— Chegamos, senhorita Laura. — A voz calma do motorista cortou o silêncio.
Laura olhou pela janela, respirando fundo ao reconhecer a casa simples onde cresceu. As luzes da sala estavam acesas, lançando sombras familiares pelas cortinas gastas. Ela agradeceu ao motorista e desceu do carro, sentindo o coração pesado enquanto atravessava o portão enferrujado.
No banco da frente, o motorista observava, mas não disse nada. Ele sabia que aquela visita tinha um peso maior do que aparentava.
— Laura! — A voz de Davi, seu irmão mais novo, ecoou quando ele a viu na porta. — Você está aqui!
Ele correu para abraçá-la, e Laura retribuiu com força, percebendo como ele estava magro.
— Como estão as coisas, Davi? E a mamãe? — perguntou ela, olhando além dele para o corredor que levava ao quarto da mãe.
Davi hesitou, mas finalmente respondeu:
— Não muito bem. Os remédios estão acabando, e o médico disse que ela precisa de cuidados constantes.
O peso das palavras caiu sobre Laura como uma avalanche. Ela entrou no quarto da mãe e a encontrou deitada, os olhos fechados, respirando com dificuldade.
— Mamãe... — murmurou Laura, segurando a mão dela.
A mãe abriu os olhos lentamente, um sorriso fraco iluminando o rosto pálido.
— Laura, minha filha. Você voltou.
O nó na garganta de Laura apertou, mas ela sorriu para esconder a dor. Era muito difícil ver sua mãe nesta situação.
Mais tarde, enquanto Davi lavava a louça na cozinha, Laura se sentou com ele à mesa.
— Como você tem lidado com tudo isso? — perguntou ela, sabendo que Davi assumia mais responsabilidades do que deveria para alguém da idade dele.
— Eu faço o que posso. Estudo de manhã, cuido da mamãe à tarde. Às vezes, parece que nunca vai melhorar.
O tom resignado de Davi partiu o coração de Laura. Ela sabia que precisava encontrar uma solução, mas as opções eram limitadas.
— Eu posso ajudar — começou ela, mas Davi a interrompeu.
— Laura, você já faz muito. Não quero que você desista da sua vida por causa disso. Imã você tem seus sonhos e eu sou o homem da casa, era eu quem tinha que está cuidando de você e de mamãe.
Ela não respondeu, mas a oferta de Lucas voltou à sua mente como um martelo. Era a solução perfeita, mas aceitar significava se prender ainda mais àquela casa, àquela família... e a Lucas.
Enquanto Laura lutava com suas escolhas, na mansão, Vanessa não escondia sua insatisfação.
— Você mandou o motorista levar Laura para casa? — perguntou ela a Lucas, com uma expressão de desgosto.
— Sim, e faria de novo se fosse necessário — respondeu ele, sem levantar os olhos dos papéis que lia no escritório.
Vanessa bufou, cruzando os braços.
— Você está se importando demais com essa mulherzinha.
Lucas finalmente ergueu os olhos, a paciência se esgotando.
— E você está se importando demais com coisas que não são da sua conta, Vanessa.
A tensão entre os dois era palpável, mas Lucas se recusava a ceder. Ele sabia que Vanessa estava tentando manipular a situação, e isso apenas reforçava sua decisão de manter Laura por perto.
Na manhã seguinte, Laura acordou cedo, determinada a tomar uma decisão. Ela sabia que a saúde de sua mãe e a vida de seu irmão dependiam dela, mas também sabia que aceitar a ajuda de Lucas significava abrir mão de sua independência.
Antes de sair, sua mãe chamou-a ao quarto.
— Laura, sei que você quer fazer o que é certo, mas às vezes o que parece uma dívida é apenas uma forma de amor. Aceite ajuda quando ela for sincera, minha filha.
As palavras da mãe ecoaram na mente de Laura enquanto ela pegava o telefone para ligar para sua amiga Clara. Sua amiga sempre tinha conselhos sábios.
Ao voltar para a mansão naquela tarde, Laura encontrou Lucas no jardim, brincando com as crianças. Ele parecia relaxado, mas o sorriso desapareceu ao vê-la.
— Laura, você voltou. — Ele se levantou, aproximando-se dela.
Ela respirou fundo antes de falar.
— Eu aceito sua ajuda, Lucas. Mas isso tem que ser um acordo. Não quero caridade.
