O endereço que Leonardo me forneceu era de um pequeno apartamento situado na Rua do Ouvidor, um ponto de referência para quem procurava sexo barato na cidade do Rio de janeiro.Inferno! Porque ele teve que ir por esse caminho?— Alina! Que merda estamos fazendo aqui?Virei para o Lucas, contrariado atrás de mim.— Tentando consertar a burrada que você fez.Ele me olhou com as mãos na cintura.— Eu fiz burrada? Por que prendi o cara que você sempre quis colocar na cadeia?— Ele é meu marido!— Ele é um mafioso!Eu não queria brigar com o Lucas ali. Precisava resolver o que viemos fazer e sair dali o mais rápido.— Vamos logo, depois eu vou te explicar umas coisinhas.Ele se limitou a me seguir, calado.A rua era estreita, na verdade era um beco cheio de minúsculos apartamentos, com apenas uma porta. Alguns moleques usuários de drogas andavam por ali, apesar de ser apenas nove horas da manhã e mulheres com aspecto de cansadas perambulavam de cabeça baixa pela rua.Era doloroso ver de pe
— Oi mãe! Que saudades!Ela retribuiu meu abraço e se afastou, perscrutando meu rosto em busca de resposta para a interrogação em seu olhar.— Até que enfim lembrou de mandar me buscar daquele fim de mundo.Sorri, com o tom dramático dela.Eram 08:00 horas da manhã e ela tinha acabado de chegar do abrigo que mantínhamos, afastado do centro da cidade, que servia de esconderijo para testemunhas ameaçadas.— Pare com isso mãe, eu lembro sempre da senhora, mas não estava na hora ainda.Ela olhou desconfiada para a garota sentada no sofá e falou baixinho:— Quem é?Puxei-a para a cozinha. Não queria falar da menina na frente dela.— Irmã do LeonardoJulieta Varela arqueou uma sobrancelha.— Leonardo?Estendi a xícara de café para ela.— Sim mãe. Leonardo...meu marido, lembra?— Marido que agora você vai se separar não é?Virei as costas e lavei a xícara na pia.— Alina?Encarei minha mãe, séria.— Eu... não vou me separar dele, eu...o amo.Minha mãe arregalou os olhos.— Ama? Ama como, Ali
Foi a noite mais longa da minha vida. Eu já passei por diversos momentos de tensão e ansiedade, mas esperar pela notícia se eu seria libertado ou não, estava consumindo meu autocontrole.Nem queria pensar como o Rafael estava. Ele sempre foi mais sensível a esses momentos de tensão do que eu e ali dentro, sem poder fumar ou beber, ele devia estar a um passo de surtar.Estava evitando pensar no relacionamento dele e da Sulamita, mas no íntimo algo me dizia que aquela era uma batalha perdida. Era impossível não ver o quanto eles se amavam e eu, mesmo querendo que minha irmã finalmente começasse a viver e ver o mundo de outra forma, parecia que o mundo dela agora se resumia ao Rafael. Deixaria que eles vivessem sua própria história e melhor que fosse com o Rafael que era um cara do bem e com um coração limpo, apesar de todas as desgraças que presenciou e foi obrigado a fazer na vida. Pela história de vida dele, ele merecia ser feliz e se ele escolheu a Sula, que fosse com ela.O que eu q
Estacionei em frente ao hospital de qualquer jeito, sem me importar se estava atrapalhando o trânsito, e desci correndo do carro, seguido pela Alina.Me aproximei da recepção e abordei a moça, de um jeito nada delicado.— Onde está a merda do chefe desse hospital, que deixa um bandido entrar aqui e levar uma paciente?A moça parecia assustada.— Sr., por favor, se acalme.Tirei a arma e apontei para ela, fazendo as pessoas que estavam ali na sala de espera, saírem correndo.— Chame o diretor dessa pocilga agora!Alina se aproximou preocupada.— Abaixe essa arma, seu louco, vai complicar sua situação!Tentando me controlar, enfiei a arma na cintura de novo e comecei a andar de um lado para outro.Um homem apareceu, cercado de seguranças e eu imaginei que era o chefe dali. Me aproximei tentando me segurar, para não esmurrar a cara dele.— O que aconteceu aqui? Como levaram minha mãe dentro desse hospital?O homem abriu a boca para responder e meu celular tocou.Peguei o aparelho e o núm
