— Laura, você não tem limites! — a voz de Lucas cortou o ar da mansão com uma força que fez os ossos de Laura tremerem. Ela ficou paralisada, os olhos arregalados de surpresa e medo.
A porta do escritório estava entreaberta, e ela estava ali, na entrada, com a carta de Lucas ainda nas mãos. O choque em seu rosto não passou despercebido por ele.
— O que você pensava que estava fazendo, Laura? Invadir o meu escritório e mexer nas minhas coisas? — ele estava furioso, a raiva estampada em cada palavra, cada gesto.
Laura não sabia o que responder. A tensão entre eles tinha aumentado de uma maneira que ela não conseguia controlar. Ela nunca imaginou que isso fosse acontecer tão rápido, mas o erro estava feito. A carta que ela havia encontrado parecia ser uma lembrança da falecida esposa de Lucas, e a curiosidade a havia empurrado para ali. Ela sabia que não era o certo, mas, naquele momento, tudo o que ela queria era entender mais sobre aquela família, sobre Lucas, e sobre o que realmente acontecia por trás das paredes da mansão.
— Eu... eu só... — as palavras de Laura saíram em um fio de voz, tremendo com o tom de acusação.
— "Só"? Você acha que "só" é uma desculpa para se intrometer assim? — Lucas avançou um passo em sua direção, e Laura sentiu o ar ficar denso. — Eu te avisei antes, Laura. Você trabalha aqui para cuidar das crianças. Não para vasculhar minha vida pessoal.
Laura engoliu em seco, sentindo o peito apertado. A carta que ela ainda segurava nas mãos parecia ter ganhado um peso inimaginável. O que ela poderia fazer agora? Como pedir desculpas? Mas, ao mesmo tempo, algo dentro dela se rebelava. Ele estava sendo injusto. Ela não era uma simples empregada, ela estava ali para cuidar das crianças, mas também para entender tudo o que se passava ali. Era impossível não se envolver, não se questionar sobre o comportamento de todos, sobre as tensões silenciosas.
— Eu não estava tentando invadir sua privacidade, Sr... — disse ela com mais firmeza, mas as palavras saíram mais fracas do que ela imaginava.
— Não, você não estava tentando, você fez isso de propósito! — a voz de Lucas estava cada vez mais alta. Ele passou a mão pelos cabelos, um gesto nervoso. — Eu te disse para não se meter onde não foi chamada. Agora veja o que aconteceu! Está tudo errado!
Laura se sentiu pequena, insignificante, mas, no fundo, sabia que a única coisa que ela podia fazer agora era se justificar, se desculpar. Contudo, o que ela não esperava era que ele se aproximasse ainda mais dela, interrompendo qualquer tentativa de reação.
— Você acha que pode vir aqui, mexer nas minhas coisas e sair impune? — a raiva era palpável, e Lucas não parecia disposto a dar descanso a ela. Ele estava furioso. — Se não fosse pelas crianças, eu teria te mandado embora agora mesmo!
As palavras caíram como um soco no estômago de Laura. Ela sentiu a dor, o desconforto, o peso de cada uma delas. Estava claro que Lucas não queria a presença dela ali. O que ela estava fazendo? Deveria ter ficado fora disso tudo.
Ela mordeu o lábio inferior, tentando segurar as lágrimas que ameaçavam cair. Não queria parecer fraca diante dele, mas a raiva, a frustração e a sensação de estar sendo tratada como uma intrusa tomavam conta de seu corpo.
— Eu vou embora, Lucas. — Ela respirou fundo, decidida. — Eu não posso continuar assim.
Ela deu um passo para trás, sem saber para onde ir. A dor que sentia parecia esmagadora, mas sua mente estava mais clara do que nunca. Talvez fosse melhor sair dali antes que fosse tarde demais. O que ela estava fazendo naquela mansão, naquela vida? Ela não queria estar no meio disso. Mas, ao mesmo tempo, a lembrança de sua mãe e de seu irmão, que dependiam dela, a trouxe de volta à realidade.