Lucas sorriu levemente, estendendo a mão para selar o trato.
— É um acordo.
De longe, Vanessa observava, os olhos brilhando com raiva.
— Ela acha que ganhou, mas ainda não terminou — murmurou para si mesma, antes de se virar e desaparecer para dentro da casa, já tramando o próximo movimento.
Laura olhou para Lucas, sua mão ainda estendida após o acordo que haviam feito. Ela hesitou por um momento antes de apertá-la, sentindo um misto de alívio e peso. As palavras de sua mãe ecoavam em sua mente: "Aceite ajuda quando ela for sincera."
— Obrigada, sr. Eu vou pagar cada centavo. — Sua voz era firme, mas havia uma nota de vulnerabilidade que Lucas percebeu imediatamente.
Ele balançou a cabeça, com um sorriso discreto.
— Não estou fazendo isso esperando algo em troca, Laura. Mas sei que você encontrará uma maneira de equilibrar as coisas à sua maneira.
Enquanto isso, da sacada no andar de cima, Vanessa observava a cena com um olhar gelado. O sorriso de Lucas e a postura confiante de Laura a irritavam profundamente.
Mais tarde naquela noite, Vanessa, ainda incomodada, decidiu descobrir mais sobre a relação de Laura com Lucas. Ela sabia que havia algo mais do que apenas uma babá e um patrão. Após certificar-se de que todos estavam ocupados, Vanessa foi até o escritório de Lucas.
Ela vasculhou a mesa rapidamente, abrindo gavetas e verificando papéis. Não demorou muito para encontrar o que procurava: um documento com um contrato preliminar de assistência financeira assinado por Lucas. A expressão de Vanessa mudou de curiosidade para pura raiva.
— Então, é isso? Ele está ajudando aquela garota? — murmurou para si mesma.
Vanessa continuou lendo o documento, percebendo que Lucas havia se comprometido a custear o tratamento médico da mãe de Laura e a ajudar a família dela financeiramente.
— Ele nunca fez algo assim por mim — sussurrou, com um sorriso amargo, antes de fechar o contrato com força e sair do escritório, determinada a confrontar Lucas.
Vanessa encontrou Lucas no corredor que levava aos quartos das crianças. Ele estava saindo do quarto de Theo, onde tinha acabado de contar uma história para dormir.
— Lucas, podemos conversar? — perguntou ela, com um tom doce, mas falso.
Lucas franziu o cenho, percebendo o tom.
— Claro, o que foi?
— Sobre Laura. — Vanessa cruzou os braços, o rosto endurecendo. — Eu descobri que você está ajudando a família dela financeiramente.
Lucas suspirou, cruzando os braços também.
— E o que tem isso?
— O que tem isso? — Vanessa repetiu, incrédula. — Você está se envolvendo demais. Não percebe que ela está se aproveitando de você?
Lucas deu um passo à frente, sua paciência claramente esgotando.
— Vanessa, você não sabe nada sobre Laura ou sua situação. Ela não pediu minha ajuda; eu ofereci porque é o certo a fazer.
Vanessa bufou, sem se deixar intimidar.
— O que você acha que isso vai parecer para outras pessoas, Lucas? Para sua família, seus negócios? Uma babá com quem você claramente tem... mais do que uma relação profissional.
Lucas estreitou os olhos.
— Chega, Vanessa. Não vou discutir isso com você. Laura é uma pessoa incrível que tem cuidado das minhas crianças melhor do que qualquer outra pessoa poderia. Eu confio nela, e isso é algo que talvez você nunca entenda.
Vanessa ficou boquiaberta, mas antes que pudesse responder, Lucas se virou e foi embora.
De volta ao seu quarto, Vanessa encarava o espelho, o rosto cheio de raiva e determinação.
— Eu preciso me livrar dela. Ela está destruindo tudo o que eu planejei, tudo o que deveria ser meu.
Enquanto isso, Laura estava no quarto, arrumando suas coisas depois de um longo dia. Ela não fazia ideia do que Vanessa havia descoberto ou das tramas que ela estava começando a arquitetar.
Quando Laura apagou a luz para dormir, um leve barulho no corredor chamou sua atenção. Ela foi até a porta e abriu-a devagar, mas não viu ninguém. No entanto, o silêncio da casa parecia mais denso do que o normal.
Ela voltou para a cama, mas algo em sua mente a alertava: as coisas estavam prestes a mudar, e não de uma maneira boa.
