Hoje eu sairia daquela clínica.Não dava mais para esperar. Conferi os documentos em minha bolsa. O importante estava ali. Minha identidade e meu passaporte. Tinha sido uma mão de obra distrair a faxineira e conseguir pegar os documentos na sala da direção da clínica. Agora faltava o mais difícil: O dinheiro. Mas hoje meu plano daria certo.Era dia da Joane fazer depósito no Banco e infelizmente o dinheiro não chegaria ao seu destino. Não era minha pretensão roubar. Eu ia devolver um dia, mas agora eu precisava chegar a Turquia e aquele era o único jeito. O próximo passo era conseguir uma arma.Olhei para todos os lados e quando ela saiu do carro e entrou no escritório, eu passei lentamente ao lado do carro como se estivesse passeando pela clínica e rapidamente entrei no veículo, me escondendo agachada no banco de trás.Tudo tinha sido bem arquitetado e não daria certo se a louca da Vanusa não fizesse a parte dela.Esperei por quase uma hora, até vê-la aparecer na porta da clínica car
Estacionei o carro em frente ao Inter Continental Istanbul, an IHG Hotel, e olhei para o ponto piscando na tela do meu celular.— Ela está aqui.Fazia algum tempo que eu tinha pedido para o Rafael instalar um rastreador conectado ao relógio dela. Ela sabia, e foi instruída a não retirar nunca aquele relógio do braço. Nunca imaginei que fosse ser tão útil como naquele momento.A necessidade surgiu quando ela se perdeu na cidade, tentando chegar ao aeroporto para esperar o Rafael de umas das viagens ao Brasil e só a encontramos depois de horas de ronda com a ajuda da polícia.O Rafael me encarou nervoso.— E agora? O que faremos?Respirei fundo.— Vamos entrar e pedir um quarto. Precisamos ter acesso ao hotel e descobrir em qual quarto ela está.Nos dirigimos ao balcão da recepção e depois de muito insistir e com um pequeno incentivo financeiro, a atendente nos reservou um quarto alegando que o hotel estava cheio.O hotel era uma construção de dez andares e dentro do elevador o sinal do
O quarto estava em silêncio. Apenas ouvia-se o som do aparelho ligado acima da minha cabeça. Era um monitor, onde passava os números da minha pressão arterial e dos meus batimentos cardíacos. Marcava 130x90 e embaixo 89. Pelo que eu entendia estava tudo normal, menos em minha cabeça. Meu coração estava apertado e tudo que que queria era que Leonardo voltasse logo e dissesse que a Sula estava bem.O homem que ele deixou na porta, volta e meia me perguntava se estava tudo bem e eu procurei não pensar que estava em um quarto de hospital na Turquia, escoltada por um homem vestido de preto que não deixava muito a duvidar sobre como resolvia seus problemas.Por que Leonardo tinha me metido naquela enrascada? E por que eu não estava com a menor vontade de me afastar dele? Ao contrário, contava os minutos para estar de novo nos braços dele e parar de me sentir sozinha e desprotegida?Merda, Alina, você é uma delegada de polícia, acostumada a resolver tudo no grito, porque essa fraqueza agora?