Ela não podia desistir. Não podia permitir que um erro fizesse com que ela jogasse tudo para o alto.
— Você não vai a lugar nenhum! — Lucas gritou, pegando o braço dela com mais força do que ela imaginava ser possível.
Laura se assustou com a proximidade dele, com a agressividade repentina. Mas, quando ele a olhou nos olhos, a raiva dava lugar a uma dor profunda, como se ele também estivesse lutando contra algo muito maior do que ele mesmo.
— Eu não posso deixar você fazer isso, Laura — ele falou com uma voz mais baixa agora, mais fraca, como se estivesse tentando se controlar. — Você está certa. Eu sou um idiota. Eu exagerei. Mas você precisa entender: não é simples para mim. Nada disso é simples.
Laura ficou em silêncio. O que ele estava tentando dizer? Ela queria entender, mas não sabia se deveria dar ouvidos àquelas palavras. Ele estava jogando a responsabilidade sobre ela agora, como se estivesse querendo que ela entendesse as suas frustrações, mas, ao mesmo tempo, sentia-se culpada por algo que nem sabia ao certo.
Ela balançou a cabeça, tentando afastar o que estava acontecendo ao redor deles. A verdade era que ela não podia mais ser envolvida com as questões dele, com o controle que ele tentava exercer sobre sua vida. Mas, por outro lado, a vida dela, a realidade de sua mãe e do irmão, a força para continuar, isso era o que a fazia voltar atrás.
— Eu não posso deixar esse trabalho, Sr. Eu... — Ela engoliu em seco, a respiração ainda irregular. — Eu tenho responsabilidades. Não posso me dar ao luxo de desistir.
Ele olhou para ela, seus olhos agora mais suaves. A raiva dava lugar a uma espécie de compreensão, ou talvez apenas um resquício de culpa por tudo o que ele estava fazendo.
— Eu sei que você tem responsabilidades, Laura — disse ele, com a voz mais calma, mas ainda carregada de algo que ela não conseguia definir. — Eu só não sei mais o que fazer.
Havia uma confusão nos olhos de Lucas. Ele estava tão perdido quanto ela.
Ela afastou o braço dele, com um gesto suave, mas firme. — Eu não posso te ajudar com isso, Lucas. Eu sou só uma pessoa. Mas vou continuar aqui pelo que é certo. Eu não vou me afastar das crianças.
Lucas deu um passo para trás, fechando os olhos por um momento, como se estivesse processando tudo o que estava acontecendo. Ela não sabia se ele estava agradecendo, se estava bravo ou apenas cansado demais para reagir.
— Só não me faça de idiota, Laura — ele disse baixinho, mas o tom, embora mais suave, ainda estava lá, carregado de uma tensão não resolvida.
Laura olhou para ele, respirando fundo, lhe entregou o envelope que estava em suas mãos antes de se virar e sair do escritório. Ela sabia que o caminho à sua frente estava cheio de incertezas. Mas, à medida que caminhava pelos corredores, sua mente se fixava no que realmente importava: sua mãe e seu irmão. Eles precisavam dela. E, talvez, essa fosse a única razão para ela não ter desistido. Ela estava ciente que deixou seu lado curioso falar mais alto e que estava completamente errada.
Enquanto alisava seu braço dolorido, Laura foi até o quarto das crianças, fechando a porta suavemente atrás de si. Ela sentou-se na cama de Theo e olhou para Sofia, que já estava adormecida. Mas antes que pudesse refletir sobre o que ela acabara de viver com Lucas, um som vindo do corredor a fez se virar rapidamente.
Era um barulho suave, mas inconfundível: uma porta fechando com força. O que estaria acontecendo agora?
