Capítulo 2°— O outro dia

No dia seguinte, eu acordei com um par de olhos castanhos claros, quase verdes, me olhando curiosos.

Eu pulei da cama, caí sentada no chão e ela se assustou.

— Quem é você?— a pergunta foi automática.

Eu olhei para a menina que mais parecia uma boneca com tranças douradas e um vestido rosa de saia rodada.

— Você é a babá?— ela indagou se aproximando curiosa.

Eu senti um medo terrível. Será que eu daria conta de cuidar daquela princesinha? Ela era tão pequena, como um cristal delicado que parecia se quebrar facilmente.

— Meu nome é Cristal!— a menina falou, me olhando como se eu fosse um bichinho estranho.

Eu suspirei e tentei descobrir a sua idade. A menina era toda mocinha e devia ter seus cinco ou seis anos.

— Você quer brincar?— ela quis saber.

Eu sorri achando graça.

— Se eu quero brincar?— Eu não acreditei.

Me levantei sorrindo, ajeitando a enorme camisola que Giorgia me emprestou.

Neste momento, a porta se abriu bruscamente e uma voz grave ecoou.

— O que faz aqui? Volte já para a sala!

A menina entristeceu, baixou a cabeça e obedeceu.

Alex me deu uma rápida olhada e saiu atrás da filha.

Eu fiquei pensando que ele era muito mais rígido do que eu imaginava. Deu vontade de desistir, não fosse a necessidade que eu tinha daquele emprego.

Eu fiquei quietinha, esperando saber o que o poderoso chefão tinha decidido sobre a minha vida. Era irônico como um juiz como Alexandre Roosevelt Andradas, acostumado a dar sentenças sobre algumas causas no trabalho, não conseguia se livrar disso na vida pessoal.

— Lamento informar que ainda não consegui uma babá para cuidar de você!— Alex disse olhando para a filha, de pé na sua frente.

— Mas a mamãe, antes de ir para o céu, disse que você iria conseguir alguém muito legal para cuidar de mim!— Cristal retrucou balançando as tranças.

Alex ficou angustiado. Era sempre triste falar da sua falecida esposa. Ela ficou doente e foram quase três anos com uma doença rara, degenerativa, que acabou por tirar a sua vida.

A voz de Cristal o trouxe de volta à realidade.

— Eu tenho uma amiga para brincar agora, papai!

Alex se assustou.

— Amiga! Que amiga, Cristal?

— Lá!— A garotinha apontou na direção do meu quarto.

Alex olhou para o corredor dos fundos, onde ficavam os aposentos dos empregados e voltou-se novamente para a filha, agora mais sério.

— A senhorita Shimidth, não serve para o ofício! Ela é muito jovem, além de não ter experiência com crianças!

Giorgia franziu a testa contestando a decisão do patrão, mas ele não lhe deu chances de argumentar e foi falando:

— Leve a Cristal para o jardim e distraia ela, não se preocupe que vou chamar outras candidatas, ainda esta semana! Fique tranquila, que eu resolvo essa situação!

Giorgia não se deu por vencida.

— Eu não queria questionar a sua decisão, senhor, mas eu acho que a moça leva jeito sim. Ela tem boa vontade e precisa muito desse emprego. A Bella é uma…

Ele interrompeu.

— Bella, esse é o seu nome?

— Sim!— Giorgia ficou surpresa.

Alex ficou confuso e Giorgia se aproveitou disso.

— Por que não a adota, senhor?

— O quê?

Houve um silêncio, Alex fechou os olhos e respirou ofegante.

— Não imagina o quanto isso pode ser perigoso, Giorgia!

— Por que?— Giorgia, inocente, quis saber.

Alex suspirou resignado.

— Vá Giorgia, vá! Leve Cristal para brincar no jardim e faça com que ela esqueça essa moça!

Giorgia voltou ainda segurando a criança pelas mãos.

