Os dias arrastaram-se com lentidão pelo restante da semana. Blair havia iniciado o novo emprego, no qual trabalhava apenas para manter aparências enquanto sua real função era ser olhos e ouvidos de Spencer. Nenhum de seus colegas de trabalho sabiam, ou suspeitavam, e isso a fazia pensar ainda mais em como se parecia com uma espiã.Blair fechou os últimos botões do casaco que usava. Ela estava em frente ao prédio onde trabalhava, dentro de um táxi. A movimentada Strip acordara cedo na manhã de sexta-feira, estava movimentada e pronta para o dia que se iniciava. A cidade sempre alegre não perdia seu brilho. Alguns cassinos luxuosos já abriam suas portas para os bilhões, outros ainda não haviam dormido.Ela estava feliz em seu novo emprego, pois era diferente de todos os anteriores. Era fácil para Blair conseguir empregos em locais de muita movimentação. A contratavam apenas pela aparência, porque sabiam que aquela ruiva seria um ímã de freguesia. Mas não demorava muito para os assédios
- "Ela não é do tipo curiosa" Daliah garantiu.- "Ela me perguntou sobre meu pai" Blair caminhou até a cafeteira e retirou o último café que havia preparado, o colocando na bandeja.- "Esse assunto não conta"- "Eu sei que gera curiosidade, mas continua sendo minha vida pessoal" a ruiva analisou o que estava na bandeja; açúcar, cafés, colheres, creme e adoçante. Parecia bom o suficiente.- "Se acostume com a fama, gata" Daliah bebeu o último gole de sua água e saiu da cozinha, rumo ao caos de roupas e corpos estressados que lhe esperavam.Blair via-se incomodada. O mundo era grande e perigoso, mas, neste ponto, ela também era. Sabia lidar com pessoas, situações e momentos. Nunca se submetia ao superior. Porém, essa era sua vida antes dos holofotes acesos sobre sua pessoa. Depois de aceitar seu pai como provedor, ela havia visto o mundo com olhos diferentes. Não tratava-se apenas de sua luta diária para ser alguém decente. Era sobre provar ser alguém diferente do que haviam bordado.Bl
Drake havia feito uma viagem de três dias para Los Angeles no fim de semana. Iria fazer alguns testes, a convite de grandes nomes da indústria cinematográfica. Ele tinha a beleza e carisma, restava saber se tinha talento para atuar.Blair trabalhara até tarde na sexta-feira, pois a Fashion Week se aproximava e tudo precisava ser meticulosamente perfeito. Era a semana mais importante do ano para a indústria da moda, e Blair precisava se concentrar naquilo. Não que aquele caos de roupas, corpos e acessórios fizesse sentido para ela.No sábado, seu dia de folga, ela aproveitou para ir à academia do prédio. Suas curvas não se davam apenas pela genética. Blair evitava pensar em Ethan a todo custo, forçando seu corpo a malhar mais pesado toda vez que lembrava de sua voz. Por um momento, Blair chegou a pensar que a atração de Ethan Banks por ela havia sido fogo passageiro, queimando tudo e sumindo logo após.Quando o domingo chegou, ela se sentiu cansada suficiente para dormir até tarde. Os
Ao chegar em casa, trinta minutos mais tarde, Blair entrou pela sala do apartamento, já retirando seus saltos. Estava cansada, mas não fisicamente. A luz da cozinha estava acesa, e podia-se ouvir vozes vindas do local, então logo soube que seu amigo, Drake, havia chegado da breve viagem para Los Angeles.Blair arrastou-se até a cozinha, notando que as vozes eram masculinas. Uma delas foi reconhecida no mesmo instante; Jean Collins. Foi como um basta na eletricidade que seu corpo ainda sentia após o encontro inesperado com Banks. A mulher suspirou, pensando em milhares de motivos para aquela visita, ainda mais sendo tão tarde. Ela decidiu, por fim, apenas tentar afogar os pensamentos destrutivos que tinha quando seu pai estava por perto e entrou na cozinha.Na mesa redonda, Jean e Drake desfrutavam de petiscos e bebericavam vinho, como bons amigos. Blair sentiu seu estômago revirar-se.- "Oi, gata" Drake se levantou, caminhou até ela e lhe abraçou com força suficiente para roubar seu f
