Alejandro observa o bolo mais uma vez e sorri de canto, como se planejasse algo. Ele passa a mão pelo cabelo, ajeitando os fios bagunçados pelo vento do helicóptero, e me lança aquele olhar que sempre faz meu coração disparar.— Então, Luna... — começa ele, aproximando-se da mesa com uma lentidão calculada. — Acha mesmo que vou comer esse bolo agora?— Não acha que está bonito o suficiente? — provoco, cruzando os braços e tentando esconder o sorriso.Ele dá uma risada baixa, quase rouca, e balança a cabeça.— Não é isso. Eu só pensei... — Ele dá um passo à frente, seu olhar se tornando um misto de malícia e carinho. — Que talvez possamos escapar por uns minutinhos.— Alejandro! — exclamo, fingindo um tom de reprovação enquanto Marta, que acabara de voltar para checar o pão no forno, solta uma gargalhada.— Eu não ouvi isso — diz ela, tapando os ouvidos teatralmente, mas ainda rindo. — Aproveitem, eu fico de olho nas crianças.Ele não espera outra palavra. Alejandro se aproxima e me ab
Alejandro ainda está com o sorriso estampado no rosto, mas há algo mais em seus olhos agora – uma faísca que faz meu coração acelerar. Ele limpa o restante do glacê da bochecha com a mão e, de repente, a energia na cozinha muda.— Luna... — Ele começa, a voz mais grave, enquanto dá um passo à frente.— O quê? — pergunto, tentando soar desafiadora, mas minha voz sai mais baixa do que eu queria.— Você acabou de começar uma guerra. — Ele pisca para mim, mas sua expressão deixa claro que ele já planejou como vencer.—Alejandro... — digo, recuando um passo, mas ele é mais rápido.Com um movimento ágil, Alejandro me pega pela cintura e me levanta como se eu não pesasse nada. Eu solto um gritinho, rindo, enquanto ele me carrega para fora da cozinha, ignorando completamente os protestos abafados de Marta que resmungava algo sobre “não acreditar no que está vendo”.— Alejandro! As crianças estão no jardim! — exclamo, tentando soar séria, mas o riso não me deixa.— Exatamente por isso que esta
Luna HernandezEnquanto o trem para na estação de Ronda, sinto o peso da longa viagem começar a se dissipar. O ar quente da Andaluzia, carregado com o aroma das oliveiras e dos campos ao redor, me envolve assim que piso na plataforma. Estou um pouco desnorteada, mas aliviada por finalmente estar aqui, mesmo que não saiba exatamente o que esperar dos próximos meses.Pego minha mala de rodinhas, uma velha companheira de viagem, e me dirijo para a pequena cafeteria no final da estação. Tomo um momento para apreciar o cenário ao meu redor: as colinas onduladas, a vegetação mediterrânea e o céu claro, sem uma única nuvem. É uma visão diferente da que estou acostumada em Sevilha, onde o ritmo frenético da cidade raramente me dá espaço para respirar.Enquanto espero na fila para pegar um café, checo rapidamente meu telefone. Há uma mensagem de Marta, minha amiga de longa data e, mais recentemente, minha nova chefe:Mensagem de Marta para Luna às 10:15 da manhã: "Bem-vinda à Marbella! Espero
Agradeço com um sorriso, sentindo-me um pouco mais à vontade. Depois de toda a grandiosidade que vi, é bom ter um espaço só meu, mesmo que seja pequeno.— E, por fim, gostaria de te apresentar a Alejandro — diz Marta, mencionando o nome com uma leve hesitação, que não passa despercebida. — Ele assumiu todas as responsabilidades na empresa. É ele quem vai estar mais presente aqui durante o verão.Há algo no tom dela que me faz sentir um frio na espinha. Ela não diz mais nada sobre Alejandro, e eu não pergunto, mas a forma como ela evita contato visual enquanto fala dele me deixa intrigada.— Agora, descanse um pouco — Marta sugere, sorrindo novamente. — Eu sei que a viagem foi longa. Quando estiver pronta, podemos começar a explorar mais a fundo suas tarefas.Assinto e, assim que Marta sai do quarto, deixo-me cair na cama. Fecho os olhos por um momento, tentando processar tudo o que está acontecendo. Este lugar, esta casa, tudo é tão diferente de tudo o que conheço. E, embora haja um c
