A sala estava mergulhada em penumbra, iluminada apenas pela luz amarelada de uma luminária ao lado do sofá. Debby estava sentada na poltrona em frente a mim, com o habitual caderno de anotações no colo. Ela tinha um ar de cansaço que só alguém como ela, acostumada a lidar com os horrores do mundo, podia esconder bem. Seus olhos me analisavam com a mesma intensidade de sempre, como se cada movimento meu fosse uma peça de um quebra-cabeça que ela tentava decifrar. — Dilan — ela começou, com a voz firme, mas gentil —, você precisa ter paciência. Eu bufei, recostando-me no sofá. O couro rangeu sob meu peso, um som pequeno, mas que parecia ecoar no silêncio da sala. — Você sempre diz isso, Debby. Paciência. Mas como posso ter paciência quando Soraya ainda está desaparecida? Cada segundo importa. E eu... — Minha voz falhou por um momento, e eu olhei para o chão, incapaz de encarar aqueles olhos inquisitivos. — Eu prometi à Allysson que faria tudo para ajudar. — Estamos investigando
POV de DilanDebby me encarava com sua expressão característica, a mistura de urgência e frieza que só uma detetive experiente podia carregar. Ela sabia que eu estava prestes a vacilar. Eu sentia isso em cada fibra do meu corpo.— Ligue para ela, Dilan — disse ela, firme. — Antes que entre na cobertura. Você precisa desviá-la para um lugar neutro. Sugira algo público. Central Park.Eu hesitei, mas o olhar dela era intransigente. Puxei o celular do bolso e disquei o número de Allysson. A cada toque, meu coração parecia bater mais rápido. Quando ela atendeu, a voz do outro lado era suave, mas carregava certa cautela.— Dilan? Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa com o Cris? Engoli em seco, tentando soar mais confiante do que realmente estava.— Allysson, preciso que você venha até o Central Park agora. É urgente.Houve um silêncio breve, e eu soube que ela estava tentando entender o que aquilo significava.— Agora? — perguntou, desconfiada. — Estou a caminho de algo particular, Dilan.
Eu cheguei em casa já era tarde, todos já tinham se recolhido. Fui até o quarto de Cris dar uma olhadinha nele. Estava dormindo feito um anjinho. Essa fase é de matar para o bebê. Mary Jane me ajuda bastante, se não fosse por ela com o Cris e por meu pai com o Robert, eu nem saberia o que fazer. Nessa últimos dias, com os dentes de Cris nascendo e o luto silencioso de Robert então, eu me sinto mais exausta. Física e emocionalmente. Começo a acreditar que minha cabeça vai colapsar a qualquer momento. Sentei em minha antiga cama, olhando Cris dormir e pensando em tudo o que mudou em minha vida.Eu dançava na Blue e isso de longe foi a pior coisa que já fiz em minha vida. Mas, apesar da humilhação e situação degradante, eu tinha uma meta: ganhar dinheiro para tirar meu pai do complexo, estudar e ter uma vida normal. Dilan fez isso tudo por mim em questão de segundos: casa, comida, roupa lavada, emprego digno, estudo, motorista particular e até um bebê. Mas a que preço? Me apaixonei p
POV de Dilan Depois que mandei Jones levar Allysson embora do parque, voltei para a casa de Debby: — E agora, o que você sugere? — Que você conte toda a verdade para Allysson, para conseguir tirar a carta testamento do poder dela.— Toda a verdade? Você me fez correr tirar ela da rota da cobertura, para ela não descobrir sobre o NM. Agora quer que eu conte toda a verdade? — Essa parte não, Dilan. Se Allysson souber que você é o NM, é capaz de se sentir violada por você. — Isso não. Foi ela quem exigiu que tudo fosse as cegas e ela mesma colocava as vendas! — Eu sei disso, Dilan. Mas a cabeça de Allysson não vai pensar com essa lógica. Deixe essa parte para resolver depois. Agora, o mais importante é salvar Soraya. E essa carta vai nos ajudar. Conte a Allysson tudo o que sabemos: explique como Melissa foi obrigada a ceder suas credenciais para assinar o contrato de compra e venda do Complexo. Fale sobre o ferimento na barriga que corrobora que ela e o bebê foram ameaçados. Fale t
