1 ano antes...As pessoas costumam procurar ajuda psicológica quando sentem que não podem lidar com as próprias mentes sozinhas. É deprimente, pois deveríamos ter outra saída. Conviver com uma mente conturbada não é interessante. E, no consultório, nos sentimos como ratinhos sendo examinados e testados; nos fazem perguntas óbvias. Chego a me perguntar o porquê de estar ali, em frente à uma mulher bonita, contando todos meus segredos imundos.Mas funciona com meu amigo, Drake, então talvez funcione comigo. Eu vejo a evolução dele, o quanto ele gosta das seções semanais de terapia, e penso que, em algum momento, vou evoluir também. Sim, como em um passe de mágica. Espero transcender, esquecer meu passado, resolver meus problemas friamente, lidar com minha cabeça conturbada e, de uma hora para a outra, ficar curada. É o que espero, mas sei que as coisas não funcionam assim, nem mesmo nos milagrosos consultórios médicos.Para Drake, a terapia é uma religião. Ele evolui tanto, e tão bem, q
Blair mantinha o olhar pensativo contemplando a imensidão de Las Vegas. Ela pensava em sua vida; o que fez, o que estava fazendo e o que viria a fazer. Sua mente girava em torno dos problemas que já tinha, e dos outros nos quais estava se metendo.Pela terceira vez na madrugada, Drake fora à porta do quarto da amiga e forçou a fechadura, torcendo para que estivesse aberta. Ele não sabia até que ponto havia a magoado, mas sabia que aquele isolamento era um péssimo sinal.Blair tinha um instinto de proteção; não era capaz de confiar, portanto, dificilmente conseguia amar alguém. Estava sempre do lado seguro da rua. Contudo, havia uma razão para tal comportamento; ela sabia que não suportaria outra decepção. A primeira pessoa a quebrar sua confiança fora seu pai, alguém que deveria lhe preservar, e, desde então, toda sua vida fora baseada em medidas de distanciamento emocional.- "Gata, eu sei que errei com você. Não pensei direito..." Drake fez uma pausa.- "Eu quero seu bem, e apenas.
Banks, por sua vez, aproximou-se de Blair e segurou gentilmente seu pulso. A noite fria de Las Veja não interferiu no calor transpassando de uma pele para a outra quando se tocaram. Ele analisou a parte que antes o outro homem agarrava, e constatou que Blair não estava machucada. Todavia, isso não diminuiu a raiva dele.- "Ele é um homem morte" sussurrou, mais para si mesmo do que para Blair.Banks olhou diretamente nos olhos de Blair. Ela, por sua vez, permitiu-se ser observada. Ambos estavam sendo iluminados pelo farol da Lamborghini, de modo que Blair não poderia se refugiar na escuridão. Por fim, ela apenas puxou seu pulso para longe do alcance de Ethan.- "Entre no prédio" apesar de ser um pedido, soou como uma ordem.A ruiva pensou por um momento. Estava atordoada com o que lhe acontecera. A forma como o homem lhe abordou, alegando que queria conversar, a atentou. Parecia ter um objetivo. No entanto, enquanto seus pensamentos seguiam o mendigo pelas ricas ruas de Vegas, também e
Blair leu e releu a frase inúmeras vezes antes de enviar, e sentiu-se ridícula logo após. Ela jamais admitiria que havia criado um perfil virtual, coisa que não lhe aprazia, para enviar uma mensagem.Depois, sentindo-se fútil por juntar-se a centenas de pessoas enviando mensagens ao bilionário, ela deixou o celular sobre a cama. O dia seguinte seria um novo dia, com mais oportunidades para pensar incansavelmente no perfume de Banks.*- "Acredite, eu estou orgulhoso de você" Drake murmurou, jogando-se contra o sofá da sala como se fosse uma piscina olímpica.- "É apenas um perfil em uma rede social" Blair fez pouco caso, mas sabia que aquilo significava mais do que admitiria. Na terapia, seria chamado de progresso.- "Você sabe que significa bem mais"A mulher caminhou até o sofá, ainda usando seu pijama confortável, e aninhou-se ao lado do amigo. Por mais que tivessem desavenças, e tinham, ela o amava como um irmão.- "Eu cansei de me esconder do mundo" aquilo era parte da verdade, p