LunaAo despertar com os primeiros raios de sol, sinto uma mistura de cansaço e determinação. Desde que me mudei para o majestoso casarão dos Castillo, minha vida mudou de maneira inesperada. Abandonei o aconchego da casa dos meus pais, situada em uma pequena vila nas montanhas, para enfrentar um novo começo em um mundo completamente diferente.Meu pai, que outrora fora um agricultor robusto, agora enfrenta dificuldades que o impedem de trabalhar como antes, tornando-se dependente da minha renda. Em Sevilha, onde vivíamos, o papel das mulheres jovens muitas vezes se resume a trabalhar em tabernas tradicionais, onde a competição é feroz e as oportunidades são escassas.Quando recebi o convite de Marta, minha antiga vizinha, para trabalhar no casarão dos Castillo, enxerguei nele uma oportunidade valiosa. O salário é bom e, com isso, poderei apoiar minha família. Essa é uma chance que eu não poderia deixar passar, embora eu tenha minhas reservas e uma esperança silenciosa de que não venh
A manhã está clara, os primeiros raios de sol já iluminam as colinas ao redor da Villa, mas dentro de mim, tudo parece envolto em sombras. Os momentos com Alejandro na noite passada me assombram, como um eco que não se cala. Há algo nele que não consigo entender, algo que me atrai e me repele ao mesmo tempo.— Luna, não se preocupe tanto — Marta interrompe meus pensamentos, sua voz suave, mas firme. — Sei que Alejandro pode ser... complicado, mas você vai se adaptar. Ele é mais humano do que parece, apenas esconde isso muito bem.Assinto, mas as palavras dela não conseguem dissipar o frio que sinto na espinha ao lembrar do olhar de Alejandro, como se ele estivesse me despindo de todas as minhas defesas.Após tomar meu café, pergunto:— O que preciso fazer primeiro?Marta entrega-me uma lista de tarefas escritas à mão, com uma caligrafia elegante e clara. À medida que leio, sinto um misto de nervosismo e excitação. As tarefas variam desde limpar os quartos e organizar a biblioteca, até
— Eu? Nunca! — respondo, me levantando e tentando manter a compostura. Mas ao notar que ele continua me encarando, uma sensação estranha surge. Ele arqueia uma sobrancelha e solta um "Duvido" em um tom desafiador.—E esse seu vestido levantado, o que significa então?Confusa, olho para mim mesma e sinto meu rosto queimar de vergonha ao perceber que meu vestido ficou preso na calcinha quando usei o banheiro.Oh, céus! Isso não pode estar acontecendo comigo!Eu nunca usei vestidos e a correria está tão grande para deixar tudo impecável ocorreu isso. Meu coração dispara enquanto tento desesperadamente puxar o tecido de volta ao lugar, sentindo a humilhação se apoderar de mim.— Eu não vi que estava assim — murmuro, mortificada, evitando encará-lo.A expressão de Alejandro não muda, mas sinto como se ele estivesse rindo por dentro, como se minha situação apenas confirmasse alguma crença preconcebida que ele tem sobre mim. Seus olhos carregam uma mistura de diversão e ceticismo, como se j
Dois dias depois...LunaEstou na cozinha, tentando me manter ocupada com as pequenas tarefas que me foram dadas, quando Marta entra. Com seu jeito autoritário de sempre, os passos firmes e a expressão que diz tudo sem precisar de palavras, já posso sentir que vem algo que não vou gostar.— Luna — ela chama, direta. — Preciso que você sirva Alejandro e o Sr. Vargas na sala.Meu estômago revira. Alejandro está com um convidado importante, e a última coisa que quero é me colocar em uma situação em que posso... bem, fazer o que sempre faço. Desastres. Desde pequena, sempre fui conhecida como a garota mais atrapalhada da minha rua. Tropeçar nos próprios pés, esbarrar em móveis ou derrubar qualquer coisa nas horas mais inoportunas já virou rotina. Minha família e amigos aprenderam a rir disso, e eu... bem, tento não me importar. Mas aqui, no casarão dos Castillo, ser desastrada não é exatamente uma qualidade.Tento manter a compostura, mas a ansiedade já começa a crescer no fundo da minha