Luna Hernandez
Enquanto o trem para na estação de Ronda, sinto o peso da longa viagem começar a se dissipar. O ar quente da Andaluzia, carregado com o aroma das oliveiras e dos campos ao redor, me envolve assim que piso na plataforma. Estou um pouco desnorteada, mas aliviada por finalmente estar aqui, mesmo que não saiba exatamente o que esperar dos próximos meses.
Pego minha mala de rodinhas, uma velha companheira de viagem, e me dirijo para a pequena cafeteria no final da estação. Tomo um momento para apreciar o cenário ao meu redor: as colinas onduladas, a vegetação mediterrânea e o céu claro, sem uma única nuvem. É uma visão diferente da que estou acostumada em Sevilha, onde o ritmo frenético da cidade raramente me dá espaço para respirar.
Enquanto espero na fila para pegar um café, checo rapidamente meu telefone. Há uma mensagem de Marta, minha amiga de longa data e, mais recentemente, minha nova chefe:
Mensagem de Marta para Luna às 10:15 da manhã: "Bem-vinda à Marbella! Espero que a viagem tenha sido tranquila. Quando estiver pronta, venha direto para a Villa Castillo. Estou ansiosa para te ver."
Dou um sorriso tímido. O motivo para estar aqui, a quilômetros de casa, é um trabalho como empregada na casa da família Castillo, uma das mais influentes da região. Marta, que é responsável por administrar a casa de veraneio dos Castillo, conseguiu me indicar para o cargo quando soube que eu estava a procurar trabalho desesperadamente.
Sempre fui apaixonada por literatura, mas não consegui concluir minha licenciatura e lecionar. Quando Marta me ofereceu a oportunidade de trabalhar na Costa Brava, hesitei no início, mas a ideia de passar um tempo em um lugar novo, cercada pelo mar e pela natureza, parecia irresistível.
Agora que estou aqui, a realidade começa a se instalar. Eu, uma garota simples de Sevilha, passando o verão em uma luxuosa vila à beira-mar, trabalhando para uma família milionária.
Pego meu café e me sento em uma das mesas externas, aproveitando o calor do sol em meu rosto. Tomo um gole e respiro fundo, tentando acalmar os nervos antes de seguir para a vila.
A verdade é que estou ansiosa. Não sei como será trabalhar para uma família tão distinta. Perdida em pensamentos, quase não percebo quando um táxi para em frente à estação. O motorista, um homem idoso com um sorriso gentil, desce e abre o porta-malas para mim.
— Está indo para a Villa Castillo? — pergunta, como se soubesse exatamente quem eu sou.
Assinto com a cabeça, tentando não demonstrar minha hesitação. Coloco minha bagagem no carro e me acomodo no banco traseiro. Enquanto o táxi desliza pelas ruas tranquilas de Porto Cervo, tento me preparar mentalmente para o que está por vir.
A Villa Castillo é ainda mais impressionante do que eu havia imaginado. Situada em um penhasco com vista para o mar, a casa é uma mistura elegante de arquitetura tradicional italiana com toques modernos. O jardim, repleto de flores coloridas, se estende até a borda do penhasco, onde o azul do mar se funde com o céu.
Quando o táxi para, Marta já está à minha espera. Ela acena com entusiasmo e vem ao meu encontro, um sorriso caloroso no rosto.
— Luna! Que bom que você chegou. Como foi a viagem? — pergunta, enquanto me abraça com familiaridade.
— Foi tranquila. Estou encantada com o lugar — respondo, ainda meio deslumbrada pela beleza ao meu redor.
— O lugar é lindo mesmo. Agora vou te apresentar à casa e às suas responsabilidades — Marta continua, com um tom prático, mas acolhedor.
Enquanto Marta me guia pela Vila Castillo, sou tomada por uma mistura de admiração e apreensão. A casa é imensa, com corredores amplos e decorados com móveis de luxo, que contrastam fortemente com a simplicidade do lugar de onde venho. As paredes são adornadas com pinturas que parecem relíquias de outra era, e cada peça de mobília parece ter sido escolhida a dedo para compor uma atmosfera de elegância e poder.
— Aqui é a sala de estar principal — diz Marta, gesticulando para um espaço que parece saído de uma revista de decoração. — A família costuma passar as noites aqui quando estão na casa. E é claro que o jardim é um dos lugares favoritos deles, especialmente nas tardes de verão.
Ela me leva por um conjunto de portas de vidro que dão acesso ao jardim. A vista é deslumbrante. O mar se estende até onde os olhos alcançam, e o som das ondas batendo nas rochas lá embaixo é quase hipnotizante. O jardim em si é um espetáculo à parte, com flores de todas as cores e formas que contrastam com o verde vibrante da grama e das árvores ao redor.
— É lindo demais, Marta — digo, sentindo-me um pouco intimidada por tudo isso. — Nem parece real.
Marta sorri, como se entendesse exatamente o que estou sentindo.
