— Eu? Nunca! — respondo, me levantando e tentando manter a compostura. Mas ao notar que ele continua me encarando, uma sensação estranha surge. Ele arqueia uma sobrancelha e solta um "Duvido" em um tom desafiador.
—E esse seu vestido levantado, o que significa então?
Confusa, olho para mim mesma e sinto meu rosto queimar de vergonha ao perceber que meu vestido ficou preso na calcinha quando usei o banheiro.
Oh, céus! Isso não pode estar acontecendo comigo!
Eu nunca usei vestidos e a correria está tão grande para deixar tudo impecável ocorreu isso.
Meu coração dispara enquanto tento desesperadamente puxar o tecido de volta ao lugar, sentindo a humilhação se apoderar de mim.
— Eu não vi que estava assim — murmuro, mortificada, evitando encará-lo.
A expressão de Alejandro não muda, mas sinto como se ele estivesse rindo por dentro, como se minha situação apenas confirmasse alguma crença preconcebida que ele tem sobre mim. Seus olhos carregam uma mistura de diversão e ceticismo, como se já estivesse acostumado a lidar com situações assim, como se esperasse que eu fosse exatamente como ele pensa.
Meus dedos tremem enquanto ajusto o vestido, tentando não me deixar abater pelo desconforto. Tudo em mim grita para sair correndo dali, mas ao mesmo tempo, há algo na maneira como ele me olha que me mantém enraizada no lugar, desafiando-o sem querer.
— Pode rir à vontade — digo, finalmente encarando-o de volta, tentando recuperar um pouco de dignidade. — Eu sei que deve estar se divertindo com isso.
Ele esboça um leve sorriso, mas apenas com um arquear de canto de boca, seus olhos permanecem atentos, quase críticos.
— Não estou rindo — ele responde, mas o tom de voz carrega uma ironia difícil de ignorar. — Só me pergunto até onde vai essa farsa.
—Farsa?
—Sim, esse fingimento de inocência.
Sua provocação me atinge como um golpe. Ele realmente acha que me conhece, que sou apenas mais uma tentando me encaixar em algum estereótipo que ele já criou na mente.
— Você não sabe nada sobre mim — retruco, com mais firmeza do que esperava encontrar.
Alejandro inclina a cabeça levemente, como se estivesse avaliando minhas palavras. Seus olhos, tão frios e calculistas, me analisam novamente, mas dessa vez, há uma faísca de interesse, como se ele finalmente estivesse percebendo que eu não sou tão simples quanto ele pensava.
— Talvez não saiba mesmo — ele admite, dando um passo para trás, mas sem perder o contato visual. — Mas o pouco que tenho visto é sinônimo de problemas.
Essa última frase, dita com tanta naturalidade, me deixa sem palavras. Alejandro então se afasta, a presença dele ainda carregando aquele ar de desafio, deixando-me sozinha para lidar com o turbilhão de sentimentos que ele acabou de provocar.
Droga! O dia mal começou, mas já sinto o peso de tudo que me aguarda. O riso dele, combinado com o olhar desafiador, me deixou com uma sensação desconfortável, como se eu tivesse sido avaliada e julgada. Tento me recompor, sentindo a vergonha se dissolver lentamente em uma mistura de frustração e determinação.
O casarão dos Castillo é como um labirinto de emoções e expectativas que me puxa para diferentes direções. Alejandro, com aquele olhar penetrante e suas provocações, mexeu comigo de um jeito que eu não esperava. Tento me focar nas palavras de Marta e Maria, mas ele está em todos os meus pensamentos.
Volto minha atenção para o trabalho, mas cada cômodo que limpo, cada tarefa que realizo, é feita com a sombra de Alejandro pairando sobre mim. A vergonha pelo incidente com meu vestido me queima por dentro, mas, ao mesmo tempo, sinto uma faísca de raiva.
Que direito ele tem de me julgar uma rameira?
Com um pano de pó nas mãos, esfrego a mesinha de centro com mais força do que o necessário. Tentando esfriar a cabeça concentro-me no trabalho restante, mas a mente continua girando em torno do encontro com Alejandro. As palavras dele reverberam na minha mente.
Eu não vou deixar que ele me desestabilize. Estou aqui para fazer o meu trabalho e encontrar meu lugar, e vou me esforçar para enfrentar qualquer desafio que surgir.
Com o resto do dia se desenrolando, vou me dedicando às tarefas, tentando focar nas exigências da casa e na preparação para o jantar importante. Cada movimento é feito com uma mistura de concentração e uma leve tensão causada pela interação com Alejandro.
Marta surge na sala.
—Alejandro resolveu marcar para outro dia a recepção aos convidados. Está com uma dor de cabeça terrível. Me pediu até um remédio para aliviar a dor.
Suspiro.
—Então podemos relaxar.
Ela ri.
—Não. Você ainda tem todo pátio para varrer.