Passei metade da noite acordado, vigiando o sono da Sulamita. Sono era apenas maneira de dizer, porque a cada instante ela acordava, se debatendo e chorando.Meu coração estava apertado. Achamos por bem, contar logo a ela o que tinha acontecido a respeito do sequestro da mãe dela, e do fim do Zaruk. A Sula precisava encarar os problemas da vida e aprender a se fortalecer com eles, mas para ela, que era uma menina tão cheia de traumas, aquilo não era fácil.De tudo aquilo que vivemos nos últimos meses, a única coisa boa foi a presença da Alina em nossas vidas. Ela chegou e revirou tudo ao nosso redor. A mulher era uma fortaleza e meu amigo estava louco por ela.Eu estava feliz por ele. Leonardo passou por maus bocados na vida e desde que estávamos juntos há mais de dez anos, tudo que fez foi pensando na mãe e na irmã e agora ele merecia um pouco de felicidade.Olhei o relógio da mesinha de cabeceira: 05:00 e o dia ameaçava clarear pela cortina da janela. Fui até lá e fechei, escurecend
As coisas começavam a se resolver lentamente. O processo envolvendo Leonardo e Rafael estava quase no final e ele estava ansioso em virar aquela página.Com base nas declarações que ele e Rafael tinham prestado para a justiça, foram emitidos vários mandados de prisão em comum com a justiça da Turquia e alguns componentes da máfia comandada por Hilal Ramazan foram presos e tiveram seus bens confiscados. Uma grande surpresa foi descobrir que muitos dos bens de Hilal Ramazan estavam em nome da Zaila.— Você disse que o nome dela é Zaila Ramazan?! - Ele perguntou surpreso ao promotor.— Sim. Você não sabia que eles eram casados?— Claro que não!Olhei para ele e pela primeira vez, vi o Leonardo empalidecer mortalmente.Eu também estava surpresa e confusa. Como casados? Porquê? A Zaila disse que odiava Hilal e de acordo com Leonardo sempre o defendeu e a Sula, muitas vezes o enfrentando de igual para igual.Aquela história parecia cortada em fragmentos. A Zaila escondia alguma coisa, com
O Rafael estava meio bobo com aquela ideia de casamento, mas no fundo eu estava preocupado. A Sula ainda não estava pronta para mergulhar em um relacionamento. Eu procurei não pensar no quanto aquela história ainda me incomodava. Era difícil aceitar que minha irmã que acabara de sair da adolescência, ia se casar com meu amigo doze anos mais velho e muito mais vivido que ela. Será que ele sabia o tamanho da responsabilidade que aquilo implicava? Ela era uma menina frágil e cheia de traumas e eu não permitiria que ele a machucasse.Alina estava tentando fazer com que ela e minha mãe começassem a viver a vida de forma mais leve e insistiu para que elas dessem início a sessões de acompanhamento com um psicólogo.Eu estava em meu apartamento com as duas, mas aquela situação estava me incomodando. Eu queria a Alina perto de mim. Não conversamos sobre quem mudaria de casa, mas era preciso definir aquilo o mais rápido possível. Não levei trinta e cinco anos da minha vida sozinho, para agora
Agora não tinha mais como fugir daquela conversa.Observei a Sulamita entrar no carro do Rafael e acenei para os dois. Eles tinham se casado naquela tarde e agora entravam no carro a caminho do apartamento deles. Leonardo aparentemente conformado com a partida da irmã, apenas observava os dois, com as mãos enfiadas nos bolsos da frente do jeans escuro que vestia.Quando o carro sumiu na esquina, ele virou e começou a andar calado para dentro do prédio. Segui atrás dele e só quando ele fechou a porta do apartamento encarei seu rosto sério.— Relaxe homem, ela vai ser feliz.Ele tirou o casaco e se jogou no sofá.— Eu mato o Rafael se ele não cuidar bem dela.Tirei o sapato de salto e sentei no sofá em frente a ele.— Ele vai cuidar. Ele é louco por ela.— Ele não é o único apaixonado! – ele resmungou, baixo.— Como? Não entendi - perguntei confusa.Ele me encarou com os cotovelos apoiados no joelho.— Quando vai parar de ser durona comigo, hein?Sorri com a expressão de cachorro abando