—Allysson, vou te contar tudo. A detetive Debby pediu pra eu ter tato e cuidado, mas eu acho que a melhor abordagem com você, é ser direto. Você tem uma visão equivocada de mim, Allysson. Eu não sou esse monstro que você me julga. Quem assinou a compra do Complexo B, foi Melissa. — Porquê, Dilan? Porquê vocês dois sendo sócios e sabendo desse problema gigantesco que essa compra traria, vocês nunca decidiram fazer isso antes, mas, coincidentemente você convence sua mulher a assinar e logo depois ela morre em um acidente suspeito? — Minha mulher e eu nunca discutimos esse assunto, Allysson. Muito pelo contrário, a gente ria dele em reuniões, em nosso apartamento com Michael. Recebemos centenas de propostas, e recusamos todas. Justamente porque sabemos o que é para cada morador de baixa renda o convívio em seu lar. Mas vamos discutir esse tema depois. Em um outro momento, quando você estiver mais propensa a conhecer o Dilan verdadeiro, e não o que a mídia vem montando. O foco aqui é a
POV de Dilan Quando consegui me controlar, que levantei a cabeça do ombro de Allysson, senti uma intensidade que não imaginava ver nos olhos dela. Me lembrei de Allysson com os olhos vendados, dizendo que era apaixonada por Dilan Stain. Que inferno. Eu nunca vi aquilo expresso no olhar da mulher que eu também estou apaixonado. Não sabia como me controlar. Era como se algo em mim estivesse se partindo, se quebrando, diante da possibilidade de que aquilo fosse real. Sem pensar, fiz o que sempre faço quando estou perdido, o que estou acostumado a fazer como NM: baixar a cabeça e deixar o instinto tomar conta. Minha boca foi ao encontro da dela, e percebi Allysson lentamente abrindo os lábios, como se estivesse esperando o meu beijo. E então, nos encontramos. No instante em que nossos lábios se tocaram, foi como se o mundo inteiro desaparecesse. Não havia mais suspeitas, intrigas ou traições. Apenas ela, e eu, e esse momento. O beijo foi suave no início, como se ambos estivésse
POV de Alysson Os olhos de Dilan estavam cravados em mim, e eu sabia que ele não ia desistir até arrancar alguma resposta. Meu coração estava em um tamborilar constante no peito, mas mantive o rosto o mais neutro possível. Ele era astuto, sempre foi, e eu não podia permitir que enxergasse através de mim agora. — Seu pai, Allysson. Ele foi visto com Sammuel. — As palavras dele vieram como um golpe direto. Por um instante, achei que minha máscara fosse cair. Minhas mãos tremiam levemente, então as escondi nos bolsos, tentando disfarçar. Mas Dilan notava tudo. Eu sabia que ele tinha percebido minha reação, mesmo que sutil. — O que você quer dizer com isso, Dilan? — Perguntei, mantendo minha voz controlada, mas com uma ponta de frieza para esconder o turbilhão interno. Ele passou a mão pelos cabelos, visivelmente frustrado. — Não sei ainda. Mas preciso entender o que isso significa. Aquela confissão era um alívio e um peso ao mesmo tempo. Ele não sabia o que meu pai estava fa
POV de Alysson A conversa começou baixa, como deveria ser. Estávamos no meu quarto, ao lado do quarto de Cris, que finalmente tinha adormecido. Com apenas sete meses, ele não fazia ideia da confusão que cercava sua curta vida.Eu me sentei na beira da cama, tentando não demonstrar a irritação crescente. Dilan estava parado, de braços cruzados, com o olhar distante, como se procurasse uma resposta em algum lugar do passado.— Qual é o plano, Dilan? — perguntei, mantendo a voz controlada.Ele balançou a cabeça devagar, o cansaço estampado em cada gesto.— Ainda estamos esperando.— Esperando o quê? — insisti, minha paciência já se esgotando.— Que Michael faça algum movimento. Precisamos de algo concreto para provar que ele é o traidor.Uma risada incrédula escapou dos meus lábios antes que eu pudesse conter. Aquele absurdo me deixava furiosa.— Vocês são inacreditáveis! — minha voz saiu mais alta do que eu pretendia. Dilan me lançou um olhar cortante, mas eu continuei. — Melissa morre