— Theo, cuidado! — Laura correu instintivamente para aparar o pequeno garoto de três anos, que quase derrubou um vaso enquanto brincava.
Shofia, sentada no tapete da sala com uma boneca em mãos, riu alto.
— Ele é desajeitado assim o tempo todo.
Laura sorriu, pegando Theo no colo. Ele retribuiu com um olhar tímido, mas ela percebeu que ele já começava a relaxar na sua presença. Era seu segundo dia na mansão, e ela já estava se acostumando às personalidades contrastantes das crianças.
Lucas entrou na sala naquele momento, interrompendo a calmaria. Ele parecia cansado, o terno ligeiramente desarrumado, mas seus olhos imediatamente se suavizaram ao ver os filhos.
— Como eles se comportaram hoje? — perguntou, enquanto tirava o relógio de pulso.
— Muito bem. Shofia é uma ajudante nata e Theo... bem, ele é um explorador — respondeu Laura com um sorriso.
Lucas riu, um som raro e baixo.
— Isso soa como ele.
Antes que Laura pudesse responder, passos ecoaram pelo corredor. Vanessa apareceu na porta, impecável como sempre, mas com um ar de desagrado que parecia permanente.
— Lucas, precisamos conversar. — Ela mal olhou para Laura ou para as crianças.
Ele franziu a testa, mas seguiu Vanessa para o escritório. Laura percebeu o olhar breve e avaliador que Vanessa lançou em sua direção antes de desaparecer pelo corredor.
Mais tarde naquela noite...
Após colocar as crianças para dormir, Laura desceu para a cozinha. Maria estava lá, lavando a louça.
— Dia cheio? — perguntou Maria, sem desviar os olhos do prato que enxaguava.
— Sim, mas acho que está indo bem — respondeu Laura, pegando um copo de água.
Maria olhou por cima do ombro, como se estivesse prestes a dizer algo importante.
— Cuidado com Vanessa. Ela não gosta de intrusos no que ela considera ser dela.
Laura franziu a testa.
— Você acha que ela me vê como uma ameaça?
Maria suspirou, enxugando as mãos.
— Não é questão de achar. Vanessa gosta de controlar. Qualquer um que se aproxime de Lucas ou das crianças é automaticamente um problema para ela.
Antes que Laura pudesse responder, passos se aproximaram pelo corredor. Maria rapidamente voltou ao trabalho, e Vanessa entrou na cozinha.
— Ainda acordada? — perguntou Vanessa, com um sorriso frio.
— Sim, estava apenas pegando um copo d'água.
Vanessa caminhou até Laura, inclinando-se um pouco para diminuir a distância.
— Deixe-me ser clara, Laura. Você trabalha aqui para cuidar das crianças, só isso. Não se meta onde não é chamada.
Laura engoliu em seco, mas não se deixou intimidar.
— Estou aqui apenas para fazer meu trabalho, Dona Vanessa. Nada mais.
Vanessa arqueou uma sobrancelha, claramente irritada com a resposta firme.
— Ótimo. Porque se você se desviar do seu caminho, vai descobrir que eu não sou uma pessoa que você quer como inimiga.
Laura ficou parada enquanto Vanessa saía da cozinha, sentindo uma onda de indignação crescer. Essa mulher estava claramente tentando estabelecer domínio, mas Laura não era o tipo de pessoa que aceitava ameaças.
No dia seguinte...
A manhã começou tranquila. Laura estava no jardim com as crianças, ajudando Shofia a organizar um piquenique improvisado, quando Lucas apareceu. Ele estava sem gravata, um visual mais descontraído que combinava com o dia ensolarado.
— Bom dia — disse ele, observando a cena com um leve sorriso.
— Bom dia — respondeu Laura. — Estamos tentando organizar um piquenique.
Shofia pulou animadamente.
— Papai, você vai participar?
Lucas hesitou, mas o olhar esperançoso da filha o convenceu.
— Claro. Vou pegar algo na cozinha para ajudar.
Enquanto ele se afastava, Shofia virou-se para Laura.
— Papai nunca tem tempo para brincar. Acho que ele gosta de você.
Laura sorriu, mas sentiu o peso das palavras da menina.
— Tenho certeza de que ele tenta o melhor que pode, Shofia.
Antes que pudessem continuar, uma voz fria cortou o ar.
— Que cena adorável.
Laura se virou para encontrar Vanessa, usando óculos escuros e um vestido impecável, olhando para eles com desdém.
— O que você está fazendo, Vanessa? — perguntou Lucas, retornando com um prato de frutas.
— Só vim dar uma olhada. Parece que Laura está se divertindo mais do que deveria no trabalho.
Lucas franziu a testa.
— Ela está cuidando das crianças. Não há problema nisso.
Vanessa sorriu falsamente, mas Laura podia ver a irritação por trás de seus olhos.
— Claro. Apenas certifique-se de que isso não se torne um hábito.
Lucas ignorou o comentário, mas Laura sentiu o desconforto crescer.
Mais tarde, enquanto Laura colocava Theo para dormir, ouviu vozes exaltadas no andar de baixo. Curiosa, ela desceu silenciosamente e viu Lucas e Vanessa no escritório. A porta estava entreaberta, permitindo que Laura ouvisse parte da discussão.
