Chegamos no quarto amplo e arejado, todo envidraçado, que observei de forma atenta.
- Eu sempre quis conhecer a sua casa... – Confessei, enquanto me movimentava pelo lugar, analisando tudo.
- Eu não sabia disto, chuchu! Poderia ter me avisado antes.
- Mesmo se eu tivesse avisado antes, não teria me trazido.
- Como pode ter tanta certeza?
- Você não me amava... – Passei a mão nos lençóis brancos e limpos, tão macios quanto uma bolinha de algodão.
- Acha que meus sentimentos vieram de ontem para hoje? – Me olhou, escorando-se no vidro que dava para a rua.
- Quando vieram? – Eu quis saber.
- Há muito tempo... Mas só fui ter certeza absoluta na casa no lago.
- Você fez tudo errado lá. – Não pude deixar de lembrar, enquanto me dirigia para os quadros pendurados na parede, querendo encontrar um e
- Você não sabe exatamente sobre tudo mim... – Me pegou pela bunda e pulei nele, passando minhas pernas em torno dos seus quadris.- Agora diga que vai me foder... Num idioma que eu não conheça...- Susuyuin kita.- Que porra de língua é esta? – gargalhei enquanto ele me levava me direção à cama.- Filipino.- Você fala filipino?- Só algumas palavrinhas. – Riu - Inħobbok għal dejjem!- Caralho, este “vou te foder” foi bem engraçado.- Eu não disse isto.- O que disse então?- Irei te amar para sempre... Em maltês.- Omaet, Gabe Clifford.- O que você disse? – ele me jogou na cama macia.- Eu te amo de trás para frente, em Olivinês.- Eu já disse o quanto você é incrível?- Não mais ins&iacut
Assim que Jai chegou, todos ficaram olhando-o, sem entender nada. O jovem de cabelos castanhos, levemente desalinhados, que caíam em mechas sobre a testa tinha olhos de um tom profundo e pensativo, e eu conseguia ver dentro deles a melancolia. A pele clara contrastava com o leve rastro de barba que delineava seu rosto, dando-lhe um ar de maturidade.Moveu-se até nós como alguém que carregava consigo o peso de um segredo, ainda assim caminhando com determinação, confiança a humildade.Parou e me encarou, engolindo em seco. O sorriso fácil e sincero de sempre não apareceu e percebi o quanto ele evitava olhar para nosso pai.- Precisamos de abrigo... Por pouco tempo. – Avisei.- Ok! – foi pegando minhas malas e pondo no carro, enquanto os demais organizavam seus pertences no táxi que havíamos chamado.Meu pai parou na frente dele e lhe ofereceu a mão:<
- Você merece o que quiser, Rita! – Fiquei incrédula com a forma de pensar dela.- O tempo iria passar... E Rael um dia deixaria de me levar à sério. E talvez fosse jogar na minha cara a vida inteira o meu passado.- Você nem se deu ao direito de tentar, Rita!- Eu acho que nosso pai gostava da sua mãe.A encarei, confusa:- Por que acha isto?- Ninguém se envolve tanto tempo com uma pessoa só por sexo. Ou seja, gostava dela. No entanto nunca a assumiu. Preferiu seguir casado com a minha mãe, que bem sabemos o quanto o relacionamento deles é... Deixe-me ver que palavra eu poderia usar... Raso.- Raso? – Eu não sei se definiria como raso o relacionamento do nosso pai com Rose. Usaria a palavra “preguiçoso” para aquele casamento.- Até você e Gabe tinham mais química que nosso pai e minha mãe.<
Engoli em seco ao deparar-me com o olhar desesperado de Jai. Rose olhou para o marido e depois para mim:- Você... Está louca? – riu, confusa.- Não, eu não estou. Não deveria ter dito, mas agora já fiz... Então sim, é verdade, Jai é nosso irmão.- Se eu não tenho filhos fora do casamento – Rose seguiu atordoada, olhando para o nada – Então... – Voltou a encarar meu pai.- Como assim? – Rita sentou-se na cadeira, incrédula.- Vamos, Jai – o encarei – Todos já sabem a verdade... Agora é com você.Meu irmão simplesmente meneou a cabeça, parecendo sem saber por onde começar. O silêncio tomou conta de toda a casa, lembrando o que acontecia quando antecedia um temporal, como se uma nuvem escura estivesse prestes a desabar uma enxurrada.- Sou mesmo irmão de vocês. – Jai olhou para Rita e depois para Isabelle, que sorriu, parecendo assimilar tudo de forma mais consciente e rápida do que os demais.- Como? – Rose quis saber.- Fui adotado recém-nascido, por uma boa família... Que me deu amor