Eu sorrio sem humor.
—Tudo bem.
—Ah, antes de ir, gostaria de saber, o que deu você com aquele rapaz que sempre fica rondando sua casa?
—Juan Carlos?
—Ele mesmo.
— Somos amigos.
Marta me olha com um sorriso experiente, como se soubesse mais do que eu mesma.
— Mas isso não é o desejo dele. Não sei como você não percebe.
Meu corpo fica tenso, como se eu tivesse sido pega de surpresa em um pensamento que nem eu mesma queria confrontar. Eu fico olhando para ela e ela balança a cabeça, murmurando algo sobre "jovens e suas complicações" e então se afasta.
Suspiro, pegando a vassoura para varrer o pátio, enquanto uma nova onda de pensamentos me invade.
Tenho deixado Juan perto o suficiente para preencher um vazio que nem sei como nomear? Alimentado assim esperanças de algo mais entre nós?
Dios! Isso não é certo.
O vento fresco do pátio é um alívio, mas minha mente continua ocupada, inquieta. Mas não em Juan e aquilo que Marta acabou de me dizer e sim com Alejandro, com sua presença desafiadora. E, de alguma forma, sei que esse encontro com ele é apenas o início de algo que ainda não consigo entender completamente.
Dois dias depois...LunaEstou na cozinha, tentando me manter ocupada com as pequenas tarefas que me foram dadas, quando Marta entra. Com seu jeito autoritário de sempre, os passos firmes e a expressão que diz tudo sem precisar de palavras, já posso sentir que vem algo que não vou gostar.— Luna — ela chama, direta. — Preciso que você sirva Alejandro e o Sr. Vargas na sala.Meu estômago revira. Alejandro está com um convidado importante, e a última coisa que quero é me colocar em uma situação em que posso... bem, fazer o que sempre faço. Desastres. Desde pequena, sempre fui conhecida como a garota mais atrapalhada da minha rua. Tropeçar nos próprios pés, esbarrar em móveis ou derrubar qualquer coisa nas horas mais inoportunas já virou rotina. Minha família e amigos aprenderam a rir disso, e eu... bem, tento não me importar. Mas aqui, no casarão dos Castillo, ser desastrada não é exatamente uma qualidade.Tento manter a compostura, mas a ansiedade já começa a crescer no fundo da minha
Um dia depois....LunaDroga! Droga! Droga!Não era minha intenção provocá-lo, mas parece que, de alguma forma, tudo o que faço o afeta. E hoje não foi diferente. Minha cabeça gira enquanto me deito na cama, incapaz de esquecer o olhar de Alejandro. Rolo na cama, pensando nisso.Essa tarde parecia tão comum, até ele aparecer. Eu só queria um pouco de paz; o jardim sempre me trouxe isso. É o único lugar onde sinto algum tipo de controle. Mas então ele apareceu.Alejandro, com aquela presença que parece preencher o espaço ao seu redor. Seus olhos fixos em mim, intensos, me desestabilizaram. A tensão era palpável. Ele estava calmo, controlado, como sempre, mas havia algo no ar entre nós que parecia pronto para explodir. E aí... eu fiz aquilo.Droga, Luna!Água!Na camisa dele!No peito dele!A cena se repete nítida em meus pensamentos.Enquanto ele estava no escritório, decidi passar algum tempo no jardim. Era uma tarefa simples, quase automática, que me permitia espairecer e processar t
Um dia depois....LunaA casa amanheceu impecável. Cada canto, cada detalhe estava exatamente como deveria estar. As janelas brilhavam à luz do sol, os móveis estavam polidos, e o chão refletia o trabalho árduo do dia anterior. Eu me sinto aliviada ao ver que tudo está em ordem. Ao menos isso está sob controle.Encontro Marta na cozinha, ocupada com os preparativos matinais. Seu sorriso acolhedor ilumina o ambiente.— A casa está impecável, Marta — digo, com um misto de alívio e satisfação. — Tudo correu bem — apesar de ontem...Ela ergue o olhar e sorri, enxugando as mãos em um pano de prato.— Eu percebi, Luna. Você fez um bom trabalho. Sabe, se quiser ficar por aqui e me dar uma mão na cozinha, seria de grande ajuda hoje. Tenho um monte de coisas para preparar — Marta sugere, com um brilho convidativo nos olhos.Sorrio de volta, grata pela oportunidade de fugir dos meus próprios pensamentos por um tempo.— Claro, ficarei feliz em ajudar — respondo, pegando um avental e me aproximan