1 ano antes...As pessoas costumam procurar ajuda psicológica quando sentem que não podem lidar com as próprias mentes sozinhas. É deprimente, pois deveríamos ter outra saída. Conviver com uma mente conturbada não é interessante. E, no consultório, nos sentimos como ratinhos sendo examinados e testados; nos fazem perguntas óbvias. Chego a me perguntar o porquê de estar ali, em frente à uma mulher bonita, contando todos meus segredos imundos.Mas funciona com meu amigo, Drake, então talvez funcione comigo. Eu vejo a evolução dele, o quanto ele gosta das seções semanais de terapia, e penso que, em algum momento, vou evoluir também. Sim, como em um passe de mágica. Espero transcender, esquecer meu passado, resolver meus problemas friamente, lidar com minha cabeça conturbada e, de uma hora para a outra, ficar curada. É o que espero, mas sei que as coisas não funcionam assim, nem mesmo nos milagrosos consultórios médicos.Para Drake, a terapia é uma religião. Ele evolui tanto, e tão bem, q
Blair mantinha o olhar pensativo contemplando a imensidão de Las Vegas. Ela pensava em sua vida; o que fez, o que estava fazendo e o que viria a fazer. Sua mente girava em torno dos problemas que já tinha, e dos outros nos quais estava se metendo.Pela terceira vez na madrugada, Drake fora à porta do quarto da amiga e forçou a fechadura, torcendo para que estivesse aberta. Ele não sabia até que ponto havia a magoado, mas sabia que aquele isolamento era um péssimo sinal.Blair tinha um instinto de proteção; não era capaz de confiar, portanto, dificilmente conseguia amar alguém. Estava sempre do lado seguro da rua. Contudo, havia uma razão para tal comportamento; ela sabia que não suportaria outra decepção. A primeira pessoa a quebrar sua confiança fora seu pai, alguém que deveria lhe preservar, e, desde então, toda sua vida fora baseada em medidas de distanciamento emocional.- "Gata, eu sei que errei com você. Não pensei direito..." Drake fez uma pausa.- "Eu quero seu bem, e apenas.
Banks, por sua vez, aproximou-se de Blair e segurou gentilmente seu pulso. A noite fria de Las Veja não interferiu no calor transpassando de uma pele para a outra quando se tocaram. Ele analisou a parte que antes o outro homem agarrava, e constatou que Blair não estava machucada. Todavia, isso não diminuiu a raiva dele.- "Ele é um homem morte" sussurrou, mais para si mesmo do que para Blair.Banks olhou diretamente nos olhos de Blair. Ela, por sua vez, permitiu-se ser observada. Ambos estavam sendo iluminados pelo farol da Lamborghini, de modo que Blair não poderia se refugiar na escuridão. Por fim, ela apenas puxou seu pulso para longe do alcance de Ethan.- "Entre no prédio" apesar de ser um pedido, soou como uma ordem.A ruiva pensou por um momento. Estava atordoada com o que lhe acontecera. A forma como o homem lhe abordou, alegando que queria conversar, a atentou. Parecia ter um objetivo. No entanto, enquanto seus pensamentos seguiam o mendigo pelas ricas ruas de Vegas, também e
Blair leu e releu a frase inúmeras vezes antes de enviar, e sentiu-se ridícula logo após. Ela jamais admitiria que havia criado um perfil virtual, coisa que não lhe aprazia, para enviar uma mensagem.Depois, sentindo-se fútil por juntar-se a centenas de pessoas enviando mensagens ao bilionário, ela deixou o celular sobre a cama. O dia seguinte seria um novo dia, com mais oportunidades para pensar incansavelmente no perfume de Banks.*- "Acredite, eu estou orgulhoso de você" Drake murmurou, jogando-se contra o sofá da sala como se fosse uma piscina olímpica.- "É apenas um perfil em uma rede social" Blair fez pouco caso, mas sabia que aquilo significava mais do que admitiria. Na terapia, seria chamado de progresso.- "Você sabe que significa bem mais"A mulher caminhou até o sofá, ainda usando seu pijama confortável, e aninhou-se ao lado do amigo. Por mais que tivessem desavenças, e tinham, ela o amava como um irmão.- "Eu cansei de me esconder do mundo" aquilo era parte da verdade, p