No dia seguinte, eu acordei com um par de olhos castanhos claros, quase verdes, me olhando curiosos.
Eu pulei da cama, caí sentada no chão e ela se assustou. — Quem é você?— a pergunta foi automática. Eu olhei para a menina que mais parecia uma boneca com tranças douradas e um vestido rosa de saia rodada. — Você é a babá?— ela indagou se aproximando curiosa. Eu senti um medo terrível. Será que eu daria conta de cuidar daquela princesinha? Ela era tão pequena, como um cristal delicado que parecia se quebrar facilmente. — Meu nome é Cristal!— a menina falou, me olhando como se eu fosse um bichinho estranho. Eu suspirei e tentei descobrir a sua idade. A menina era toda mocinha e devia ter seus cinco ou seis anos. — Você quer brincar?— ela quis saber. Eu sorri achando graça. — Se eu quero brincar?— Eu não acreditei. Me levantei sorrindo, ajeitando a enorme camisola que Giorgia me emprestou. Neste momento, a porta se abriu bruscamente e uma voz grave ecoou. — O que faz aqui? Volte já para a sala! A menina entristeceu, baixou a cabeça e obedeceu. Alex me deu uma rápida olhada e saiu atrás da filha. Eu fiquei pensando que ele era muito mais rígido do que eu imaginava. Deu vontade de desistir, não fosse a necessidade que eu tinha daquele emprego. Eu fiquei quietinha, esperando saber o que o poderoso chefão tinha decidido sobre a minha vida. Era irônico como um juiz como Alexandre Roosevelt Andradas, acostumado a dar sentenças sobre algumas causas no trabalho, não conseguia se livrar disso na vida pessoal. — Lamento informar que ainda não consegui uma babá para cuidar de você!— Alex disse olhando para a filha, de pé na sua frente. — Mas a mamãe, antes de ir para o céu, disse que você iria conseguir alguém muito legal para cuidar de mim!— Cristal retrucou balançando as tranças. Alex ficou angustiado. Era sempre triste falar da sua falecida esposa. Ela ficou doente e foram quase três anos com uma doença rara, degenerativa, que acabou por tirar a sua vida. A voz de Cristal o trouxe de volta à realidade. — Eu tenho uma amiga para brincar agora, papai! Alex se assustou. — Amiga! Que amiga, Cristal? — Lá!— A garotinha apontou na direção do meu quarto. Alex olhou para o corredor dos fundos, onde ficavam os aposentos dos empregados e voltou-se novamente para a filha, agora mais sério. — A senhorita Shimidth, não serve para o ofício! Ela é muito jovem, além de não ter experiência com crianças! Giorgia franziu a testa contestando a decisão do patrão, mas ele não lhe deu chances de argumentar e foi falando: — Leve a Cristal para o jardim e distraia ela, não se preocupe que vou chamar outras candidatas, ainda esta semana! Fique tranquila, que eu resolvo essa situação! Giorgia não se deu por vencida. — Eu não queria questionar a sua decisão, senhor, mas eu acho que a moça leva jeito sim. Ela tem boa vontade e precisa muito desse emprego. A Bella é uma… Ele interrompeu. — Bella, esse é o seu nome? — Sim!— Giorgia ficou surpresa. Alex ficou confuso e Giorgia se aproveitou disso. — Por que não a adota, senhor? — O quê? Houve um silêncio, Alex fechou os olhos e respirou ofegante. — Não imagina o quanto isso pode ser perigoso, Giorgia! — Por que?— Giorgia, inocente, quis saber. Alex suspirou resignado. — Vá Giorgia, vá! Leve Cristal para brincar no jardim e faça com que ela esqueça essa moça! Giorgia voltou ainda segurando a criança pelas mãos. — Vai querer que eu a dispense? Alex meneou a cabeça impaciente. — Deixe isso comigo, eu mesmo vou falar com ela! Depois que Giorgia se foi, Alex se dirigiu para o meu quarto. Eu me assustei com as fortes batidas na porta. — Abra a porta, preciso falar com você! Enquanto isso, Giorgia interrogava Cristal no jardim. — O que você achou da Bella? Gostou dela? Quer ela como a sua babá? — Meu pai não gosta dela, Gi!