O estalo da porta foi como um eco cortante que reverberou pelos corredores da mansão. Laura congelou. O barulho não parecia ter vindo da parte de cima da casa, onde ela estava com as crianças, mas do andar de baixo. Uma sensação de alerta percorreu sua espinha.Ela olhou para o corredor vazio e, sem hesitar, saiu do quarto das crianças. Seus passos eram silenciosos, mas a tensão estava clara em cada movimento. O que estava acontecendo ali? Desde que chegara, algo parecia estranho na casa. A noite, que sempre trazia uma calmaria ilusória, agora parecia sombria e ameaçadora. E aquele som... Ele não era normal.Enquanto descia as escadas, um flash de memória a atingiu — a discussão entre Lucas e Vanessa mais cedo. Os gritos. As palavras cortantes. Algo não estava certo entre eles, e ela estava começando a perceber que havia muito mais por trás daquela fachada perfeita de uma família feliz.Chegando ao final da escada, ela se escondeu nas sombras do corredor, perto do escritório. De onde
— Volte para o quarto e fique com as crianças, Laura. Eu cuido disso. — A voz de Lucas era cortante, deixando claro que aquilo não era um pedido, mas uma ordem.Laura hesitou, mas assentiu lentamente. Não era o momento de discutir. Ele desapareceu rapidamente pelas escadas, a tensão estampada em cada movimento. Ela tentou se convencer de que deveria obedecer e voltar para as crianças, mas a curiosidade era mais forte. Algo estava acontecendo naquela casa, algo maior do que ela podia entender, e ela precisava saber o que era.Movendo-se silenciosamente, Laura desceu atrás de Lucas, mantendo distância suficiente para não ser notada. Quando chegou perto do escritório, viu a porta entreaberta e o som abafado de vozes exaltadas.— O que está fazendo com isso? — Lucas perguntava, a voz grave e carregada de frustração.— Isso? — Vanessa respondeu, com um tom de ironia cortante. — Estou tentando entender como você deixou isso aqui, tão à vista. — A palavra "isso" foi acompanhada de um som de
O amanhecer trouxe uma mistura de alívio e peso ao coração de Laura. Ela havia passado a noite inteira acordada, revendo sua decisão. Era o melhor a ser feito. A tensão naquela casa não era mais sustentável, e sua família precisava dela.Ela respirou fundo ao descer as escadas. O silêncio ainda pairava pela mansão, mas ela sabia que, em breve, todos estariam acordados. O café seria servido, as crianças correriam pela casa, e, naquele momento, ela precisaria se despedir.Ao entrar na cozinha, encontrou Maria já ocupada preparando o café. A governanta ergueu os olhos e sorriu de leve, mas sua expressão logo mudou ao perceber a bolsa pequena ao lado de Laura.— Você vai embora? — perguntou Maria, baixando o tom de voz.Laura assentiu, tentando sorrir.— Sim. Chegou a hora.Maria suspirou, enxugando as mãos no avental.— Vou sentir sua falta, Laura. Mas você sabe o que é melhor para você.Laura queria responder, mas foi interrompida por passos apressados no corredor. Shofia entrou na cozi
Laura colocou a última peça de roupa de volta no armário, respirando fundo para acalmar a tempestade de emoções que sentia. O reencontro com as crianças havia sido avassalador, mas ela sabia que ainda tinha muito o que resolver. Ao fechar a pequena bolsa, um som inesperado a trouxe de volta ao momento.Toque, toque, toque.A batida na porta a fez gelar por um segundo. Assim que abriu, Lucas estava ali, imponente como sempre, mas com um olhar que misturava seriedade e algo mais que ela não conseguia decifrar.— Laura, precisamos conversar.Ela assentiu, dando um passo para o lado para que ele entrasse. Lucas caminhou até o centro do quarto, as mãos nos bolsos, enquanto Laura encostava a porta.— Eu sei que você está passando por um momento difícil — começou ele, a voz baixa, mas carregada de intenção. — Mas preciso entender exatamente o que está acontecendo.Laura respirou fundo, tentando organizar os pensamentos.— Sr., eu não estava planejando contar isso, mas minha mãe... — Sua voz