— Vai querer que eu a dispense?

Alex meneou a cabeça impaciente.

— Deixe isso comigo, eu mesmo vou falar com ela!

Depois que Giorgia se foi, Alex se dirigiu para o meu quarto.

Eu me assustei com as fortes batidas na porta.

— Abra a porta, preciso falar com você!

Enquanto isso, Giorgia interrogava Cristal no jardim.

— O que você achou da Bella? Gostou dela? Quer ela como a sua babá?

— Meu pai não gosta dela, Gi!— Cristal respondeu emburrada.

Giorgia olhou curiosa para a pequena e ela continuou resmungando:

— O meu pai é um chato!

Enquanto isso, eu recebia a minha sentença.

— Sinto muito, senhorita, mas não se encaixa nos meus requisitos! — Alex disse parado na porta.

Eu senti um desespero. Só de pensar no que a minha mãe ia fazer comigo, já tremia toda.

— Por favor, doutor, não!— eu me abracei com ele chorando. Pressionei o meu corpo contra o dele o quanto eu pude.

O seu perfume era muito bom. Meu Deus, parece que aquele homem não era de verdade!

Alex jogou os cabelos nervosamente para trás e tentou me afastar, mas eu colei nele, desesperada.

Ele me afastou violentamente, me encarando alterado.

— Senhorita, entenda, eu não posso tê-la aqui! Eu simplesmente não posso!

Eu olhei para cima, ele era bem mais alto do que eu, e supliquei:

— Me deixe aqui, por favor! Senhor, eu preciso desse emprego, já lhe disse, minha mãe não vai me aceitar desempregada.

— Ela devia trabalhar no seu lugar e você devia cuidar do seu irmão!

— Se eu posso cuidar do meu irmão, então deixe que eu cuide da sua filha!

Alex voltou para sala e eu fui atrás, insistindo, tagarelando:

— Senhor, eu sei cozinhar e também posso cuidar das suas roupas, eu faço qualquer coisa que me pedir!

Alex voltou me encarando de perto.

— Não quero que faça nada para mim, nem que eu lhe peça!

Eu olhei fixamente para aqueles lábios entreabertos e respirei ofegante, meio que hipnotizada por eles.

— Mas…

— Não tem mas, senhorita!

Ele deu as costas e eu voltei para o quarto na intenção de pegar minha bolsa.

O telefone celular tocou e Alex atendeu. Era o seu amigo delegado, ele tinha informações importantes.

— Alex, não vai acreditar, a mãe da garota já tem boletim de ocorrência por maus tratos. Os vizinhos prestaram queixa dela, algumas vezes. Ela humilha a filha e há quem diga que agride fisicamente a moça!

Alex ficou chocado.

— Alex! Você está aí?— o homem do outro lado da linha falava insistente.

— Sim…— Alex balbuciou voltando-se na direção anterior.

— Sim, estou ouvindo— ele repetiu.

O amigo delegado, continuou a relatar:

— Ela tem um filho pequeno de cinco ou seis anos, eu acho. Parece que só é agressiva com a filha.

— Tudo bem, obrigado, depois nos falamos.

O homem desligou e Alex ficou preocupado. Voltou para o meu quarto e me encontrou no caminho, eu já estava pronta para partir.

— Ei, não vá ainda!— ele disse me segurando.

— Tem certeza?

— Estou procurando um motivo para deixá-la ficar, mas é quase impossível!

Eu sorri satisfeita.

— Posso ficar hoje?

— Só hoje!— ele falou alterado e saiu pisando forte.

Eu fiquei sorrindo sapeca e falando para mim mesma:

— Tomara que encontre logo esse motivo! Eu preciso ficar aqui, não quero voltar para casa!

Eu tive que me virar para conseguir uma roupa emprestada que me servisse. Eu revirei o guarda-roupas e achei algumas caixas. İncrivelmente, um vestido da falecida coube em mim!

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