— Cristal respondeu emburrada. Giorgia olhou curiosa para a pequena e ela continuou resmungando: — O meu pai é um chato! Enquanto isso, eu recebia a minha sentença. — Sinto muito, senhorita, mas não se encaixa nos meus requisitos! — Alex disse parado na porta. Eu senti um desespero. Só de pensar no que a minha mãe ia fazer comigo, já tremia toda. — Por favor, doutor, não!— eu me abracei com ele chorando. Pressionei o meu corpo contra o dele o quanto eu pude. O seu perfume era muito bom. Meu Deus, parece que aquele homem não era de verdade! Alex jogou os cabelos nervosamente para trás e tentou me afastar, mas eu colei nele, desesperada. Ele me afastou violentamente, me encarando alterado. — Senhorita, entenda, eu não posso tê-la aqui! Eu simplesmente não posso! Eu olhei para cima, ele era bem mais alto do que eu, e supliquei: — Me deixe aqui, por favor! Senhor, eu preciso desse emprego, já lhe disse, minha mãe não vai me aceitar desempregada. — Ela devia trabalhar no seu lugar e você devia cuidar do seu irmão! — Se eu posso cuidar do meu irmão, então deixe que eu cuide da sua filha! Alex voltou para sala e eu fui atrás, insistindo, tagarelando: — Senhor, eu sei cozinhar e também posso cuidar das suas roupas, eu faço qualquer coisa que me pedir! Alex voltou me encarando de perto. — Não quero que faça nada para mim, nem que eu lhe peça! Eu olhei fixamente para aqueles lábios entreabertos e respirei ofegante, meio que hipnotizada por eles. — Mas… — Não tem mas, senhorita! Ele deu as costas e eu voltei para o quarto na intenção de pegar minha bolsa. O telefone celular tocou e Alex atendeu. Era o seu amigo delegado, ele tinha informações importantes. — Alex, não vai acreditar, a mãe da garota já tem boletim de ocorrência por maus tratos. Os vizinhos prestaram queixa dela, algumas vezes. Ela humilha a filha e há quem diga que agride fisicamente a moça! Alex ficou chocado. — Alex! Você está aí?— o homem do outro lado da linha falava insistente. — Sim…— Alex balbuciou voltando-se na direção anterior. — Sim, estou ouvindo— ele repetiu. O amigo delegado, continuou a relatar: — Ela tem um filho pequeno de cinco ou seis anos, eu acho. Parece que só é agressiva com a filha. — Tudo bem, obrigado, depois nos falamos. O homem desligou e Alex ficou preocupado. Voltou para o meu quarto e me encontrou no caminho, eu já estava pronta para partir. — Ei, não vá ainda!— ele disse me segurando. — Tem certeza? — Estou procurando um motivo para deixá-la ficar, mas é quase impossível! Eu sorri satisfeita. — Posso ficar hoje? — Só hoje!— ele falou alterado e saiu pisando forte. Eu fiquei sorrindo sapeca e falando para mim mesma: — Tomara que encontre logo esse motivo! Eu preciso ficar aqui, não quero voltar para casa! Eu tive que me virar para conseguir uma roupa emprestada que me servisse. Eu revirei o guarda-roupas e achei algumas caixas. İncrivelmente, um vestido da falecida coube em mim!Alex saiu para trabalhar e eu me ajeitei na cozinha. Estava faminta. — Não Bella, isso não é serviço seu!— era Giorgia que me repreendia. De repente, Cristal ficou paralisada e os seus olhinhos lacrimejaram. Giorgia cobriu a boca com as mãos. — Meu Deus, onde achou essa roupa?— ela quis saber. Eu olhei para o vestido confortável, estampado em amarelo e branco e sorri. — Ah, eu achei no armário, lá no quarto em que eu… Giorgia me interrompeu e pôs-se a me arrastar para fora da cozinha. — Deixe ela assim, Gi! Giorgia paralisou ao ouvir o tom autoritário da menina. Eu sorri inocente, mas Giorgia estava aflita. — O seu pai não vai aprovar essa ideia! — Ela está linda! Parece a minha mãe!— Cristal disse, se aproximando e segurando a minha mão. Eu me deixei levar de volta à mesa de serviço, onde antes comia um lanche. Cristal debruçou-se na mesa, me olhando com admiração. — Você caiu do céu?— ela indagou tão séria que eu fiquei paralisada, segurando o me