Não era sonho. Eu estava voltando para casa.Uma semana depois, Leonardo dormia ao meu lado, no avião. Na poltrona de trás estavam o Rafael e a Sula e mais ao fundo Angélica e Zaila conversavam.Não sei como, mas Leonardo tinha conseguido esconder qualquer vestígio de participação da mãe na morte de Hilal Ramazan e a polícia não os indiciou, classificando a morte como sem suspeitos.Ele foi buscar a Zaila no dia seguinte e ficamos no apartamento, até conseguir uma passagem de volta para o Brasil. Ele estava quieto e calado, parecia apreensivo com o desenrolar dos fatos e pouco falou comigo naqueles dias. A Sula estava assustada e chorava a todo momento, trancada no quarto. O Rafael estava nervoso e acabou brigando com o Leonardo.— Pode esquecer que a Sula não vai morar com você! Observei o Rafael andando de um lado para outro da sala. Chegava a ser engraçado o jeito como aqueles dois se comportavam. Mas era visível o quanto eles gostavam um do outro.— Quem decide isso somos nós e
Desde o momento que entrei para a vida errante do crime, nunca temi o momento de ser preso, desde que eu tivesse cumprido minha missão de salvar a Sulamita das mãos do meu avô. Em minha consciência nada mais importaria para mim quando minha vingança tivesse cumprida. O que eu não contava era que encontraria a mulher da minha vida no meio desse processo e que agora ela estava sozinha, enquanto eu estava ali, sem poder fazer nada.Meu peito doía ao lembrar a expressão dela chorando agarrada ao meu braço, enquanto saía do apartamento dela algemado.Até queria sentir ódio do idiota do Lucas, mas eu sabia que tinha provocado aquilo, ao ameaçá-lo para que nos livrasse da cadeia dias antes.Agora eu era um homem derrotado e preocupado.O Rafael estava numa outra cela ao lado da minha e não me deixaram falar com ele.Como estava a Sula e minha mãe? Elas não estavam em condições psicológicas de passar por aquilo sozinhas. Minha Alina era forte, sabia se virar, mas elas não. Tinham acabado de p
O endereço que Leonardo me forneceu era de um pequeno apartamento situado na Rua do Ouvidor, um ponto de referência para quem procurava sexo barato na cidade do Rio de janeiro.Inferno! Porque ele teve que ir por esse caminho?— Alina! Que merda estamos fazendo aqui?Virei para o Lucas, contrariado atrás de mim.— Tentando consertar a burrada que você fez.Ele me olhou com as mãos na cintura.— Eu fiz burrada? Por que prendi o cara que você sempre quis colocar na cadeia?— Ele é meu marido!— Ele é um mafioso!Eu não queria brigar com o Lucas ali. Precisava resolver o que viemos fazer e sair dali o mais rápido.— Vamos logo, depois eu vou te explicar umas coisinhas.Ele se limitou a me seguir, calado.A rua era estreita, na verdade era um beco cheio de minúsculos apartamentos, com apenas uma porta. Alguns moleques usuários de drogas andavam por ali, apesar de ser apenas nove horas da manhã e mulheres com aspecto de cansadas perambulavam de cabeça baixa pela rua.Era doloroso ver de pe
— Oi mãe! Que saudades!Ela retribuiu meu abraço e se afastou, perscrutando meu rosto em busca de resposta para a interrogação em seu olhar.— Até que enfim lembrou de mandar me buscar daquele fim de mundo.Sorri, com o tom dramático dela.Eram 08:00 horas da manhã e ela tinha acabado de chegar do abrigo que mantínhamos, afastado do centro da cidade, que servia de esconderijo para testemunhas ameaçadas.— Pare com isso mãe, eu lembro sempre da senhora, mas não estava na hora ainda.Ela olhou desconfiada para a garota sentada no sofá e falou baixinho:— Quem é?Puxei-a para a cozinha. Não queria falar da menina na frente dela.— Irmã do LeonardoJulieta Varela arqueou uma sobrancelha.— Leonardo?Estendi a xícara de café para ela.— Sim mãe. Leonardo...meu marido, lembra?— Marido que agora você vai se separar não é?Virei as costas e lavei a xícara na pia.— Alina?Encarei minha mãe, séria.— Eu... não vou me separar dele, eu...o amo.Minha mãe arregalou os olhos.— Ama? Ama como, Ali
Foi a noite mais longa da minha vida. Eu já passei por diversos momentos de tensão e ansiedade, mas esperar pela notícia se eu seria libertado ou não, estava consumindo meu autocontrole.Nem queria pensar como o Rafael estava. Ele sempre foi mais sensível a esses momentos de tensão do que eu e ali dentro, sem poder fumar ou beber, ele devia estar a um passo de surtar.Estava evitando pensar no relacionamento dele e da Sulamita, mas no íntimo algo me dizia que aquela era uma batalha perdida. Era impossível não ver o quanto eles se amavam e eu, mesmo querendo que minha irmã finalmente começasse a viver e ver o mundo de outra forma, parecia que o mundo dela agora se resumia ao Rafael. Deixaria que eles vivessem sua própria história e melhor que fosse com o Rafael que era um cara do bem e com um coração limpo, apesar de todas as desgraças que presenciou e foi obrigado a fazer na vida. Pela história de vida dele, ele merecia ser feliz e se ele escolheu a Sula, que fosse com ela.O que eu q