— Ela é só uma babá, Lucas! Por que está tão preocupado com o que ela pensa ou faz? — Vanessa estava claramente irritada.
— Porque ela está cuidando dos meus filhos, algo que você nunca parece disposta a fazer! — rebateu Lucas, com a voz cheia de frustração.
— Eu não sou babá, Lucas! Você sabia disso quando começamos a namorar.
Laura prendeu a respiração, sentindo-se desconfortável por estar ouvindo aquilo, mas incapaz de se mover.
Vanessa saiu abruptamente do escritório, quase trombando com Laura no corredor.
— Estava espionando outra vez? — perguntou ela, com uma expressão de raiva.
— Não... eu só estava descendo para...
— Poupe-me das desculpas. Você está se metendo onde não foi chamada.
Antes que Laura pudesse responder, Lucas apareceu na porta.
— Vanessa, acho que você já disse o suficiente.
Vanessa lançou um olhar mortal para Laura antes de sair, batendo a porta atrás de si.
Lucas suspirou, passando a mão pelos cabelos.
— Desculpe por isso. Vanessa... é complicada.
Laura hesitou, mas decidiu não dizer nada. A tensão na casa estava aumentando, e ela tinha a sensação de que aquilo era apenas o começo.
Já era tarde quando Laura terminou de revisar o quarto das crianças. Ao sair, percebeu que uma das luzes do escritório ainda estava acesa. Curiosa, foi até lá e encontrou uma carta sobre a mesa. A carta parecia ter sido escrita pela falecida esposa de Lucas.
Antes que pudesse ler, ouviu passos atrás de si.
— O que está fazendo aqui?
Ela se virou e encontrou Lucas na porta, com uma expressão que misturava surpresa e algo mais que ela não conseguiu identificar. A tensão no ar era palpável.
— Laura, você não tem limites! — a voz de Lucas cortou o ar da mansão com uma força que fez os ossos de Laura tremerem. Ela ficou paralisada, os olhos arregalados de surpresa e medo.A porta do escritório estava entreaberta, e ela estava ali, na entrada, com a carta de Lucas ainda nas mãos. O choque em seu rosto não passou despercebido por ele.— O que você pensava que estava fazendo, Laura? Invadir o meu escritório e mexer nas minhas coisas? — ele estava furioso, a raiva estampada em cada palavra, cada gesto.Laura não sabia o que responder. A tensão entre eles tinha aumentado de uma maneira que ela não conseguia controlar. Ela nunca imaginou que isso fosse acontecer tão rápido, mas o erro estava feito. A carta que ela havia encontrado parecia ser uma lembrança da falecida esposa de Lucas, e a curiosidade a havia empurrado para ali. Ela sabia que não era o certo, mas, naquele momento, tudo o que ela queria era entender mais sobre aquela família, sobre Lucas, e sobre o que realmente a
O estalo da porta foi como um eco cortante que reverberou pelos corredores da mansão. Laura congelou. O barulho não parecia ter vindo da parte de cima da casa, onde ela estava com as crianças, mas do andar de baixo. Uma sensação de alerta percorreu sua espinha.Ela olhou para o corredor vazio e, sem hesitar, saiu do quarto das crianças. Seus passos eram silenciosos, mas a tensão estava clara em cada movimento. O que estava acontecendo ali? Desde que chegara, algo parecia estranho na casa. A noite, que sempre trazia uma calmaria ilusória, agora parecia sombria e ameaçadora. E aquele som... Ele não era normal.Enquanto descia as escadas, um flash de memória a atingiu — a discussão entre Lucas e Vanessa mais cedo. Os gritos. As palavras cortantes. Algo não estava certo entre eles, e ela estava começando a perceber que havia muito mais por trás daquela fachada perfeita de uma família feliz.Chegando ao final da escada, ela se escondeu nas sombras do corredor, perto do escritório. De onde
— Volte para o quarto e fique com as crianças, Laura. Eu cuido disso. — A voz de Lucas era cortante, deixando claro que aquilo não era um pedido, mas uma ordem.Laura hesitou, mas assentiu lentamente. Não era o momento de discutir. Ele desapareceu rapidamente pelas escadas, a tensão estampada em cada movimento. Ela tentou se convencer de que deveria obedecer e voltar para as crianças, mas a curiosidade era mais forte. Algo estava acontecendo naquela casa, algo maior do que ela podia entender, e ela precisava saber o que era.Movendo-se silenciosamente, Laura desceu atrás de Lucas, mantendo distância suficiente para não ser notada. Quando chegou perto do escritório, viu a porta entreaberta e o som abafado de vozes exaltadas.— O que está fazendo com isso? — Lucas perguntava, a voz grave e carregada de frustração.— Isso? — Vanessa respondeu, com um tom de ironia cortante. — Estou tentando entender como você deixou isso aqui, tão à vista. — A palavra "isso" foi acompanhada de um som de
