POV de DilanO Central Park, àquela hora da noite, mais parecia um labirinto envolto por sombras e incertezas. Sob a luz amarelada dos refletores improvisados, a central de operações parecia uma ilha de atividade frenética em meio à escuridão. Tendas montadas às pressas abrigavam computadores, rádios, e oficiais que falavam em tons urgentes. O murmúrio constante de vozes e o estalar de teclas preenchiam o ar, criando uma atmosfera sufocante. De pé, ao lado de uma mesa carregada de mapas e monitores, eu tentava ignorar o peso que apertava meu peito.A detetive Debby estava a poucos passos de mim, consultando um dos agentes. Ela virou-se ao perceber minha aproximação, mas antes que pudesse abrir a boca, eu disparei:— Isso não devia estar acontecendo. Tudo isso por causa daquele maldito dispositivo que você colocou no celular dela! — Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia, mas não me importei.Debby respirou fundo, mantendo a calma que sempre demonstrava, mas seu olhar denunciava
POV de Alysson Ao contrário do que desejava, eu acordei e estava no mesmo lugar, do mesmo jeito. Eu pensei que iria acordar no paraíso, vestida de branco, nem saberia com Michael me matou, mas como nada é como sonhamos, Michael jogou água fria em meu rosto, me tirando da inconsciência que o soco, mais cansaço, mais fome, mais fortes remoções me colocou. Senti duas coisas quando fui desperta: o gosto de sangue em minha boca. Acho que na hora em que ele me bateu, devo ter mordido minha língua! E a outra foi fome, e evitei revirar os olhos pra mim mesma. Quem, em uma situação como a minha, sentia fome ou pensava em comida, pelo amor de Deus? Michael estava me olhando, parecia alegre. Quando ele começou a falar, senti vontade de vomitar:— Eu quero é assim. Você acordada. Deveria se ver, Alysson. Pena você não ter um espelho em sua bolsa! Você não é uma mulher convencional, não é mesmo? Até Melissa, que era uma mulher casada e bem resolvida, tinha uma nécessaire cheia de produtos de be
POV de Alysson Os dias se passaram e Dilan não deixava a detetive Debby chegar perto de mim. Eu ouvia do meu quarto a discussão dos dois, pois todos os dias ela ia lá tomar o meu depoimento. Naquele dia, eu estava no quarto do Cris. Tinha acabado de colocar ele pra dormir, e ouvi a chegada de Debby. Peguei a babá eletrônica, baixei o volume e fiquei do corredor escutando a conversa deles: — Dilan, não faz sentido você esconder a menina de todo mundo dessa forma. Faz dez dias que Michael morreu. Você a trouxe para seu apartamento, mandou Mary Jane e o pai dela embora e vocês estão presos em uma bolha dentro desse apartamento sem ver mais ninguém. — Como sem ver mais ninguém? Você vem aqui todos os dias nos encher o saco! — Eu preciso saber o que aconteceu naquele dia, Dilan! Pra fechar esse caso! — Michael morreu e o sequestro da Alysson provou bem quem foi que matou a Melissa! — Não, Dilan. O sequestro da Alysson foi todo orquestrado por Michael sim, temos provas. Mas o da Meli
POV de AlyssonQuando Mary Jane chegou, a tensão no ambiente era palpável. Não quis rodeios nem amenidades; ela precisava ouvir o que eu tinha a dizer.— Mary, precisa contar para o meu pai que ele era pai de Melissa e avô do Cris.Ela cruzou os braços, o rosto fechando numa expressão de firmeza.— Eu sei de tudo o que você passou, minha linda, mas não pode voltar decidindo como vou fazer as coisas. Trata-se da minha vida e do meu segredo, e só eu tenho que decidir qual o melhor momento de seu pai saber.As palavras dela me atingiram como uma bofetada. Não era o momento de me conter.— Não, Mary. Não se trata mais de você ou da sua vida. Toda essa merda, inclusive a morte da Melissa, ocorreu por causa do seu segredo.A respiração dela ficou pesada. Pude ver os olhos dela ficarem úmidos, mas não fraquejaram. Havia muito mais em jogo do que as emoções de cada uma de nós.Contei para Mary e Debby sobre a briga idiota dos meus avós. Como eles usaram esse segredo como arma em uma guerra qu