— Eu sei que pode parecer um pouco demais no começo, mas você vai se acostumar. A Vila pode ser grandiosa, mas a rotina aqui é bem simples. E não se preocupe, estarei por perto para te ajudar com qualquer coisa.
Enquanto caminhamos de volta para dentro, Marta continua explicando as minhas tarefas diárias. Elas incluem cuidar da limpeza das áreas comuns, manter os quartos arrumados, ajudar na cozinha quando necessário, e atender a família com o que precisarem. É um trabalho que exige muita atenção aos detalhes, algo que, de certa forma, me conforta. Adoro a ideia de colocar as coisas em ordem, de criar harmonia a partir do caos, mesmo que seja apenas dobrando lençóis ou polindo móveis.
— E, claro —entramos num grande e largo corredor —uma das suas responsabilidades principais será garantir que tudo esteja impecável quando os Castillo tiverem convidados. Eles costumam dar festas e receber muitas visitas, especialmente durante o verão.
Marta me mostra os quartos. Eles são tão luxuosos quanto o resto da casa, com camas imensas cobertas por lençóis de seda e janelas que oferecem vistas panorâmicas do mar. Ela me leva até o meu próprio quarto, uma pequena, mas aconchegante suíte, decorada de forma simples, mas confortável.
— Este será o seu espaço — diz ela, abrindo a porta e deixando-me entrar primeiro. — Sei que pode ser um pouco intimidante no começo, mas você vai se sair muito bem, Luna. E, se precisar de algo, sabe onde me encontrar.
Agradeço com um sorriso, sentindo-me um pouco mais à vontade. Depois de toda a grandiosidade que vi, é bom ter um espaço só meu, mesmo que seja pequeno.— E, por fim, gostaria de te apresentar a Alejandro — diz Marta, mencionando o nome com uma leve hesitação, que não passa despercebida. — Ele assumiu todas as responsabilidades na empresa. É ele quem vai estar mais presente aqui durante o verão.Há algo no tom dela que me faz sentir um frio na espinha. Ela não diz mais nada sobre Alejandro, e eu não pergunto, mas a forma como ela evita contato visual enquanto fala dele me deixa intrigada.— Agora, descanse um pouco — Marta sugere, sorrindo novamente. — Eu sei que a viagem foi longa. Quando estiver pronta, podemos começar a explorar mais a fundo suas tarefas.Assinto e, assim que Marta sai do quarto, deixo-me cair na cama. Fecho os olhos por um momento, tentando processar tudo o que está acontecendo. Este lugar, esta casa, tudo é tão diferente de tudo o que conheço. E, embora haja um c
LunaAo despertar com os primeiros raios de sol, sinto uma mistura de cansaço e determinação. Desde que me mudei para o majestoso casarão dos Castillo, minha vida mudou de maneira inesperada. Abandonei o aconchego da casa dos meus pais, situada em uma pequena vila nas montanhas, para enfrentar um novo começo em um mundo completamente diferente.Meu pai, que outrora fora um agricultor robusto, agora enfrenta dificuldades que o impedem de trabalhar como antes, tornando-se dependente da minha renda. Em Sevilha, onde vivíamos, o papel das mulheres jovens muitas vezes se resume a trabalhar em tabernas tradicionais, onde a competição é feroz e as oportunidades são escassas.Quando recebi o convite de Marta, minha antiga vizinha, para trabalhar no casarão dos Castillo, enxerguei nele uma oportunidade valiosa. O salário é bom e, com isso, poderei apoiar minha família. Essa é uma chance que eu não poderia deixar passar, embora eu tenha minhas reservas e uma esperança silenciosa de que não venh
A manhã está clara, os primeiros raios de sol já iluminam as colinas ao redor da Villa, mas dentro de mim, tudo parece envolto em sombras. Os momentos com Alejandro na noite passada me assombram, como um eco que não se cala. Há algo nele que não consigo entender, algo que me atrai e me repele ao mesmo tempo.— Luna, não se preocupe tanto — Marta interrompe meus pensamentos, sua voz suave, mas firme. — Sei que Alejandro pode ser... complicado, mas você vai se adaptar. Ele é mais humano do que parece, apenas esconde isso muito bem.Assinto, mas as palavras dela não conseguem dissipar o frio que sinto na espinha ao lembrar do olhar de Alejandro, como se ele estivesse me despindo de todas as minhas defesas.Após tomar meu café, pergunto:— O que preciso fazer primeiro?Marta entrega-me uma lista de tarefas escritas à mão, com uma caligrafia elegante e clara. À medida que leio, sinto um misto de nervosismo e excitação. As tarefas variam desde limpar os quartos e organizar a biblioteca, até