Eu não era tão inocente assim como Alex pensava, eu só era virgem. Muito virgem, nunca tinha antes beijado na boca. Minha mãe era muito rígida e me maltratava muito. Às vezes eu a compreendia. O meu pai a abandonou grávida e a mãe dela a obrigou a se prostituir. Eu ficava com a minha avó e via ela chegar todos os dias bêbada. Eu sabia que ela não dormiu em casa. Depois que a minha avó faleceu, minha mãe arrumou um marido rapidamente. Um homem rico que nos levou para morar numa mansão, logo que voltamos do enterro. Ele batia nela e a chamava de vadia. Eu era pequena e demorei para enteder que o meu patrasto havia tirado ela da prostituição. Eu chorava muito sem poder defendê-la. Depois eu fui crescendo e toda a raiva que ela sentia dele, descontava em mim. Eu ouvia sempre o mesmo sermão: — Tudo é culpa sua, garota! Se eu não tivesse você, eu cabia em qualquer lugar. Eu comecei a ser agredida logo que entrei na adolescência. Ela dizia que eu me insinuava para o marido dela.
Mais um dia se passou e eu avancei no terreno do inimigo. Era assim que eu me sentia, numa guerra. Eu me recolhi novamente antes do juiz chegar. Primeiro porque eu usava as roupas da falecida e para que ele não se incomodasse com a minha presença e me mandasse embora. — Ela ainda está aí?— Alex indagou, enquanto se servia durante o jantar. — Sim senhor!— Giorgia respondeu com as mãos para trás e o semblante fechado. — Não me importa se não gosta da minha decisão!— Alex disse seco. Giorgia não estendeu o assunto e se calou. Alex saiu da mesa e foi direto para o bar que ficava num canto da sala de estar. Giorgia o acompanhou com o olhar e o reprovou meneando a cabeça. Depois de algumas doses de whisky, Alex olhou para o alto da escada, onde ficava o seu quarto, e suspirou impaciente . — Preciso vê-la, tocá-la! Ele seguiu pelo corredor na direção do meu quarto e parou indeciso. Eu estava olhando para a porta como se o esperasse. Estava usando outra camisola. Agora
Depois que Alex se foi eu desatei a chorar. Giorgia foi me consolar. — Não chore, Bella! Eu sei que se apaixonou pelo patrão, mas olhe querida, sem saber, você lhe fez um grande bem. Eu segurei o choro surpresa. — Eu? — Sim, você! Agora ele se sente vivo novamente. Ele consegue olhar para alguma mulher! Eu quase dei uma má resposta para Giorgia, mas me controlei. Que vantagem eu levava em despertar o desejo do juiz se não era comigo que ele se deitava? İnocente, Giorgia não parava mais de falar, para o meu desespero: — Você viu, que moça linda ele trouxe para casa? Ela é advogada e trabalha com ele! Isso não é maravilhoso? Meu Deus, que vontade de gritar! Eu quero ele para mim, Giorgia! Droga! Eu nunca diria isso naquele momento! Giorgia estava sentada à beira da minha cama e disse preocupada: — Eu só espero que ele não volte a ser como antes! — Antes da falecida? — É, antes dela. Depois que a conheceu, tudo mudou! Mesmo depois q