No dia seguinte, Blair sentia-se energizada. Não precisaria trabalhar, pois os preparos finais para a Fashion Week cabiam apenas aos estilistas. Havia combinado um almoço com Daliah e Drake, para que pudesse apresentar um ao outro. Para ela, era importante que o amigo conhecesse as pessoas que entravam em sua vida.- "Tem certeza de que não quer abrir um vinho?" Drake perguntou pela terceira vez, olhando para o suco de frutas sobre a mesa na sala de jantar.- "É segunda-feira" ela revirou os olhos, sorrindo internamente para a sede insaciável de Drake por vinhos.- "Está certa" ele deu-se por vencido, erguendo os braços.Ambos estavam descontraídos, usando roupas leves e descalços. Era a primeira vez que a mulher se sentia à vontade naquele enorme lugar, cercada pela noção de que seu pai era um homem muito rico.- "Eu quero falar sobre algo" Blair olhou para o amigo, admirando a energia positiva e suave que emanava dele. Era como se Drake fosse seu ponto de luz.- "Certo" ele cruzou o
Dizer para si mesma que aquela conexão não poderia existir era ineficaz. Ela existia. Para Blair, apenas a beleza do homem não era suficiente para provocar aquele efeito devastador. Ele tinha algo a mais, e aquilo fazia a temperatura da mulher subir.- "Eu sei, e concordo. Mas você aparece e some... como um cavaleiro da noite" a todo instante, Blair percorria os olhos por Ethan, em seguida para o chão. Não era capaz de ver os olhos azuis esverdeados sob os óculos de aviador, porém queria.- "Então você quer que eu fique por mais tempo?" apesar do tom forte, a expressão de Ethan era acompanhada por um leve sorriso lateral e sarcástico, com uma dose sutil de malícia.Era a primeira vez que a mulher o via daquela forma, e certamente não estava preparada para tal. Blair sentiu o rosto corar no mesmo momento com todos os pensamentos carnais rondando sua mente, e não apenas com vergonha.- "Eu quis dizer que não tive tempo para agradecer" sua resposta foi verdadeira, mas não completamente.
Assim que a ruiva desceu do veículo, a visão pareceu um filme hollywoodiano. Uma garota bonita demais para parecer real e um esportivo rebaixado. Ela deslizou a mão pelo cabelo, colocando parte dele para trás de sua orelha.- "Esta é Blair Collins, uma amiga" Ethan a apresentou, e ela percebeu que aquela fora a primeira vez que ele a chamou pelo primeiro nome.- "E esta é Lana Glover, minha assessora"A loira, Lana, caminhou para mais perto. Estava usando saltos fatais, o que a deixava alguns centímetros mais alta do que Blair. Ela sorriu, e este gesto sutil revelou muitas coisas. Era explícito em sua expressão displicente o fato de que a ruiva não era a primeira, ou a única, a ser tratada daquela forma.- "É um prazer, Blair. Você vai adorar esse lugar" Lana, apenas para ser gentil, murmurou. Logo depois, se virou para seu chefe.A ruiva analisou Lana, apenas para desencargo de consciência. Trabalhando com Spencer, ela tinha a obrigação de entender melhor as relações de Ethan. Talvez
A princípio, o carro fez uma volta lenta. A velocidade não atingiu cem quilômetros por hora. O piloto estava apenas conhecendo a potência do motor, deixando sua experiência tomar conta do momento.Na segunda volta, seu pé pesou sobre o pedal. A cada segundo o esportivo ficava mais veloz, finalizando as curvas em tempo recorde. Ethan estava concentrado, mas também relaxado. Aquele era o único momento em que ele podia desligar todos seus sentidos e preocupar-se apenas em cruzar a linha de chegada.Quando ele passava pelo pit-stop, o barulho estrondoso e potente era ainda mais explícito. O acelerar firme e constante fazia os pneus ressoarem com a fricção no asfalto.Diante da fascinação pela maneira obstinada de Ethan dirigir, Blair não conteve a vontade de levantar-se. A mulher estava agitada demais para assistir de longe. E enquanto ela caminhava para frente, ouviu os toques do salto de Lana. A loira estava saindo do pavilhão do autódromo e entrando pelo lado seguro da pista.- "Blair"