Do outro lado da casa, Vanessa olhava para a noite pela janela.
— É só uma questão de tempo, Laura. — sussurrou, com um sorriso frio.
— Lucas, precisamos conversar agora! — A voz de Vanessa ecoou pela sala de estar, cortando o silêncio da casa.Lucas, que acabara de descer para buscar um café, parou na escada e olhou para ela, cansado.— Vanessa, não é o momento. As crianças acabaram de dormir, e eu não quero discussões.Ela se aproximou rapidamente, o som dos saltos batendo contra o piso de madeira.— Não é uma discussão, Lucas. É uma questão de prioridade. Eu sou a mãe do seu próximo filho, ou isso já não significa nada para você?Ele passou a mão pelos cabelos, visivelmente incomodado com a intensidade dela.— Claro que significa. Mas você precisa parar de usar isso como um trunfo a cada conversa. Eu estou tentando lidar com muitas coisas ao mesmo tempo.— Muitas coisas? — Vanessa cruzou os braços, a raiva evidente em seus olhos. — Ou apenas uma coisa: Laura.Lucas estreitou os olhos, sua paciência finalmente chegando ao limite.— Vanessa, isso é ridículo. Você está tentando transformar Laura em um problema que e
— Sr., você já pensou sobre o que conversamos? — Laura perguntou com cautela, enquanto Lucas organizava os papéis que estavam espalhados pela mesa do escritório.Ele olhou para ela, distraído. Não era sobre os papéis ou as decisões que precisavam ser tomadas a respeito das escolas. Era sobre o espaço que Laura começava a ocupar, não só na casa, mas em sua vida. Ultimamente Lucas andava distraído e não sabia como lidar com que estava começando a sentir por Laura.— Sim, eu pensei. Acho que visitar algumas escolas na próxima semana seria o primeiro passo a se fazer. — Lucas respondeu, tentando manter o foco na conversa prática, embora sua mente estivesse mergulhada no tumulto de emoções que Laura sempre parecia trazer consigo.Antes que Laura pudesse responder, Vanessa entrou abruptamente na sala, seu salto alto ecoando no chão.— Lucas, querido, preciso falar com você. É algo importante. — Sua voz carregava um tom calculado, quase açucarado, que fazia Laura recuar instintivamente.— Cl
As risadas ecoavam pelo salão principal, misturadas ao tilintar das taças de cristal. Vanessa era o centro das atenções, deslumbrante em um vestido vermelho, exibindo um sorriso radiante enquanto circulava entre os convidados. Lucas estava ao seu lado, mas sua expressão era distante, quase ausente, como se estivesse ali apenas em corpo.Laura, depois de colocar as crianças para dormir deixou sua curiosidade falar mais alto e escondida atrás da porta semiaberta do corredor, observava tudo com o coração pesado. A cena à sua frente parecia um teatro bem ensaiado, uma peça em que ela não tinha lugar, mas cujas consequências a afetavam profundamente.Ela mordeu o lábio, reprimindo as lágrimas, enquanto Vanessa levantava a taça e fazia um brinde.— A uma nova fase em nossas vidas! — Vanessa proclamou, sorrindo triunfante para os convidados. — E, claro, ao homem que eu amo, Lucas!O salão explodiu em aplausos, mas Laura sentia cada palmas como um golpe.Mais cedo naquela noite, Vanessa fez s
A noite estava mais silenciosa do que Laura esperava quando saiu discretamente de seu quarto. Com passos leves, ela cruzou o corredor, ainda pensando na cena do noivado de Lucas e Vanessa. Cada detalhe parecia gravado em sua memória: o sorriso calculado de Vanessa, o olhar evasivo de Lucas.Ela precisava de ar, precisava organizar os pensamentos.— Laura?A voz a fez congelar no lugar. Virando-se devagar, ela viu Lucas parado na entrada do corredor. Ele tinha os braços cruzados, a expressão carregada de algo entre cansaço e frustração.— O que está fazendo acordada a essa hora? — ele perguntou, dando um passo à frente.Laura hesitou, mas decidiu manter a compostura.— Não consegui dormir. Eu... precisava pensar.Lucas suspirou e encostou-se à parede, parecendo tão perdido quanto ela.— Parece que ambos estamos no mesmo barco.O silêncio pairou entre eles por um momento, até que Laura o quebrou com uma pergunta que estava queimando em sua mente.— Você está feliz, Sr.?Ele a olhou dire