Eu subi desesperada para sair logo da presença de Alex e ele ficou falando sozinho: — Nossa! Ela sabe contar história! İsso é surpreendente! Eu abri o livro e comecei a folhear. — O que quer que eu leia para você? Cristal bocejou e respondeu se ajeitando na cama. — Qualquer coisa me serve, estou com sono mesmo! Eu ri lhe fazendo carinho nos cabelos tão loiros e macios!. — Você jantou cedo. Não quer que lhe traga um copo de leite? A pequena Cristal segurou minha mão e disse carinhosa: — Eu só quero dormir segurando a sua mão! Eu fiquei penalizada. Cristal era tão carente! — Está bem! Chega mais pra lá que eu vou me deitar com você, só espero não acabar dormindo aqui! A menina sorriu com os olhinhos pesados de sono e se afastou para me dar lugar na cama. E não é que acabei adormecendo! Já era de madrugada quando desci as escadas e para a minha surpresa, Alex estava no bar. Eu me aproximei e vi que estava muito embriaga
Quando Alex chegou com uma sacola, eu já estava ansiosa. Eu estava torcendo para que ele não tivesse comprado um uniforme que agradasse a Giorgia, porque com certeza eu ficaria ridícula! Ele esticou a mão na minha direção e disse: — Bella, aqui está o seu uniforme! Eu avancei e peguei a sacola rapidamente. Meus olhos brilharam Quando abri a embalagem. Era um vestido branco, curto e jovem. — Nossa! Que lindo! — Você gostou?— tinha um quê de malícia na voz de Alex. Eu lhe sorri e trouxe o tecido para junto do peito dizendo: — Vou vestir amanhã mesmo! — Vista agora!— ele mandou. Eu fiquei surpresa e paralisei. Depois olhei para Cristal que estava saltitante. — É Bella, veste, eu quero ver!— ela disse. Eu saí toda animada e Giorgia ficou amuada. — Eu acho que vai ficar muito curto!— ela disse aborrecida. — É jovem como ela!— Alex disse olhando na direção do corredor onde eu segui. Eu vesti rapidamente, me olhei no espelho e vol
Giorgia gaguejou nervosa: — Senhor, por favor, Cristal, ela precisa de mim! Eu não posso tirar férias agora. Alex saiu de trás do balcão do bar falando em tom grave: — Então pare de se meter na minha vida! Eu sou o seu patrão, não o seu filho! Eu não vou fazer nada que a Bella não queira! Giorgia assentiu com a cabeça e as mãos unidas à frente do corpo. — Pode se retirar e dizer para Bella que quero falar com ela, depois que jantar. Eu vou para o meu quarto! Giorgia ficou parada, acompanhando com o olhar, o patrão subir. Depois correu para a cozinha e foi falar comigo. — Querida preste bem atenção!— ela disse sentando-se ao meu lado. Eu me virei curiosa. — Querida, não deixe que ele se aproveite da sua inocência. Eu me remexi na minha cadeira, porque apesar de ser virgem, eu nunca me considerei uma garota ingênua! Eu sabia como se engravidava e também sabia quando um homem caça o corpo de uma mulher. No caso, estava claro que Alex só
Alex ficou parado segurando a porta, enquanto eu já descia as escadas. — Casar com uma garota tão jovem, eu? Nunca! As minhas palavras ainda pareciam ecoar nos seus ouvidos:” Mas para transar não, não é mesmo? Alex voltou para dentro do quarto, suspirando impaciente. — Droga! Que porcaria! Eu sou um idiota mesmo! Eu voltei para o meu quarto me sentindo uma idiota. Estava satisfeita, mas ainda era virgem! No dia seguinte, não foi diferente das outras vezes. Alex estava sentado à mesa e me cumprimentou com frieza. Eu já devia estar acostumada com aquilo. — Bom dia, senhorita Shimidth! Eu respondi inclinando suavemente a cabeça. Passei para a cozinha e lá, Giorgia me pediu para levar uma bandeja com geleias e manteiga para mesa. — O patrão acordou mais cedo e eu me perdi. Me ajuda, por favor! Eu assenti e fui servir o poderoso chefão. Era assim que ele acordava, sério, altivo! — Venha aqui! Eu o olhei friamente e depois