Capítulo 06

( Giannis Blacktone)

Partes da cidade são tomadas por nuvem de poeira. A cidade havia amanhecido com tons de marrom, quando vários pontos da cidade foram invadidos por nuvem de poeira.

Aparentemente o vento forte atuando em grandes áreas de queimadas, sem cobertura vegetal, levantou a poeira no chão. Em algumas ruas, a visibilidade estava reduzida, mas eu podia muito bem vê-la, bem ali, no meio da nuvem de poeira.

Eu tentava alcançá-la, mas ela desaparecia em um redemoinho, me deixando apenas com a mão estendida para tocá-la.

-- Giannis, Giannis! Estamos chegando ao Brasil!

Senti a mão de Nico tocar o meu ombro e sua voz, chegar até aos meus ouvidos.

Nico era o meu braço direito nos negócios, além de ser meu primo. Era ele quem cuidava de minha agenda, dos jantares de negócios, viagens e etc.

Eu estava sonhando novamente com a minha deusa. E confesso que se o sonho não tivesse chegado ao fim, eu teria mandado Nico tomar na bunda.

-- Chegamos ao fim do mundo? – Perguntei a Nico.

-- Não acho o Brasil o fim do mundo. – Respondeu Nico, sentindo se ofendido, pois ele era parte, brasileiro, devido a sua mãe ser brasileira e ter se casado com o meu tio, que era grego.

-- Não me refiro ao Brasil. E sim, a essa cidade que praticamente fica no fim do mundo.

-- Vamos aterrissar no campo de pouso da fazenda do coronel Aluisio Ramos.

-- Assim que entrarmos em um acordo com esse coronel e assinarmos o contrato à gente da o fora daqui.

-- Giannis, antes de irmos embora, se eu fosse você daria uma passadinha no bordel de Madame Carrero. Dizem que lá, ela tem as mais lindas garotas. – Sentado de frente pra mim, ali no banco do meu avião particular, ele falou isso, e deu um sorriso.

Era um sorriso relacionado à sacanagem.

-- E eu sou homem de bordel? Eu nunca precisei pagar uma mulher para ficar comigo.

-- Eu sei. Elas se atiram aos seus pés, praticamente imploram para você comê-las. Mas tem sempre a primeira vez.

-- Duvido que lá tenha uma mulher que vá me interessar. Com certeza mesmo usando camisinha, transar com uma mulher desse tipo vou, terminar, pegando uma doença sexualmente transmissível. Não estou a fim, Nico. Se quiser conhecer esse famoso bordel, vá você.

-- Não vai ter nenhuma graça sem você.

Eu e Nico, além de trabalhamos juntos, éramos mais que primo, amigos, patrão e funcionário, éramos como irmãos.

Nico assim como eu, também não era casado.

Gilda, uma jovem brasileira que trabalhava comigo há anos no avião, como minha comissária de bordo, perguntou se eu não queria comer alguma coisa, antes de sair do avião.

Quase disse que a única coisa naquele momento que eu desejava comer, era ela, mesmo ela tendo namorado.

Ela tinha vinte e cinco anos, e um par de peitos de deixar o pau de qualquer homem duro.

Mas eu não queria me envolver sexualmente com nenhuma funcionária minha. Ela era uma boa funcionaria e transformá-la em minha amante, quando o caso terminasse, eu poderia perdê-la como profissional.

Sorri para Gilda, e disse que não desejava nada.

Eu nunca na minha vida, havia tido caso com nenhuma funcionária minha, e não seria agora, que eu iria ter.

Eu e Nico colocamos o cinto de segurança e preparamos-nos para aterrissagem.

 (Blanka Bianchi)

Eu considerava a minha virgindade, algo precioso, que só seria perdida com o homem que um dia eu amasse e fosse meu marido.

Senti uma necessidade louca de dar na cara de Madame Carrero. Mas eu sabia que tinha que me conter, pois não havia ninguém para me defender, para me ajudar a enfrentar aquela cafetina odiosa.

Havia se passado duas semanas, desde a visita dela ao hospital.

Eu agora, já estava em um dos quartos, no palacete de Madame Carrero.

Eu ia entregar a um desconhecido a minha virgindade, em troca de dinheiro, para pagar uma coisa na qual eu não tinha a mínima culpa.