— Chegamos, senhorita Laura. — A voz calma do motorista cortou o silêncio.Laura olhou pela janela, respirando fundo ao reconhecer a casa simples onde cresceu. As luzes da sala estavam acesas, lançando sombras familiares pelas cortinas gastas. Ela agradeceu ao motorista e desceu do carro, sentindo o coração pesado enquanto atravessava o portão enferrujado.No banco da frente, o motorista observava, mas não disse nada. Ele sabia que aquela visita tinha um peso maior do que aparentava.— Laura! — A voz de Davi, seu irmão mais novo, ecoou quando ele a viu na porta. — Você está aqui!Ele correu para abraçá-la, e Laura retribuiu com força, percebendo como ele estava magro.— Como estão as coisas, Davi? E a mamãe? — perguntou ela, olhando além dele para o corredor que levava ao quarto da mãe.Davi hesitou, mas finalmente respondeu:— Não muito bem. Os remédios estão acabando, e o médico disse que ela precisa de cuidados constantes.O peso das palavras caiu sobre Laura como uma avalanche. El
— Lucas, precisamos conversar agora! — A voz de Vanessa ecoou pela sala de estar, cortando o silêncio da casa.Lucas, que acabara de descer para buscar um café, parou na escada e olhou para ela, cansado.— Vanessa, não é o momento. As crianças acabaram de dormir, e eu não quero discussões.Ela se aproximou rapidamente, o som dos saltos batendo contra o piso de madeira.— Não é uma discussão, Lucas. É uma questão de prioridade. Eu sou a mãe do seu próximo filho, ou isso já não significa nada para você?Ele passou a mão pelos cabelos, visivelmente incomodado com a intensidade dela.— Claro que significa. Mas você precisa parar de usar isso como um trunfo a cada conversa. Eu estou tentando lidar com muitas coisas ao mesmo tempo.— Muitas coisas? — Vanessa cruzou os braços, a raiva evidente em seus olhos. — Ou apenas uma coisa: Laura.Lucas estreitou os olhos, sua paciência finalmente chegando ao limite.— Vanessa, isso é ridículo. Você está tentando transformar Laura em um problema que e
— Sr., você já pensou sobre o que conversamos? — Laura perguntou com cautela, enquanto Lucas organizava os papéis que estavam espalhados pela mesa do escritório.Ele olhou para ela, distraído. Não era sobre os papéis ou as decisões que precisavam ser tomadas a respeito das escolas. Era sobre o espaço que Laura começava a ocupar, não só na casa, mas em sua vida. Ultimamente Lucas andava distraído e não sabia como lidar com que estava começando a sentir por Laura.— Sim, eu pensei. Acho que visitar algumas escolas na próxima semana seria o primeiro passo a se fazer. — Lucas respondeu, tentando manter o foco na conversa prática, embora sua mente estivesse mergulhada no tumulto de emoções que Laura sempre parecia trazer consigo.Antes que Laura pudesse responder, Vanessa entrou abruptamente na sala, seu salto alto ecoando no chão.— Lucas, querido, preciso falar com você. É algo importante. — Sua voz carregava um tom calculado, quase açucarado, que fazia Laura recuar instintivamente.— Cl
As risadas ecoavam pelo salão principal, misturadas ao tilintar das taças de cristal. Vanessa era o centro das atenções, deslumbrante em um vestido vermelho, exibindo um sorriso radiante enquanto circulava entre os convidados. Lucas estava ao seu lado, mas sua expressão era distante, quase ausente, como se estivesse ali apenas em corpo.Laura, depois de colocar as crianças para dormir deixou sua curiosidade falar mais alto e escondida atrás da porta semiaberta do corredor, observava tudo com o coração pesado. A cena à sua frente parecia um teatro bem ensaiado, uma peça em que ela não tinha lugar, mas cujas consequências a afetavam profundamente.Ela mordeu o lábio, reprimindo as lágrimas, enquanto Vanessa levantava a taça e fazia um brinde.— A uma nova fase em nossas vidas! — Vanessa proclamou, sorrindo triunfante para os convidados. — E, claro, ao homem que eu amo, Lucas!O salão explodiu em aplausos, mas Laura sentia cada palmas como um golpe.Mais cedo naquela noite, Vanessa fez s