POV de Bruce Eu estava no apartamento de Mary Jane com Jhon Allister, e não me sentia confortável perto dele. De repente, não sei porque, me sentia como uma adolescente visitando o pai da minha pretendida! E pior, Alysson tinha 22 anos, doze a menos do que eu e parecia uma criança. Ainda era uma menina, sem bagagem, com o histórico de um único namorado, que não foi nada agradável. Como eu, viúvo, mais velho, pai, vou explicar para o meu segurança que estou dormindo com a filhinha dele? Eu sabia que deveria aproveitar esse tempo que nós dois tínhamos, mas não achava jeito de começar o assunto. Mas Jhon logo achou a deixa: — Como vocês pretendem fazer para separar Alysson e Cris, depois que tudo isso terminar? — Separar? Não. Alysson não vai deixar de ser a babá dele…— Por favor, Dilan. Não me trate feito um boçal. Alysson nasceu pra ser grande. Quando ela tiver mais calma, vocês verão…— Você não está bravo por ela não querer falar com você? — Não. Conheço minha filha. Alysson
POV de DilanPrólogo Eu já provei da dor de muitas formas. A dor do abandono, da traição, da perda... mas nada se compara àquele momento. Àquele dia em que o mundo desmoronou sobre mim. As sirenes cortavam o silêncio da noite enquanto eu lutava para chegar até ela. A mulher que amei com cada fibra do meu ser. Meu coração estava despedaçado antes mesmo de encontrá-la. Algo dentro de mim dizia que eu estava chegando tarde demais. E estava. Tudo aconteceu rápido demais, o caos, os gritos, o som ensurdecedor do metal se retorcendo. Eu vi sua silhueta, frágil, ensanguentada, com a vida escorrendo por entre os dedos enquanto ela me dava o maior presente que alguém poderia dar. Uma nova vida... e sua última. Desde aquele momento, algo em mim morreu junto com ela. Uma parte de mim se recusou a aceitar o que restou. O pequeno ser que dependia de mim, que precisava de cuidados, que era o único elo entre nós dois, parecia um lembrete cruel da perda. Eu não conseguia olhar para ele sem s
POV de Dilan Meu nome é Dilan Stain, sou CEO da Stain Inc. Tenho um complexo de escritórios imobiliários no centro comercial de Nova York. E uma cobertura no Central Park Tower. Eu cheguei no topo! Mas foi com muito sacrifício. Melissa e eu começamos a namorar ainda adolescentes, cheios de planos e sonhos. Estudamos, nos destacamos e montamos nossa primeira imobiliária. Sempre fizemos tudo juntos e crescemos juntos. Sempre sabendo que tínhamos que fazer tudo direitinho, porque um casal de negros vindos do subúrbio, quando se destacava virava logo alvo! No ano anterior, convenci Melissa que já tínhamos atingido níveis muito superiores a nossa expectativa, e estava na hora de ela desacelerar e ter nosso bebê. Não foi uma decisão fácil pra ela, mas depois que a tomou, fez exatamente como sempre fazia em sua vida: se dedicou totalmente a gravidez, ao enxoval, a tudo! Foi uma gravidez tranquila e Cristopher já era muito amado. No mês passado, recebemos uma proposta para estender nosso n
POV de Dilan Cristopher James Stain nasceu forte, saudável, pesando 3,6 kilos e com 52 cm. As enfermeiras chamavam ele de bebê giga. Diziam que nasceu criado. Mary Jane ficava com ele o tempo todo, rodeada de enfermeiras. Quando o levamos pra casa, tivemos uma conversa: — Você precisa olhar para o menino, Dilan. Precisa pegá-lo no colo e mostrar a ele todo o amor que você lhe tinha antes dessa tragédia! Ele não é culpado por Melissa não ter resistido ao acidente. Ela já não estava viva quando usaram a regra dos cinco minutos pra fazer a cesariana. Graças a Deus deu tempo e ele está aqui com a gente, vivo, forte, saudável e lindo! Precisamos seguir com a vida a partir dele. — Contrate babás! Eu tenho uma reunião. Com licença! Eu não conseguia olhar para meu filho, essa era a realidade. Não conseguia esquecer todo o horror que Mel e eu passamos pra ele nascer. Eu não culpava Cristopher, eu culpava a mim! Michael veio morar com a gente, pra dar uma força. Eu era grato a ele, estava