pela primeira vez, sua voz foi ouvida. E agora, uma investigação começará, uma que ultrapassará fronteiras e envolverá as autoridades de Liechtenstein. O jogo havia mudado, e desta vez, ela não seria a peça sacrificada.A
Os olhos de Vivienne brilham, marejados, transbordando emoção. Um agradecimento silencioso ilumina seu olhar, não apenas por tê-lo ao seu lado, mas por ser amada de um jeito tão profundo, tão incondicional, que envolve seu coração como um abraço cálido, aquecendo cada pedaço de sua alma.— Sorte a nossa de ter você em nossas vidas. — Vivienne murmura, a voz carregada de amor e gratidão.Ela se inclina para ele, os olhos refletindo a profundidade do que sente, e deposita mais um beijo em seus lábios, suave, demorado, como se quisesse eternizar naquele toque todo o amor que transborda em seu coração.— Você já tomou café? — Dominic pergunta, a voz suave, enquanto seus dedos deslizam carinhosamente pelo rosto dela, como se cada toque fosse uma forma silenciosa de demonstrar seu cuidado.— Ainda não. — Responde, afastando-se suavemente. — Você me acompanha? — Pergunta, observando, enquanto ele confere o horário no relógio de pulso. — Tudo bem se não puder. — Acrescenta, sua voz compreensi
Ao retornar ao quarto, Vivienne sorri ao perceber o que havia deixado passar ao acordar. Sobre a cômoda repousa uma rosa delicada, ao lado do tradicional bilhete que já se tornou parte das suas manhãs.“Hoje te amo mais que ontem, e ainda assim, é apenas uma fração do que te amarei amanhã.”O coração dela se aquece instantaneamente. Esse gesto de Dominic se tornou um hábito precioso, uma prova silenciosa de seu amor inabalável. Sempre que ele acorda antes dela e a deixa dormindo, Vivienne desperta com uma rosa e essas palavras que envolvem sua alma como um abraço. São pequenas declarações que, dia após dia, fazem seu amor crescer ainda mais e a certeza de que, ao lado dele, nunca haverá um único amanhecer sem amor.O toque do telefone a puxa de seus devaneios, dissipando o calor suave da emoção que ainda envolvia seu coração. Piscando algumas vezes, Vivienne rapidamente atende, afastando a rosa e o bilhete com um último olhar carinhoso antes de levar o aparelho ao ouvido.— Bom dia, mi
Noah percorre o olhar por cada detalhe dela, como se estivesse memorizando sua presença ali, absorvendo cada nuance das mudanças desde a última vez que se viram. Há um brilho sutil em seus olhos, talvez algo mais profundo, mas ele não desvia, nem tenta disfarçar o impacto de tê-la diante de si, tão próxima e, ao mesmo tempo, inalcançável.— Obrigada, Noah. — Vivienne agradece, a voz suave, mas carregada de um constrangimento evidente. O encontro inesperado a deixa inquieta, e a única coisa que deseja agora é sair dali. — Bem, vou procurar o Dominic. — Informa, rapidamente, virando-se para sair, como se o simples ato de dar as costas pudesse dissipar a tensão que paira no ar. — Podemos conversar por alguns minutos? — Pergunta, deslizando os dedos pelos cabelos em um gesto automático.Vivienne hesita por um instante, fechando os olhos brevemente, como se precisasse reorganizar os pensamentos antes de se virar para encará-lo novamente.— Claro. — Responde, dando alguns passos hesitantes
O ar parece mudar instantaneamente. Noah sente seu corpo se enrijecer e Vivienne se vira, encontrando Dominic parado na porta. Ele não está com raiva, nem irritado, parece tranquilo, seguro de si, como sempre.Sem pressa, ele caminha até Vivienne e, diferente de todas às vezes, não beija seus lábios. Em vez disso, deposita um beijo suave em sua bochecha. O gesto, discreto, mas significativo, carrega uma mensagem silenciosa que ela compreende de imediato.Ele não faz isso por dúvida ou hesitação, mas por consideração. Por poupar o irmão de uma exposição desnecessária. Um detalhe sutil, mas que só reforça o homem que Dominic é firme, seguro, mas com uma dignidade que o impede de agir com desnecessária crueldade. — Noah, pare de viver no passado. — Dominic declara, a voz firme, mas sem hostilidade, enquanto estende uma pasta na direção do irmão. — Se continuar assim, vai deixar escapar as oportunidades que a vida está te oferecendo. — Acrescenta, sem rodeios, como quem já aprendeu que o