— Eu? Nunca! — respondo, me levantando e tentando manter a compostura. Mas ao notar que ele continua me encarando, uma sensação estranha surge. Ele arqueia uma sobrancelha e solta um "Duvido" em um tom desafiador.—E esse seu vestido levantado, o que significa então?Confusa, olho para mim mesma e sinto meu rosto queimar de vergonha ao perceber que meu vestido ficou preso na calcinha quando usei o banheiro.Oh, céus! Isso não pode estar acontecendo comigo!Eu nunca usei vestidos e a correria está tão grande para deixar tudo impecável ocorreu isso. Meu coração dispara enquanto tento desesperadamente puxar o tecido de volta ao lugar, sentindo a humilhação se apoderar de mim.— Eu não vi que estava assim — murmuro, mortificada, evitando encará-lo.A expressão de Alejandro não muda, mas sinto como se ele estivesse rindo por dentro, como se minha situação apenas confirmasse alguma crença preconcebida que ele tem sobre mim. Seus olhos carregam uma mistura de diversão e ceticismo, como se j
Dois dias depois...LunaEstou na cozinha, tentando me manter ocupada com as pequenas tarefas que me foram dadas, quando Marta entra. Com seu jeito autoritário de sempre, os passos firmes e a expressão que diz tudo sem precisar de palavras, já posso sentir que vem algo que não vou gostar.— Luna — ela chama, direta. — Preciso que você sirva Alejandro e o Sr. Vargas na sala.Meu estômago revira. Alejandro está com um convidado importante, e a última coisa que quero é me colocar em uma situação em que posso... bem, fazer o que sempre faço. Desastres. Desde pequena, sempre fui conhecida como a garota mais atrapalhada da minha rua. Tropeçar nos próprios pés, esbarrar em móveis ou derrubar qualquer coisa nas horas mais inoportunas já virou rotina. Minha família e amigos aprenderam a rir disso, e eu... bem, tento não me importar. Mas aqui, no casarão dos Castillo, ser desastrada não é exatamente uma qualidade.Tento manter a compostura, mas a ansiedade já começa a crescer no fundo da minha
Um dia depois....LunaDroga! Droga! Droga!Não era minha intenção provocá-lo, mas parece que, de alguma forma, tudo o que faço o afeta. E hoje não foi diferente. Minha cabeça gira enquanto me deito na cama, incapaz de esquecer o olhar de Alejandro. Rolo na cama, pensando nisso.Essa tarde parecia tão comum, até ele aparecer. Eu só queria um pouco de paz; o jardim sempre me trouxe isso. É o único lugar onde sinto algum tipo de controle. Mas então ele apareceu.Alejandro, com aquela presença que parece preencher o espaço ao seu redor. Seus olhos fixos em mim, intensos, me desestabilizaram. A tensão era palpável. Ele estava calmo, controlado, como sempre, mas havia algo no ar entre nós que parecia pronto para explodir. E aí... eu fiz aquilo.Droga, Luna!Água!Na camisa dele!No peito dele!A cena se repete nítida em meus pensamentos.Enquanto ele estava no escritório, decidi passar algum tempo no jardim. Era uma tarefa simples, quase automática, que me permitia espairecer e processar t
Um dia depois....LunaA casa amanheceu impecável. Cada canto, cada detalhe estava exatamente como deveria estar. As janelas brilhavam à luz do sol, os móveis estavam polidos, e o chão refletia o trabalho árduo do dia anterior. Eu me sinto aliviada ao ver que tudo está em ordem. Ao menos isso está sob controle.Encontro Marta na cozinha, ocupada com os preparativos matinais. Seu sorriso acolhedor ilumina o ambiente.— A casa está impecável, Marta — digo, com um misto de alívio e satisfação. — Tudo correu bem — apesar de ontem...Ela ergue o olhar e sorri, enxugando as mãos em um pano de prato.— Eu percebi, Luna. Você fez um bom trabalho. Sabe, se quiser ficar por aqui e me dar uma mão na cozinha, seria de grande ajuda hoje. Tenho um monte de coisas para preparar — Marta sugere, com um brilho convidativo nos olhos.Sorrio de volta, grata pela oportunidade de fugir dos meus próprios pensamentos por um tempo.— Claro, ficarei feliz em ajudar — respondo, pegando um avental e me aproximan
Saio apressada do quarto, o coração acelerado. Corro de volta para a sala, já imaginando o pior, quando paro bruscamente na porta. Lá está Alejandro, de pé, segurando minha calcinha pendurada no dedo indicador, balançando como se fosse uma bandeirinha de rendas e a analisando como se fosse um bicho.Faço barulho com a garganta. Ele me encara e então sorri, aquele sorriso que sempre me deixa confusa, como se soubesse exatamente o que está fazendo. A vergonha atinge meu rosto instantaneamente.— Procurando isso? — ele pergunta, o sorriso provocador iluminando seu rosto.O que eu digo agora? “Não era para você ver isso”? Não, isso definitivamente não funciona com ele.Meu rosto pega fogo na hora. Quero desaparecer. Minha calcinha, nas mãos de Alejandro, o homem mais arrogante e irritantemente lindo que já conheci. Ótimo.—Posso saber o que isto está fazendo aqui? — ele pergunta, a voz grave carregada de diversão.O calor sobe em mim, e a única coisa que consigo pensar é que quero me ente