O amanhecer trouxe uma mistura de alívio e peso ao coração de Laura. Ela havia passado a noite inteira acordada, revendo sua decisão. Era o melhor a ser feito. A tensão naquela casa não era mais sustentável, e sua família precisava dela.Ela respirou fundo ao descer as escadas. O silêncio ainda pairava pela mansão, mas ela sabia que, em breve, todos estariam acordados. O café seria servido, as crianças correriam pela casa, e, naquele momento, ela precisaria se despedir.Ao entrar na cozinha, encontrou Maria já ocupada preparando o café. A governanta ergueu os olhos e sorriu de leve, mas sua expressão logo mudou ao perceber a bolsa pequena ao lado de Laura.— Você vai embora? — perguntou Maria, baixando o tom de voz.Laura assentiu, tentando sorrir.— Sim. Chegou a hora.Maria suspirou, enxugando as mãos no avental.— Vou sentir sua falta, Laura. Mas você sabe o que é melhor para você.Laura queria responder, mas foi interrompida por passos apressados no corredor. Shofia entrou na cozi
Laura colocou a última peça de roupa de volta no armário, respirando fundo para acalmar a tempestade de emoções que sentia. O reencontro com as crianças havia sido avassalador, mas ela sabia que ainda tinha muito o que resolver. Ao fechar a pequena bolsa, um som inesperado a trouxe de volta ao momento.Toque, toque, toque.A batida na porta a fez gelar por um segundo. Assim que abriu, Lucas estava ali, imponente como sempre, mas com um olhar que misturava seriedade e algo mais que ela não conseguia decifrar.— Laura, precisamos conversar.Ela assentiu, dando um passo para o lado para que ele entrasse. Lucas caminhou até o centro do quarto, as mãos nos bolsos, enquanto Laura encostava a porta.— Eu sei que você está passando por um momento difícil — começou ele, a voz baixa, mas carregada de intenção. — Mas preciso entender exatamente o que está acontecendo.Laura respirou fundo, tentando organizar os pensamentos.— Sr., eu não estava planejando contar isso, mas minha mãe... — Sua voz
— Chegamos, senhorita Laura. — A voz calma do motorista cortou o silêncio.Laura olhou pela janela, respirando fundo ao reconhecer a casa simples onde cresceu. As luzes da sala estavam acesas, lançando sombras familiares pelas cortinas gastas. Ela agradeceu ao motorista e desceu do carro, sentindo o coração pesado enquanto atravessava o portão enferrujado.No banco da frente, o motorista observava, mas não disse nada. Ele sabia que aquela visita tinha um peso maior do que aparentava.— Laura! — A voz de Davi, seu irmão mais novo, ecoou quando ele a viu na porta. — Você está aqui!Ele correu para abraçá-la, e Laura retribuiu com força, percebendo como ele estava magro.— Como estão as coisas, Davi? E a mamãe? — perguntou ela, olhando além dele para o corredor que levava ao quarto da mãe.Davi hesitou, mas finalmente respondeu:— Não muito bem. Os remédios estão acabando, e o médico disse que ela precisa de cuidados constantes.O peso das palavras caiu sobre Laura como uma avalanche. El
— Lucas, precisamos conversar agora! — A voz de Vanessa ecoou pela sala de estar, cortando o silêncio da casa.Lucas, que acabara de descer para buscar um café, parou na escada e olhou para ela, cansado.— Vanessa, não é o momento. As crianças acabaram de dormir, e eu não quero discussões.Ela se aproximou rapidamente, o som dos saltos batendo contra o piso de madeira.— Não é uma discussão, Lucas. É uma questão de prioridade. Eu sou a mãe do seu próximo filho, ou isso já não significa nada para você?Ele passou a mão pelos cabelos, visivelmente incomodado com a intensidade dela.— Claro que significa. Mas você precisa parar de usar isso como um trunfo a cada conversa. Eu estou tentando lidar com muitas coisas ao mesmo tempo.— Muitas coisas? — Vanessa cruzou os braços, a raiva evidente em seus olhos. — Ou apenas uma coisa: Laura.Lucas estreitou os olhos, sua paciência finalmente chegando ao limite.— Vanessa, isso é ridículo. Você está tentando transformar Laura em um problema que e
— Sr., você já pensou sobre o que conversamos? — Laura perguntou com cautela, enquanto Lucas organizava os papéis que estavam espalhados pela mesa do escritório.Ele olhou para ela, distraído. Não era sobre os papéis ou as decisões que precisavam ser tomadas a respeito das escolas. Era sobre o espaço que Laura começava a ocupar, não só na casa, mas em sua vida. Ultimamente Lucas andava distraído e não sabia como lidar com que estava começando a sentir por Laura.— Sim, eu pensei. Acho que visitar algumas escolas na próxima semana seria o primeiro passo a se fazer. — Lucas respondeu, tentando manter o foco na conversa prática, embora sua mente estivesse mergulhada no tumulto de emoções que Laura sempre parecia trazer consigo.Antes que Laura pudesse responder, Vanessa entrou abruptamente na sala, seu salto alto ecoando no chão.— Lucas, querido, preciso falar com você. É algo importante. — Sua voz carregava um tom calculado, quase açucarado, que fazia Laura recuar instintivamente.— Cl