Aquilo me deu um nó na garganta, fazendo meu coração errar a batida. Por mais que eu tentasse pôr na cabeça que meu pai era um herói, cada vez mais me convencia de que estava longe de ser.- Eu... Fui atrás... Tentei encontrá-lo... Mas quando se entrega para adoção, os dados são sigilosos, não há como saber. – Justificou.- Pouco me importo com isto, Ernest. Mesmo que você fosse atrás de mim, meus pais jamais o deixariam me levar. – Jai disse com firmeza.- Eu não concordei... Juro que desde o início fiquei furioso com a decisão de Rosana... Mas não consegui convencê-la. Quando voltei a vê-la ela já tinha se livrado do bebê! – seus olhos se encheram de lágrimas – Eu sinto muito, Jai!- Não sinta! – Jai sorriu – Não tê-los em minha vida foi a melhor coisa que me aconteceu. Mas não posso dizer o mesmo sobre minhas irmãs, que não tem culpa de nada.- Como é fácil culpar quem está morto! – eu ri, com desdém, sem conseguir olhar para o meu pai – Aposto que Rosana também teria sua versão, a
Dei de ombros e servi-me. Por motivos de saúde eu era obrigada a me alimentar. E que comida boa!Jai e Rita também se serviram. Sentei-me ao lado de Isabelle à mesa e Rita do outro. Nosso irmão, por sua vez, ficou de pé atrás dela, com o prato na mão.- Você sabe o que está fazendo? – Jai perguntou.- Ela é superdotada! – Rita explicou, sem olhá-lo, de forma natural.- Isabelle hackeou o sistema da Clifford... Então meio que temos uma gênia por aqui! – Confessei.- O sistema da Clifford? – Jai ficou incrédulo – Será que só você foi dotada deste “poder”? Aposto que vem do lado da sua mãe! – Fez careta.- Da nossa não seria! – ri, olhando para Jai.- Acha mesmo que veio da nossa? – Rita riu – Aposto que ela herdou de um parente bem distante, daqueles que nunca pensamos conhecer um dia.Começamos a rir e Isabelle falou, seriamente:- Temos aqui uns... – silenciou-se um tempo – Incontáveis processos contra a Concessionária Abertton.- Isto não é comum de acontecer? – Rita quis saber.- Ol
POV GABEEnquanto eu dirigia, percebi que estava com o maxilar enrijecido há tanto tempo que começava a me doer. Nem posso dizer que meu coração batia de forma acelerada porque me certificava cada vez mais que eu não tinha um... E que se um dia tive, todos ao meu redor fizeram questão de destruí-lo.Olhei para os meus dedos que seguravam o volante personalizado do Pagani com tanta força que chegavam a endurecer os nós. Nunca senti tanto arrependimento na vida como naquele momento. E não, não foi nem por Olívia ter me traído com Jai e não acreditar em mim. Mas pela porra que eu havia feito por ela... Que ficaria para sempre no meu dedo.Peguei o anel que eu havia comprado, ainda no bolso da camisa e o olhei, o brilho dos tantos diamantes ofuscando meus olhos e joguei longe, com raiva, o fazendo desaparecer no meu carro. Eu nunca mais queria ver aquela coisa na vida.<
Meu interfone tocou e não atendi. Eu estava numa reunião e talvez o secretário sendo novo não sabia que eu não aceitava ser interrompido. No entanto recusei e ele seguiu tentando.Fiquei irritado com o som estridente e insistente. Peguei o fone para mandá-lo a puta que pariu, depois de manda-lo passar no RH e assinar sua demissão quando ouvi a voz preocupada:- Senhor Clifford, tem uma mulher aqui que deseja falar com o senhor urgentemente. E disse que não pode esperar... E... Inclusive está tentando invadir a sala. Devo... Chamar a segurança?Eu sorri. Sabia quem era.- Mande-a entrar.Segundos depois a porta se abriu e deparei-me com os traços marcantes e expressivos, com seus olhos grandes e profundos, em um tom castanho-escuro quase melado. O olhar era penetrante e cheio de personalidade. A pele morena clara refletia sua vitalidade e os lábios carnudos destacado