Vanessa olhou para o relógio com impaciência. Passava das nove da noite, e sua amiga, Gabriela, finalmente havia chegado. Assim que a porta se fechou, Vanessa a conduziu para o escritório, certificando-se de que ninguém mais estava por perto.— E então, você pensou em algo? — Vanessa perguntou, cruzando os braços.Gabriela ajeitou a bolsa no ombro, sentando-se na poltrona como se estivesse completamente à vontade.— Pensei, sim. Lucas é um pai preocupado, certo? Se algo acontecesse com uma das crianças, algo que parecesse grave, ele seria obrigado a aceitar que elas precisam de mais segurança.— Continue... — Vanessa disse, inclinando-se para frente, os olhos brilhando com expectativa.— Você precisa criar uma situação onde pareça que a Laura foi irresponsável. Alguma coisa que coloque as crianças em risco, mas que não cause danos reais. Algo que faça Lucas perceber que ele não pode confiar totalmente nela.Vanessa franziu a testa, refletindo sobre as palavras da amiga.— Um acidente,
Laura estava em pé na entrada de sua casa, a lua brilhava no céu. O motorista da mansão buzinou suavemente para avisar que estava esperando. Ela olhou para sua mãe, que estava sentada em uma poltrona confortável na sala, e depois para seu irmão Davi, que vinha trazendo sua bolsa.— Você não precisa ir, Laura — Davi insistiu, segurando a bolsa com firmeza. — Mamãe e eu ficaremos bem.— Eu sei que ficarão, mas preciso voltar. — Laura deu um sorriso triste. — O trabalho é importante, Davi. Você sabe como as coisas estão difíceis.Lídia, mesmo com a voz fraca, tentou intervir:— Filha, só quero que você cuide de si mesma. Parece que esse emprego te exige mais do que devia.Laura se abaixou para abraçar a mãe, sentindo o cheiro familiar de lavanda em seus cabelos.— Vai ficar tudo bem, mamãe. Prometo.Com um último abraço em Davi, ela saiu e entrou no carro, olhando para a casa pelo retrovisor até que sumisse de vista.Enquanto isso Vanessa estava no escritório, com um sorriso maquiavélico
Laura caminhava pelo corredor, segurando o casaco que Shophia havia deixado no sofá. Seu coração estava pesado desde que Lucas voltara de viagem, e as palavras dele ecoavam em sua mente."Laura, você tem certeza de que nada aconteceu fora do comum enquanto eu estava fora?"Ela sabia que Lucas estava tentando juntar as peças, mas Vanessa era habilidosa em plantar dúvidas. Era uma batalha silenciosa, e Laura sentia que estava ficando sem forças.Ao virar no corredor, ela ouviu vozes abafadas vindo do escritório. Parou por um momento, reconhecendo a voz de Vanessa.— Ele está começando a desconfiar de mim, Gabi. — Vanessa murmurava, tentando manter o tom baixo. — Mas não importa. Com Lucas cada vez mais próximo das crianças, eu só preciso de mais uma jogada.Laura recuou, o coração batendo forte. Mais uma jogada?Enquanto isso, Lucas estava em seu quarto, observando uma foto da família que ficava na mesa de cabeceira. Seus pensamentos estavam confusos. Desde que retornara, notara uma ten
O som do motor do ônibus soava como um zumbido interminável enquanto Laura olhava pela janela, apertando a alça de sua bolsa surrada. Seus pensamentos dançavam entre o nervosismo e a esperança. Era a última chance. Se não conseguisse esse emprego, a luz no fim do túnel ficaria mais distante.A cidade passava em flashes ao seu lado: prédios altos, ruas movimentadas e, finalmente, as áreas mais calmas e arborizadas. Quando o ônibus parou, ela desceu rapidamente, ajeitando o cabelo preso de maneira prática. A mansão era ainda mais imponente do que parecia na foto do anúncio. Portões altos de ferro e um jardim perfeitamente aparado anunciavam o status da família para quem ela esperava trabalhar."É agora ou nunca", murmurou para si mesma, endireitando a postura antes de tocar a campainha.A porta foi aberta por uma mulher de uniforme, de meia-idade, que parecia estar na casa há mais tempo do que qualquer móvel.— Você é a Laura?— Sim, sou eu — respondeu, com um sorriso tímido.— Entre. O