Ou eu pagava, ou ia para a cadeia, ou quem sabe um hospício! Aquela mulher parecia não ter coração, parecia ser mais fria do que gelo.

Eu gostei das garotas de bordel, principalmente Florinda, que me confidenciou que não aprovava o que madame Carrero estava fazendo comigo.

Quando deixei o hospital, Zeus me esperava do lado de fora, e ficou muito feliz em me ver.

Madame Carrero comprou algumas roupas para mim, e pediu para que Florinda levasse até o hospital, e me trouxesse até o bordel.

Segundo Florinda, ela fez questão de deixar bem claro, que o que ela havia gastado comigo, seria descontado nos meus cinco por cento, que eu receberia do valor total do leilão.

Madame Carrero não queria que Zeus ficasse no quintal do palacete, e foi então que eu a enfrentei.

-- Se não deixar que o meu cachorro fique aqui, eu prefiro que me mande para a cadeia. Eu posso ficar presa, mas você ficara no prejuízo, pois não haverá nenhum leilão!

Madame Carrero ficou pálida, e eu vi que havia acertado o alvo.

-- Está bem. O cachorro fica, mas você vai limpar todas as merdas que ele fizer.

Zeus latiu contrariado, ele também não havia gostado da cafetina.

A cabeleireira que cuidava dos cabelos de madame Carrero, e de suas garotas, foi chamada por ela própria naquele dia, para dar um corte especial aos meus.

Eu não queria cortar os meus cabelos, eles estavam bem longos, e chegavam até a minha cintura.

Mas madame Carrero garantiu que um corte acima dos ombros, ficaria perfeito para mim.

Não concordei, mas aceitei, pois, naquele momento quem mandava era ela.

Eu não via a hora de tudo aquilo passar, depressa, e acabar, para eu, ir embora para bem longe dali.

-- Todos os clientes da casa, já foram informados sobre o leilão. Esse leilão vai trazer novos clientes.

Florinda tinha uma vasta cabeleireira ruiva, mas a noite, quando atendia os clientes, gostava de aparecer com uma peruca loira.

-- Torça para que não seja, nenhum velho asqueroso que dê o lance maior.

-- Nunca pensou em deixar essa vida, Florinda?

-- E fazer o que? Eu não sei fazer mais nada além de abrir as pernas. A maioria dos homens que frequentam a casa, além de serem ricos, são, belos, mas tem também aqueles sapos ricos.

-- No dia seguinte depois do leilão, eu irei embora.

-- Acha mesmo que madame Carrero vai deixar você ir?

Naquele momento, fiquei preocupada com a pergunta de Florinda. Estávamos no quintal, levando nossas roupas no tanque.

-- Ela prometeu que deixaria.

-- Sei não. Você é muito linda. Mais linda do que todas nós aqui, acho meio difícil ela cumprir o que prometeu.

Com aquelas suas últimas palavras, Florinda me deixou preocupada.

Sem que Madame Carrero percebesse, resolvi dar uma saidinha. Eu não sei por que, mas me deu vontade, de ir até o lugar, onde foi a minha casa por vários anos.

Claro, só havia cinzas e o terreno. A casa que um dia havia existido ali, já não existia mais.

Lembrei-me do meu pai, que havia sido queimado junto com ela. Comecei a chorar, e nem se quer me importei com as pessoas que passavam e ficavam me encarando, cochichando, dizendo que agora eu havia me tornado uma jovem de vida fácil.

Ou seja, eu havia me tornado uma das garotas de madame Carrero.

Mas nenhuma daquelas pessoas que agora apontavam o dedo para mim, falavam de mim, me ofereceram um teto, ou um prato de comida.

Eu não tinha amiga. As moças de minha idade eram proibidas pelas mães, de se aproximarem de mim, por eu ser filha de um bêbado e encrenqueiro.

Não percebi que uma tempestade de poeira se aproximava. O vento começou a soprar quase me arrancando daquele lugar, mas mesmo assim, eu insistia em ficar.

Desejei que o vento me levasse.  Erguesse-me e carregasse para bem longe dali.

Zeus não havia me acompanhado, pedi para que ele ficasse, e agora com aquela ventania toda, a tempestade de poeira, eu vi que havia feito à coisa certa.

Zeus era meu único amigo, a única coisa que eu tinha. Quando eu percebi, eu já não via mais nada, a nuvem de poeira, já havia me envolvido.

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