Saio apressada do quarto, o coração acelerado. Corro de volta para a sala, já imaginando o pior, quando paro bruscamente na porta. Lá está Alejandro, de pé, segurando minha calcinha pendurada no dedo indicador, balançando como se fosse uma bandeirinha de rendas e a analisando como se fosse um bicho.Faço barulho com a garganta. Ele me encara e então sorri, aquele sorriso que sempre me deixa confusa, como se soubesse exatamente o que está fazendo. A vergonha atinge meu rosto instantaneamente.— Procurando isso? — ele pergunta, o sorriso provocador iluminando seu rosto.O que eu digo agora? “Não era para você ver isso”? Não, isso definitivamente não funciona com ele.Meu rosto pega fogo na hora. Quero desaparecer. Minha calcinha, nas mãos de Alejandro, o homem mais arrogante e irritantemente lindo que já conheci. Ótimo.—Posso saber o que isto está fazendo aqui? — ele pergunta, a voz grave carregada de diversão.O calor sobe em mim, e a única coisa que consigo pensar é que quero me ente
LunaA manhã está tranquila, quase calma demais para a rotina normalmente agitada da Villa. Marta pediu um favor: consertar uma das prateleiras na sala de estar, já que, segundo ela, o pessoal da manutenção ainda não tinha tido tempo. Eu, claro, aceitei. O que pode ser tão difícil em apertar alguns parafusos? Nunca fui o tipo de pessoa que foge de um desafio, ainda mais quando envolve fazer algo prático.A sala de estar está deserta, com exceção de mim e a tal prateleira que, agora que olho de perto, parece um pouco mais complicada do que eu esperava. Respiro fundo, determinada, e pego as ferramentas que Marta deixou preparadas.“Simples, Luna, só seguir o plano”, murmuro para mim mesma e uma pequena prece para que tudo corra bem.Subo na pequena escada e começo a trabalhar, ajustando a prateleira que parece ligeiramente solta na parede. O martelo em minhas mãos parece mais pesado do que o esperado, e ao primeiro golpe, uma pequena nuvem de poeira sobe, me fazendo espirrar alto.— Atc
AlejandroEu me afasto um pouco, observando Luna enquanto ela ainda tenta, com teimosia, colocar a prateleira no lugar. Mesmo depois de eu já ter praticamente resolvido o problema, ela insiste em ajustar os pequenos detalhes. E, por mais que eu ache engraçado vê-la lutando contra uma peça de madeira, algo dentro de mim se agita de uma forma que não deveria.Ela é diferente. Sempre foi. Desde o primeiro dia em que apareceu aqui, há algo nela que me puxa, algo que me faz querer estar por perto, mesmo sabendo que deveria manter distância. As risadas desajeitadas, os pequenos desastres, a maneira como ela tenta controlar o que claramente está fora de seu alcance... tudo nela me atrai de um jeito perigoso. Eu, que sempre controlei cada aspecto da minha vida, estou cada vez mais envolvido por essa mulher que parece transformar caos em normalidade.Mas o problema é que eu já senti isso antes.Luna me lembra demais de Isabella, a mulher que uma vez me fez baixar a guarda, me fez acreditar que
LunaA lavanderia está silenciosa, exceto pelo leve zumbido das máquinas de lavar ao fundo. Estou sozinha, organizando as roupas sujas que precisam ser lavadas. No meio da pilha, uma camisa se destaca. Reconheço o tecido macio, e assim que meus dedos a tocam, sei que é dele. Alejandro.A camisa ainda está impregnada com o perfume dele, uma fragrância inebriante, suave, mas marcante. Meu coração acelera. Eu deveria simplesmente jogá-la na máquina junto com as outras peças, mas, em vez disso, hesito. O cheiro dele me chama de uma forma inexplicável, como se o tecido guardasse algo mais profundo, algo que Alejandro nunca revelaria voluntariamente.Antes que eu consiga me controlar, trago a camisa até o rosto. O perfume masculino, quente e envolvente, invade meus sentidos, me transportando para todos os momentos em que estivemos próximos. Fecho os olhos, e por um instante, o mundo desaparece. Só existe aquele cheiro e a lembrança de cada troca de olhares, cada palavra não dita entre nós.
Dois dias depois...LunaO jardim tem se tornado meu refúgio na Villa Castillo. O som das ondas quebrando contra as rochas, o ar salgado e fresco... é como se o mundo lá fora simplesmente deixasse de existir. Cada vez que me perco entre as flores e o verde vibrante, consigo esquecer um pouco a pressão que sinto dentro da casa.Conviver com Alejandro tem sido um desafio constante. Sua presença fria e distante, misturada com a aura de autoridade que ele emana, é quase opressiva. Ele me trata com indiferença, como se eu fosse uma sombra em seu mundo turbulento. Essa atitude só aumenta a tensão entre nós, e a cada confronto, parece que o peso da situação se torna ainda mais insuportável.Apesar do desprezo que ele demonstra, há uma atração estranha e complexa que eu não consigo negar. Ele tem uma intensidade que, de algum modo, me atrai, mesmo que isso vá contra a raiva e a desconfiança que sinto. E o fato de ele não notar o impacto que tem sobre mim só intensifica essa frustração.Hoje,